Após a aquecida disputa da última edição entre os motores Fire da Fiat e EA111 da Volkswagen, nesta edição chamamos para o ringue outros dois rivais históricos, Honda e Toyota.
Mas não, não vamos comparar as características de seus motores. Porém, algo mais bem suscetível a falhas: a transmissão automática de quatro velocidades.
Como sabemos, um sistema desse tipo, se bem cuidado, tem vida útil bem longa, mas quando ele é mal tratado e precisa de um reparo, este é simples? É fácil encontrar peças de reposição? O custo de manutenção repassado ao cliente é muito alto? Há informações técnicas suficientes para executar um bom reparo? E além de tudo, tem algum defeito recorrente?
Para responder a essas perguntas, convidamos dois reparadores que têm parte de suas histórias ligadas às duas marcas, ambos já atuaram nas concessionárias das montadoras e têm as informações de que tanto queremos saber.
De um lado, opinando sobre os modelos Toyota, temos o reparador Aquiles Alves da Cruz de 43 anos de idade, dos quais 27 anos são dedicados à profissão. Iniciou a carreira formando-se como técnico no SENAI e trabalhou em concessionárias Fiat, Volkswagen e Toyota, em que atuou por mais de 12 anos. Há quatro anos tem sua própria oficina localizada em Diadema-SP, a Auto Mecânica Aquiles.
Do outro lado, expondo sua experiência sobre os modelos Honda, temos o reparador Marcos Antônio Francelli de 45 anos de idade, destes, mais de 25 anos são dedicados à profissão. Francelli iniciou em um centro automotivo e, em seguida, teve uma passagem por uma concessionária Fiat antes de atuar em uma Honda, onde trabalhou por 10 anos e chegou a ser gestor. Há quatro anos também tem sua oficina própria em Diadema-SP, a Francelli Automotiva.
DEFEITOS RECORRENTES
No primeiro embate, perguntamos aos reparadores qual era a transmissão que mais aparecia na oficina apresentando falhas. Aquiles respondeu que, se fosse colocar em uma escala de proporção, a cada cinco reparos em um câmbio automático Honda (FOTO 1), isso correspondia a apenas um em uma transmissão Toyota (FOTO 2). Francelli também respondeu à questão, dizendo que essa proporção, comentada por Aquiles, também correspondia à sua realidade na oficina.
Entrando no mérito das falhas, Aquiles comentou que na Toyota, o mais comum são ruídos internos causados pelo desgaste dos dentes da satélite. “Existe uma embreagem de avanço que desgasta com frequência. No caso da Toyota esta é unidirecional e tem as funções de selecionar várias marchas, inclusive a ré, que neste caso faz com que o carretel vire ao contrário. Esta fica localizado no meio do eixo e a engrenagem do ‘Parking’ fica fixada nele”.
Outro inconveniente, principalmente nos Corolla XEI 1.8 2008/09, é a patinação nos pacotes de embreagem da 2ª e 4ª marcha. “Quando desmontamos, verificamos que os discos estão cônicos e se desgastam nas laterais e isso ocorre ainda com veículos com baixa quilometragem. Em alguns casos, o defeito começa a surgir logo após os 25.000km e o cliente reclama que sente um tranco no momento da troca das marchas, principalmente em retomadas de aceleração”, completou Aquiles.
No lado do Honda, mais especificamente dos Civic, ocorre um desgaste nos pacotes da 2ª marcha (FOTO 3), no qual os ‘composit’ se desgastam por conta da falta de lubrificação causada pelo entupimento do filtro. “O cliente não efetua a manutenção preventiva, como uma simples troca do fluido da transmissão e isso acelera a saturação do elemento filtrante, provocando a falta de lubrificação. Isso é o que mais pego de problemas aqui nos Honda”, contou-nos Francelli.
Nem sempre o cliente está atento aos sintomas iniciais deste problema. “Em alguns casos, o proprietário liga o carro e sai com o motor frio normalmente, mas quando esquenta, a transmissão começa a patinar ou, às vezes, a marcha ou demora um pouco para entrar ou dá uma leve patinada. Por falta de conhecimento, o cliente vai andando com o carro assim mesmo até a transmissão não tracionar mais. Quando isso ocorre é quase certo, é só conferir que o filtro vai estar entupido e óleo da transmissão vencido”, acrescentou Francelli.
Uma recomendação que os dois técnicos fizeram, para ambos os casos, é conferir no momento da troca do fluido da transmissão qual a tonalidade e cheiro deste.
Para realizar um procedimento de verificação das condições do lubrificante, os reparadores orientaram:
1. Retirar um pouco do óleo da transmissão e despejá-lo em um recipiente;
2. De preferência com o fluido frio, deixe-o cair em outro recipiente, formando um fio de óleo;
3. Este fio de óleo deve ter densidade preservada e deve-se enxergar o outro lado;
4. Se o mesmo não estiver com aparência transparente, explique ao cliente que há a necessidade de trocar o óleo e o filtro da transmissão.
