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Intoxicação alimentar e Carbonização no motor, o que fazer? Vai um “detox” aí?

Motores com baixa potência e elevado consumo de combustíveis devido a combustão incorreta trazem prejuízos econômicos e ambientais. Isso ocorre por falhas nas manutenções, danificando os componentes internos

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Por Dr. Reparador José Tenório da Silva Junior


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Você já ouviu falar em “detox”? Detox é uma redução da palavra de origem inglesa “detoxication”, que em português significa desintoxicação. Atualmente esse termo tem sido associado a um tipo de dieta que faz sucesso principalmente pelo fato de ter um efeito inicial, geralmente rápido e impactante. A dieta é basicamente constituída por uma mudança alimentar na qual a pessoa passa a ingerir somente alimentos como hortaliças diversas (verdes de preferência como a couve) e frutas de baixo índice glicêmico que possuam componentes saudáveis e rígidos controles das toxinas que estão presentes nos alimentos, no ar poluído, no álcool, corantes e até nos cosméticos como cremes e perfumes. Elas se acumulam nos tecidos do corpo, nas células de gordura e bloqueiam os sinais de saciedade. Como consequência o indivíduo pode ter ganho de peso, problemas de pele, dores de cabeça e inchaço. Além disso, o acúmulo diário dessas toxinas acarreta o aumento do grau de inflamação do nosso organismo, consequentemente eleva o cortisol circulante e favorece a elevação da gordura corporal. Os principais órgãos que sofrem com esse acúmulo são o fígado e o intestino.

A desintoxicação acontece naturalmente pela própria capacidade que o organismo tem de eliminar as toxinas através de processo fisiológico diário. No entanto, atualmente estamos sujeitos a uma verdadeira sobrecarga de toxinas presentes nos alimentos, no ambiente poluído, nos remédios, etc. Estes elementos se acumulam em nossas células dificultando o funcionamento perfeito de nosso corpo; isto compromete a saciedade e interfere negativamente em nossa queima calórica. Daí a importância do suco Detox, que potencializa a ação desintoxicante do corpo - Ele age sobre as toxinas facilitando sua eliminação.

Fazendo uma analogia com o motor do carro, podemos citar a carbonização. Que pode ser aquela “borra” citada na matéria passada ou a carbonização seca, outra que ocorre principalmente pela má qualidade do combustível, sobretudo, gasolina. Observe a diferença entre um motor que estava funcionando perfeitamente e outro que apresentava algum tipo de problema relativo à combustão.

Princípios da Carbonização (seca)

A carbonização é um processo químico resultante da combustão incompleta de determinados sólidos (no caso, o combustível), quando submetidos ao calor elevado. O produto desta reação química é chamado de carvão. Pela ação do calor, essa reação química remove hidrogênio e oxigênio do combustível, de modo que a matéria restante é composta principalmente de carbono, daí a denominação “Carbonização”.

A fase fria do motor é um momento propício para o depósito de carvão. Isso porque a Unidade de Controle Eletrônico (ECU) da injeção eletrônica, através dos sinais do sensor de temperatura, aumenta o tempo de aberturas das válvulas injetoras (bicos), privilegiando a mistura rica. Neste momento, em função da baixa temperatura, uma parte do combustível não queimado deixa depósitos de carvão na câmara de combustão, válvulas e pistões.

Fique por dentro: OCTANAGEM é uma propriedade que o combustível possui que determina a resistência à compressão e a alta temperatura sem entrar em autoignição. Quanto maior a octanagem maior a resistência à detonação.

Outro fator que propicia a carbonização é o uso frequente em baixas rotações, por exemplo, quem mora e trabalha na cidade de São Paulo e pega longos congestionamentos diários, sobretudo, se o combustível (gasolina) estiver adulterado com solventes que diminuem consideravelmente a octanagem. No Brasil tanto a gasolina comum quanto a aditivada possuem 87 octanas (pelo método IAD – índice antidetonante). Já as gasolinas “Premium” têm maior octanagem, 91 e 95 octanas, e o etanol 108 octanas.

