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Mercedes-Benz Classe S W126, carro-chefe da Mercedes-Benz mais notório de todos os tempos

A linha Classe S W126 foi uma obra de arte alemã que antecipou diversos recursos de tecnologia e segurança automotiva

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Por Anderson Nunes


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O conceito da Mercedes-Benz por muitos anos esteve ligado a míticos carros esportivos e de alto desempenho, caso das séries S/SS/SSK da década de 1930. Já em 1954 o modelo 300 SL “GullWing” presenteava seu proprietário com um veículo dotado de características de um modelo oriundo das provas de longa duração, caso das Mille Miglia italiana. Nos pós-segunda guerra mundial, a linha Ponton representou uma opção de qualidade e robustez em automóveis médios, modelo este inclusive que colaborou muito com as exportações da marca e angariou divisas econômicas para uma Alemanha que estava em reconstrução. 

Mas não resta dúvida de que são os grandes sedãs de luxo os porta-estandarte da aura de requinte, tecnologia e status que cerca a marca da estrela de três pontas – como a Classe S. A designação “Classe S” foi oficialmente introduzida em 1972, porém não existe uma definição clara de quando a linhagem se iniciou. Para os estudiosos da marca é considerado o ano de 1959, com a estreia do modelo 220 S, pertencente à Série W111/112 e mais conhecida como “Fintail”.  

Do “Fintail” ao sedã de alto desempenho

Os modelos "Fintail" 220, 220 S e 220 SE (W 111) apresentados em 1959 receberam esse apelido devido aos discretos rabos de peixe que embelezavam as laterais traseiras - oficialmente, elas eram conhecidas como "hastes de guia", em vista de sua função como um auxiliar no momento da baliza. A nova geração de sedãs de luxo foi um marco muito especial na história do automóvel, pois foi a primeira vez que um modelo introduzia uma carroceria com célula de sobrevivência, hoje padrão na indústria automobilística. 

Apresentado em 1961, o 300 SE (W 112) apresentava um sistema de suspensão a ar e a transmissão automática desenvolvida pela Mercedes-Benz, sendo um item padrão no modelo. Em 1963, a versão com distância entre-eixos longa foi adicionada à linha: oferecia 100 mm a mais no entre-eixos, o que proporcionou aos passageiros do banco de traseiro um espaço significativamente maior para as pernas e mais conforto ao viajar. 

Em 1965 chegava a geração W108/109, que foi apresentada no Salão de Frankfurt. O catálogo de modelos consistia em três versões da série W108 (250 S, 250 SE e 300 SE) e o W109 de entre-eixos longo (300 SEL). O desenho era obra do estilista francês Paul Bracq e trazia um visual sóbrio, elegante e clássico. A tradicional dianteira da marca, com a grade em evidência e faróis em posição vertical cobertos por uma lente convexa, moldava-se com a traseira baixa, de porta-malas plano e pequenas lanternas horizontais. 

Chamava a atenção a grande área envidraçada, em que o para-brisa crescera 17%. O carro também ficou 60 mm mais baixo, além das portas 15 mm mais largas, somados ao entre-eixos de 2,75 metros tornaram o carro mais elegante e visivelmente mais novo, com um interior mais arejado e espaçoso. No interior os comandos ficaram mais próximo às mãos do condutor, o elegante painel acolchoado na parte superior trazia revestimento em madeira de lei, com grandes instrumentos circulares e um pequeno conta-giros ao centro. 

O grande chamariz dessa série ficava por conta do modelo Mercedes-Benz 300 SEL 6.3, equipado com o mesmo motor V8 de 6,3 litros com 250 cv e 59,9 m.kgf de torque. O resultado dessa combinação foi um sedã de quase 2 toneladas que podia transportar cinco ocupantes com muito conforto a 200 km/h. Na época de seu lançamento, era o carro de quatro portas mais veloz do mundo. 

Um total de 6.526 unidades do 300 SEL 6.3 foram produzidas. Embora a produção tenha sido ínfima, o interesse de um motor V8 na carroceria W109 encorajou a Mercedes-Benz a lançar em 1969 o modelo 300 SEL 3.5, que indicava o emprego de um motor V8 de 3,5 litros de 200 cv, com injeção eletrônica Bosch D-Jetronic.

A produção da série W108/109 cessou em 1972, tendo no catálogo os modelos equipados com motor de seis cilindros 280 SE, SEL e o 300 SEL. Para o mercado norte- americano havia ainda a opção do V8 de 4,5 litros com 225 cv e sutis mudanças visuais como os faróis com quatro unidades circulares do mesmo tamanho em linha horizontal, sem a lente convexa, e luzes de direção na cor âmbar junto à grade. 

