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A influência da bateria no sistema de ignição e injeção eletrônica da motocicleta

Apesar de ser um assunto que já foi abordado em outras edições,  é importante de ser relembrado, visto pela quantidade de peças trocadas na garantia e as perguntas que recebo no dia a dia referente a falhas causadas por descuidos

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Por Paulo José de Sousa


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No que diz respeito à tecnologia, os modelos de baterias que equipam a maioria das motocicletas praticamente são os mesmos faz um bom tempo, assim como os procedimentos de reparo segundo os manuais de serviços dos principais fabricantes. Mesmo assim, as dúvidas e os problemas continuam.

Para complicar, ainda há muita controvérsia quando o assunto é a utilização da literatura de serviços, pois alguns reparadores experientes desenvolvem suas técnicas e dispensam o uso do manual do fabricante. Com isso, criam teorias, caem na própria armadilha e o resultado afeta diretamente o bolso do cliente e a reputação da oficina.

Nesta matéria vamos abordar a bateria selada, conhecida como “livre de manutenção – MF”.

Uma coisa é certa: no sistema de injeção eletrônica tudo depende da bateria, a tensão que alimenta a central eletrônica que por sua vez distribui a energia aos componentes como sensores, atuadores, sistema de ignição e injeção de combustível.

Todos os fabricantes definem um valor de tensão da bateria como referência padrão para assegurar o bom funcionamento do sistema em qualquer condição normal de utilização do veículo. Em outras palavras, se o valor de voltagem estiver diferente do recomendado, algo não irá funcionar bem.

Ainda há outros agravantes que irão ocorrer, por exemplo, alterações no consumo de combustível, ligeiro aumento nas emissões de poluentes ou a moto não irá funcionar.

Responsabilizar a bateria por qualquer pane no sistema elétrico não é o melhor caminho. A culpa nem sempre é dela.

EQUILÍBRIO ELÉTRICO
O fabricante da motocicleta desenvolveu um alternador adequado, capaz de abastecer a bateria que supre os demais componentes consumidores elétricos originais. Para o caso de instalação posterior de um acessório adicional que geraria um consumo extra, como por exemplo: alarme, rastreador, lâmpada do farol mais potente, lâmpada auxiliar, buzina etc., o alternador original pode não conseguir gerar energia suficiente capaz de completar a carga da bateria, a qual, por sua vez, não tem capacidade de suprir a demanda excessiva ocasionada pelos acessórios instalados.

O resultado será certamente uma bateria com carga incompleta que trará complicações no momento em que for mais solicitada, apresentando dificuldades na partida, comprometendo assim a sua vida útil e outros problemas relacionados anteriormente.

Normalmente, a instalação de uma bateria maior e de um alternador mais potente exigiria alterações na estrutura da motocicleta, além de estarem limitados ao espaço físico que ocupam, portanto as modificações não são recomendáveis.

Para manter o equilíbrio elétrico, é necessário manter todos os componentes originais ou similares que apresentem o mesmo consumo.

ANÁLISE DA BATERIA
A bateria deverá apresentar a voltagem mínima recomendada pelo fabricante da motocicleta (motor e itens consumidores desligados) (conforme a fotografia)

Se a bateria estiver indicando uma tensão abaixo do valor recomendado, é necessário que a mesma seja submetida a um processo de carregamento. O tempo de permanência no carregador será determinado em função da voltagem indicada (conforme tabela).
Durante a carga é necessário que a bateria esteja recebendo uma corrente equivalente a 10% de sua amperagem nominal, exemplo: se a bateria for de 10 A (Amperes) é importante que no processo de carga o carregador esteja regulado para fornecer somente 1,0 A (Ampere). O processo é conhecido como carga lenta.

Nem sempre há recomendação de carga rápida. Baterias seladas quando são submetidas a cargas rápidas aquecem demais e podem explodir ou permitir que o eletrólito escape pela válvula de segurança.  No manual de baterias do fabricante Yuasa, recomenda-se que no processo de carga a bateria não atinja temperaturas superiores a 55C°.

CUIDADOS NA INSTALAÇÃO
A correta instalação da bateria é importante para que o sistema de carga supra a demanda exercida sobre a mesma.

Certifique-se que o fusível está bom e os cabos da bateria (positivo e negativo) estão encaixados nos respectivos terminais e seus parafusos corretamente apertados e livres de ferrugem e demais oxidações, que provocam queda de tensão durante o processo de carregamento e funcionamento da motocicleta.

Após avaliação da bateria, se tudo estiver de acordo, proceda análise na motocicleta, sistema de carga da bateria e verifique se há fuga de corrente.

Se algo estiver consumindo a carga da bateria é provável que muito em breve ela vá descarregar mesmo estando boa.

Motocicletas equipadas com freio ABS e outras tecnologias - As motocicletas modernas de médio e grande porte são equipadas com sistemas sensíveis, como computadores de bordo, ABS, módulos, amortecedor de direção eletrônico, entre outros.

Por isso, não remova ou instale a bateria sem conhecer os procedimentos recomendados pelos fabricantes de cada modelo, pois na instalação os componentes podem exigir algum procedimento de reinicialização e a limpeza de defeitos memorizados na ECU.

Ao remover uma bateria desligue o interruptor de ignição (contato), inicie o processo pelo polo negativo e em seguida, desconecte o polo positivo. Para a instalação, inicie com o polo positivo e, em seguida, com o polo negativo.

Atitudes que causam descarga da bateria - A utilização do veículo ou a pouca utilização podem proporcionar um suprimento de carga inferior ao consumo geral da motocicleta, ocasionando assim a curto tempo uma carga insuficiente para a bateria.

