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Fiat Nuova 500, um ícone do desenho e da praticidade italiana, foi um retrato de uma geração

Dotado de uma personalidade única, o Fiat Nuova 500 atraiu a simpatia e coração de inúmeros admiradores ao redor do planeta e hoje vamos contar em detalhes a história deste carro que até hoje é considerado um dos grandes ícones

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Por Anderson Nunes


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Em 4 de julho de 1957, a Fiat apresentava o herdeiro do “Topolino”: batizado de Nuova 500 era um veículo pequeno, dinâmico e mais econômico que o Fiat 600, que já vinha preenchendo a Itália de novos motoristas há dois anos: ambos os modelos mudariam a história da cultura automotiva italiana dali em diante.

1957 foi um ano importante para a Europa: a 25 de março, em Roma, foi assinada o tratado que institui a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Enquanto a Europa reformulava seu futuro, a União Soviética lançava em órbita o primeiro satélite da história: o Sputnik. Neste contexto de futuro, no dia 1º de julho a Fiat deu ao primeiro-ministro em Roma uma prévia do herdeiro do glorioso Fiat 500, comumente chamado de “Topolino”, (‘ratinho’ em português): o Nuova 500. Poucos dias depois, em 4 de julho de 1957, o carro foi apresentado ao público: dezenas de Nuova 500 desfilaram pelas ruas de Turim - acompanhados de atraentes modelos - em uma viagem da fábrica Mirafiori para o centro histórico da cidade.

A ideia de substituir a primeira versão do modelo 500, lançado em 1936, havia surgido em Turim alguns anos antes. Logo após o termino da II Guerra Mundial, a Itália começou os estudos para seu plano de recuperação. O setor de transportes era um ponto importante e que colaboraria para a expansão econômica, graças às altas nas vendas de motonetas como a Lambretta e a Vespa. Enquanto isso os automóveis eram artigos de luxo, sendo que muitos modelos ainda eram oriundos de antes do conflito bélico. Nesse contexto era necessária e urgente uma renovação da frota, focada em modelos mais econômicos e práticos. 

O presidente da Fiat, Vittorio Valletta, decidiu dar início aos estudos de um carro ainda menor que o 600, que fosse barato e que pudesse ser comprado a um preço próximo ao salário anual de um trabalhador. Valletta percebeu que o segmento das motonetas atraía  cada vez mais clientes. Das 2.500 unidades vendidas em 1946, a Lambretta teria sua milionésima unidade produzida 10 anos mais tarde. Esse importante indicativo foi o que norteou todo o projeto do Nuova 500. A estratégia da Fiat era de agradar e trazer os consumidores de veículos de duas rodas para suas revendas. E pelos estudos de mercado, a Fiat notara que os italianos queriam mesmo um veículo de quatro rodas e, por menor que fosse o modelo, ele ainda seria mais confortável para o rigoroso inverno europeu e mais seguro em dias de chuva do que uma motoneta.

PEQUENO GRANDE CARRO

Para levar adiante o projeto do novo Fiat, foi escalado para tal tarefa o engenheiro Dante Giacosa, que já havia trabalhado na criação do Topolino. O novo modelo mantinha o número do nome propositalmente, para associar o novo veículo ao antigo e carismático Fiat que ele substituía. Embora a designação fosse a mesma, a concepção mecânica dos dois carros diferia completamente, ainda que para um propósito equivalente. O novo projeto, batizado de modelo 110, era chamado internamente pela Fiat de grande pequeno carro, o “Cinquecento” era o triunfo do fabricante de Turim de se consolidar cada vez mais no mercado. 

Giovanni Torrazza foi o engenheiro responsável por cuidar de toda concepção mecânica do diminuto Fiat. Torrazza concebeu um motor de dois cilindros arrefecido a ar (primeiro desse tipo feito pela Fiat) de 479 cm³ que entregava 13 cv de potência a 4.000 rpm. Acoplado ao motor estava um câmbio de quatro marchas, sendo as três superiores sincronizadas. A velocidade máxima era de 85 km/h. A suspensão era independente nas quatro rodas. À frente usava braços transversais superiores e feixe de molas transversal inferior, e atrás, braço semiarrastado com molas helicoidais. Os freios a tambor nas quatro rodas tinham comando hidráulico e as rodas eram de 12 pol. 

