Oficina Brasil


SINDIREPA fala sobre o setor aftermarket e os desafios das oficinas mecânicas no Brasil

Em entrevista exclusiva, Antonio Fiola, presidente do Sindirepa Nacional, destaca a política setorial para as empresas de reparação, quais são os projetos prioritários da entidade e como enxerga a venda de peças online

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Por Da Redação


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O que é o SINDIREPA BRASIL?

É uma associação civil sem fins lucrativos que engloba entidades e empresas de reparação de veículos no Brasil, e seu objeto maior é representar no âmbito nacional os Sindirepas regionais associados e fortalecer a melhoria contínua da atividade econômica das empresas de reparação de veículos.

Qual a política setorial recomendada pelo SINDIREPA BRASIL para as empresas de reparação de veículos?

Conforme anuário de 2021 da própria entidade, este setor é formado por 108.024 micro e pequenas empresas no seu macro segmento de mecânica leve, colisão, borracharia e acessórios /serviços, além de empresas que atendem o GNV – Gás Natural Veicular, todas da rede independente, ou seja, não fazem parte as oficinas de concessionárias autorizadas das marcas de veículos.

Para uma gama tão grande e pulverizada na maioria do território brasileiro, a dificuldade em estabelecer uma política setorial é enorme, mas fundamental para a competitividade em um ambiente que se transforma a cada dia e em velocidade espantosa, seja no campo tecnológico, comercial e mercadológico.

Neste cenário o SINDIREPA BRASIL procurou alicerçar sua política setorial em pilares acreditados e duradouros disponibilizados no país para que ao longo do tempo de cada empresário, eles possam adotar em sua gestão empresarial. 

Vamos conhecer estes pilares:

• Normalização técnica;
• Capacitação empresarial;
• Capacitação técnica;
• Certificação da qualidade;
• Certificação de competências;
• Classificação Brasileira de Ocupações;
• Tabela de tempos de serviços automotivos;
• Catálogo eletrônico de peças;
• Meio ambiente.

Quais são os projetos prioritários para a indústria da reparação de veículos no Brasil?

Em função da necessidade de padrões que possam refletir transparência aos consumidores entendemos que o projeto de construção de uma tabela de tempos de serviços automotivos esteja no topo do ranking quando tratamos da relação de consumo, visto a necessidade também de órgãos públicos em seus editais de concorrência poderem se valer de um estudo confiável e dentro de metodologia já utilizada em outros países, visto que atuamos nos pós-vendas, ou seja, os veículos já estão circulando pelas vias públicas e não pode se valer do mesmo modelo de tempos utilizados pelas concessionárias, que, em sua maioria é utilizado para efeito de garantia.

No campo tecnológico a reparação de veículos encontrou um porto seguro no que diz respeito a catálogo eletrônico de autopeças das indústrias, estaremos realizando um piloto ainda neste segundo semestre de 2021 em alguns estados, o que permitirá as oficinas associadas a estas entidades, além de acessarem gratuitamente, poderem manifestar sugestões de melhoria contínua da ferramenta, não dependendo de ferramentas engessadas que não disponibilizam o ganho de produtividade efetivo que as oficinas necessitam, ou seja, as próprias oficinas terão o comando da ferramenta. Já quando falamos das peças chamadas de genuínas das montadoras o setor já conta há alguns anos com o catálogo eletrônico de peças PARTSLINK24, no qual, através do número do chassi a oficina encontra a peça certa, além de desenhos orientativos de montagem e desmontagem e seus devidos números de identificação do componente, e tudo em tempo real, isto é, se há alguma modificação na engenharia do veículo, este catálogo atualiza automaticamente.

Quais são os maiores entraves das oficinas em geral no Brasil?

Bem, entendemos que no campo tecnológico o SINDIREPA BRASIL em conjunto com as entidades da Argentina FAATRA e do Uruguai CTMA estão estudando a retomada da bandeira “RIGHT TO REPAIR”, como foi conhecida nos Estados Unidos e Europa, que significa o direito de reparar, cujo objetivo é permitir que os donos de carros tenham a opção de escolha de onde levarem seus veículos para realizar a manutenção, e que hoje na América do Sul muitos modelos ficam impedidos em função de tecnologias que bloqueiam de alguma forma o acesso ao diagnóstico por parte das oficinas independentes. O mais recente exemplo está na montadora JEEP, nos modelos Compass e Renegade e da FIAT no modelo Toro que estão utilizando o SGW – Secure Gateway – como sistema de anti-hacker, mas dificultando as empresas fornecedoras de equipamentos de diagnósticos, utilizados pela rede independente.

