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Corrente coroa e pinhão: relação que nem sempre é duradoura e precisa de manutenção

Além da qualidade das peças, três fatores são necessários para prolongar ao máximo a durabilidade do conjunto corrente, coroa e pinhão. Vamos falar sobre os cuidados para minimizar os desgastes destes componentes

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Por Paulo José de Sousa


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Dos três fatores, dois são: lubrificação e ajuste de folga, cujos procedimentos fazem parte da manutenção básica da motocicleta. Já o terceiro ponto corresponde às análises da estrutura que envolve o sistema de transmissão, esse serviço deve ser realizado durante a troca do kit de transmissão. Ignorar um desses procedimentos é o mesmo que antecipar o final da vida útil das peças.  

Começaremos esta matéria falando da qualidade da corrente e das engrenagens, na sequência abordaremos as questões relacionadas à manutenção.

A ideia de compor essa matéria nasceu a partir da troca do conjunto de transmissão (corrente, coroa e pinhão) de uma Honda CB250. Após uma breve pesquisa de mercado percebemos que os preços variavam de R$ 120,00 a R$700,00 aproximadamente. Diante de tantas opções, no meio dessa confusão veio a pergunta: Qual marca oferece qualidade e preço bom? É uma preocupação, na oficina ou se perde o cliente porque o orçamento é alto ou a peça oferecida não apresenta durabilidade de um conjunto de marca. 

No mercado da reposição, o produto de qualidade a preço justo é escasso, já os itens de categoria duvidosa são abundantes. Essa regra é bem antiga, nesse cenário, a peça genuína (original de fábrica) nem sempre está à disposição no balcão da concessionária ou, o preço não corresponde à realidade do cliente. Com base nessa premissa, o reparador recorre ao mercado paralelo sob o risco de comprar “gato por lebre”. 

Não é nossa intenção discutir preços de peças, mas refletir na qualidade e nos impactos que uma escolha malfeita pode ocasionar no pós-venda, rendendo prejuízos à oficina, riscos à segurança do condutor da motocicleta e insatisfação aos clientes. O mercado é cheio de armadilhas, há sempre alguém oferecendo componentes com ótima aparência, preço baixo e nenhuma garantia de qualidade.

O aspecto da peça não pode ser considerado como referência de qualidade, o reparador não pode aceitar essa definição como parâmetro de análise.

Sem querer generalizar, a lógica de alguns vendedores tem o objetivo de impulsionar as vendas.  Na perspectiva do balconista, a peça do mercado paralelo é “igualzinha” a original. 

Vale lembrar que o mecânico tem que dar garantia do serviço prestado. É bom ter em mente que a reputação da oficina e do reparador vão ser sempre pesadas na “balança do cliente” e podem adquirir fama negativa, que pode ser potencializada nas redes sociais. Isso ninguém merece. É necessário valorizar a segurança do motociclista e a durabilidade do jogo de peças.

Alguns reparadores ainda não perceberam que os fabricantes de motocicletas oferecem kits de peças de reposição mais baratas que as peças originais, são as chamadas peças de pós-venda. 

É uma linha intermediária de peças que não entram na produção de motos, mas possuem marca e boa qualidade. Na Honda a linha de reposição é conhecida como HAMP (foto), a Yamaha atua com a linha Y-TEQ, já a Suzuki comercializa itens como peças de pós-venda (PPS).

Vale ressaltar que no mercado paralelo também há componentes bons com preço justo, cabe ao reparador descobrir essas marcas.

A lealdade do cliente é conquistada pelo serviço bem feito, há quem discorde, mas as peças de segunda categoria acabam afugentando os clientes, pois exigem retrabalhos e a substituição em prazos curtos, tornando o serviço com qualidade duvidosa, além de elevar o custo de mão de obra. Para piorar a situação, o cliente se sente enganado, isso é um mau negócio. 

Troca da relação da CB 250

Nessa troca de peças incluímos a trava do pinhão, a peça não acompanha o kit, o componente apresenta desgaste, porém nem sempre perceptível. A trava ajusta o pinhão ao eixo secundário do câmbio. A durabilidade das estrias do eixo depende da folga do conjunto: pinhão x eixo. Ao montar a trava, o reparador deve atentar-se para o lado da instalação, outro detalhe está nos parafusos que prendem a trava, estes devem ser instalados com trava química (torque dos parafusos da trava do pinhão 1kgf.m - CB250). 

