Oficina Brasil


Feriados provocaram queda no movimento das oficinas

Fechamos esta edição no dia seis de abril logo após a semana de feriados em algumas capitais do Brasil, o que provocou queda mais acentuada dos serviços nestes locais, porém o indicador nacional apontou uma baixa de 3,7 pontos percentuais em relação a média histórica. Também atualizamos os tradicionais indicadores “qualitativos”, nos quais fica evidente a piora da falta de peças e juntamos uma inédita avaliação das compras das oficinas na internet. Acompanhe!

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Por Equipe CINAU


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Nesta edição trazemos o 12º relatório do PULSO DO AFTERMARKET dando sequência às matérias publicadas, com exclusividade, na mala direta Oficina Brasil. Nossos indicadores já se tornaram fonte de consulta indispensável para os executivos do segmento de aftermarket, que encontram nestes dados uma base segura para a tomada de decisões em relação ao mercado de reposição.

Nunca é demais lembrar que o mercado de reposição nasce na oficina mecânica e todo o resto da cadeia (varejos, atacarejos, distribuidores locais, regionais, nacionais, concessionárias, importadores  e fabricantes) dependem do que acontece na oficina mecânica. Resumindo, se a oficina está “bem” com serviços e faturando, a cadeia toda comemora, já o contrário significa que todos perdem.

Nesta dinâmica, ganha competitividade quem tem informação da oficina e neste sentido a CINAU – Central de Inteligência Automotiva, desenvolveu o maior aparato de geração de dados, informações e BI (Business Intelligence) do aftermarket brasileiro, prova disso é o exclusivo conceito da Demand Driven Company, que oferece aos players do mercado de reposição uma nova visão estratégica que orienta a empresa na direção da demanda. 

Mas voltando ao conteúdo da edição desse mês, acrescentamos um box especial com dados sobre os hábitos de compra da oficina na internet.

Para dar mais consistência a estes estudos a equipe da CINAU reuniu informações de três pesquisas, realizadas em fevereiro, março e abril para que de posse desse histórico pudesse apresentar resultados com uma retrospectiva de mutações. 

ORQUESTRA DO TITANIC

Neste bloco inicial vamos analisar o resultado direto do número de passagens (serviços) nas oficinas, o primeiro indicador do PULSO DO AFTERMARKET que é retratado no gráfico acima.

Como é possível observar, depois de um ótimo resultado em janeiro e fevereiro, registrando expressivo crescimento da demanda em relação à média histórica das oficinas, lá pelo dia 15 de março a curva avançou no terreno negativo e atingiu 4,65% de queda.

Este período coincide com a decretação dos feriados em algumas capitais e o recrudescimento do lockdown.

Estas medidas foram fortemente sentidas até no trânsito de algumas cidades como São Paulo, onde a queda nos serviços atingiu o patamar de 15,2% neste período.

Agora é aguardar as novas medições para conferirmos o que está por vir. Também Rio de Janeiro apresentou queda de 12,2% e Porto Alegre 7,6% na última semana de março início de abril.

O que depreendemos desses indicadores é que a queda nos serviços é significativa, mas ainda não representa uma ameaça consistente para o desempenho do setor de reposição de autopeças no ano de 2021. É claro que se este cenário de proibição das atividades continuar, o prejuízo vai chegar ao nosso setor.

Neste sentido, ainda que de mórbida lembrança, fazemos uma analogia entre o nosso segmento de reparação e a orquestra do Titanic. Fato ou não em vários filmes e documentários está registrada a bravura da orquestra do fatídico transatlântico que posicionada no deck superior tocou até gelada água Atlântico Norte lamber os tornozelos dos corajosos músicos.

Nesta analogia macabra nosso segmento de reposição representa a orquestra do Titanic, pois quando esta valorosa equipe tocou seu último acorde todos os demais já haviam submergido, ou seja, o que dia que o mercado de reposição apresentar perdas consideráveis o resto da economia brasileira já terá ido para o fundo do mar...

