Oficina Brasil


Chevrolet Chevette “Made in Ecuador”, um curioso modelo produzido para o mercado andino

O Equador foi o último país a produzir um modelo oriundo do projeto T-Car. Batizado de San Remo, o sedã permaneceu em linha até 1996

Compartilhe
Por Anderson Nunes


Avaliação da Matéria

Faça a sua avaliação

Com o mote: “A GM não faria apenas mais um carrinho”, a General Motors do Brasil realizou seu segundo lançamento no país: o primeiro carro pequeno da família Chevrolet, batizado de Chevette, fruto do projeto 909. O investimento para sua fabricação, na unidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, consumiu 102 milhões de dólares. Apresentado à imprensa no dia 24 de abril de 1973, na versão sedã de duas portas, era oferecido nos acabamentos Standard e SL.

O Chevette fazia parte da linha mundial batizada de T-Car. Seus irmãos foram produzidos no Japão (Isuzu Bellet), Inglaterra (Vauxhall Chevette), Austrália (Holden Gemini) e EUA (Chevrolet Chevette e Pontiac T-100). O Chevette brasileiro foi apresentado seis meses antes do que o similar europeu, uma primazia para uma indústria automotiva que existia apenas há 17 anos. Ao longo dos 20 anos em que foi produzido o Chevette gerou uma família de modelos: sedã de 2 e 4 portas, hatchback, a perua Marajó e a picape Chevy 500. Ao todo, mais de 1,6 milhão de unidades foram produzidas, sendo inclusive exportados para os países vizinhos, criando assim uma legião de fãs e admiradores do modelo. 

Possante Novo

Com o objetivo de valorizar os veículos e proprietários de modelos Chevrolet do Vale do Paraíba, a concessionária Veibras promove desde 2015 o concurso cultural Possante Novo. Na campanha promocional, os proprietários de veículos antigos Chevrolet inscrevem seus carros e contam sua história com o modelo, que, na maioria das vezes, é tido como parte da família. Carro e biografia são avaliados por um júri técnico e por um júri popular, para, no final, o escolhido ser contemplado com a reforma em seu carro, que a Veibras chama carinhosamente de possante.

Em sua sexta edição, o evento cultural tem uma dupla comemoração, a primeira referente aos 50 anos de lançamento do Chevette e a segunda trata-se dos 65 anos de atividades da concessionária Veibras, na cidade de São José dos Campos, SP. “Para 2023 teremos uma dupla comemoração, além de celebrar os 50 anos do Chevette, a sexta edição do ‘Possante Novo’ também comemora o aniversário de 65 anos da Veibras e retoma as origens da nossa iniciativa, já que o primeiro possante reformado no concurso, em 2015, foi o Chevette da dona Araci Garcia Cândido, que ainda cuida do carro com muito zelo, como se estivesse saído da oficina hoje”, relembra Rafael Davoli, diretor de marketing da Veibras.

A Edição 2023 do Possante Novo contou com um total de 20 inscritos na primeira fase. O primeiro passo foi fazer a pré-inscrição no link, gravar um vídeo de até 1 minuto contando a história do seu Chevette e porque ele merece ser o Possante Novo 2023. Na segunda etapa o júri analisou cada uma das histórias e dois carros foram escolhidos: uma Chevy 500 1989 e a perua Marajó 1986. Após os votos das redes sociais, do público e do júri especializado, a Chevy 500 acabou consagrando-se vencedora da edição 2023. 

A picape Chevy 500 agora irá passar por uma ampla reforma, que inclui desmontagem, jateamento, lixamento e pintura, sempre respeitando o projeto original, de forma que o veículo preserve suas características de fábrica. O evento de entrega do utilitário reformulado está prevista para o final de 2023, na sede da concessionária Veibras. 

CHEVETTE "MADE in ECUADOR"

O último Chevette deixou a linha de produção de São José dos Campos em 12 de novembro de 1993. Essa despedida ocorreu para os clientes brasileiros, pois a unidade joseense manteve o maquinário de estamparia, peças e motores para atender ao mercado equatoriano que recebia o carro em regime CKD (completamente desmontado). No Equador o Chevette era montado pela Aymesa, que também exportava o modelo para a Colômbia. 

A Aymesa (Automóveis e Máquinas do Equador SA), com sede na capital Quito, foi inaugurada em 1970 como revendedora das marcas inglesas Vauxhall e Bedford. Três anos depois, a Aymesa, em cooperação com a General Motors, iniciou sua jornada na indústria automotiva equatoriana com o projeto VBT (Veículo Básico de Transporte). O plano evoluiu e foi batizado de Andino, uma pequena picape, sendo o primeiro veículo fabricado localmente e que utilizava plataforma Bedford e motor Vauxhall de quatro cilindros de 1,2 e 1,4 litro. Entre 1973 a 1975, já haviam sido comercializadas 1 mil unidades da picape no Equador. O utilitário também foi exportado para Costa Rica, Guatemala e Honduras.  

