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Sistema de Diagnóstico: Ajuste de Combustível de Curto Prazo em Ciclo Otto

Dando continuidade ao tema iniciado na edição de dezembro, analisaremos os parâmetros de ajuste de combustível do programa de diagnóstico presente em todos os sistemas de injeção/ignição eletrônica

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Por Humberto José Manavella


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Nesta edição será abordado, em detalhe, o Ajuste de Curto Prazo ficando o de Longo Prazo para a próxima.

Como mencionado na edição anterior, o Ajuste de Combustível é um recurso que permite controlar de forma precisa o teor da mistura para obter o máximo de redução nas emissões e no consumo.

Lembrando, o valor de Ajuste de Combustível a ser aplicado no cálculo do tempo de injeção tem como base a informação recebida do sensor de O2 pré-catalisador e se apresenta na forma de dois parâmetros de adaptação calculados pela UC:

- “Ajuste de Combustível de Curto Prazo” (sigla: STFT)

- “Ajuste de Combustível de Longo Prazo” (sigla: LTFT).

Parâmetros de Ajuste de Combustível ou de Controle da Mistura - A análise dos parâmetros de ajuste de curto prazo e de longo prazo é de fundamental importância, tanto na avaliação de desempenho como no diagnóstico de falhas. Através destes é possível avaliar a estratégia de adaptação utilizada pela UC no controle da mistura.

Devido a que estes parâmetros resultam de cálculos internos, os seus valores somente podem ser recuperados através do equipamento de teste (“scanner”), no Modo Contínuo.

- O ajuste de combustível de curto prazo (STFT) depende diretamente da informação recebida do sensor de O2. É um fator que varia rapidamente e afeta o tempo de injeção somente no regime de malha fechada. É utilizado pela UC para fazer comutar a sonda Lambda. Ou seja, durante o funcionamento em malha fechada, quando a sonda indica condição de empobrecimento, o valor de STFT é aumentado; quando a sonda indica condição de enriquecimento, é diminuído.

- O ajuste combustível de longo prazo (LTFT) resulta da adaptação ou “aprendizado” realizado pela UC, e leva em consideração o desgaste natural do motor, a modificação de suas características no tempo e tolerâncias de fabricação de componentes mecânicos e elétricos. Este parâmetro se modifica lentamente. Depende indiretamente da informação recebida do sensor de O2 e basicamente, reflete a tendência do parâmetro STFT.



Resumindo:

O parâmetro LTFT reflete a tendência do ajuste de combustível ao longo do tempo, enquanto o parâmetro STFT é uma resposta imediata ao sinal do sensor de O2

Denominações e Valores - Inicialmente e até o fim dos anos 90, os parâmetros de ajuste eram apresentados em “passos” pela quase totalidade dos fabricantes. Uma exceção foi a Ford, que utilizou “%”.

- Quando expresso em passos, o intervalo de valores utilizado é de 0 a 255 passos. O valor “128 passos” indica correção 0%. O valor “255 passos”, correção de +100% e o valor “0 passos”, correção de -100%.

- Quando expresso em porcentagem, o intervalo de valores utilizado é de –100% a +100%. O valor “0%” indica que não há correção. Esta é o formato utilizado no padrão OBDII.

A figura 1 apresenta o gráfico de equivalência entre valores em porcentagem e valores em “passos” ou “contas” e auxilia na conversão dos valores apresentados nos equipamentos de diagnóstico.

Parâmetros de Ajuste em Sistemas pré-OBDII - Os parâmetros de ajuste de combustível nos sistemas pré-OBDII receberam diversas denominações, todas elas particulares a cada fabricante. Só para mencionar alguns exemplos:

- A GM utilizou as denominações “BLM de O2” para o ajuste de longo prazo e “Integrador” para o ajuste de curto prazo. Esta última também utilizada pela Fiat.

- Na linha VW as denominações variam de acordo com o veículo e o sistema de injeção aplicado. Assim, no sistema M1.2.3 (Golf) são utilizados: “Regulagem da Mistura (%)” para o ajuste de longo prazo e “Fator Lambda” para indicar qual o valor de lambda que a UC utiliza naquele momento.