Gasolina com octanagem baixa (normalmente adulterada com solventes) provoca um fenômeno que ocorre na câmara de combustão, chamado de “detonação”, como se diz popularmente, “motor grilando”. Trata-se daquele barulho (tipo batidas de pino) que ocorre nos aclives em que a rotação do motor está baixa (tipo rampa de condomínio), ou mesmo nas saídas em primeira marcha com a rotação baixa.

Detonação é um ruído ou estrondo súbito, provocado por uma explosão incrivelmente veloz e violenta.

Para evitar que ocorra tal fenômeno o sistema de injeção conta com um “sensor de detonação” que fica instalado na lateral do bloco do motor. Esse pequeno sensor “ouve” os ruídos internos do motor e, ao menor sinal de detonação o sensor informa à UCE, que utiliza a estratégia de atrasar o ponto de ignição para evitar que ela ocorra. Acontece que, com o ponto atrasado a queima do combustível fica comprometida, e todo o mapeamento do módulo de injeção se altera, favorecendo a carbonização. Além disso, o motor perde potência, aumenta consideravelmente o consumo de combustível e polui muito mais.

Falhas no sistema de ignição, injeção eletrônica ou mau funcionamento de certos componentes do motor também podem contribuir para a carbonização.

Como você pode ver, para obter uma ótima queima de combustível e evitar a carbonização é necessário que todo o conjunto esteja “saudável”. E para chegar a um diagnóstico preciso e efetuar um reparo eficaz, é imprescindível que tenha conhecimento técnico, equipamentos específicos e boa experiência. Contudo, após a identificação do problema, o próximo desafio é fazer a descarbonização.

Métodos de descarbonização

No mercado existe um produto denominado “Flushing”. Ele é utilizado para remover/dissolver a borra que está no sistema de lubrificação do motor. Segundo instruções de alguns fabricantes, ele deve ser aplicado da seguinte forma: adiciona-se o produto ao óleo do motor, funciona-se por um tempo determinado e efetua-se a troca do óleo e filtro normalmente.  A promessa é que a borra seja dissolvida e eliminada junto com o óleo, quando for escoado - É aí que se esconde o problema!

Por experiência, posso afirmar que alguns desses produtos realmente cumprem o prometido, porém, uma parte da borra que se desprende das paredes internas do bloco e das peças móveis fica grudada na peneira do pescador da bomba de óleo, que restringe a passagem do lubrificante, provocando insuficiência de lubrificação. 

Portanto, após aplicação do “flushing” é preciso remover o cárter, pescador da bomba de óleo e a tampa de válvulas para a remoção manual dos resíduos que CERTAMENTE não sairão pelo furo de escoamento do óleo.

Para a descarbonização da câmara de combustão, pistões, válvulas, bicos injetores e dutos de admissão, são comumente utilizados descarbonizantes na forma líquida que se misturam ao combustível. De acordo com os seus fabricantes, basta colocar no tanque de combustível e funcionar por um tempo específico que a “mágica” acontece. Mas, na prática não é bem assim. Aliás, se o produto for tão eficaz assim, sabe aonde irão parar as crostas de carvão que se desprenderão da câmara de combustão e das válvulas? No catalisador. E certamente irá entupi-lo! 

A eficácia destes produtos é bastante questionável, principalmente porque depois da “mágica” ninguém desmonta o motor para verificar se produto realmente cumpriu o prometido. No entanto, acredito que o uso preventivo dos produtos descarbonizantes de boa qualidade pode ser uma ótima opção para os carros que são submetidos às condições severas de operação. Em tempo, sempre sob a orientação do Reparador.

Aprendi que na mecânica não se aplica o termo “eu acho”, portanto, partindo dessa premissa, para fazer um trabalho que se possa dar a garantia que o cliente espera, o correto é desmontar o cabeçote para remover as crostas de carvão que se acumulam nas válvulas, na câmara de combustão e nos dutos da admissão, bem como (nos casos mais graves), remover os pistões, para verificar/limpar as canaletas dos anéis. Somente assim é possível fazer um trabalho confiável e eficaz.

