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Troller T4: robustez mecânica, mas reparador considera a parte eletrônica problemática

Principal qualidade do veículo é possuir compartilhamento de peças com veículos de categorias inferiores, barateando seu custo de reparo e acesso às peças, mas sistema de controle eletrônico poderia ser menos restritivo às proteções do motor

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Por Fernando Naccari e Paulo Handa


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Troller T4 agrada ao profissional independente por ter fácil manutenção e mecânica robusta A Troller tem uma história interessante. Fundada em 1995 por Rogério Farias, começou a engatinhar com os primeiros projetos de veículos que ele decidira construir para puxar as lanchas que produzia, basicamente com a inspiração nos veículos Jeep.

Após um ano construindo sua primeira unidade, começou a receber alguns pedidos, chegando a produzir 100 unidades mensais. Dois anos depois, devido ao repentino sucesso, o empresário Mário Araripe adquiriu boa parte da empresa e investiu na expansão da fábrica e da linha de produtos.

Atualmente, a Troller é conhecida pelo modelo T4, mas antes dele, tornou-se especialista em produzir veículos militares, de bombeiros e aqueles destinados às operações em minas subterrâneas.

Os primeiros veículos da Troller que eram o modelo RF Sport (1997 - 1999) (em 1999 foi lançado o T4 como sucessor do RF Sport) saíram da linha de produção com motor a gasolina VW AP 2.0 de 114cv (foi usado até 2001) e, na sequência, com motor mecânico MWM Diesel 2.8 de 115 cavalos líquidos (132cv brutos) – de 2001 até o final de2005).

Em fevereiro de 2006, no entanto, a Troller passou a disponibilizar a picape Pantanal. Com esses dois produtos, a montadora ampliava sua atuação no nicho de veículos especiais em que se posicionava.

Devido ao enorme sucesso, em 2007 a Ford do Brasil anunciou a compra da fabricante cearense. Mais tarde a picape Pantanal foi retirada do mercado, e as unidades que haviam sido vendidas foram recompradas pela Ford, pois apresentaram problemas no chassi.

No dia 4 de janeiro de 2007, em audiência com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Ford para a América Latina anunciou a aquisição da Troller, que passa a fazer parte do grupo, juntamente com Lincoln, Mercury e Mazda, marcando a Troller como uma marca global e última genuinamente brasileira.

REPARANDO UM TROLLER
Apesar da evidente vocação do Troller para o fora-de-estrada, há quem se especialize na manutenção e aprimoramentos dos veículos 4x4, deixando-os mais valentes e prontos para enfrentar todos os tipos de terreno, inclusive os urbanos.

Com isso, fomos até uma especializada neste ramo, a Atacama 4x4, localizada em São Paulo. Lá, conversamos com o reparador Rodrigo Adolfo Nera, de 39 anos, (FOTO 1) que, assim como a Troller, tem uma boa história para contar. “Fundei a Atacama 4x4 há 9 anos pelo fato de que, naquela época eu tinha um Jipe e, no momento de fazer qualquer manutenção, tinha muita dificuldade em encontrar serviços de qualidade e oficinas que tinham conhecimento neste segmento. Foi assim que vi uma ótima oportunidade de negócio e iniciei no ramos. A oficina atua desde manutenções preventivas até preparações ou transformações para competições com o objetivo de adequar o veículo da melhor forma ao terreno que ele irá trafegar”.

Nesta matéria, Rodrigo comentou sobre sua experiência com os reparos no Troller. Lá, encontramos um modelo T4 3.2 Turbo Diesel 2013 (FOTO 2) que estava com 29.800km rodados e foi à oficina para realizar reparos no sistema de suspensão.

Foto 1 e Foto 2Para Rodrigo, a principal vantagem do Troller é que este faz o compartilhamento de peças com outros veículos de menor porte, situação esta que barateia seu custo de reparo. “Este aqui, por exemplo, tem o painel idêntico ao do Fiesta. Antigamente, antes da Ford comprar a marca, víamos muitas peças de Gol, da linha Fiat, da linha GM etc.”.

Porém, há peças que que você só encontrará em um Troller. “Componentes da suspensão, diferenciais e rodas blocantes são bastante resistentes e são próprias do veículo”.

Um defeito muito recorrente destes modelos está nos cilindros de embreagem. “O cilindro mestre e o escravo apresentam desgastes internos e vazamentos, o que provoca dificuldade de engate das marchas. O mais interessante é que estes problemas não deixam vestígios e só sabemos que estas peças são as causadoras da falha devido a nossa experiência com a reparação”, explicou Rodrigo.

