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Transmissão ZF 9HP48/948TE aplicada em veículos que oferecem nove velocidades com desempenho

Na busca de mais clientes interessados por seus veículos, montadoras investem em argumentos técnicos que atraem motoristas que se interessam por transmissões automáticas com maior número de marchas

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Por Carlos Napoletano


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Parte 1

A transmissão ZF 9HP48, também conhecida como 948TE nos produtos da FCA (FIAT/CHRYSLER Automóveis), é uma transmissão de nove velocidades à frente encontrada em vários veículos, entre eles os modelos da Honda/Acura, alguns modelos Land Rover, etc. Para os veículos da FCA especificamente, existem mais de três milhões destas transmissões instaladas no Jeep Cherokee, Renegade, Compass, Chrysler 200, Pacifica, RAM Promaster City e no Fiat 500x.

Quando foi lançada nos veículos da FCA, a transmissão 9HP48 tinha vários pontos falhos sobre qualidade de mudança, mudanças ascendentes e reduções ásperas, demora nos engates das marchas, códigos de falhas relativos à patinação, códigos de falhas relativos a travamento de marchas e vários outros. Muitas destas reclamações foram resolvidas através da reprogramação do módulo de controle TCM, assim, quando diagnosticamos esta transmissão, é importante revisar os boletins técnicos emitidos para ela e verificar se existe recall da mesma.

Quando revermos os boletins técnicos da FCA, veremos que para cada modelo e cada ano existem Boletins Técnicos alertando o técnico a executar uma atualização no TCM. Conforme esperado, sempre que uma transmissão é lançada, existem várias reclamações que necessitam ser sanadas ao longo de sua vida útil. (Fig.1)

A história se repete também com esta transmissão, visto que ela é uma reminiscente da transmissão 41TE quando foi inicialmente lançada em 1989 e então através da primeira metade dos anos 90. Estas primeiras unidades mantiveram as concessionárias muito ocupadas porque suas falhas aconteciam muito antes de findar o período de garantia dos veículos.

Então, o que salvou a 41TE? Uma das principais mudanças foi o software, junto com melhorias de hardware do módulo. As mesmas transmissões 41TE básicas que antes não conseguiam percorrer 50.000 quilômetros lá pelos anos 1990, ainda continuam em produção em 2019 (Dodge Journey e Fiat Fremont), porém hoje são dificilmente vistas nas oficinas, por causa de sua confiabilidade, que melhorou consideravelmente. Muitas destas melhorias feitas na transmissão 41TE foram realizadas através de atualizações do software e a utilização de computadores que podiam ser reprogramados.

Quando se revê os Boletins Técnicos da FCA sobre a transmissão ZF 9HP48, percebemos que existem várias atualizações de software especificamente para os modelos 2014-2016, e estas atualizações cobrem uma grande variedade de reclamações, e atualmente os modelos mais recentes ainda possuem atualizações disponíveis, porém atendem muito menos reclamações. No decorrer dos anos, o software tem melhorado até o ponto em que esta transmissão tem se tornado mais suave nas mudanças de marcha e mais confiável.

Como nota complementar, a ZF fornece software básico para os fabricantes utilizando a transmissão ZF 9HP48, porém cabe aos fabricantes providenciar um programa para controlar suas características específicas de mudanças. Esta pode ser uma razão porque a Honda/Acura não liberou nenhuma atualização de software como a FCA fez, por exemplo. Neste artigo vamos mergulhar um pouco na construção e operação da transmissão ZF 9HP48 e destacar algumas particularidades de reforma. 

Construção

A transmissão ZF 9HP48 possui quatro conjuntos multidiscos e duas embreagens DOG. O conjunto de engrenagens é dividido em três seções: a seção de engrenagens frontal, intermediária e traseira. O diagrama em bloco na figura 2 mostra como o conjunto de engrenagens é constituído. 

Note que os itens que possuem a mesma cor estão conectados uns aos outros. Compare o diagrama em bloco ao conjunto completo de engrenagens na figura 3 para se ter uma referência das engrenagens, tambores e eixos. 

Ligações comuns

A saída sempre é proveniente do carregador dianteiro. A engrenagem anelar dianteira também é conectada com o carregador intermediário. A engrenagem anelar intermediária é conectada ao carregador traseiro. As engrenagens solares dianteira e intermediária são uma só e a mesma.