Nem tanto ao mar...

Depois desta analogia de gosto discutível, é hora de avaliar a parte “qualitativa” conferindo os dados da tradicional survey que a CINAU realiza quinzenalmente e trazemos com exclusividade na mala direta Oficina Brasil.

Para aqueles que acompanham o trabalho basta conferir os gráficos ao lado para tirarem suas próprias conclusões, principalmente comparando as mutações com os últimas onze edições desde a primeira divulgação deste trabalho.

Lembramos para os leitores de primeira viagem que a CINAU faz questão de realizar estas surveys chamadas de “qualitativas”, pois elas captam mais a percepção dos reparadores, como forma de complemento ao dado direto do número de passagens (serviços nas oficinas).

As informações qualitativas ou de percepção dos reparadores nos ajudam a compor o cenário geral, pois se os serviços estiverem em alta e a inadimplência igualmente em alta o cenário seria instável. Esta comparação serve para crédito, ticket médio, etc...

A presente survey foi realizada entre os dias quatro e cinco de abril e ouviu 580 oficinas. Neste relatório, o que está nos chamando atenção é que a percepção de falta de peças continua crescendo e preocupando, no entanto o número de donos de oficinas que pediam ajuda ao dono do carro na busca de peças caiu de 23% para 14% nesta última pesquisa. 

Também o número de oficinas que declaram ter perdido serviços por falta de peças se manteve estável.

Outra informação em relação a este item tão sensível é que o indicador de percepção de falta de peças bateu o recorde histórico com 70%. Em verdade um aumento de um ponto percentual em relação a última survey, que cravou 69% neste quesito, logo um aumento diminuto e dentro da margem de erro da pesquisa.

Neste aspecto gostamos sempre de lembrar que esta pesquisa sobre a percepção da falta de peças é realizada pela CINAU desde 2009 e o recorde da série histórica desde então é de 82%, fruto dos efeitos da crise de 2009.

Tentando responder uma questão que preocupa todo o mercado, se estamos diante de um “desabastecimento” de peças que prejudica significativamente o desempenho das oficinas, pela análise do conjunto de dados nossa resposta é não. Há sim uma dificuldade maior de encontrar peças em geral, principalmente os chamados “itens cativos”, que se tornaram verdadeiras moscas brancas. 

Aliás, esta é uma das causas da disparada de compras das oficinas na internet, pois os números cresceram 360%, como veremos no box ao lado, específico sobre compras on-line. 

No cenário geral, um fator negativo foi a maior percepção da diminuição do valor de venda dos serviços (ticket médio), na declaração dos reparadores ouvidos  consta que o valor de venda dos serviços está menor  para 42%, contra 18% do último estudo. Por outro lado esclarecemos que esta pesquisa é de “percepção” em âmbito nacional  e não tem a precisão de um indicador como IGD – Indicador de Geração de Demanda da CINAU, que existe desde 2009 e apontou hoje o ticket médio em torno de R$ 420,00, que está dentro da projeção normal do IGD para o Estado de São Paulo. Este valor de ticket médio considera apenas peças técnicas e lubrificantes (fora peças de funilaria, tintas, pneus, vidros, etc.).   

Impactos do Coronavírus na Indústria da Reparação Automotiva 

Compras On-Line, agora vai? 

Como era de se esperar com o ambiente de quase desabastecimento, a busca e compra de autopeças na Internet por parte da oficina disparou.  Para se ter uma ideia a compra média de autopeças das oficinas independentes no canal digital girava em torno de 2% segundo medições do IGD da CINAU, que começou a mensurar este canal em 2016.  Pois nesta pesquisa, como veremos nos gráficos ao lado, a preferência pelo canal digital cresceu 360% e bateu inacreditáveis 7,5% do total das compras das oficinas!

