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Volkswagen e Fiat sempre disputaram pelo topo do mercado, mas quem fez o melhor motor?

Duelo de Forças: queremos saber, no ponto de vista do reparador, qual o melhor motor – O Volkswagen EA111 ou Fiat FIRE. Veja na matéria quais os principais pontos positivos e negativos de cada um e depois vote em nosso site

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Por Fernando Naccari e Paulo Handa


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Reparador Jeferson Nespoli posa com o motor Fire (à esquerda) e o motor EAReparador Jeferson Nespoli posa com o motor Fire (à esquerda) e o motor EA111 (à direita)111 (à direita)Nesta edição, iniciamos uma nova editoria em nosso jornal, o ‘Duelo de Forças’. E nesta primeira, começamos com uma disputa de peso: de um lado, o ítalo-brasileiro motor 1.0 Fire da Fiat, do outro o também 1.0 EA211 da Volkswagen. Vamos às fichas técnicas de ambos para a primeira análise (próxima página).

De início, notamos que o motor da Fiat apresenta menos potência que seu arquirrival, mesmo possuindo maior taxa de compressão. O que o motor da Fiat perde em curso de pistão, ganha no diâmetro do mesmo. No entanto, tudo isso não caracteriza o Volkswagen como melhor, pois nos veículos em que são empregados (tomando como base o Uno e Gol), estes costumam utilizar relações de marchas diferentes, onde no Gol estas são mais longas, deixando-o com desempenho prejudicado na cidade, mas com melhor disposição na estrada e, no Uno, as relações são mais curtas na primeira e segunda velocidades, e mais longas nas demais. Com isso, ele tem um desempenho melhor na cidade, é um carro bem mais ágil e ainda é capaz de oferecer um consumo equivalente ao do seu concorrente. Porém em trajetos rodoviários, o Uno quando chega na quinta marcha, parece suplicar por mais uma, ou duas. Enfim, nesse quesito vale mais o gosto pessoal do que considerar um melhor ou outro pior.

Mas, dentro de seus corações, o segredo que cada um carrega, somente um reparador que convive com a manutenção de ambos pode contar.

Diante dessa realidade, conversamos com Jeferson Ascava Nespoli de 41 anos de idade (FOTO 1). Reparador automotivo há mais de 20 anos, é proprietário da retífica Removel, com sede própria situada em Santo André – SP. “Trabalho desde os anos 90 com retíficas de motores ciclo Otto e ciclo Diesel em todas as categorias e modelos de veículos”.

Falamos também com Daniel Kawashima de 36 anos de idade (FOTO 2), dos quais há mais de 18 anos atua na profissão de reparador. Iniciou a carreia com 13 anos junto com um primo e, aos 19 anos, se tornou proprietário da oficina Super G, localizada no bairro da Praça da Árvore em São Paulo, capital. 

Foto 1 e Foto 2

Foto 3OS NOMES
O Fire da Fiat (FOTO 3), na verdade não tem nada a ver com fogo (tradução do inglês), mas sim Fully Integrated Robotised Engine. O motor foi projetado e pensado para ser construído através de robôs (“ROBOGATE”), a fim de reduzir custos e qualificar sua produção. Um detalhe interessante é que, devido a ter sua produção realizada sem a intervenção humana direta, no ato de uma manutenção é preciso tomar muito cuidado para manuseá-lo, pois o mesmo possui diversas regiões com cantos vivos que podem causar sérios cortes ao reparador. 

Posteriormente foram desenvolvidas as versões 1.0 16V (linha Palio), 1.3 8V/16V (linha Palio e derivados) e 1.4 8V (linha Palio e derivados, Doblò e Idea).

Pelo lado da montadora, o EA111 da Volkswagen (FOTO 4), com o passar dos anos, ganhou um novo nome, o VHT (Very High Torque). Mas cuidado, não confunda VHT com CHT (FORD-AUTOLATINA) ou VHC (GM). Outro nome popular do EA111 é Power, pois equipava os Volkswagen Gol desta versão.

O EA111 é uma grande família de motores, que nasceu com o 1.0 litro, mas a partir de 2001 passou a oferecer motorizações de 1.6 e, em 2005, o 1.4 desenvolvido para a Kombi.

Foto 4 e Foto 5

DEFEITOS RECORRENTES

Jeferson comentou que costuma reparar vários modelos EA111 já com baixa quilometragem e, em grande parte dos casos, o motor apresenta deficiência na lubrificação dos mancais do virabrequim (FOTO 5) e dos colos de comando de válvulas. “Pego vários casos de motores apresentando barulhos internos. Quando vamos conferir o motivo da falha, notamos que há um erro na usinagem destes na fábrica, apresentando folgas nos mancais e cabeçote acima do normal. O especificado é cerca de 0,05mm para estes, mas já cheguei a encontrar motores com folgas de 0,12mm. Isso causa alto ruído interno e queda repentina na pressão do óleo, causando assim a famosa batida de tuchos. Dessa forma, após nossa retífica, deixamos a folga entre 0,04mm e 0,05mm e o problema acaba”.

