Oficina Brasil


Gestão empresarial eficiente é a fórmula para o sucesso!

Quem vê a estruturada oficina mecânica, em Itaquaquecetuba, de Francisco Severiano Alves, o Chiquinho, não imagina o trajeto percorrido por ele, nesses mais de 17 anos, no mercado de reparação automotiva

Compartilhe
Por Vivian Martins Rodrigues


Avaliação da Matéria

Faça a sua avaliação

Para aqueles que dizem que a receita para o sucesso não existe, Chiquinho prova que não é bem assim. O começo difícil faz o sucesso deste empreendedor ser ainda mais compensador. Se você sonha em abrir seu próprio negócio, um bom primeiro passo é ouvir relatos como o de Chiquinho que, com muito esforço e qualificação profissional, deu vida ao seu empreendimento e o fez crescer. 

Raquel de Lima Alves, esposa de Chiquinho há 23 anos, trabalha há nove anos na oficina à frente do setor administrativo. “Não sou técnica, mas participo de cursos para entender de peças, pois faço atendimento por telefone e compras”, informa Raquel. “Tudo o que vamos decidir, sentamos e conversamos, é uma parceria de muitos anos”, completa.

Há três anos, o quadro de colaboradores se mantém o mesmo. Os funcionários são todos registrados. “Quando entrei aqui vim fazer uma experiência, eu estava acostumado a trabalhar como autônomo. Mas, com a limpeza e os equipamentos disponíveis, acabei me adaptando e fiquei. O clima é ótimo e tenho oportunidades. Faço cursos, palestras e viagens para conhecer fábricas, não fico mais desatualizado como antes”, diz Odair Alves de Novaes, funcionário da mecânica há três anos e oito meses.

Mario Antunes da Silva, cliente da oficina, destaca que o diferencial é o atendimento. “Um dia passei na porta, o padrão e a limpeza do piso me chamaram atenção. Acabei deixando o carro. O Chiquinho é atencioso e os meninos fazem trabalho de boa qualidade. Indico sempre para amigos”.

Premiado pela excelência empresarial no PME Brasil 2010 (Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas), Francisco comprovou a qualidade na prestação de serviços ao consumidor, vencendo na categoria “Comércio”. Fala com orgulho, “quem me deu o ‘caminho das pedras’ foi o Gestor do Projeto Empreender na época, Edison Hilton Salomão”. Hoje, consultor máster da Zalik, Salomão relembra os tempos em que era consultor do Projeto na época. “Formei o Grupo Romat (Rede de Oficinas Mecânicas e Automotivas do Alto Tietê) em 2002. Esse grupo surgiu mediante a visão do mercado de uma loja de autopeças de Ferraz de Vasconcelos. Apresentei o processo para o Chiquinho e outros reparadores que, por serem micros, tinham problemas em comum, como inadimplência e falta de investimentos. Fui apresentando soluções. Na época, me comprometi com o Chiquinho, porque ele tinha um grande número de inadimplentes. Orientei-o no sentido de trabalhar e receber por isso, para ter uma receita efetiva. Com isso, ele passou a selecionar os clientes. Aconselhei também a mecânica a adequar-se para atender ‘mulheres’, hoje ele fidelizou essa fatia de mercado. Também investiu em equipamentos, ganhando espaço e produtividade. Implantou a gestão administrativa e, como eu era o consultor do Empreender, toda semana fazíamos reuniões para discutir assuntos pertinentes. O Chiquinho fez o trabalho de base e, quando fomos convidados para a premiação, ele já tinha algumas exigências supridas. Eles eram reparadores, não eram donos de oficina. Tive como objetivo ajudá-los a gerenciar o negócio, mudando a visão que tinham do mercado. Minha participação foi no início, na adaptação e no aprimoramento. Solidifiquei o negócio e formei o empreendedor”.

Em sua oficina, Chiquinho, de temperamento calmo e até um pouco tímido, falou com exclusividade sobre sua experiência profissional para o Jornal Oficina Brasil.

Jornal Oficina Brasil: Você veio de Soronópolis, Ceará, certo? Com quantos anos? E qual a sua idade?

Sim, sai do Ceará com 9 anos de idade. Cheguei aqui em 20 de Janeiro de 1975. Hoje tenho 46 anos.

JOB: Há quanto tempo fundou a oficina e como foi o começo? Quais foram as principais dificuldades?
Eu fundei a oficina em 1994. As dificuldades foram muitas, as mesmas que todos que abrem um negócio novo encontram. Eu, apesar de enfrentar essas dificuldades, consegui vencer. Batalhei por um objetivo e conquistei o meu espaço. Foi bem difícil o começo, a oficina era suja, desarrumada. Eu não tinha aprendizado nem ferramentas, tinha que pedir emprestado e ir comprando aos poucos. Eu trabalhava hoje, para pagar amanhã. Não tinha me aprimorado em nada, o que hoje considero fundamental.

