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Peugeot 402, o sedã que sinaliza a mudança radical no visual dos carros da marca do leão

o sedã que sinaliza a mudança radical no visual dos carros da marca do leão

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Por Anderson Nunes


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Os Estados Unidos triunfaram no período dos anos 1930, ficando marcado como a idade de ouro de tudo que o que era oriundo do país da águia, e as correntes artísticas não seriam diferentes.

O Streamline Moderne (ou estilo aerodinâmico) imperou em todo o mundo graças ao seu apogeu em 1937. Longas linhas horizontais provenientes da Art Deco, curvas, elementos náuticos como grades e escotilhas, impactaram diversos segmentos como as artes decorativas, a arquitetura, o design de interiores e por fim o desenho industrial.

O setor de automóveis não poderia ficar de fora e foi uma das esferas que mais atraiu para si a combinação de estilo modernista com habilidade fina e rica em materiais decorativos. 

Um dos automóveis que beberam dessa fonte artística foi o Chrysler Airflow, lançado em 1934. Do outro lado do oceano Atlântico, na Europa, muitos fabricantes queriam implementar um visual arrojado e aerodinâmico em seus carros. A Volvo foi uma das primeiras fabricantes a colocar em produção uma cópia menor do Airflow, o PV 36 Carioca.

No Japão, a Toyota com seu modelo AA/AB também buscou inspiração no modelo aerodinâmico da Chrysler. Entretanto, o único fabricante que realmente o alcançaria o sucesso comercial com estilo aerodinâmico, foi a francesa Peugeot com o 402. 

O icônico 402 foi apresentado em 1935 e descontinuado em 1942. Sua curta carreira comercial não se deu por causa da queda nas vendas ou porque não era esteticamente agradável - muito pelo contrário, muitos clientes aprovaram o seu visual futurista – mas devido aos gastos militares da Segunda Guerra Mundial que colocaram fim a versão civil do 402.

Hoje o emblemático modelo da marca do leão, é cultuado por uma legião de fãs e entrou para a história, como sendo o primeiro modelo a incorporar os faróis dentro da grade e a seguir os passos da corrente artística americana “Streamline Moderne” na Europa. 

OLHAR DE OUSADIA 

O Peugeot 402 foi apresentado pela primeira vez no Salão Automóvel de Paris em 1935 sob os arcos de vidro do grande palácio de exposições. O ambiente certo para um veículo cuja forma aerodinâmica escreveu a história do visual europeu e que foi celebrado como uma obra de arte escultural.

O modelo ficou conhecido como "Fuseau Sochaux" aerodinâmico, ou seja, a forma do fuso de Sochaux. 

O que tornou o 402 especial era sua aparência aerodinâmica. E chamariz estético ficava por conta dos faróis principais que não estavam mais nos para-lamas, mas sim atrás da grade do radiador.

A princípio podia parecer somente um pormenor estético, mas os faróis ocultos pela grade deram aos carros da série 40X da Peugeot uma personalidade única nos anos 30 e 40. Discretos detalhes estéticos chamavam a atenção, como na base da grade em forma de escudo que guardava um pormenor interessante: o zero do logotipo 402 servia de encaixe para a manivela em caso de avaria no motor de arranque.

Outra característica dos seus modelos predecessores, o para-brisas do 402 era dividido em dois e ligeiramente inclinado. Uma característica especial era da carroceria era ser alongada e plana, no qual não havia estribos laterais. 

Os belos traços visuais tinham clara inspiração no Airflow, sedã norte-americano produzido pela Chrysler desde 1934 sem o sucesso comercial que sua fama sugere. Mais racional, a escolha do fabricante sediado em Sochaux precisou fazer frente ao moderno Traction Avant da Citroën em detalhes. As maçanetas das portas, por exemplo, apresentavam um sistema de 'segurança' embutido, além de oferecer a opção do câmbio pré-seletor Cotal.

Mas na parte mecânica, o Peugeot 402 aderia aos fundamentos básicos como a tração traseira e a carroceria fixada sobre um chassi de longarina, batizada de Bloctube; diferente do conterrâneo do duplo Chevron, que ousou na carroceria monobloco e a tração dianteira.  

Nessa comparação, os embasamentos técnicos aplicados ao 402 permaneceram convencionais, focados em tecnologias conhecidas, e presumivelmente mais baratos e fáceis de serem produzidas.

Aderir a uma configuração tradicional de chassi separado também tornou muito mais fácil para o 402 oferecer com uma ampla gama de carrocerias. Outra novidade apostada pela Peugeot, era o fato dela estar entre os primeiros fabricantes de grande volume a aplicar a racionalização na linha de produção, ou seja, utilizar componentes que pudessem ser compartilhados entre diferentes modelos da gama.  