Indo um pouco mais fundo no assunto 

Há muito tempo, as peças que compõem a relação são certificadas, esse processo no qual são avaliadas tem como base um conjunto de normas técnicas elaboradas por órgãos certificadores. Nesse caso, são asseguradas as mínimas condições de qualidade. Para o usuário, essas normas de certificações refletem na segurança e na durabilidade do conjunto. As normas são indicadas nas embalagens do kit de relação. Por outro lado, é bom ficar atento, no mercado ainda se corre o risco de adquirir produtos sem certificação. 

A corrente é estruturada em chapas de aço especial, projetada para suportar uma determinada carga admissível ou carga de trabalho, quando o limite é excedido a corrente atinge sua ruptura, ou seja, as placas esticam, trincam e quebram. 

Os elos são organizados em: placas, pinos, rolos e buchas, cada parte feita de um tipo de aço especificado pela SAE, as características da matéria-prima utilizada e o tratamento do metal conferem ao conjunto uma vida longa, as boas marcas seguem diversas normas de especificação de uso em motocicletas, que são diferentes das normas de aplicação em máquinas, por isso a corrente de equipamento industrial não pode ser utilizada em motocicletas.

A corrente quando tracionada deve envolver as engrenagens (coroa e pinhão) precisamente copiando o seu formato, assim a exatidão de encaixe proporcionará baixa emissão de ruídos e quase nenhuma vibração, nesta condição o desgaste será mínimo.

Mesmo que não pareça, o desgaste não está limitado somente à corrente, as engrenagens também são submetidas aos esforços excessivos. O pinhão por exemplo apresenta desgastes indicados nas inclinações nos dentes, se não for trocado a tempo pode ocorrer a quebra. 

Durante a pilotagem da motocicleta, no movimento da suspensão a distância entre o eixo do pinhão e o eixo da roda traseira se altera, provocando um tensionamento da corrente e trancos em todo o conjunto, se o ajuste da folga estiver fora do recomendado ocorrerão esforços no eixo secundário do motor (eixo do pinhão) e por consequência, danos nos rolamentos internos do câmbio, vazamento no retentor do eixo, falha na lubrificação das partes internas da corrente e desgastes na relação, quebras de dentes das engrenagens, danos no cubo da roda e desgaste excessivo nos coxins ou buchas da coroa. A relação da motocicleta está exposta a alta temperatura, poeira, grãos de areia e água da chuva.

Após um período de utilização normal a corrente se alonga, ou seja, fica com folga e até produz ruído de batida no chassi da moto, no excesso de folga ocorrem oscilações, ondulações e a corrente pode escapar das engrenagens, provocando danos à motocicleta e também ao condutor.

Dando uma geral nas buchas da balança da motocicleta

Sabendo a utilização e considerando a quilometragem da motocicleta optamos por remover a balança traseira, assim garantimos a máxima qualidade no serviço, evidentemente a mão de obra teve um pequeno acréscimo previamente autorizado pelo cliente. 

É necessário avaliar a motocicleta para não limitar-se apenasàa troca da relação, verificamos as condições dos coxins da coroa, rolamentos da roda traseira e as buchas do quadro elástico, além da lubrificação das articulações. A folga em qualquer uma dessas partes irá comprometer a durabilidade do conjunto.

Esteja atento, o aperto excessivo no eixo da roda traseira reduzirá a vida útil dos rolamentos e pode danificar o cubo. (torque no eixo da roda 8,8 kgf.m-CB250)

Ao instalar a coroa aplique trava químicas nas porcas (torque aplicado nas porcas 6,4 kgf.m-CB250). Verifique se a coroa apresenta folga, movimente-a para frente e para trás, se necessário substitua os coxins.

A lubrificação do eixo e buchas da balança eliminam rangidos e prolongam a vida das buchas e roletes. 

Mas se a corrente é tão boa porque se desgasta rápido, escapa das engrenagens ou quebra?

Essa é a pergunta do cliente quando recebe o orçamento da troca da relação.

É comum que os reparadores saibam em média qual a vida útil da relação, mas há casos em que a durabilidade do conjunto é muito encurtada, é bom ter em mente que mesmo os conjuntos das melhores marcas não suportam maus tratos, falta de lubrificante ou manutenção. Independente da marca e modelo de motocicleta, o conjunto da transmissão original normalmente tem vida longa (se bem cuidado, é claro). 

Em nosso caso temos como exemplo a CB 250 Twister que rodou 42676 km com o mesmo conjunto de transmissão, uma média excelente.

A responsabilidade de ajuste e a lubrificação do conjunto pertencem ao usuário da motocicleta, algumas oficinas oferecem o serviço a baixo custo ou em forma de cortesia na intenção de atrair o cliente.