JOB: Como foi que você sentiu a necessidade de adquirir uma gestão nos negócios? Como foi implantado isso e quem ajudou? Qual o seu formato de planejamento e como fixa metas?
Nesse processo todo, eu implantei uma gestão (firme mesmo) faz oito anos. Até então, eu tinha uma noção bem precária, pois marcava no caderno o que eu fazia, anotava de quem pegava cheques, para quem fazia pagamentos. Quando eu me envolvi com o empreendedorismo do Sebrae, comecei a ter uma ideia do ritmo que tinha que acompanhar. Assisti a uma palestra sobre o projeto Empreender do Sebrae e, daí para frente, eu, junto com outros mecânicos, comecei a participar do projeto. Pratico essa gestão até hoje e com os cursos do Sebrae, melhoro cada vez mais. Hoje, fixo as metas de cada mecânico, planejo na oficina quanto eu quero faturar e o que tenho que fazer: qual o serviço, qual a melhor maneira para trabalhar. Na meta incluo ter o menor desgaste de ferramentas e pouco desgaste físico e mental dos reparadores.

Foi bem radical, O facilitador me disse: você tem que delegar tarefas aos colaboradores, e agora, cada um faz uma parte. Passei de mecânico para empresário. Antes eu ficava embaixo dos carros, hoje eu estou à frente dos negócios. Recebo e delego para os mecânicos. A mudança foi selecionar os colaboradores e qualificá-los.

JOB: Quantos funcionários são? Como é o dia a dia com os funcionários? O gerenciamento é feito de que forma?
São seis funcionários e no formato de gerenciamento atual eu levo em conta a capacidade individual, um sempre está mais apto a fazer tal serviço do que o outro, tem mais evolução. Tem o que é mais delicado, então eu determino assim: são seis, eu distribuo em  dois meio oficiais, dois ajudantes e dois oficiais. Mas os ajudantes acompanham tudo porque, futuramente, quero que estejam no mesmo nível.

Quando eles batem uma meta legal, por exemplo, em meses que há muito serviço e eles deram conta de tudo, eu levo, à noite, em pizzaria, boliche, etc. Uma vez eu convidei para assistir uma palestra na Penha, era sexta feira à noite. Eles acharam um pouco ruim por ter de ir de Itaquaquecetuba para São Paulo na sexta e eu pensei que eles dariam “o cano”, mas na hora marcada todos vieram “trocadinhos”. Era uma surpresa e eu os levei para uma pista de Kart. Isso é para deixá-los mais motivados. É uma das metas que eu estipulo, a gente tem que ter jogo de cintura e não exigir que seja só trabalho e mais trabalho. Com isso, eles se motivam e trabalham com mais vontade. Hoje, eu não preciso falar pra eles: olha, está sujo ali, precisa limpar tal ferramenta, pois eles já fazem.

JOB: Há qualificação técnica para eles?
A cada três meses eles fazem cursos. Eu faço parte do Ecocar e eles dão cursos e palestras. No mês passado, participamos do ciclo de palestras da Fiat no Senai de Suzano e eles foram. Quando há curso no SENAI Ipiranga também os levo. Cada vez que há um curso de aprimoramento quero que participem.

JOB: O que destaca o trabalho de gestão apresentado aqui, para o de outras grandes oficinas?
Em termos de gestão, acho que a qualidade, o atendimento é um foco no diferencial. Sei lidar com o cliente e a forma correta de tratá-lo. Faço o que dá, de acordo com a minha demanda e não tento abraçar o mundo, pois vai chegar uma hora em que eu não vou poder cumprir prazos. Se o cliente vem buscar o carro no horário prometido e não está pronto,

fica chato. Hoje, eu trabalho na média de quatro a cinco carros por dia pra entregar no prazo, e 100% dos clientes novos que me procuram são por indicação. Eu faço um preço justo, facilito e o cliente fica satisfeito.

JOB: A oficina é filiada ao Grupo Romat (Rede de Oficinas Mecânicas e Automotivas do Alto Tietê). O que essa parceria trouxe de frutos?
Faz oito anos que somos filiados. Esse grupo nos trouxe bastante dinâmica, diversificação e aprendizado, principalmente na parte de administração. É um conceito diferente de gestão e eu procurei me envolver com o grupo, ter afinidade, e eu fui o que mais me destaquei, não por ser o melhor, mas por ser interessado.

JOB: Como é feito o seu planejamento?
Eu tenho um programa de planilhas onde tenho gravado os carros que entram, ano, modelo, montadora e qual o serviço a ser feito. Controlo os clientes indicados, quem indicou. Temos um fluxo de caixa para a projeção do próximo mês e de como trabalhar.

