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Apesar da boa fama dos Mercedes-Benz, MB180D dá trabalho ao reparador

Devido a defeitos recorrentes na suspensão dianteira, corrente de comando associados ao descuido dos proprietários, profissionais precisam se especializar para trabalhar com a manutenção da van

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Por Fernando Naccari e Paulo Munhoz


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Reparador Antônio (à esquerda) e seu sócio Robson (à direita)Era início dos anos 90 e o mercado nacional era dominado pela Volkswagen Kombi. Para conquistar este público e até disponibilizar mais conforto e opções, algumas montadoras passaram a oferecer veículos versáteis que podiam ser utilizados, assim como a Kombi, como vans de transporte de passageiros, como furgões e até como ambulâncias. Era o que a Kia fez com a Besta e a extinta Asia fez com a Topic.

Vendo esta grande oportunidade de mercado, a Mercedes assistia a tudo de camarote e decidiu ingressar no segmento de 3.500kg de PBT com a MB180D em 1993, importada da Espanha. Assim como as concorrentes asiáticas, esta van tinha a vantagem, perante a Kombi, de ser a diesel e, perante às demais, de ser de uma montadora gabaritada no cenário internacional.

Trazendo o motor OM-616 originário do automóvel 240D muito utilizado como táxi na Europa, Oriente Médio e África, este era movido a diesel e trabalhava com pré-câmara de combustão e com seus 2.4litros possuía apenas 75cv de potência a 4.400rpm. O veículo permaneceu então no mercado até o ano de 1996, quando foi substituída pela moderna Sprinter, que permanece sendo comercializada até os dias de hoje 

NA OFICINA
Com seus 20 anos de mercado completado no ano passado, a MB180D é um veículo que frequenta as oficinas independentes apresentando os mais diversos defeitos, tanto que encontramos na Speed Vans de São Paulo-SP, uma unidade fabricada em 1995 que estava com 320.000km rodados e havia apresentado a quebra da corrente de comando do motor, com consequente travamento do motor.

Sobre essa falha e outras que o veículo costuma apresentar, opinaram o reparador Antônio Silva Cândido Jr de 28 anos de idade, dos quais 10 anos são dedicados à profissão. “Comecei junto com meu pai, pois ele possuía uma oficina e com ele aprendi muita coisa. Depois montamos essa oficina, eu e meu cunhado e agora sócio, Robson Silva de Almeida”. Robson possui 29 anos de idade e também tem 10 anos de experiência no setor de reparação. 

Antônio disse que atende, em média, 160 veículos por mês na Speed Vans, sendo 30% destes modelos MB180D. “Quando iniciamos na profissão, nosso maior público era destes veículos, pois havia vendido muito. Portanto, com a experiência que adquirimos com a manutenção destes, nos tornamos referência e especializados. Posso dizer que hoje é o nosso ‘carro-chefe’ nas passagens da oficina”.

Confirmamos essa afirmação de Antônio quando notamos que, na data de nossa entrevista, ele possuía 6 exemplares destes para reparo. “Muitos mecânicos não gostam de mexer com elas, pois existem muitos detalhes a serem verificados e o espaço para trabalhar é reduzido (FOTO 1). Tem uma aqui que, só pelo barulho, dá para termos uma ideia de que o defeito pode estar atrelado à cabeça da vela aquecedora que deve ter ‘pulado’, isso ocorre devido ao motor estar apresentando compressão excessiva. Só sabemos disso devido à rotina de manutenções do modelo e existem casos de outros reparadores que, sabendo que somos especializados, nos enviam os veículos para reparar. Houve casos, inclusive, de MB180 que chegaram para nós trazidas do Rio Grande do Sul.

Segundo Robson, um dos defeitos mais comuns desta van está na correia de comando do motor. Porém, nem sempre o problema é causado por falha mecânica, mas por falta de manutenção preventiva adequada. “Esta MB180 está vindo pela segunda vez trocar a corrente de comando (FOTO 2). Nesta, o proprietário não fez a manutenção preventiva e o componente se desgastou e quebrou, causando travamento do motor”.

Foto 1 e Foto 2Ao contrário do que ocorre com a maioria dos motores que apresentam quebra da corrente de comando, quem mais sofre não são as válvulas neste motor, mas sim o comando de válvulas (FOTO 3). “É muito difícil empenar as válvulas quando a corrente quebra neste motor, pois estas ficam travadas entre as engrenagens e não descem. O mais comum é ver os mancais do comando, que são de alumínio, quebrarem”, comentou Robson.

Porém, se o cliente der sorte, mesmo com a quebra da corrente, pode não ter o motor danificado. “Existe outra situação em que, se a corrente quebrar e for para o cárter e o comando parar numa posição específica onde não apresente interferência, o motor gira livre sem causar danos mais sérios”, contou Antônio.

Além deste inconveniente, outra intervenção que os reparadores informaram ser frequentes neste modelo é na suspensão dianteira (FOTO 4). “Como o motopropulsor fica na frente e sobre esta, as borrachas costumam se degradar rapidamente, pois além de peso trocam muito calor com o motor”, comentou Antônio.

Foto 3 e Foto 4Robson ainda completou dizendo que o pivô é um dos que mais dá problema neste veículo. “Já fui socorrer clientes que a roda havia caído, pois o pivô quebrou por inteiro. Ainda bem que nada mais sério ocorreu, mas isso pode gerar acidentes graves. Nós da oficina avisamos qual a melhor hora de trocar, mas infelizmente os clientes nem sempre acatam e colocam sua própria segurança em risco. É uma pena”.

