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Carretas transportam vidros planos pelas rodovias e poucas pessoas sabem como funcionam

Para quem não está atento aos tipos de veículos que trafegam pelas estradas, é mais uma carreta transportando algum produto, mas na verdade a carreta de transporte de vidros é totalmente diferente

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Por Antonio Gaspar de Oliveira


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Este tipo de carreta foi projetado na Europa para o transporte específico de vidros planos, mas como o vidro não é uma carga comum, foi necessário desenvolver um sistema de embarque e desembarque da carga especial e frágil e além disso, foi preciso desenvolver uma suspensão adequada para este tipo de produto, para não sofrer danos durante a viagem.

Antes de conhecer esta carreta inovadora, vamos entender como é produzido o vidro plano e quais são os maiores fabricantes instalados no Brasil.

O vidro plano é na verdade um vidro básico que podemos chamar de matéria-prima que vai ser utilizado por outras fábricas para produzir peças com aplicações específicas como o para-brisas de veículos. O método de fabricação também é singular, a massa de vidro derretido flutua sobre um banho de estanho, até adquirir a espessura desejada enquanto a massa vítrea esfria. 

Depois que atingiu a temperatura ideal de esfriamento, o vidro é cortado em tamanho padrão para o transporte nas carretas especiais.

O Brasil tornou-se produtor de vidros planos desde a década de 70 com a instalação da empresa Cebrace, que reúne conhecimento e tecnologia da francesa Saint Gobain e a japonesa NSG, tornando-se umas das maiores fábricas no território nacional.

Outra empresa é a ACG, que produz vidros planos para a construção civil e para o setor automotivo.

A empresa Guardian tem atividades em 25 países incluído o Brasil, desde 1994, e é uma das maiores fábricas de vidros planos do mundo.

Vivix vidros planos está localizada no estado de Pernambuco e é a única empresa do setor com capital nacional e é considerada entre as mais modernas, além de possuir minas de extração de matérias-primas, o processo de controle de qualidade se inicia e segue até o esfriamento dos vidros planos.

Segundo o relatório da Abravidro (2016), a capacidade de produção nominal era de 6.950 toneladas de vidro plano por dia, sendo que o setor automotivo é responsável pelo consumo de quase 50% da produção.

Essa quantidade enorme de vidros planos tem que ser transportada em carretas especiais que vocês irão conhecer nesta matéria.

Existem vários fabricantes deste tipo de carreta pelo mundo, mas a oportunidade de conhecer e fotografar aconteceu na rodovia Castelo Branco através da empresa que transporta vidros planos da Guardian com sede na cidade de Tatuí, no interior do estado de São Paulo.

A empresa fabricante da carreta é a Labor Equipamentos com sede na cidade de Guarulhos, na região da Grande São Paulo.

A história do transporte de carga de vidros planos acompanha a evolução da produção de vidros, que precisou desenvolver carretas especiais para este tipo de carga.

Em 1957 a empresa britânica Pilkington foi pioneira no desenvolvimento do sistema Float,  no qual a massa de vidro derretida era colocada sobre um tanque com estanho líquido, para o vidro adquirir a forma plana e sem imperfeições na superfície devido a estabilidade e uniformidade oferecidas pelo estanho.

Superando esta etapa de produção, teve início um novo desafio, que era o transporte das placas de vidros pelas estradas, mas não havia ainda o desenvolvimento de carretas especiais para este tipo de carga.

O tamanho padrão dos vidros planos na época era de 3,2 por 7 metros e a indústria de carretas não tinha ideia para encontrar a solução ideal para o transporte deste tipo de carga pesada e acima de tudo, muito frágil.

Foi descoberto mais um elemento crítico neste tipo de transporte: 

A água é a inimiga do transporte de vidro. 

Se apenas algumas gotas invadirem a lacuna entre as vidraças, elas ficarão juntas inseparavelmente e toda a carga será inutilizada.

Agora começamos a entender algumas das razões que tornam este tipo de carga considerada como frágil, mas os cuidados vão muito além dos padrões habituais adotados nos transportes de produtos.

Atualmente muitas empresas atuam na fabricação e comercialização de carretas especiais para o transporte de vidros planos e basicamente existe um padrão aplicado nestas carretas.

Este tipo de carreta não tem eixos transversais que é o padrão adotado na fabricação de carretas que transportam cargas convencionais. Na verdade, esta carreta não tem eixo, mas possui três rodas de cada lado que utilizam pneus single (1 pneu), com o cubo de roda fixado na lateral da estrutura da carreta. 

O motivo desta arquitetura, é manter o vão interno da carreta totalmente livre para receber o suporte (rack) com a carga de vidro plano

Já era de se esperar, que para transportar uma carga frágil, a carreta deve ser equipada com suspensão ar, mas as bolsas de ar também foram projetadas para baixar a carreta quase ao nível do solo para permitir o embarque da carga instalada no suporte, também chamados carregadores internos, que se tornou o equipamento padrão na indústria de transporte de vidro da Europa e demais regiões, como aqui no Brasil. 

O formato destes carregadores ou racks, é semelhante ao da letra A e L, onde as placas de vidros planos são colocadas e a leve inclinação ajuda a manter a carga no lugar. O procedimento de embarque do rack com vidro plano, além de ser engenhoso, exige conhecimento e perícia do motorista do caminhão, que deve posicionar de ré, abrir o portão da carreta,  assim é possível ver todo o vão livre. 

O rack pré-carregado será embarcado pela parte de trás, unindo-se com a estrutura da carreta.  Além da manobra em marcha ré, é preciso baixar a carreta a alguns centímetros do solo para encaixar o rack com vidro e assim que o rack estiver totalmente dentro da carreta, a suspensão é acionada para levantar a carreta e a carga posicionada adequadamente.

Para manter a carga firmemente no lugar, são utilizados braços hidráulicos e suporte com almofadas que prendem a carga com a pressão necessária, sem causar danos ao vidro.

Com a carga embarcada e presa pelos suportes hidráulicos, é hora de acionar e fechar o portão traseiro da carreta, mas antes é colocada uma trava transversal para manter a rigidez da estrutura da carreta e também o portão possui travas especiais que completam o travamento e a rigidez do conjunto.

Observando a carreta pelo lado de fora, na parte da frente tem duas entradas de ar e na parte traseira também tem as aberturas de ventilação, através delas ocorre a troca ar para manter a temperatura estável em relação ao ambiente externo.

Na parte interna, na altura do teto, estão as cortinas de tecido de algodão que ajudam a distribuir o ar que entra pelas aberturas frontais e ao mesmo tempo, este tecido absorve a umidade gerada pela condensação que pode ocorrer quando há mudanças de temperatura. (Fig.20)

As condições favoráveis à formação de condensação podem ocorrer durante o embarque e desembarque e também durante a viagem, principalmente ao atravessar trechos de montanhas com túneis. 

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