NASCE A DESIGNAÇÃO CLASSE S

Em setembro de 1972, a Mercedes-Benz estreou não apenas uma nova geração de seu modelo de alto luxo, mas também um novo nome - os grandes sedãs eram agora oficialmente conhecidos como Mercedes-Benz Classe S. Conhecido pelo código interno W116, o modelo era cerca de cinco centímetros mais longo e largo, porém 2,5 cm mais baixo e com entre-eixos de 2,86 metros nas versões convencionais, além de apresentar um visual imponente e sóbrio.

Um dos pilares desta geração W116 foi o foco na segurança. A carroceria apresentava uma célula de sobrevivência (cabine reforçada) e áreas de deformação à frente e atrás. O tanque de combustível, de 96 litros, não estava mais montado na extremidade traseira, mas agora era fixado acima do eixo traseiro para maior proteção. Os freios ABS nas quatro rodas foram apresentados pela primeira vez como uma opção no Classe S, em 1978, sendo o primeiro automóvel a oferecer tal recurso de segurança.

Internamente havia um painel acolchoado, interruptores e botões deformáveis ​​e um volante de quatro raios com amortecedor de impacto, com o objetivo de reduzir os ferimentos dos ocupantes durante as colisões. O painel contava com três grandes mostradores, console mais alto e estreito apresentava os comandos do ar-condicionado integrados ao conjunto. Os bancos podiam ser revestidos em tecido xadrez nas versões de entrada, veludo ou couro nas demais. 

Inicialmente a linha W116 compreendia três modelos - o 280 S, 280 SE (seis cilindros em linha) e 350 SE (V8). Em março de 1973 foram apresentados os 450 SE e SEL, equipados com um V8 com injeção eletrônica, de 225 cv. Em maio de 1975, a Mercedes-Benz lançava o 450 SEL 6.9. Debaixo do capô havia o potente motor V8 de 6,9 litros, desenvolvido a partir do trem de força de 6,3 litros, que debitava 286 cv e impressionantes 56 m.kgf de torque.

W126, O CLASSE S MAIS VENDIDO

A partir da década de 1970, durante a primeira grande crise do petróleo, a questão da aerodinâmica ganhou considerável importância. Foi nesse cenário que uma nova geração do Mercedes-Benz Classe S começou a nascer, sob o código W126.

Sem querer correr o risco de inovar no formato que pudesse ser malsucedido, pois trata-se de um segmento em que os clientes primam pela tradição, a equipe liderada pelo estilista Bruno Sacco procurou cautela e fez uma evolução visual a partir dos sedãs da série W116, com um desenho mais “limpo” e refinado.

As dimensões cresciam ainda mais, indo aos 5,02 metros de comprimento, 2,94 m na versão de entre-eixos curto, ainda sim o sedã primava pela descrição. Isso foi possível porque a W126 foi o primeiro veículo de produção da Mercedes-Benz a ser consistentemente desenvolvido e projetado com a aerodinâmica em mente. Um exemplo eram os para-choques envolventes em plástico integrados a carroceria. Isso também se refletia na economia de combustível, cerca de 10% em média, graças ao emprego de materiais mais leves (como plástico e alumínio), além do baixo coeficiente de arrasto aerodinâmico com extensos testes em túnel de vento (o Cx alcançou 0,36, recorde para época).

No campo da segurança o Classe S W126 tinha como destaque suportar testes de impacto que incluíam colisões obliqua a 55 km/h, sendo o primeiro carro de produção do mundo a atender a esse novo critério. Em 1981, o airbag do motorista comemorou sua estreia mundial. Inicialmente, estava disponível como opcional. A partir do mesmo ano, a Mercedes-Benz também ofereceu o pré-tensionador do cinto de segurança para o passageiro da frente também com opcional. Este sistema reduzia a folga no cinto de segurança, de modo a manter a pessoa mais firme no assento no caso de uma colisão iminente. 

Outras inovações apareciam em pequenos detalhes como o limpador de para-brisa, cujas as palhetas ficavam mais próximas entre si, o que permitia uma ampla varredura, quando desligadas ficavam acondicionadas entre a linha do capô e do para-brisa. Entre os opcionais havia o computador de bordo, tela de proteção solar, coluna de direção com ajuste de posição elétrica, bancos dianteiros aquecidos, além de diversos tipos de revestimentos internos como tecido, couro e um vinil batizado pela Mercedes-Benz d MB-Tex. 

De início havia sete versões: 280 S (com seis cilindros, 2,8 litros, carburador e 156 cv), 280 SE e SEL (versão com injeção eletrônica de 185 cv). A nova geração de motores V8 inovava ao trazer o bloco em alumínio e contava com duas versões; 380 SE E SEL (V8 com 3,8 litros, injeção e 218 cv) e 500 SE e SEL (V8 de 5,0 litros, com injeção e 240 cv). As versões 280 S e 280 SE tinham câmbio manual de quatro marchas de série, ou opcional do câmbio manual de cinco velocidades ou automático de quatro, as demais só estavam disponíveis com a transmissão automática de quatro velocidades. 