Em 1976 a Aymesa apresenta o Condor. O modelo era o Opel Kadett C, produzido no Uruguai, que lá recebia a alcunha de Grummet e era exportado para o Equador nas carrocerias sedã (SL e GP) e fastback (GT). Chamava a atenção o visual, a dianteira recebia um kit confeccionado em fibra de vidro que a deixava muito semelhante à do Vauxhall Chevette fabricado na Inglaterra. Na parte mecânica todos os modelos eram equipados com o motor de quatro cilindros de 1,4 litro de 68 cv a 5.800 rpm e torque máximo de 10,3 m.kgf a 3.000 rpm, acoplado ao câmbio manual de quatro marchas, importados da GM Brasil a partir de 1976.

O Condor encontrou um público cativo no Equador, inclusive participando de competições com o modelo Condor Racer, uma versão especial preparada pela própria Aymesa e vendida aos entusiastas que gostavam de competir nos circuitos de corrida equatorianos. Em 1980 a linha Condor era ampliada com a chegada da versão perua, igual a nossa Marajó, já a carroceria cupê substituía o modelo fastback. 

A crise econômica sofrida pelo Uruguai e a desvalorização cambial em dezembro de 1982 fizeram com que as vendas desacelerassem. A AutoPeças Espósito, com fábrica localizada em New Helvetia, responsável pela fabricação do Grumett, fechou as portas, deixando de exportar o Aymesa Condor para o Equador. Nesse período, a General Motors inaugurou sua própria filial no Uruguai e passou a comercializar o Chevette no país, nas variações sedã de duas e quatro portas, que eram recebidos desmontados, em kits CKD, da General Motors do Brasil.

San Remo

No Equador a maneira encontrada para cobrir a lacuna deixada pelo Grumett foi importação em regime CKD de kits do Chevette brasileiro a serem montados pela Aymesa a partir de 1983. No país equatoriano o modelo recebeu o nome de San Remo, sendo comercializado nas versões sedã de duas e quatro portas, equipados com motores de quatro cilindros de 1,4 e 1.6 litro, acoplados ao câmbio manual de cinco marchas. Em 1981, a norte-americana General Motors tornou-se acionista e iniciou-se um importante investimento na montagem de veículos e produção de autopeças. A GM passa a aplicar nos veículos o logotipo Chevrolet.   

San Remo chegou ao Equador com visual renovado lançado no Brasil em 1983. Diferente do Grumett, o San Remo trazia a carroceria toda em aço, e a combinação do motor de 1,6 litro, quatro portas e um visual atraente para aquela geração tornaram o modelo um grande sucesso de vendas. Além do Equador, o San Remo foi exportado para a Colômbia, tornando-se o modelo favorito dos taxistas.

Aqui no Brasil há uma unidade do San Remo. Trata-se de um sedã quatro portas, ano 1996, em um bonito tom de vermelho. Em um primeiro olhar fica difícil dizer que se trata de um modelo importado, porém, em olhar mais atento descobre-se as diferenças. Externamente as rodas contam com desenho mais simples e uma pequena calota central de plástico. Os pneus são da marca General Techna R4000, na medida 175/70 R13. Outra curiosidade é o pequeno aerofólio fixado à tampa do porta-malas, além do aplique de plástico utilizado como extensor no local onde é fixada a placa. Por fim, também não menos curioso, há um adesivo no vidro traseiro que lembra que o modelo é equipado com câmbio de cinco velocidades.
Internamente o painel traz os instrumentos de desenho quadrado, o mesmo aplicado nos modelos Chevette SE, SL/E e DL. Porém, não conta com o relógio de horas digital, mas manteve as luzes indicadoras de consumo (duas luzes de led, verde para indicar consumo normal e a vermelha para consumo elevado). Os bancos são revestimento em tecido navalhado com a porção posterior em vinil, mesmo material aplicado na forração lateral das portas. Já o console central difere dos Chevettes brasileiros por contar com dois porta-objetos, além de não ter o acendedor de cigarros.

O último San Remo deixou a linha de produção em 1996. Durante os 13 anos em que foi comercializado no Equador, o San Remo acompanhou as evoluções estéticas aplicadas aqui no Brasil, internamente o acabamento diferia em alguns pontos do similar brasileiro, como nos revestimentos os bancos, carpete e acessórios.  

Comentários