GRANDE LANÇAMENTO

Para lançar o seu mais novo produto, a Fiat fez um verdadeiro espetáculo. O lançamento do Novo 500 contou até com transmissão para a rede de TV nacional, diretamente da fábrica de Mirafiori, em um dia de verão europeu de 1957. Com 2,97 metros de comprimento, 1,32 m de largura e altura, 1,84 m de entre-eixos, o 500 parecia um carro de brinquedo. No interior havia dois assentos finos e um banco traseiro. O amplo teto-solar de lona disponível, que incorporava a janela plástica, era herança do Topolino. Pesava 470 kg e o porta-malas era dianteiro. O painel de instrumentos continha somente o velocímetro circular atrás do volante. 

Não havia grade dianteira e o logotipo Fiat era ladeado por dois estreitos frisos cromados, que lembravam bigodes. Assim como o estepe, o tanque de combustível de 20 litros ficava posicionado na frente, e a abertura das grandes portas eram para trás, ao estilo “suicida”. Sem calotas, as rodas brancas reforçavam o aspecto simpático do 500 quando combinadas com largas faixas dos pneus na mesma cor das rodas. Na traseira estavam as saídas de ar na parte superior e as lanternas eram ressaltadas.  O 500 teve sua etiqueta de preço inicial fixada em 490 mil liras. 

PRIMEIRAS VARIAÇÕES

A reação inicial do mercado ao Nuova 500 - também conhecido como 500 N - não foi nada espetacular: o novo carro foi ofuscado pelo sucesso do 600, talvez devido em parte à sua configuração espartana, e também porque foi registrado como um carro de dois lugares. A Fiat, no entanto, rapidamente efetuou mudanças e inseriu um banco traseiro acolchoado para que o carro pudesse ser registrado como quatro lugares. Muitos detalhes novos contribuíram para o sucesso desta nova configuração: desde o mecanismo de abertura das janelas, passando pelo cromado que valoriza a carroceria e as tampas das rodas de alumínio. Como resultado, o citadino da  Fiat encontrou-se no caminho certo e assumiu uma personalidade mais assertiva, confirmada pelo aparecimento do emblema 500 fixado na dianteira.

Na parte mecânica, as intervenções significativas incluíram o aumento da taxa de compressão, um novo comando de válvulas e um carburador aprimorado, aumentando a potência para 15 cv e a velocidade máxima para 90 km/h. O valor da versão inicial foi reduzido, mantendo seu status de lista de preços como “Economica”, enquanto a versão aprimorada e enriquecida (rotulada “Normale”) fez sua estreia no 39º Salão Automóvel de Turim em 30 de outubro de 1957, mantendo seu preço de 490 mil Liras.

Alguns meses depois, em meados de 1958, a Fiat apresentou o Nuova 500 Sport. A novidade era o motor de 499,5 cm³ e a potência aumentada para 21,5 cv, que possibilitou ao modelo atingir a velocidade de 105 km/h. As primeiras unidades tinham teto rígido e carroceria pintada em dois tons: branco com uma faixa vermelha ao longo dos flancos. Na linha 1959 a versão Sport passou a disponibilizar o teto-solar de lona curto. No interior os bancos receberam uma faixa vermelha e os pneus perderam a faixa branca. 

PROPOSTA FAMILIAR 

Uma nova variante era lançada em maio de 1960: a 500 Giardiniera, a versão perua do 500. A versão familiar contava com 10 cm a mais entre os eixos, de modo a ampliar a capacidade de carga. Dos 3,18 de comprimento, a distância entre-eixos passava a 1,94 m, combinados a 1,32 m de largura e 1,35 m de altura. O peso vazia era de 550 kg  e foi projetada para transportar quatro adultos, mais 40 kg de carga. Visualmente havia diferenças tais como as luzes de setas dianteiras, menores e circulares. As janelas laterais traseiras eram do tipo corrediça, e a pequena tampa do porta-malas era aberta da direita para a esquerda.

