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Carbonização de motores diesel é um dos motivos comuns da manutenção nas oficinas

Ter um veículo com problemas de carbonização na oficina é até comum, mas encontrar três e da mesma marca e modelo, pode parecer coincidência, só que isso mostra como estes carros estão sendo utilizados

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Por Antônio Gaspar de Oliveira


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Nas oficinas especializadas em veículos diesel, a rotina pode ser quebrada quando surgem alguns carros da mesma marca e com avarias causadas pelos mesmos tipos problemas, como a carbonização, que afeta o funcionamento do motor, comprometendo o desempenho.

Seria fácil dizer que o culpado mais provável seria o combustível e até poderia ser, mas com a participação direta do proprietário na escolha do combustível e também do local onde está abastecendo. 

Por exemplo, colocar diesel S500 por ser mais barato e não considerar que estes motores foram desenvolvidos para funcionar com o combustível mais avançado que temos no país, o S10, que tem apenas 10 partes por milhão de enxofre. 

Neste cenário tem uma grande probabilidade de a causa ser a forma de dirigir este tipo de veículo em ambientes urbanos. Os motores diesel com controles de emissões precisam de condições ideais para realizar automaticamente a descarbonização do filtro DPF com velocidade, rotação, e distância determinada para que o sistema execute esta operação.

No caso destes motores carbonizados, o comprometimento foi ao extremo de bloquear os orifícios da válvula EGR e restringir as entradas do coletor de admissão. 

É aqui que entra a questão da forma de utilizar estes veículos nas cidades, muitas vezes o motor é ligado e o percurso é de apenas alguns minutos até o local de destino, o que não permite que o motor atinja a sua temperatura ideal de funcionamento. 

A isso é somada a condição do motor ficar em marcha lenta na maior parte do tempo de funcionamento, devido ao trânsito que impede a velocidade e regime de rotações mais elevadas.

Com o passar do tempo, os resíduos se acumulam nas partes internas do motor, alterando e restringindo as passagens de entradas e saídas do motor, causando o mau funcionamento e a perda de potência.

Com a aprovação do cliente, a tentativa inicial é de utilizar produtos químicos bastante agressivos para remover os materiais acumulados nestes componentes, mas em alguns casos é preciso intervenções mecânicas e sem prejudicar as paredes onde estão acumulados os depósitos de carvão.

Para a válvula EGR, é recomendável informar o cliente que a limpeza pode não resolver o problema porque muda o curso de atuação do motor interno e a solução é a substituição da peça por uma nova, que vai garantir o bom funcionamento do motor.

O motor Fiat diesel que equipa o modelo Toro oferece algumas dificuldades para a remoção do coletor. Literalmente tem que abrir caminho para ter acesso, removendo a caixa do filtro de ar, o filtro de diesel, a tampa e correia de sincronismo, a bomba de alta e para finalizar, remover um prisioneiro da bomba de alta. 

Também é preciso remover a bateria e o suporte do coxim do motor, mas antes, é recomendável colocar um suporte ou cavalete para manter o motor no lugar e a roda deve ser removida para facilitar o acesso aos componentes da parte inferior da frente do motor.

Muitos mecânicos já sofreram quando fizeram este serviço pela primeira vez, até descobrir estas dificuldades que tomam tempo e pode até comprometer o orçamento que foi passado e aprovado pelo cliente.

Conhecer as dificuldades e o tempo necessário para executar o serviço é fundamental para garantir a produtividade na oficina.

Mesmo com a recuperação plena do funcionamento do motor, em muitos casos, o problema pode voltar pelos motivos já mencionados, por isso é importante informar o cliente sobre o serviço executado e que a garantia está relacionada com o uso correto do veículo e abastecimento com o combustível adequado, que é o diesel S10. Aproveitando que o motor está com o acesso livre, é recomendável sugerir ao cliente que aproveite para trocar a bomba d’água e a correia dentada, considerando a quilometragem do veículo.

A troca da correia tem que ser cuidadosa e com as ferramentas adequadas, para garantir o sincronismo dos comandos de válvulas e do virabrequim.

Mesmo com as ferramentas instaladas para fazer o travamento, é sempre bom fazer as marquinhas com tinta nas engrenagens, antes de remover a correia, só por garantia.

A mesma sugestão também pode ser feita para a troca do óleo lubrificante do motor, pois o filtro de óleo fica com o acesso livre e a remoção é muito fácil quando o motor está nestas condições, com os componentes removidos.

Como estes veículos são equipados com sistema de filtro DPF, vale lembrar que o óleo tem que ser específico para este tipo de equipamento. O uso de óleo comum vai causar danos ao filtro, comprometendo o desempenho do veículo. No manual do carro tem uma informação adicional.O modelo diesel é equipado com um sistema que monitora a condição de degradação do óleo do motor, portanto, além das indicações por quilometragem e tempo já mencionadas, a substituição do óleo do motor e do filtro de óleo do motor deverá ser efetuada se a sinalização de uma luz espia específica ou uma mensagem no painel de instrumentos ocorrer.

Em caso de acendimento do símbolo (amarelo âmbar) no display (óleo do motor degradado), o óleo do motor deve ser substituído imediatamente, independente da quilometragem percorrida e/ou tempo de uso, sob pena de danos severos ao motor. 

Para quem já está no ramo de reparação de veículos diesel e que realiza os serviços com critérios, sabe que não dá para utilizar peças comuns do mercado. Mesmo sendo um pouco mais caro, é recomendável o uso de componentes originais, principalmente filtros, pois não vale o risco de ter todo serviço comprometido por causa de uma peça que não é adequada.

Mesmo que o diesel seja visto como o grande causador da carbonização, é importante mencionar que o diesel S10 possui muito mais propriedades detergentes, tem menos material particulado e com a pressão de injeção adequada e a compressão de cilindros corretas, a sua queima é completa e o pouco de material particulado restante da queima durante a combustão será retido no filtro de partículas (DPF), que será queimado automaticamente pelo sistema de controle de emissões do veículo.

Como argumento durante o diálogo com o cliente, é importante mencionar o conteúdo com informações sobre o uso do veículo diesel e as recomendações dos períodos de manutenções, que podem ser por tempo ou quilometragem.

Estas informações estão no plano de manutenção, no manual do carro.

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