Ainda que 36% das oficinas declarem que não compram peças pela internet em abril, o número de oficinas que compram também bateu o recorde de  64%. Diante destes resultados será que as oficinas “acordaram” para o ambiente digital e os reparadores, finalmente, estão aderindo à “modernidade” o caminho inexorável da digitalização? Importante registrar que 96% das compras on-line da oficina acontecem no Mercado Livre. 

Antes de continuarmos na avaliação sobre o comportamento das oficinas e dos profissionais da mecânica nas compras de autopeças on-line vale a pena uma reflexão sobre o tema, que estudamos obsessivamente desde 2000 quando a equipe da CINAU participou de um dos eventos da antiga AAIA em Las Vegas e assistiu a um painel sobre o “futuro digital do aftermarket” com representantes da indústria de autopeças e dos então “novatos”  Google, E-Bay e Amazon.  

Pois naquela época, aqui no Brasil, ouvimos muitas coisas principalmente “opiniões” e “previsões” sobre a velocidade com que a internet promoveria uma disrupção violenta na Supply Chain da reposição. 

Um setor considerado pelos “profetas digitais” como um terreno fértil para a “evolução” digital, afinal trata-se de uma indústria “conservadora” com uma Supply Chain “arcaica” e “pouco eficiente” na avaliação dos especialistas digitais. 

O que nos chamava atenção: estas opiniões e previsões nunca eram sustentadas em dados da oficina. Nunca vimos nos  “PPTs” que apresentavam nossa cadeia numa dinâmica digital  dados concretos sobre os hábitos de compra das oficinas, afinal o elo mais importante desta cadeia pois ela é responsável pela demanda.

O que se observou neste interim é um avanço dos recursos digitais nos elos superiores da cadeia de reposição, porém a base demandante (a oficina) não de integrou a este movimento. 

Assim, não foi por nada que milhões de reais já foram consumidos na montagem de sistemas como “market places”,  que nunca decolaram.

Apesar desta realidade é comum ouvirmos de líderes da nossa indústria a afirmação de que a “digitalização” é um caminho sem volta, etc... mas escutamos isso há 20 anos e na prática a oficina não compra autopeças na internet.

Nas justificativas,  ouvimos coisas como:  “reparador vai se dar conta e se digitalizar. Afinal, compramos quase tudo pela internet”, como se os profissionais da mecânica nos dias de hoje compuseram uma rara casta “offline ”.

Pois o reparador é uma criatura 100% digitalizada, digamos mais, “sofisticadamente digitalizada”, pois depende da internet para quase tudo no processo de reparação dos veículos cada vez mais complexos.

O reparador só não compra peças pela internet porque este processo não agrega produtividade ao seu negócio. 

Ao analisarmos os dados dessa pesquisa referente ao canal digital e processando as informações de forma racional nossa conclusão é que este boom de compras da oficina na internet é passageiro e vai se sustentar nestes patamares enquanto durar esta dificuldade de encontrar peças.

Nossa previsão decorre do fato que esta experiência da oficina está sendo dolorosa no momento em que 58% das peças compradas chegaram erradas na oficina. Uma situação altamente previsível, pois sabemos que no Brasil a falta de padronização de um catálogo de aplicação é a fonte dessa situação.

A verdade é que a velha cadeia analógica via telefone, WhatsApp, o papo direto com o vendedor que se “solidariza” com o reparador sobre a aplicabilidade das peças e a logística que garante o produto em duas horas, representam a maior barreira para o avanço do canal digital.

Mas opiniões, sentimentos, expectativas e percepções à parte, nós da CINAU, assim como o mestre Willian Edwards Deming “pai” dos programas de qualidade resumia, acreditamos em dados e fatos. Atribui-se ao mestre Deming a ilustrativa frase “em Deus eu acredito, os outros tragam-me dados”, assim, se este salto das compras da oficina no canal digital é coisa do momento ou será uma mudança definitiva, quem nos responderá será o PULSO DO AFTERMARKET, afinal contra dados&fatos  não há argumentos. Até a próxima edição.

 

 

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