JOB: Em 2010, você foi premiado no MPE BRASIL - Prêmio de Competitividade para micro e pequenas empresas como vencedor estadual na categoria comércio/SP. Fale um pouco sobre isso. Como foi o processo de seleção? O que foi avaliado?
O processo começou em 2007, através do facilitador do Sebrae, que ficava no Grupo Romat, do Empreender. Tinha uma consultora que me falou: tem um prêmio do Sebrae, vamos participar? E realmente, todas as oficinas que estavam no grupo naquela época se inscreveram, mas só a minha seguiu no processo de avaliação. Fiz a inscrição e passei pela

primeira e segunda etapa, avaliação do questionário, da documentação empresarial e vistoria, depois vai para uma banca examinadora. Mandei, conferi com o contador e enviei. Fiquei apto para passar pela vistoria, pois eles checam se o que está escrito é mesmo real. Eu falei “pode vir”. Vieram e ficaram impressionados, disseram: “olha, você precisa melhorar algumas coisas, mas o que você tem aqui, muita empresa não tem”. Quem me incentivou foi a consultora do Empreender. Fui finalista do prêmio “SuperAção Empresarial” 2007, mas perdi para uma sorveteria. Depois disso, fui seguindo as dicas que recebi do Sebrae e fui melhorando e aprimorando. Em 2008, me inscrevi de novo e tive uma evolução no meu trabalho de gestão. Não era só um prêmio que eu queria receber, eu queria era saber como estava a gestão da minha mecânica, se eu estava ganhando ou perdendo. Eu pensava: vou trabalhar com essa projeção aqui porque para o segundo mês eu sei que vai dar certo e vou lucrar. De 2009 para cá, se tornou MPE e ficou mais rigoroso. Fizeram modificações e a premiação passou a ser bem competitiva. Eu me inscrevi em 2009 e tentei novamente. Mandaram-me um questionário, e pude ver a diferença, pois o primeiro que eu preenchi deu 45%, o segundo deu 65% e o terceiro, 75% mas, por causa de um documento que estava faltando, eu não fui finalista em 2009.  Analisam gestão, clientes e é necessário mostrar que conheço o meu cliente. Preparei-me novamente, fiz tudo certo e, em 2010, eu venci. Fui premiado na feira do Empreendedor, São Paulo, em uma bela festa. Concorri com bastante gente, tinha uma torcida com mais de 50 pessoas. Daqui a dois anos vou tentar ganhar o prêmio de Responsabilidade Social.

JOB: A mecânica também faz parte da Rede de Oficinas Ecocar, que visa a oficinas modernas. Do que se trata?
A Rede Ecocar me aprimorou um pouco mais, pois tem cursos de aprendizado com foco na parte técnica. É preciso fazer o teórico e colocar em prática.

JOB: Existe preocupação no dia a dia da oficina com o meio ambiente? Quais medidas são adotadas?
A separação do óleo é feita em duas caixas: em uma há resíduo forte e, em outra, há água e óleo. Por outro lado, na separação dos materiais retirados dos c

arros, tais como alumínio, papelão e plástico, tudo é separado e recebe o destino certo. Hoje usamos 100% de luz natural, reaproveitamos a água da chuva para lavarmos as mãos e as peças e, desta forma, usamos somente 10% de água tratada. Antigamente, pagava 400 reais mensais de água; hoje, pago no máximo 100 reais.
Para lavar as peças, não usamos mais querosene e gasolina, e sim um produto diluído em água e biodegradável. Tive retorno em aproximadamente oito meses do investimento e, a partir daí, comecei a ganhar.

JOB: Você ministra palestras? Qual o segredo para satisfazer os clientes?
Sim, o Sebrae Regional me convidou para contar a história da Mecânica Chiquinho, explicando “o que eu fiz, como consegui e que eles poderiam chegar lá”. Já dei três palestras.

JOB: O que, em sua opinião, causa insucesso em oficinas mecânicas?
Tem que ter confiança, qualidade e ética. O que vendo para os clientes é a minha confiança. A má administração é a causa do insucesso, por este motivo, é preciso administrar o dinheiro que é do dono e o que é da oficina. Vejo muitos donos de oficina agindo assim: a oficina fatura determinado valor, então põe no bolso. Mas, e o aluguel, o salário do colaborador? Ele gasta e não tem para se manter. Tem que saber dividir o que é da empresa e o seu pró-labore.


JOB: Como é trabalhar com a esposa?
Eu me orgulho de trabalhar com ela, afinal são 23 anos juntos. Ela trabalhou 12 anos em uma empresa e, quando foi mandada embora, veio trabalhar comigo. Com a indenização dela, compramos o terreno da oficina. Estou aqui há 17 anos, mas tenho o CNPJ faz 19.


JOB: O que você diz para os mecânicos que querem ter a própria oficina?
É necessário nunca dar o passo maior que a perna e acreditar no seu potencial. Busque informações, invista em si mesmo e faça parcerias. Eu, por exemplo, tenho parceiros chaves como: Grupo Romat, Tecfil, Sacks, Valclei, Tecnomotor (Ecocar), Hiperfreios, NGK, Sindirepa, entre outros. Eu apostei no que me falaram e mudei o sistema, buscando qualidade. Para todos os microempresários, as portas estão abertas no Sebrae. Apostaram em mim e eu fui até o fim. Passei por todas as etapas, dois anos, cinco anos. Se a empresa passou dos cinco anos e tem uma boa administração, com certeza não quebra mais.

 

 

Comentários