Mesmo para os padrões da década de 1930, a gama de diferentes versões do 402 baseados em um único chassi único era grande, a Peugeot chegou a ofertar, segundo uma estimativa, dezesseis tipos diferentes de carroceria, desde os caros modelos conversíveis com carroceria de aço até os grandes e espaçosos sedãs familiares que estavam entre os mais espaçosos produzidos na França naquele período.

A ampla gama de versões foi, portanto, cuidadosamente projetada para maximizar o compartilhamento de painéis entre as diferentes variantes de carroceria listadas. 

OPÇÕES VARIADAS DE CARROCERIAS 

O cliente podia optar por três distâncias entre eixos: de 2.880 mm (Légère), 3.150 mm (“Berline”) e 3.300 mm (“Familiale”) comprimento. O chassi curto foi utilizado pelo Peugeot 402 Légère.

O 402 Lègére combinava a distância entre eixos de 2.880 mm, com o motor de 1.991 cm³, que debitava 55 cv a 4.000 rpm, essa receita permitia ao modelo atingir velocidade máxima de e 120 km/h.

A Peugeot oferecia a opção do câmbio pré-seletor Cotal, que podia ser controlado por meio de uma alavanca seletora posicionada atrás do volante, de modo que o motorista precisava mover a mão minimamente para mudar de marcha. 

O sedã Berline, assentava-se no chassi de 3.150 mm, oferecia duas fileiras de bancos na porção posterior. O Berline de quatro portas tinha um desenho lateral equilibrado graças o conceito de três janelas de cada lado.

Nesta mesma distância entre eixos havia no catálogo a versão 402 “normale commerciale”, que também oferecia capacidade para seis pessoas acomodadas em duas filas, no entanto, na parte de trás, no lugar da tampa do porta-malas única, o “commerciale” apresentava uma porta de duas peças. A parte traseira era descrita como sendo (transformado para o transporte de mercadorias).  

O modelo topo de gama era o “402 Familiale” que oferecia distância entre eixos de 3.300 mm, muito parecido em comprimento com a variante “normal” de três janelas, mas com dimensão extra usado na parte traseira da cabine para acomodar uma terceira fila de assentos, que quando não utilizados podiam dobrado.

Essa versão de distância entre eixos longo foi durante muito tempo a preferida para o servido de táxi na cidade de Paris, em vilas e até mesmo sendo ofertadas nas antigas colônias francesas.  

O 402 é lembrado pelas entusiastas pela sua versão conversível, o 402 Eclipse. A marca do leão foi a primeira fabricante a produzir um teto de chapa de aço conversível e retrátil no porta-malas de um automóvel.

Um avanço tecnológico que utilizou um sistema elétrico para o rebatimento e que, a princípio, não teve o sucesso esperado, pois os donos na época ainda preferiam o sistema manual por ser mais confiável e barato. Os anos seguintes trariam o inverso, com o a versão conversível sendo até hoje objeto de desejo dos bon vivants e amantes da esportividade. 

AMPLA GAMA DE MOTORES 

O Peugeot 402 foi lançado com motor quatro cilindros dotado de comando de válvulas no cabeçote de 1.991 cm³, com potência declarada de 55 cv. Em 1938, o trem de força sofreu de deslocamento indo para 2142 cm³ com a introdução do Peugeot 402B, cuja potência declarada era de 60 cv.

Dada a ampla gama de comprimentos de carroceria e estilos oferecidos, houve um leque de propulsores correspondentes com valores de potência diferentes das citados para o 402 com motor padrão.

Existiam outras versões de motor, com uma potência reivindicada de 70 cv para uma versão cupê com carroceria Darl'mat.  

Foram comercializadas aproximadamente 75 mil unidades do modelo 402 durante o curto período de sete anos de produção. Os anos entre 1930 a 1940, houve uma redução no número de fabricantes de origem francesa.

Dos sobreviventes, a Citroën foi adquirida pela empresa de pneus Michelin em 1934 e a Renault foi nacionalizada em 1945. A Peugeot sobreviveu e manteve sua independência. 

A França declarou guerra à Alemanha em 1939 e, após esse período, as versões roadster e conversível do 402 foram retirados de linha.

A partir de 1940 apenas os sedãs de carroceria curta e longa distância entre eixos foram mantidos em linha.  A Peugeot só se tornou um fornecedor regular do exército em 1938, mas durante 1939 e 1940 inúmeros 402 passaram operar com as forças armadas, sendo o 402 de longa distância entre eixos favorito dos militares pelo seu amplo espaço interno. 

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