Já Daniel comentou que sua experiência com o motor EA111 é semelhante a de Jeferson. “Aqui na região já peguei alguns motores EA111 com problemas de lubrificação (FOTO 6) e barulho interno alto. Lembro-me que o pico destas falhas ocorreu em 2011, mas após este ano diminuiu consideravelmente”.

No caso do motor Fire (FOTO 7), Jeferson disse que, se não for por descuido do cliente, os motores Fire não apresentam falhas. “Ao contrário dos EA111, só efetuei reparos internos nestes com quilometragem alta, mas nunca por falhas características, sempre foram os donos que deixaram o carro sem os cuidados necessários, como não trocar o óleo no período. Isso acarreta entupimento da peneira da bomba e, com isso, o óleo deixa de ir para as tubulações no volume correto, causando a fundição dos componentes”.

Foto 6 e Foto 7Assim, devemos também verificar no momento da troca do óleo do motor e remontagem do cárter de óleo, se há a presença de borras internas. “Se efetuarmos uma troca ou remontarmos o componente com óleo novo, este possui uma ação detergente, poderá acelerar o processo de entupimento da peneira da bomba de óleo e filtro, provocando deficiência na lubrificação. Em alguns casos, a luz de advertência nem acende, pois existe a passagem de óleo, mas em quantidade insuficiente para uma boa lubrificação. Isso a longo prazo causa superaquecimento e desgaste prematuro nos componentes que estão em contato direto com o óleo do motor como, as bronzinas de mancal, bronzinas de bielas, comandos de válvulas entre outros”, explicou Jeferson.

Outro motivo de reparo nos motores Fire relatado por Jeferson é no cabeçote do motor devido ao superaquecimento. “Reparamos bastantes cabeçotes com empenamentos, necessitando que realizemos plainas neste e no bloco do motor, pois a junta como é de aço, transfere mais calor para o bloco, causando em casos mais graves também o encolhimento dos pistões, travamento dos pinos, dentre outros (FOTO 8)”.

Daniel nos contou que também presenciou falhas neste componente em sua oficina. “No motor Fire tenho reparado mais a parte do cabeçote (FOTO 9) que, por conta de deficiência no material, acaba apresentando desgaste da sede das válvulas, provocando ineficiência de vedação em que estas ficam até presas, diminuindo as folgas entre o comando e as pastilhas da válvula, causando vazão nos cilindros  e aumentando as emissões de poluentes, fato este que nunca observei ocorrer nos EA111”.

Foto 8 e Foto 9

MAS, E AS INFORMAÇÕES TÉCNICAS?
Como base para o reparo de ambos e para que o serviço seja bem qualificado, é necessário material técnico para acompanhar o profissional na rotina da oficina. 

Sobre o acesso a estas, Jeferson comentou que não encontra dificuldades. “Como ambos estão há alguns anos no mercado, sempre encontro o material que precisamos, mesmo as mais detalhadas, pois os fabricantes das peças nos fornecem tudo. Ressalto também que as concessionárias tanto da Volkswagen quanto da Fiat nos ajudam muito com o que precisamos, porém as da Fiat são bem mais disponíveis”.

Mesma facilidade também apontou Daniel, porém através de outro importante canal. “Para estes modelos não tenho dificuldade nenhuma em informações técnicas. Como participamos e somos filiados ao Sindirepa-SP, toda a informação necessária conseguimos ‘de bate-pronto’, desde diagramas, funcionamentos, estratégias, folgas de válvulas dentre outros”.

Outro ponto importante a ser verificado é a facilidade ao acesso às peças para ambos. Nisso, Jeferson também relatou não ter preocupação. “Para estes modelos de motores não tenho dificuldade nenhuma em encontrar as peças, mas ressalto quanto ao custo delas, pois no motor EA111 (FOTO 10), devido a questão das folgas excessivas, o custo de manutenção fica muito mais elevado, pois acaba envolvendo trocas de conjuntos completos, como cabeçotes e blocos do motor em casos mais graves, fato este que não ocorre com muita frequência nos motores Fire”.

Jeferson acrescentou que atualmente as peças vendidas nas concessionárias tem seu preço reduzido em relação às comercializadas nas autopeças, porém há algumas restrições para ambas as montadoras. “Os componentes do motor, como casquilhos (FOTO 11), bieleta e pistões, ainda tem preço elevado nas concessionárias, mas nas autopeças, conseguimos bons itens de fabricantes idôneos. O mesmo acontece com os distribuidores. Outro problema de adquirir estes itens nas concessionárias é que estas não mantêm as peças no estoque e, em alguns casos, demoram até 30 dias para chegar, o que torna o reparo muito moroso”.

Foto 10 e Foto 11Daniel também comentou que conseguir os itens para ambos os motores não é difícil. “Nesta questão, acredito haver um empate técnico. Não tenho dificuldades para encontrar peças de reposição dos dois modelos, pois temos no mercado de reposição muitos fabricantes que fornecem para as montadoras e colocam as suas peças no mercado, mas com preços bem mais acessíveis dos que os praticados nas concessionárias. No entanto, isso requer que façamos pesquisas para verificar qual o meio de compra mais vantajoso. A única coisa que pesa contra as concessionárias é eles, em sua grande maioria, não possuírem serviço de entrega de peças o que, em uma cidade grande como São Paulo, acarreta em prejuízo à oficina”.

 

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