Outras falhas de manutenção na corrente e as consequências na motocicleta

Posição do grampo da emenda da corrente:

Algumas correntes possuem emenda, por isso é necessário seguir a recomendação de posicionamento do grampo trava da emenda, sendo: o lado fechado da trava deve estar alinhado com o sentido de rotação da corrente, para que durante o movimento ele não se abra e a emenda se solte. 

Transmissão nova com ruído

Para esse sintoma a causa pode ser a inversão da posição da corrente.

Caso a corrente seja retirada da motocicleta, ao remontá-la mantenha a posição anterior, do contrário irão ocorrer ruídos. 

Desalinhamento do eixo da roda traseira

Ao ajustar a tensão da corrente é necessário manter o alinhamento do eixo da roda, o desalinhamento irá acelerar o desgaste do conjunto e provocar outras consequências como: desgaste excessivo e quebra da corrente. O desalinhamento também pode deixar a motocicleta instável, ao ser conduzida ocorre a sensação da moto estar puxando para o lado, ainda como consequência há o desgaste irregular do pneu traseiro.

Manutenção periódica: Limpeza e lubrificação 

Durante a limpeza recomenda-se o uso de um sabão desengraxante com um pincel, direcione o jato de água fria de baixa pressão e faça a remoção da sujeira, seque com ar comprimido e em seguida faça a lubrificação. 

Lubrificação 

Normalmente os fabricantes de motocicletas recomendam o óleo SAE 80 ~ 90, e determinam que a lubrificação seja executada a cada 500 km ou sempre que necessário, para as regiões de muita poeira é aconselhável reduzir este intervalo, sempre que for lubrificar verifique se há necessidade de lavar a corrente para remover a crosta impregnada de óleo com poeira.  O uso de graxa não é indicado como lubrificante. 

Cuidados com a corrente autolubrificada

A corrente autolubrificada (CB 250) segue a mesma regra da corrente comum, porém ela é previamente lubrificada pelo fabricante, utiliza lubrificante especial entre os pinos, buchas e roletes, é montada com anéis de borracha que fazem a vedação, assegurando que as partes internas fiquem sempre lubrificadas, a lubrificação da parte externa deve ser realizada normalmente.

Durante a lavagem da motocicleta alguns procedimentos devem ser praticados:  não utilize solvente, água em alta pressão ou temperaturas muito elevadas.

Os anéis de borracha podem ser danificados e ocorrer a remoção do lubrificante especial, cuidado com os lubrificantes em forma de spray, alguns são compostos por solventes que também são agressivos aos anéis de borracha.

Outro fator que reduz a vida útil da relação 

• A ação química do ácido da bateria

Nem folgada nem esticada demais

A folga padrão de ajuste recomendada pelos fabricantes é um dado importante, que tem o objetivo de evitar os danos causados pelo excesso de tensão (muito esticada) ou a falta de tensão (muito solta).

Inspeção da folga da corrente deve atender os seguintes passos:

⦁ Posicione a motocicleta em uma superfície plana de modo que a roda traseira fique livre.

⦁ Para a exatidão da aferição de folga e ajuste é necessário que a corrente esteja limpa, com os elos soltos e lubrificados.

⦁ Gire a roda, o ponto de verificação da corrente fica na parte de baixo bem no centro.

⦁ Procure a posição em que a corrente fique mais tensionada e, neste ponto execute a verificação da folga movimentando a corrente para cima e para baixo (folga da corrente: 20 a 30mm - CB250)

⦁ Se a corrente exceder o limite de folga execute o ajuste conforme a recomendação.

⦁ Após apertar as porcas dos ajustadores e a porca do eixo da roda traseira confira a folga novamente.

Obs.: Esse serviço deve ser realizado com o motor desligado

Diagnóstico final da vida útil da transmissão

O final da vida útil da corrente e das engrenagens é indicado pelo sistema de ajuste, após alguns milhares de quilômetros não será possível tirar a folga da corrente, os ajustadores chegaram ao final de seu curso, indicando assim o limite de uso da transmissão secundária, nessa condição as engrenagens já estão com desgastes no contorno, dentes desalinhados ou tortos, mas o aspecto nem sempre será visível.

A pergunta clássica: “dá parar tirar um ‘gomo’ da corrente? ”

Tirar um par de elos da corrente para reaproveitar o conjunto não é uma atitude inteligente. Essa “economia” pode custar caro. Reutilizar o conjunto pode ser perigoso, durante a pilotagem da motocicleta a corrente pode quebrar, comprometendo assim a segurança do motociclista e da motocicleta. 

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