O conjunto traseiro de engrenagens é único por ter dois conjuntos de carregadores e a engrenagem solar maior, que age também como uma pequena engrenagem anelar. Esta transmissão é descrita como possuindo quatro conjuntos planetários, mas gosto de pensar que ela somente possui três conjuntos, desde que o conjunto traseiro contém uma pequena solar, um carregador pequeno e a combinação da anelar pequena e solar grande, um carregador grande e uma anelar maior. 

Dois dos conjuntos multidiscos (B e E) entregam o torque de entrada para o conjunto de engrenagens, e os outros dois (C e D) travam parte do conjunto de engrenagens à carcaça. A embreagem DOG A  permite que o eixo de entrada acione o conjunto da engrenagem solar maior/engrenagem anelar pequena. A embreagem DOG F permite travar as engrenagens solares dianteira e intermediária na carcaça através do suporte da engrenagem de saída.

Engrenagem anelar intermediária e carregador duplo traseiro. Note que a engrenagem solar maior é também a engrenagem anelar menor para o conjunto planetário menor. 

Particularidades de reforma 

A transmissão ZF 9HP48 não é uma transmissão complicada para se reformar. Para desmontagem, os tubos de alimentação por trás do corpo de válvulas fornecem uma pequena resistência para remoção do corpo. Os tubos de alimentação possuem localização óbvia, e são responsáveis por fornecer pressão hidráulica às embreagens, TCC, bomba de óleo e circuitos de lubrificação.

É uma boa ideia inspecionar com ar comprimido as embreagens por ocasião da desmontagem. A figura 7 identifica as passagens de aplicação das embreagens na carcaça. A embreagem DOG F vaza bastante até que o pistão da embreagem seja acionado, ficando então bem vedado. A embreagem DOG F nas unidades utilizadas para este artigo não se move facilmente a menos que a pressão de ar atinja 60 psi ou mais. Isto é devido as que unidades não estiveram em uso e são novas.

Após aplicar algumas vezes, a embreagem DOG F viaja corretamente para frente e para trás ao se aplicar ar comprimido nas passagens de aplicação e desaplicação. O circuito de aplicação da embreagem DOG A também vaza um pouquinho, mas uma vez que ele aplique, ele se estabiliza. É uma boa prática inspecionar com ar comprimido estas embreagens antes da desmontagem, para termos certeza do que podemos esperar ao se testar com ar a transmissão após sua montagem. 

Remoção dos rolamentos

É necessário remover o rolamento da engrenagem de transferência da carcaça a fim de se remover os pistões das embreagens C e D, carcaças e embreagens. Existem cortes de alívio na carcaça para permitir que um sacador de rolamentos de duas garras seja inserido por baixo da pista interna do rolamento. Posicione o sacador no alojamento correto ou a gaiola do rolamento poderá ser danificada. 

Como muitas transmissões, existem várias ferramentas especiais para reforma da ZF 9HP48. O compressor Miller 8901ª, junto com a extensão 10428ª, são projetadas para comprimir a carcaça da embreagem, permitindo que o anel trava seja removido e também que possamos medir a folga do conjunto. O custo elevado destas ferramentas pode representar um ônus no preço da reforma da caixa, porém ele deve ser encarado como um bom investimento.

Se desejarmos utilizar componentes usados já existentes, podemos utilizar uma placa de pressão da transmissão 6L80 que serve na carcaça da embreagem D perfeitamente e uma capa da engrenagem solar de reação da transmissão 4L60-E que serve perfeitamente na placa de pressão da embreagem 1-2-3-4. Aparafuse uma barra cruzada na carcaça utilizando os parafusos mais curtos da carcaça do conversor. Tente manter a barra cruzada o mais centralizado possível para permitir que a capa comprima a mola de retorno do pistão corretamente. O curso da ferramenta permite que haja folga suficiente para remover o anel trava. 

O anel trava pode ser difícil de remover, porém com um pouco de paciência e habilidade faremos o serviço. Uma vez que o anel trava seja removido, podemos remover o conjunto da mola de retorno. Removemos a seguir o anel O-ring ao redor da carcaça, que poderá cair dentro do rasgo do anel trava, dificultando um pouco sua remoção. Use um pouquinho de criatividade. Como podemos imaginar, ao instalar de volta a carcaça aplique uma boa porção de vaselina neutra ao anel O-ring e comprima a carcaça tão igualmente quanto possível para evitar danificar o vedador.

A informação de serviço estabelece que a mola de retorno do pistão da embreagem C precisa da ferramenta Miller 10507a.

Pode-se utilizar um disco de aço da embreagem de 3-5-Ré da transmissão 6L80. 

Este processo é necessário para remoção do pistão da embreagem C para limpeza, inspeção e substituição dos vedadores. 

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