RETOQUES ESTÉTICOS E NOVOS MOTORES

Em setembro de 1985, durante o salão do automóvel de Frankfurt, a Mercedes-Benz apresentava gama de modelos da Série W126 completamente revisada. Sua aparência visual foi discretamente atualizada, principalmente no que diz respeito aos para-choques e painéis de proteção lateral, mas também às rodas, que foram atualizadas de 14 para 15 polegadas. Isso foi feito porque agora os discos de freio eram maiores.

O foco, no entanto, foi a reestruturação das opções de motores, durante os quais a Classe S recebeu dois motores de seis cilindros recém-projetados, que estrearam na Série W124 nove meses antes, o 2,8 litros e 3,0 litros (166 e 188 cv respectivamente). Uma nova adição à linha foi o motor V8 de 4,2 litros, criado a partir do motor de 3,8 litros. A versão topo de linha agora era batizada de 560 SEL, equipada com um motor V8 de 5,6 litros, com 279 cv e 43 m.kgf de torque. Em 1990, o motor topo de 5,6 litros adotava taxa de compressão mais alta, e a potência atingia expressivos 300 cv e torque de 47,2 m.kfg. Foi o carro de passageiro da Mercedes-Benz mais potentes fabricados até então.  

A Mercedes-Benz Classe S Série W126 foi a Classe S de maior volume de vendas já registrada, com um total de mais de 818 mil unidades comercializadas em 12 anos de produção. Um número limitado de W126 continuou a ser produzido na África do Sul até 1994, três anos após a introdução da nova geração da Classe S W140. 

PODER DA ESTRELA

O despachante documentalista, José Aparecido de Souza, 57 anos, morador da cidade de Jacareí, interior SP, guarda na memoria boas recordações de quando seu pai chegava em casa em a bordo de caminhões da década de 1950. Na garagem da família Souza, modelos como a Rural Willys, Fusca já despertavam o interesse do jovem José Aparecido pelos veículos.

Hoje José Aparecido mantém uma coleção diversificada de carros antigos e entre as estrelas está o seu xodó, um Mercedes-Benz 560 SEL 1986, na cor preta. Aparecido nos contou que sedã alemã chegou até suas mãos há pouco mais de duas décadas por intermédio de um amigo, gerente de uma extinta concessionária da Ford, em Jacareí.  “Um amigo, gerente da concessionária Cadive, de Jacareí, ligou e disse que um representante da Ford de SP, o senhor Sergio do Nascimento Fialkovitz, iria estar na cidade e que estava disposto vender o modelo. Meu amigo já sabia que estava à procura de outro Mercedes para substituir a minha 280 1976, branca. Bem, assim que vi aquele enorme sedã preta complemente original, não tive dúvidas, fechei o negócio”, disse o despachante.

O Mercedes-Benz passou por uma vistoria de um restaurador de confiança e o veredito final é que estava tudo em ordem com a mecânica. O modelo da Série W126 marcava pouco mais de 40 mil km rodados no hodômetro e para comprovar a originalidade o antigo dono guardou o manual, com todas as revisões feitas e anotadas e acondicionadas em uma pasta. 

Nesses 20 anos que se passaram, José Aparecido só fez as manutenções rotineiras, além da troca dos quatro pneus e uma higienização no sistema de ar-condicionado. Este exemplar pertence à segunda série da linha W126, lançado no Salão de Frankfurt de 1985, que trouxe novidades com as novas rodas aro 15 pol e protetores laterais mais largos. O airbag de passageiro nesse ano torna-se item padrão. Por se tratar de um exemplar para o mercado norte-americano, a 560 SEL traz faróis do tipo selados, para-choques mais robustos, terceira luz de freio e marcação em milhas no painel. 

Entre os mimos o modelo oferece bancos dianteiros e traseiro com regulagem elétrica, além de poderem ser aquecidos, com revestimento em couro. Farto uso de madeira de lei em peças do painel e laterais das portas. Por ter a versão de entre-eixos longo quem vai sentado no banco de trás desfruta de um amplo espaço para as pernas.

O Mercedes-Benz 560 SEL chama tanto a atenção que certa vez José Aparecido e a sua família foram jantar em uma churrascaria na cidade de São Paulo e o manobrista acabou por se encantar com o modelo. “Ao chegarmos ao estabelecimento o manobrista que aguardava na recepção, encantou-se com a Mercedes e fez questão de manobrá-la e deixá-la parada em frente à saída, tudo para chamar a atenção.

Em outra ocasião voltei a mesma churrascaria, porém sem a Mercedes e brinquei com o manobrista e disse que hoje não estava com a estrela”, relembra sorridente.

 

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