Outras denominações utilizadas pela VW são: Fator Adaptativo Aditivo; Fator Adaptativo Integral; Fator Adaptativo Multiplicador.

Como se observa, a diversidade de denominações, juntamente à falta de padronização numa mesma linha de veículos e isto, por sua vez, associado às descrições ambíguas na documentação do fabricante, são fatores que dificultam a interpretação dos valores e, consequentemente, o resultado do diagnóstico.

Parâmetros de Ajuste em Sistemas OBDII - Nos sistemas OBDII, as siglas que identificam os parâmetros de ajuste de combustível são:

- STFT ou SFT (do inglês: “Short Term Fuel Trim”): “Ajuste de Combustível de Curto Prazo”

- LTFT ou LFT (do inglês: “Long Term Fuel Trim”): “Ajuste de Combustível de Longo Prazo”

Nota: O padrão OBDIIBr não apresenta explicitamente a denominação destes parâmetros pelo que aqui será utilizada a tradução literal. Por sua vez, alguns scanners não-proprietários não os disponibilizam.

Ajuste (adaptação) de Combustível de Curto Prazo - STFT - É utilizado como fator multiplicativo aplicado ao cálculo do tempo de injeção, durante o funcionamento em malha fechada. Como mencionado, reflete uma resposta “rápida” da UC, à informação recebida da sonda lambda; a sua aplicação resulta na correção imediata do tempo de injeção no sentido oposto à indicação da sonda.

Características Relevantes

-  A UCE modifica o seu valor a cada ciclo para compensar a indicação enviada pela sonda lambda.

- O STFT é um ajuste “não aprendido”, ou seja, não depende de variações ao longo do tempo. O seu valor não é memorizado; é apagado assim que é desligado o motor.

- STFT = 128 (0%): Significa que não é aplicada nenhuma correção ao tempo de injeção.

- STFT superior a 128 (0%): Indica que a correção aplicada aumenta o ti (enriquecimento da mistura).

- STFT inferior a 128 (0%): Indica que a correção aplicada diminui o ti (empobrecimento da mistura).

A figura 2 apresenta a se-quência de ações que afetam o teor da mistura quando o sistema opera em circuito fechado.

Após a partida, e assim que o sistema passa a funcionar em malha fechada, o STFT aplicado ao ti é 128 (0%). A seguir, a UC o incrementa (adiciona combustível) ou o diminui (subtrai combustível) com o objetivo de provocar a mudança de estado da sonda. Nessa situação inicial:

- Se o sensor de O2 indica condição de mistura rica ([a]; [b]), a UC reduz o valor de STFT com o objetivo de diminuir o pulso de injeção ([c]), tornando, assim, a mistura mais pobre no próximo ciclo.

- Se a sonda informa que a mistura admitida é pobre ([d]; [e]), a UC incrementa o valor de STFT, o que aumentará o tempo de injeção ti ([f]), tornando a mistura mais rica no próximo ciclo.

Esta sequência se repete enquanto o sistema funciona em malha fechada.

Quando em circuito aberto, sem levar em consideração a informação da sonda, o STFT é 128 (0%), ou seja, a UC não aplica nenhuma correção de curto prazo. Esta situação transitória apresenta-se durante as seguintes fases:

- Enriquecimento na aceleração e em plena carga;

- Empobrecimento na desaceleração;

- Enriquecimento na marcha lenta, quando é ligado o A/C, e antes da compensação efetuada através do dispositivo de controle da marcha lenta; isto propicia uma “antecipação” no ajuste da marcha lenta;

- Compensação da marcha lenta, quando engatada a transmissão automática.

Quando o sistema passa a funcionar novamente, em malha fechada, o valor do ajuste poderá ser modificado desse valor 128 para um valor maior (enriquecimento) ou menor (empobrecimento) dependendo da informação recebida do sensor naquele momento.

Como a UC modifica este ajuste a cada ciclo de injeção, o valor do STFT, visualizado no scanner durante o funcionamento normal em circuito fechado, oscila rapidamente (1 a 2 vezes por segundo) de 8 a 10 passos (+/-5%), em torno do valor 128 (0%). A oscilação em torno de um valor diferente de 128 é indicação de que o sistema está se afastando das condições ideais. Persistindo esta situação por alguns segundos, afetará o valor do LTFT.

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