Nota: há casos em que os anéis ficam completamente travados nas canaletas dos pistões, tamanho o acúmulo de resíduos oriundos da carbonização – o motor perde potência e queima óleo excessivamente.

 

Como fazer para evitar a carbonização?

Regra básica: UTILIZE SEMPRE COMBUSTÍVEL ADITIVADO!

Não existe uma receita universal contra a carbonização, porque há muitas variáveis referentes à forma de condução e condições de operação do veículo. Porém, alguns cuidados podem reduzir as possibilidades da carbonização.

01 - Utilizar combustível aditivado é fundamental. O aditivo contido no combustível nada mais é que um detergente; ele remove os resíduos resultantes da má combustão, evitando que eles se acumulem e formem aquela terrível crosta de carvão.

02 - Nos veículos bicombustíveis, é interessante alternar o uso entre gasolina e álcool. Isso porque o álcool encontrado nos postos contém pelo menos 7% de água. Em altas temperaturas essa água presente no combustível gera um vapor que remove as impurezas da câmara de combustão, que são eliminadas na sequência, pelo escapamento.

03 - Para os veículos que andam pouco ou em baixas rotações, sempre que possível (de preferência numa rodovia e/ou subida de serra) acelere forte. Mas, atenção! Eu não disse para tirar racha! Acelerar forte quer dizer trocar as marchas com rotações mais altas, normalmente acima de 4.000 rpm. Cuidado para não ultrapassar os limites de velocidade da via. Nestas condições, se estiver utilizando gasolina aditivada ou etanol, é possível que boa parte da carbonização seja eliminada, vai depender do grau em que se encontram as crostas de carvão. Atenção! Se você não tiver habilidade para isso, não faça!

04 - Trocar o óleo de acordo com as condições de operação do veículo, seguindo as especificações do fabricante.

05 - Não deixar o motor esquentando antes de sair pela manhã. Na fase fria do motor, o sistema de injeção enriquece a mistura ar/combustível para o motor não falhar, porém, pelo fato do motor estar frio, uma boa parte do combustível não será queimada, o que favorece a carbonização. O ideal é ligar o carro, esperar no máximo um minuto e sair sem acelerar muito forte. A força que o motor faz para mover o veículo faz com que ele atinja a temperatura ideal de trabalho em menor tempo, reduzindo o desperdício de combustível e evitando a carbonização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazendo esse tipo de analogia da máquina humana com a máquina propulsora de um carro, fica mais fácil para entender alguns conceitos que são básicos, mas explícitos e outros que estão implícitos, como responsabilidade e dever, pois a responsabilidade de ir ao médico e de levar o carro para fazer manutenção é de cada um. No mesmo sentido, o dever de “remediar” com responsabilidade, eficácia e transmitir as informações necessárias para a prevenção de possíveis problemas é do profissional que está à frente do caso; seja ele um doutor em medicina ou um doutor em manutenção automotiva.

Diante do exposto, notamos que há grande semelhança entre os problemas ocasionados pela má “alimentação” e “sedentarismo”,  tanto para o ser humano quanto para o motor do carro. E que a prevenção é a melhor forma de minimizar as possibilidades de intoxicação e carbonização.

Contudo, vale ressaltar que cada organismo humano e cada carro têm suas próprias características. Por isso, não dá para generalizar os sintomas, as causas, tampouco as soluções. O importante é que se tenha ciência e a partir daí, ou melhor, daqui, iniciar o processo de mudança de hábitos. Com esse conhecimento em mente, porque não se dispor a  uma mudança cultural? 

Na próxima matéria, você verá a semelhança e a importância do controle de temperatura do corpo humano e do motor.

Gostou da matéria, tem alguma crítica ou sugestão? Deixe seu comentário. Será de grande valia para o aprimoramento das matérias vindouras.

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