Este movimento nos Estados Unidos já deu ganho de causa ao setor independente em alguns estados e promoveu a evolução da legislação do bloco europeu em defesa dos consumidores.

Outro ponto e não menos importante é o imbróglio da cadeia de valor do segmento de colisão,  por um lado temos o canal comandado pelo gerador de demanda que são as seguradoras, em seu meio o que seriam ferramentas de melhoria da produtividade como os sistemas de orçamentação eletrônica no frigir dos ovos pendem para o lado das seguradoras em função de seus contratos que por sua vez exigem a utilização por parte das oficinas referenciadas, o que não permite a livre escolha, e na outra ponta praticamente sustentando o canal estão as oficinas, que foram bastante impactadas na pandemia, diferente do segmento de mecânica.

Os problemas aqui vão desde o fornecimento de autopeças pelas seguradoras, comprometendo todo processo e prejudicando a produtividade até o elevado aumento do preço dos insumos químicos, que por sua vez não são compensados nos pagamentos dos serviços realizados pelas oficinas.

E a mão-de-obra? Depois deste fenômeno pandêmico, como ficou e o que se pode fazer?

Este é um dos pontos mais sensíveis além da disponibilidade de autopeças no mercado para que os negócios das oficinas caminhem bem.

Não é de agora que o setor enfrenta gradativamente uma concorrência com o setor de tecnologia, pois os jovens são atraídos por utilizarem computadores, e desejarem migrar para algo de sua geração; o ambiente da oficina pela sua dificuldade em se moldar na política setorial descrita acima não vem gerando a atratividade destes jovens da geração Milenium.

Não obstante e tentando resgatar um novo momento até em função de uma nova matriz energética que se apresenta com os veículos híbridos e elétricos estamos resgatando a antiga certificação de profissionais ASE, mas agora totalmente reformulada e muito mais adequada ao mercado brasileiro e que estará sendo disponibilizada pelo respeitado IQA – Instituto da Qualidade Automotiva – que já mantém a certificação de empresas em seu rol de serviços para o pós-vendas, além da certificação obrigatória de autopeças estabelecida até então pelo INMETRO.

Ainda é um assunto que requer mais estudos e se debruçar com muito mais atenção para que possamos suprir deficiências que por sua vez oficinas estejam enfrentando.

Como o Sindirepa Brasil vem acompanhando o comércio eletrônico no Brasil?

O SINDIREPA BRASIL também está acompanhando de perto o movimento do comércio eletrônico visto pelo ângulo de vantagens fiscais e tributárias em detrimento das lojas de autopeças físicas por serem grandes parceiros das oficinas, assim como muita preocupação com componentes duvidosos que são comercializados no canal digital em função de sua difícil rastreabilidade, afetando as marcas de indústrias de autopeças e que nada interessa ao setor.

O comércio eletrônico ao nosso entender é uma ferramenta importante e auxiliar, mas não substitutiva, pois carros mais antigos que necessitam de peças que não se acham mais facilmente no canal tradicional podem ser pesquisadas nestas plataformas. O Sindirepa compõe grupo de combate a mercados ilícitos da FIESP e atua em sintonia com a SENACON – Secretaria Nacional do Consumidor – sempre atento a estas e outras conformidades que surgem com mais intensidade.

Como o SINDIRE­PA BRA­­SIL enxerga o Aftermarket no Brasil?

O aftermarket no Brasil ainda dá saltos curtos se compararmos do ponto de vista de evolução no campo dos negócios, e ainda nos parece que as oficinas, que são o nascedouro de toda a cadeia de valor, não são enxergadas como já fazem muito bem nossos companheiros de Europa e Estados Unidos, que efetivamente atuam para sua melhoria e não olhando cada um para o seu setor como se este fosse o caminho, pois se esta base de oficinas ruir, tudo relacionado a ele desmorona rapidamente ou vocês acham que os novos proprietários ou usuários de carros saberão comprar uma peça técnica? 

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