A Giardiniera também possuía portas com abertura do tipo “suicidas “ e foi o único modelo a continuar a usar esse tipo de porta na década de 1970. O motor de dois cilindros de 499,5 cm³ e 17,5 cv foi posicionado a 90° para a direita, obtendo assim um motor horizontal, esta solução tinha a vantagem de um trem de força mais compacto, possibilitando uma superfície de carga plana. Essa característica técnica da Giardiniera logo foi apelidada de “sola”.

500 LETRADO

No segundo semestre de 1960 aparecia o 500 D, com o motor de dois cilindros de 17,5 cv (capaz de atingir 95 km/h) o mesmo empregado na Giardiniera. Vinha homologado para quatro passageiros e 40 kg de carga. Visualmente empregava a mesma dianteira da versão perua, as lanternas eram novas, as faixas brancas voltavam aos pneus, teto-solar diminuía, ficando somente acima dos bancos dianteiros. O tanque de combustível passava a comportar 22 litros. 

Em março de 1965 aparecia o 500 F, que trazia como novidade as portas de abertura tradicional para frente, mais segura em caso de colisão, dobradiças embutidas. Na parte mecânica, houve um ajuste na transmissão, que ficava mais robusta, teve a embreagem, eixo traseiro e o diferencial retrabalhados.  O motor de 499,5 cm³ debitava agora 18 cv, mas o consumo era penalizado pelos 20 kg adicionais e agora o pequenino da Fiat alcançava os 18,5 km/l.

Em setembro de 1968 chegava o 500 L ou Lusso, uma versão mais equipada direcionada às pessoas que queriam um veículo compacto, mas não tão espartano. O 500 L permaneceu à venda até 1972, quando o novo Fiat 126 foi introduzido. Visualmente o 500 L era reconhecido pelas proteções tubulares que protegiam o para-choque dianteiro e os cantos do traseiro. Como resultado, o carro era cerca de 6 cm mais longo que o 500 F, indo agora para 3,02m de comprimento. 

Outros itens externos específicos do modelo eram um novo emblema da Fiat na frente, calotas redesenhadas, molduras de plástico cromado cobrindo as calhas de teto e acabamento cromado ao redor do para-brisa e da janela traseira. No interior, o painel foi coberto com material plástico preto antirreflexo, em vez de metal pintado, e recebeu um novo painel de instrumentos trapezoidal substituindo o redondo usado em todos os outros 500 modelos. 

O volante era de plástico preto com raios de metal. As forrações de portas e dos bancos passavam a ser de couro. Mais espaço de armazenamento foi fornecido na forma de uma bandeja no túnel central, que, como o resto do piso, foi coberto com carpete em vez de tapetes de borracha. Os pneus passavam a ser radiais em medida 125 R 12, importante melhoria em segurança.

Com o lançamento do Fiat 126 em 1972, o modelo 500 passou por um reposicionamento dentro da gama de modelos da marca. No salão do automóvel de Turim de 1972, era apresentado o 500 R (de rinnovata, renovado). Entre as novidades estava o motor de 594 cm³ oriundo do 126, com potência de 23 cv reduzida para 18 cv. A versão R finalmente permitiu que o 500 atingisse os 100 km/h. Porém, houve um retrocesso no acabamento interno quando comparada à versão Lusso. Em agosto de 1975 o Nuova 500 despedia-se da linha montagem, ao todo, 3.893.294 exemplares do “Cinquecento” foram produzidos em Mirafiori, na unidade da Autobianchi, em Desio e, por fim, na planta de Termini Imerese (Palermo). Foi nesta unidade fabril que a Fiat encerrou a produção do modelo, 18 anos após seu lançamento.  

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