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Mercedes Benz 710 apresentou fumaça branca e danos à bomba injetora

Com falha na bomba elétrica a bomba injetora trabalhou em sobrecarga e sofreu danos aos componentes internos. Se a manutenção fosse feita assim que a falha ocorreu, estes poderiam ter sido diminuídos

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Por Fernando Naccari Alves Martins


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A Mercedes-Benz é uma das montadoras mais tradicionais no mercado de caminhões, mas se diferencia da Volvo e Scania principalmente por atuar em praticamente todas as categorias, dos VUC (Veículos Urbanos de Carga) aos ‘Cavalo Mecânico’.

Aproveitando essa grande gama em nosso mercado, visitamos a oficina DVG Técnica Diesel, localizada no bairro da Vila Guilherme em São Paulo-SP que estava com um MB 710 Plus turbo/intercooler com 15.918km rodados, apresentando falha na bomba elétrica de combustível. Para comentar esta manutenção, conversamos com o reparador e proprietário da oficina Allan Calvo.

“Atendo cerca de 200 veículos por mês, dentre eles caminhões de pequeno porte como este e até carretas. Às vezes aparece algum veículo em prazo de garantia vigente, mas recusados pela concessionária sob a alegação de uso de combustível de baixa qualidade ou culpando os famosos ‘agentes externos’, como eles mesmo denominam”.

Foto 1Foto 2A FALHA
O sistema de alimentação de combustível deste caminhão é dotado de uma bomba elétrica (Foto 1) de baixa pressão que trabalha em torno de 0,3bar até 1bar, onde esta alimenta a bomba injetora para o funcionamento do motor. Mas neste caminhão isso não estava acontecendo: “A bomba elétrica deste caminhão apresentou falha, exigindo assim que a bomba injetora exercesse a função de puxar o diesel também, dessa forma, esta trabalhou em sobrecarga e perdeu a lubrificação, trazendo danos a seus componentes internos”.

“O mais curioso é que mesmo com todo este ‘estrago’, o motor continuava funcionando, mas apresentando emissão de fumaça branca em excesso e falhas na marcha lenta, evidenciando que a bomba (Foto 2) estava fora do ponto, mas não imaginávamos que esta era a causa”, acrescentou Allan.

Mas como todos sabemos, este não é um defeito que surge ‘do dia para a noite’, portanto, a falta de cuidado foi um dos agravantes à falha: “Geralmente não é o dono do veículo que utiliza este tipo de caminhão diariamente, mas sim um motorista terceirizado, assim o condutor deste rodou com o veículo durante um bom tempo apresentando falhas na rotação e emissão de fumaça branca e, essa situação se fosse tratada de inicio, não ganharia a magnitude que esta tomou”, afirmou Allan.

“O filtro de combustível do MB710 têm uma particularidade. Internamente, existe uma válvula que quando a bomba é acionada, esta entra em funcionamento direcionando o combustível ao sistema de filtragem. Quando o filtro utilizado não é o recomendado pela fabricante, este sistema não abre a válvula, não filtrando o combustível e causando avarias na bomba injetora. Portanto, devemos tomar muito cuidado no momento de trocar este filtro. Ele sempre deverá possuir as características que o original”, orientou Allan.

BOMBA INJETORA
Com o advento da injeção eletrônica nos motores ciclo Diesel, as bombas injetoras ficaram obsoletas. Mesmo eficientes na função de dosar o combustível e oferecer a aceleração correta ao motor, tinham difíceis regulagens e devido à suas características construtivas, não atendiam às emissões de poluentes vigentes.

“Ao contrário do que ocorre no ciclo Otto, no ciclo Diesel a aceleração é controlada pela bomba injetora, aumentando e diminuindo a dosagem de combustível para a queima na câmara. Então é certo dizer que quanto mais ar entrar na câmara de combustão, mais eficiente será a queima. Por conta disso é que a passagem de ar no ciclo diesel é direta e nos motores atuais o sistema turbo alimentado é item de série”, comentou Allan.

“A bomba injetora utilizada neste veículo é uma tipo VE e na foto 3 vemos o reparo danificador pela falta de lubrificação. As demais peças devem substituídas como consequência do reparo”, disse Allan.

“Para testarmos a eficiência da bomba injetora, a montamos em uma bancada de testes (Foto 5) e nestes, ela deve atingir e manter durante certo tempo pressões entre 1000 e 1500bar”, relatou Allan.

Foto 3 e 5

“Em seguida, deve-se verificar a vazão da bomba injetora (Foto 6), sempre que houver qualquer intervenção na mesma. Assim, a 1500rpm a vazão deverá estar entre 97,22 e 180,49ml de diesel. Já a 500rpm, estes valores devem estar entre 44 e 88,88ml de diesel”, orientou Allan.

Allan ainda acrescentou: “Em toda intervenção na bomba injetora, ainda mais quando se trata deste tipo de inconveniente, é necessário a verificação e revisão dos bicos injetores (Foto 7) que, por consequência da falha, acabam perdendo as suas características de funcionamento ideais”.

Foto 6 e 7

Allan ainda comentou que é necessária a verificação dos componentes internos ao bico (Foto 8) e, principalmente, se há fadiga na mola de pressão.

Segundo Allan, os bicos injetores também exercem função importantíssima, portanto não podem ser deixados de lado: “A calibração do bico varia de acordo com a quantidade de calços utilizados (Foto 9). Os valores variam entre 5 e 10mm para que o bico pulverize o combustível adequadamente. No caso especifico deste caminhão, a pressão para que o bico se abra é de 260bar (Foto 10). Caso isso não seja conferido, poderão ocorrer falhas no funcionamento do motor e danos físicos ao mesmo”.

Foto 8, 9 e 10

“É importante conferir também visualmente o leque da pulverização do bico. Se este não estiver dessa forma, a queima de combustível não será adequada”, acrescentou Allan.

“Em bombas do tipo VE, recomendo que as bombas injetoras sejam verificadas a cada 100.000km e, os bicos injetores a cada 50.000km, isso quando falamos em trecho urbano, mas quando falamos em trechos rodoviários pode rodar um pouco mais ainda”, disse Allan.

Allan também fez outra recomendação: “Oriento meus clientes a utilizarem o combustível com o menor teor de enxofre possível, atualmente o S10. Também oriento a sempre efetuarem a substituição dos filtros e a verificação quanto à presença de água no filtro separador. Esta sempre deverá ser drenada para que não traga danos ao sistema de alimentação do veículo”.

CONCLUSÕES
Se efetuadas as manutenções adequadas no sistema de alimentação e injeção de combustível, o Mercedes-Benz 710 é um caminhão seguro e que oferecerá bom desempenho no uso diário. Mas Allan ainda faz sua recomendação: “Se aplicados os serviços preventivos e os corretivos o mais breve possível do ato da falha, é garantido que haverá prolongamento da vida útil dos componentes da bomba injetora deste caminhão. Para tal, oriento aos proprietários que acompanhem de perto as condições em que o veículo se encontra, pois nem sempre os condutores terão o mesmo cuidado e preocupação que o dono possui”.

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