Os T4 mais antigos eram equipados com motor Sprint 2.8 aspirado da MWM. Em seguida, chegaram os NGD 3.0 com injeção eletrônica (FOTO 3), mas segundo Rodrigo, estes não dão dor de cabeça. “Não pegamos defeitos recorrentes nestes, somente nos primeiros motores tivemos problemas com o sistema do sensor de pressão da turbina, que fazia  o motor apresentar problemas de retomada de aceleração que, com o tempo, foi sanado pelo fabricante”.

Rodrigo comentou ainda que, em sua oficina, costuma efetuar alterações no sistema eletrônico do veículo, pois como ele tende a rodar em vias que causam muitas vibrações na carroceria, estes ficam muito sujeitos à terra e a umidade. “A eletrônica embarcada se compara aos veículos tradicionais, mas devido às irregularidade do solo, costumam parar de funcionar corretamente, além dos chicotes se romperem com certa frequência”.

No entanto, a programação deste sistema eletrônico acaba deixando o motor com excesso de proteções. “O motor tem proteção para tudo! Qualquer sensor que informe um valor diferente do programado faz este entrar em modo de proteção cortando o combustível. Algumas vezes acendem a luz da injeção, outras não, dependendo da gravidade do erro apresentado”, explicou Rodrigo.

Para o reparador, uma alternativa interessante seria voltar um pouco no tempo e adotar a estratégia dos motores  mais antigos. “Para mim, algumas proteções deveriam ser ignoradas através de remapeamentos. Sabemos que o motor MWM Sprint 2.8 rodava perfeitamente sem nenhuma proteção eletrônica, logo é possível sim diminuir algumas restrições ‘desnecessárias’ para o tipo de uso do veículo”.

Rodrigo considera que a eletrônica veio para trazer melhorias para as emissões e eficiência dos veículos, mas também trouxe inúmeros problemas. “Alguns sensores são muito importantes, como por exemplo, o de óleo, o de temperatura e o do ponto de ignição. Mas alguns dedicados a garantir que os carros atendam as normas de poluição vigentes, são os mais “delicados” e suscetíveis a falhas”.

Ao contrário da eletrônica, a transmissão do Troller T4 não tem histórico de problemas. “Estes jipes vêm equipados com transmissão Eaton SSO 2405 de 5 marchas que é bastante ‘parrudo’ e, associado ao diferencial Dana 44 e ao cardã reforçado (FOTO 4), dificilmente chegam para nós para qualquer tipo de intervenção”, disse Rodrigo.

Foto 3 e Foto 4Já a parte de suspensão (FOTOS 5 e 5A) e freios, como são muito utilizados na proposta offroad deste veículo, são os que recebem a maior carga e apresentam sequências de falhas. “Temos efetuados correções nas buchas dos braços oscilantes, nas buchas dos jumelos das molas traseiras, e troca do sistema de pastilhas de freios em veículos com quilometragem próxima as 35.000km”.

Foto 5 e Foto 5APEÇAS E INFORMAÇÕES
É nessa hora que o intercambiamento de peças facilita a vida de quem repara um Troller. “Para quem pensa que existe dificuldade em encontrar peças para este modelo se engana! O mercado independente supre muito bem a necessidade das peças. Os grandes fabricantes abastecem bem o mercado de reposição, principalmente depois que a Ford comprou a Troller, aí é só ver o que é de Fiesta, Ka, Ranger e comprar. Devido a isso, posso dizer que se a preocupação do reparador for o custo do reparo, pode ficar tranquilo que é um carro que não dá dor de cabeça, só o visual é que impressiona”.

Com relação ao acesso às informações técnicas, Rodrigo também disse não encontrar dificuldades.

“Por ter uma mecânica simples, não dá trabalho. Exceto pelos diagramas elétricos, pois estes só conseguimos com colegas que atuam nas concessionárias da marca. Houve um caso em que precisei do diagrama do sistema de tração e nem eles tinham, assim atrasou muito o nosso trabalho”.

Reparadores consideram o Troller T4 de fácil manutenção e recomendam o jipeRECOMENDA?
Rodrigo disse que indica o Troller T4 aos seus cliente sem qualquer tipo de receio. “São bons veículos, mas vale lembrar que este se trata de um Jipe projetado para terrenos instáveis e que conta com alguns dispositivos de conforto, como ar-condicionado e direção hidráulica, o que confunde algumas pessoas que o compram e se arrependem dizendo que ele é muito desconfortável. Assim, se o cliente perguntar, tem que pesar os prós e contras, mas se for pensar mecanicamente, não precisa torcer o nariz pois é um carro de manutenção comum”.

 

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