Nesse caso não há defeito na bateria e nem no sistema de carga da moto. A solução é rever a maneira de utilização da motocicleta, tal prática é comum na época do inverno.

Outra atitude que implica no carregamento da bateria é quando o usuário utiliza seu veículo e não percebe que seu pé direito está repousando sobre o pedal de freio traseiro, acionando assim a luz de freio, que proporciona um consumo elevado da carga da bateria, pois o sistema utiliza uma ou mais lâmpadas na faixa entre 21 a 23 Watts. É importante estar atento aos usuários que permanecem com a mão direita sobre o manete do freio dianteiro, há casos onde o interruptor de freio está travado ocasionando a descarga descrita.

Outro ponto importante que também gera consumo excessivo da carga da bateria é a dificuldade na partida. O condutor aciona o botão de partida diversas vezes até a motocicleta funcionar e a falha é ocasionada pela falta de manutenção na moto.

E por último, existe um tipo de usuário que deixa o farol da motocicleta aceso com o motor desligado, provocando assim descarga da bateria.

SULFATAÇÃO DA BATERIA
Quando a motocicleta é pouco utilizada ou usada apenas nas épocas mais quentes do ano (sazonalmente), o reparador precisa informar seu cliente que alguns procedimentos devem ser feitos com o auxílio do técnico automotivo:

carregue a bateria e armazene-a em um local ventilado longe do alcance de crianças e animais;

Se for necessário que a bateria permaneça na motocicleta, desconecte o terminal negativo; verifique a tensão da bateria mensalmente e, se necessário, recarregue-a;

A carga poupará a bateria de um processo destrutivo que ocorre quando está descarregada. Esse processo é conhecido como sulfatação e, dependendo da condição, poderá ser irreversível.

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AUTO DESCARGA
Toda bateria tem uma tendência natural a descarregar, esteja ela em uso ou não, mesmo que não haja nenhum componente ligado. E nem sempre é por isso que a mesma tem de ser substituída, normalmente é só questão de repor a carga.

Ao longo do tempo, toda a energia armazenada na bateria tende a desaparecer e o processo é proporcional à tecnologia aplicada na bateria e também da idade da mesma.

As variáveis temperatura e umidade ambiente também colaboram. Quanto maior a temperatura e a umidade, mais carga é perdida. Denominamos este processo de autodescarga.

Outros itens consumidores da carga da bateria - As motocicletas mais sofisticadas são providas de alguns acessórios originais de fábrica que consomem energia mesmo com o interruptor principal desligado, como os computadores de bordo, painel equipado com relógio, LEDs que piscam todo o tempo e até outros dispositivos de segurança que estão entre os itens que mais consomem.

Pane no sistema de carga - sobrecarga - Não adianta trocar a bateria sem saber a real causa da pane na peça. Sobrecarga quer dizer carga excessiva, ou seja, um aumento da corrente de carga é o que causa o efeito da sobrecarga e provoca a alta temperatura, proporcionado pelo processo de carregamento da bateria da motocicleta.

O regulador/retificador de voltagem defeituoso pode ser a peça responsável pela carga excessiva na bateria. Para as baterias convencionais, vale lembrar que o consumo excessivo do eletrólito da bateria pode ser um indicador da sobrecarga.  A sobrecarga será identificada na inspeção do sistema de carga.

FUGA DE CORRENTE
O processo pelo qual a corrente (A) da bateria descarrega é causado geralmente por um curto-circuito em algum componente.

A fuga é detectada quando todos os componentes da motocicleta estão desligados e mesmo assim é registrado um consumo de energia elétrica.

Se o consumo for alto, a bateria em breve descarregará ou permanecerá parcialmente descarregada. Ambas as condições comprometerão sua vida útil e, por isso, é um defeito e deve ser corrigido.

Como identificar a fuga de corrente nas motocicletas - procedimento Honda Fan ESI 2011

O procedimento para medir a fuga de corrente ou “corrente em vazio”, é o seguinte:

De acordo com o manual de serviços básicos, o procedimento para avaliar fuga de corrente deve ser o seguinte:
1. Desligue a motocicleta e remova a chave do interruptor da ignição. Solte o cabo negativo da bateria da motocicleta;

2. Com o multímetro em mãos (DCA para medir amperagem), instale a ponta de prova vermelha do aparelho ligado em série com cabo negativo da motocicleta; e a ponta de prova vermelha ao polo negativo da bateria.

3. A fuga máxima de corrente permitida de acordo com o manual de serviço é igual a 0,1mA.

Se a fuga for diferente do limite estabelecido, significa que o sistema opera com um curto-circuito. Assim, localize a causa desligando os componentes da motocicleta, um a um, até que o problema desapareça. Depois execute a operação de montagem na ordem inversa e execute o reparo no item identificado.

Inspeção do sistema de tensão de carga da bateria – procedimento YS Fazer 250 Yamaha ano 2009

Outro procedimento de avaliação do sistema de carga é checar o valor de tensão (V) que entra na bateria no momento do funcionamento da motocicleta. Para a exatidão do teste é necessário que a bateria esteja com a carga completa.

Uma vantagem desse teste é que ele não necessita remover nenhum terminal da bateria

1. Com um multímetro utilize a escala DC 20V em paralelo;

2. Conecte a ponta preta do multímetro no polo negativo da bateria e a ponta vermelha do multímetro no polo positivo da bateria;

3. Dê a partida no motor e acelere até cerca de 5.000 rpm;

4. Confira a voltagem no aparelho;

5. O valor da voltagem de carga deverá ser de 14V ;

6. Se a tensão estiver muito abaixo ou acima do valor estabelecido, verifique bobinas de carga, regulador/retificador da bateria e conexões.

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