Oficina Brasil


Diagnóstico 360º na prática: entenda como funciona esta estratégia que irá elevar seu diagnóstico para outro nível.

Na matéria desse mês vamos apresentar uma estratégia de diagnóstico que irá facilitar e, muito, a resolução de casos de difícil solução na sua oficina.

Compartilhe
Por Laerte


Avaliação da Matéria

Faça a sua avaliação

Vamos mostrar detalhes de como aplicá-la e ter resultados imediatos trazendo produtividade e rentabilidade para seu negócio. 

Dois passos antes do capô do veículo 

Todo e qualquer diagnóstico exige que o reparador faça seu planejamento antes da intervenção física no veículo. 

Dessa forma, você deve inicialmente ao receber o veículo realizar a entrevista consultiva com o cliente, a fim de coletar o máximo de informações acerca da falha do veículo. 

Nesse momento anote todos os detalhes que poderiam passar despercebidos ou serem esquecidos durante a análise no veículo. 

Concluída essa importante etapa, o próximo passo seria estudar o veículo consultando as informações técnicas deste através da leitura e interpretação de seu esquema elétrico, caso seja falha elétrica, ou especificações técnicas do motor, no caso de falha mecânica. 

Entender como funciona o sistema do veículo sob análise é fundamental, pois a partir dele, podemos escolher os testes que deveram ser efetuados a fim de identificar mau funcionamento de algum componente ou sistema que esteja originando a falha. 

A estratégia 360º consiste em ter uma visão global do problema do veículo levando em consideração seu histórico, passando pela etapa de confirmação da falha, consulta a literatura técnica, a fim de identificar informações específicas acerca do sistema sob análise daquele veículo, planejamento de seu plano de ação, com o passo a passo dos testes e ferramentas a serem utilizadas. 

Dito isso, vamos para a aplicação prática da estratégia 360º. 

Aplicação da estratégia na prática 

SINTOMA: Proprietário de um Fiesta 1.6 16V de 2013 a 2019 - Sigma com Variador de Fase, figura 1, relata que que após alguns minutos de funcionamento o motor começa a falhar perdendo potência. 

DIAGNÓSTICO: Diante da situação fizemos alguns testes e verificamos que o módulo do motor parava de enviar pulsos para os bicos injetores dos cilindros 1 e 4.  

Sabíamos que para resolver essa situação deveríamos entender o motivo de o módulo do motor adotar essa estratégia, sem contudo, levar em consideração uma possível falha interna da própria unidade de controle. 

Dentre as possibilidades listadas antes de prosseguirmos nos testes, escolhemos a falha de ignição nos respectivos cilindros, o que justificaria o corte dos injetores, pois desta forma o sistema estaria controlando as emissões de poluentes e protegendo o catalisador.  

A segunda hipótese estava ligada à parte mecânica do motor, em especial, a pressão de compressão dos cilindros 1 e 4 em relação aos cilindros 2 e 3, pois se o cilindro apresentar baixa compressão fora dos limites preconizados pelo fabricante a unidade de controle por estratégia poderia eliminar o controle dos injetores. 

A terceira e última hipótese, em nosso ponto de vista, seria alguma irregularidade no sincronismo do motor ou na leitura da roda fônica, em especial, nos dentes correspondentes aos cilindros que são desligados os injetores. 

Desta forma, decidimos verificar a ignição, pressão de compressão e, finalmente, a verificação do sincronismo e estado da roda fônica. 

2.1 Verificação do sistema de ignição 

Utilizando-se de um osciloscópio para capturar o sinal do secundário da bobina e uma pinça amperimétrica para verificar sua corrente, fizemos a instrumentação e instalamos o equipamento. 

Entretanto, antes de realizar o teste propriamente dito, consultamos a literatura técnica a fim de visualizar os oscilogramas de referência para comparar com a imagem capturada. A figura 2 exibe as ondas de funcionamento do primário e secundário de ignição deste veículo. 

Com a referência em mãos partimos para a execução e capturamos as ondas conforme mostra a figura 3 a seguir. 

Temos na figura os oscilogramas do secundário da ignição (azul) e a corrente do primário da bobina (vermelho). 

Vale destacar que essa captura foi realizada durante o corte dos injetores dos cilindros 1 e 4, ou seja, o módulo de controle do motor manteve a parte de ignição dos respectivos cilindros em funcionamento, ou seja, nossa primeira hipótese foi descartada. 

Prosseguindo com os testes, executamos o teste da pressão de compressão na partida a fim de constatar alguma falha mecânica nos cilindros 1 e 4. A figura 4 apresenta o resultado da análise. 

Durante a verificação constatamos que no momento do corte dos injetores a pressão de compressão permanecia a mesma, ou seja, não havia perda de pressão nos cilindros 1 e 4. 

Fizemos os mesmo teste nos cilindros 2 e 3, todos estavam com aproximadamente com a mesma pressão no momento da compressão, em torno de 9 BAR. 

Dando prosseguimento, chegou o momento da verificação do sincronismo do motor. Utilizando-se de nossa expertise com o osciloscópio decidimos capturar os sinal dos sensores de rotação (CKP) e de fase (CMP), a fim de conferir o sincronismo e o estado da roda fônica.  

Antes, porém, faz-se necessário a consulta a literatura técnica para observar os pontos de referência em um veículo em perfeito funcionamento. 

A figura 5 apresenta o sincronismo correto entre os oscilogramas de rotação e fase para o veículo em questão. 

De acordo com a figura acima, vemos que esse veículo tem um sensor de rotação tipo indutivo e dois sensores de fase tipo hall e que o ponto de referência destacado está entre o 11 e o 12 da falha da roda fônica.  

Com as informações corretas em mãos partimos para a captura, na qual obtivemos como resultado a imagem exibida pela figura 6. 

Temos no canal verde o sensor de fase lado escape e no canal amarelo o sinal do sensor de rotação. 

Ao observamos a imagem vemos que existe uma falha capturada pelo sensor de rotação que se repetiu durante toda a captura, o que evidencia quebra ou empeno dos dentes da roda fônica, impedindo que a unidade de controle do motor identifique o momento de combustão dos cilindros 1 e 4, o que explica o corte dos injetores desses cilindros.  

Ao desmontarmos parcialmente o motor para analisar a roda fônica confirmamos o que o osciloscópio mostrou sem a necessidade de desmontagem, como mostra a figura 7. 

Confirmada a falha, foi feita a substituição do componente e assim o veículo voltou a funcionar perfeitamente. 

Até a próxima!!! 

Comentários