Tanto Aquiles como Francelli recomendam a troca do fluido da transmissão aos 40.000Km. Aquiles lembra também que a Toyota, em alguns de seus veículos, coloca em seu manual de uso e manutenção que não há a necessidade da troca do fluido da transmissão, mas que mesmo assim recomenda aos clientes a substituição. “Já vi diversos casos de transmissões danificadas devido ao óleo estar em mau estado e causar danos aos pacotes de embreagem”.
Francelli disse que, para os Honda, inclusive nos New Civic, o fluido recomendado é o ATF. Já para os Toyotas, os mais antigos utilizavam o Dexron III e depois, com o avanço da tecnologia de lubrificantes, utilizou o Dexron IV.
REPARABILIDADE
Com relação à transmissão da Honda, Francelli comentou que há a necessidade da utilização do manual de reparação e, no momento da retirada da transmissão do veículo, deve-se prestar muita atenção nos chicotes e suas fixações. “Trata-se de uma transmissão pesada (FOTO 4) e se não nos atentarmos as fixações, no momento de remover o conjunto do cofre do motor, fatalmente danificaremos algum chicote”.
Porém, apesar dessa dificuldade, Francelli não considera o reparo da transmissão complicado. “Ela tem até uma construção bem simples, é fácil de mexer, mas é claro que é preciso ter os cuidados necessários para não transformarmos um reparo simples em um pesadelo intenso”.
No lado da Toyota, Aquiles relatou que a facilidade de manutenção é a grande virtude deste conjunto. “Em alguns reparos não é necessário nem a remoção da transmissão do veículo. Para substituir alguns pacotes de embreagens, é necessário retirarmos somente a traseira da transmissão”.
Outra facilidade que ambas as tecnologias apresentam é a possibilidade de executar reparos sem necessitar de ferramental específico. “Ambas tem manutenção simples, exceto para remover os pacotes de embreagens (FOTO 5), pois é preciso utilizar uma que prense o conjunto e permita a desmontagem, mas tenho uma que serve em ambas”, disse Francelli, seguido de um “eu também” de Aquiles.
Uma particularidade do reparo da transmissão da Toyota é para a remoção do corpo de válvulas. “Para soltar os parafusos, devemos girá-los ‘de ponta cabeça’ antes de retirar a tampa, pois esta é a única maneira de permitir que as esferas não caiam. Inclusive, este procedimento é recomendado pela própria montadora”, explicou Aquiles.
Outro ponto a ser destacado, de acordo com Aquiles, é atentar-se para as cores das molas na válvulas, pois cada uma corresponde a uma pressão diferente e invertê-las fará com que a troca de marchas seja efetuada seguida de trancos.
CUSTO DE REPARO
Os dois reparadores concordaram que os componentes, se forem adquiridos nas concessionárias, tornam o reparo de um custo inviável, ainda mais se considerarem o preço do veículo no mercado de usados. “Hoje temos autopeças renomadas dedicadas aos componentes de transmissão automática. Elas costumam fornecer kits completos, bem como outros que fornecem apenas juntas, caso a falha seja somente um vazamento, tornando o reparo mais barato”, disse Francelli.
Mas se fôssemos colocar em uma balança, segundo os reparadores, reparar uma transmissão Toyota é mais caro. “A mão-de-obra para ambas é o mesmo valor, R$1.800,00. Mas quando incluímos as peças, os conversores de torque, que variam de R$800,00 a R$2.000,00, o custo final da Honda fica em torno de R$2.500,00, já uma Toyota fica na casa dos R$3.000,00”, comentou Aquiles.
PEÇAS E INFORMAÇÕES
Como os reparadores já comentaram, adquirir peças em concessionárias eleva o orçamento do serviço, porém para alguns itens, não há outra alternativa. “No caso das válvulas solenoides, chicotes e dos corpos de válvulas, o mais seguro é adquirir o original”, disse Francelli.
Para Aquiles, a disponibilidade de peças hoje é muito boa para a linha Toyota. “Temos uma tranquilidade que há alguns anos atrás não tínhamos que é pegar o serviço e fazê-lo rapidamente, pois não temos que esperar muito tempo para que as peças cheguem. Neste ponto, vejo a Toyota com uma logística bem melhor que a Honda, pois foram poucas as vezes que precisei esperar mais de 10 dias por uma peça”.
Francelli reforçou o comentário de Aquiles dizendo que, com a Honda, já passou apuros. “Já tive diversos casos de esperar mais de 30 dias por uma peça”.
Agora, quando o assunto é informação técnica disponibilizada pelas marcas, ambos estão decepcionados. “Nas duas montadoras, se não tivermos conhecidos nas concessionárias, não conseguimos as informações, pois no mercado não achamos quase nada. Já nas casas especializadas em peças de transmissões automáticas, conseguimos quase toda a literatura que necessitamos. Outra alternativa é buscar empresas de treinamentos do segmento e temos que dar muito valor a este tipo de trabalho, pois sem eles, nosso dia-a-dia seria muito dificultado”, disse Francelli.
VEREDICTO
Após todo o relato dos reparadores, podemos dizer que a transmissão Toyota oferece melhor condição de trabalho ao reparador, pois possui melhor disponibilidade de peças pela montadora. Apesar de possuir mais defeitos recorrentes e maior custo de reparo que a Honda, há a garantia de executar um reparo com prazos mais curtos e melhor qualidade ao cliente final.
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