DICA DE MANUTENÇÃO

Pensando na dificuldade que o reparador encontra em realizar o acerto do ponto da corrente de comando, os reparadores indicaram o procedimento de manutenção, conforme veremos a seguir.

1) Para trocar a corrente, inicialmente removemos a tampa de válvulas (FOTO 5) e, após isso, temos como verificar se ela caiu ou não para o cárter e que estrago provocou;

2) Em seguida, temos que retirar a frente do veículo para termos acesso ao radiador e ao eletroventilador (FOTO 6). É necessário removê-los;

Foto 5 e Foto 6

3) Com acesso mais amplo, remova as polias e as correias (FOTO 7);
4) Agora, retire os itens de suspensão como a barra estabilizadora e as bieletas (FOTO 8);

Foto 7 e Foto 8

5) Retire o suporte do filtro de óleo do motor juntamente com o filtro (FOTO 9);
6) Retire o cárter e a tampa frontal para ter acesso a corrente e ao esticador (FOTO 10);Foto 9 e Foto 10

7) Saque a bomba de vácuo (FOTO 11). Verifique ainda que, atrás dela, existe uma engrenagem que também deve ser retirada, pois a corrente passa por ela;
8) Ao retirar as peças danificadas, observe se as engrenagens estão danificadas (FOTO 12) (sem os dentes). Se for o caso, devemos substituí-las;

Foto 11 e Foto 12

9) Os pinos dos guias da corrente também podem quebrar (FOTO 13). Observe também a necessidade de sua troca para que não hajam prejuízos e retrabalhos desnecessários;
10) Os guias e o esticador da corrente (FOTO 14) devem ser substituídos como manutenção preventiva;Foto 13 e Foto 1411) Ao colocar a nova corrente, a recomendação dos reparadores é apoiá-la na parte superior com uma chave de fenda grande (FOTO 15), evitando que ela caia dentro do motor fazendo com que seja gerado um retrabalho desnecessário;

Após substituir todas as peças novas e remontar os agregados antes retirados (polias, eletroventilador e itens de suspensão), siga o procedimento descrito. Lembre-se sempre que, ao girar o motor com a corrente solta, segure-a esticada (FOTO 16) para que ela não remonte ou caia, pois se isso ocorrer, você terá que desmontar tudo novamente e refazer todo o procedimento.

Foto 15 e Foto 16

12) Alinhe a marca da engrenagem do comando de válvulas com a referência no mancal do comando (FOTO 17);
13) Coloque a polia com a referência no PMS (Ponto morto superior) (FOTO 18);

Foto 17 e Foto 18

14) Após verificar a marca de referência da bomba injetora, a marca deve estar alinhada com a falha conforme a figura abaixo posicionando-a na engrenagem (FOTO 19);
15) Retire o bujão que se encontra na lateral da bomba injetora (FOTO 20);

Foto 19 e Foto 2016) Após alinhada, devemos travar o êmbolo da bomba com um parafuso 10mm com passo de rosca 1,50mm (FOTO 21 e 21A);

Foto 21 e Foto 21A

17) Gire a polia do virabrequim até a posição de 27° e, somente depois de efetuado este procedimento é que deve-se colocar a bomba injetora (FOTO 22);
18) Efetuado este procedimento, gire o motor manualmente algumas vezes para observar se, ao girá-lo, não há nenhuma interferência . Se isso não for conferido e um dente ficar fora, o motor poderá travar e apresentar todos os danos relatados anteriormente.

Foto 22 e Foto 23

INFORMAÇÕES TÉCNICAS E PEÇAS
Embora o veículo tenha bastante tempo no mercado, segundo Robson, conseguir material de apoio técnico com a Mercedes é algo muito difícil. “Se fossemos depender da Mercedes para isso estaríamos sem nada. Assim, quando precisamos de informações de itens internos do motor como um controle dimensional, entramos em contato com retíficas parceiras e, com eles, conseguimos o que precisamos. Agora quando precisamos de um manual técnico mais geral, temos que recorrer a amigos que o possuam ou a fóruns como o do Jornal Oficina Brasil”.

Robson ainda acrescentou que, devido ao veículo possuir uma mecânica de reparo trabalhoso, o segredo é a experiência e o macete adquirido com a rotina. “Sem isso, não tem material que ajude”.

De acordo com Antônio, as peças da MB180 nas concessionárias são muito caras, portanto o reparador sempre acaba ouvindo do proprietário para usar aquelas mais baratas ofertadas no mercado de reposição independente. “Estas peças não possuem a mesma durabilidade e qualidade das genuínas, portanto este é um fator que colabora muito para que os veículos retornem frequência para efetuar reparos já efetuados. Fora que os clientes não tem o hábito de efetuar as manutenções preventivas, onde quando o primeiro barulho aparece, nem se preocupa em descobrir a causa, vai andando até o carro ‘desmontar’”.

Porém, não são todas as peças que ainda são encontradas nas concessionárias. Algumas de vital importância, como a corrente de comando, não é mais fornecida pela montadora (FOTO 23). “A original era mais larga e reforçada que esta que, além de mais estreita, apresenta desgaste acentuado. Infelizmente é só o que temos no mercado disponível para o veículo”, reclamou Robson.

Outro problema relacionado à compra de peças nas concessionárias é o alto preço. “São difíceis de achar e, quando achamos, é muito mais cara que a paralela e não tem a pronta-entrega. Isso faz com que dificilmente o cliente opte por esta. Assim, posso afirmar que 90% das peças para este modelo eu adquiro no mercado independente”, finalizou Antônio.

 

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