Oficina Brasil


Renault Duster TCe recebe novo trem de força e passa pela avaliação dos reparadores independentes

Veterano entre os SUVs compactos adere à tendência de downsizing para se manter na briga da principal categoria de veículos do Brasil

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Por Stevan Herculano Chagas


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A relação entre Renault e Dacia remonta a meados dos anos 60, quando a então estatal romena firmou um acordo com a montadora francesa para produzir seus veículos sob licença no país, iniciando com o Dacia 1100 (Renault R8) em 1966 e terminando com o Dacia 1300 (Renault R12, base do projeto do Ford Corcel brasileiro) em 1978, quando houve o rompimento do acordo. Nos anos seguintes, a Dacia seguiu desenvolvendo e comercializando variações do R12 até 1998. 

Em 1999 a Renault adquiriu a montadora romena e iniciou os anos 2000 fornecendo motores para veículos Dacia, já mirando no desenvolvimento conjunto de novos modelos para ambas as marcas. 

O Renault/Dacia Logan de 2004 foi o primeiro fruto desse “casamento”, criado para ser barato, robusto e durável como mandava o mercado do leste europeu à época, e ainda assim utilizando toda a tecnologia da Renault. Ele foi um sucesso imediato, seguido pelo Sandero em 2008 e pelo maior sucesso dessa união, o Renault Duster.

A primeira aparição do Renault Duster foi em 17 de novembro de 2009, como um protótipo de corrida para a Tropheé Andros, prova realizada sobre o gelo com veículos 4x4. Na ocasião, ele foi pilotado por ninguém menos que o piloto francês tetracampeão mundial de F1 Alain Prost. Em março de 2010, no Salão de Genebra, a versão de produção foi oficialmente apresentada ao público, utilizando a plataforma B0, versão de entre-eixos alongada da plataforma B desenvolvida pela aliança entre Renault e Nissan, equipada com motores de 1.2 a 2.0 L, movida a gasolina ou diesel, com transmissão manual de 5 marchas ou automática de 4 marchas, além de tração 4x2 ou 4x4.

No Brasil, o Renault Duster desembarcou em 2011. Ele vinha equipado com os tradicionais motores Renault K4M 1.6 16v de 115 cv, e F4R 2.0 16v de 142 cv, ambos flexíveis em combustível, além das transmissões manuais de 5 e 6 marchas (K4M e F4R respectivamente) e opcionalmente a automática DP2 de 4 marchas, além de tração 4x4, ambas apenas para versão com motorização 2.0. Tinha como concorrentes diretos os já bem-posicionados Ford Ecosport e Hyundai Tucson.

Com o lançamento do modelo 2023 do Duster, a Renault aposta no novo motor TCe Turbo, combinando a nova geração do câmbio CVT Xtronic, agora com 8 velocidades, para encarar os líderes do segmento de SUV compactos no mercado.

Sob o código H5H, esse propulsor, seguindo a tendência mundial de downsizing e do uso de alta tecnologia aplicada, foi desenvolvido pela engenharia da Renault em parceria com a Daimler, proprietária da Mercedes-Benz, e por isso é possível encontrá-lo em alguns veículos da marca alemã, adaptado a suas necessidades. 

As qualidades do Renault Duster já estão mais do que comprovadas nesta década de mercado acumulada, e o novo conjunto mecânico sem sombra de dúvidas chama a atenção do consumidor, conforme publicamos na edição 374 da mala-direta Oficina Brasil. Porém, estamos sempre de olho nas novidades do segmento sob a ótica do reparador automotivo, que é o profissional mais qualificado para avaliar um lançamento como esse. E é por isso que levamos o Novo Duster TCe para ser analisado por três oficinas parceiras na cidade de São Paulo.

A primeira oficina que visitamos se chama Só GM e está localizada no bairro Campos Elísios, na zona central de São Paulo.

Há mais de 20 anos no mercado de reparação automotiva, ainda carrega o nome de sua inauguração, mas há muito tempo se dedica à manutenção de veículos das mais variadas marcas, inclusive se destacando na manutenção de táxis. Lá fomos recebidos por Lucas Dionísio dos Santos e Sandro Martins. Outro diferencial da Só GM, do qual os proprietários Wilson e Lucas dos Santos (pai e filho respectivamente) se orgulham muito, é o fato de disporem, além de uma oficina completa e muito organizada, de uma quadra de tênis profissional em seu terraço, onde são ministradas aulas para os entusiastas do esporte.

Na zona sul da cidade, no bairro de Indianópolis, visitamos a oficina Mecânica Kyodai, fundada em 1986 e desde então focada a se manter sempre atualizada com as mais recentes tecnologias do setor de reparação automotiva. Hoje com 36 anos de história, possui uma estrutura enxuta e altamente qualificada, onde consegue atender com maestria tanto veículos clássicos de coleção quanto os mais recentes e avançados lançamentos. Foi lá que Cícero Teixeira nos disponibilizou parte do seu conhecimento e experiência como reparador para avaliar o carro.

A oficina que encerrou nossa avaliação do novo Renault Duster foi a Mecânica Scattini, localizada na Alameda dos Nhambiquaras, 1542, também em Indianópolis. Fundada em 1967, hoje acumula 55 anos de história e se destaca como uma das oficinas mais tradicionais de Moema e região. Lá fomos recebidos por Junior Scattini, proprietário da oficina, e seu técnico Cristiano Mendes. Scattini se orgulha de possuir uma oficina focada na qualidade dos serviços e no atendimento, prestando um serviço rápido, exclusivo e pessoal, sempre investindo em inovação e colaboradores especializados.

Primeiras impressões

O Duster Iconic TCe que testamos traz como novidades visuais a adoção de moldura frontal, retrovisores, hack de teto e alargadores de para-lama com acabamento em preto. Os novos detalhes externos ornam com as tradicionais linhas robustas do modelo e os faróis com luzes diurnas em LED dispostas em C dentro da lente denotam modernidade. Internamente destaca-se o bom espaço para os ocupantes, bancos com acabamento premium em couro sintético de série, tela multimídia de 8”, ar-condicionado digital e porta-malas de 475 L.

“A primeira coisa que me chamou a atenção foi o novo desenho das lanternas traseiras, que lembram as do Renegade, muito diferentes das anteriores. Internamente me chamou a atenção o novo volante e principalmente o multimídia, que antes era uma tela muito pequena e não ornava com o painel do carro. A nova está mais bem integrada. Por sermos especializados em táxi, lá na oficina pegamos muitos Duster, de todos os modelos, e esses detalhes internos saltam aos olhos”, descreve Lucas Dionisio, da oficina Só GM.

“O visual novo ficou legal com os detalhes em preto, os faróis em LED também, mas o reparo fica mais caro quando queimar. O estepe é embaixo agora e é sinalizado como temporário; isso é importante. Muita gente ignora o letreiro e usa como um estepe normal, mesmo estando marcada a velocidade máxima de 80 km/h. Gostei do espaço interno e o acabamento, mesmo de plástico, é bem-feito; o porta-malas é espaçoso”, declarou Cícero Teixeira, da Mecânica Kyodai.

“Eu particularmente não gosto do visual da Duster, mas nesta nova incluíram diversos detalhes para agregar. No geral a Renault é assim: carros simples, mas bem completos. Legais as câmeras frontal e laterais, além da traseira. Como eu disse, eles oferecem muitos acessórios para agregar, já o Start&Stop é um recurso que eu não gosto, me incomoda no uso e encarece o carro e a manutenção”, opina Junior, da mecânica Scattini.

Ao volante

O Renault Duster Iconic TCe 2023 é um carro agradável de guiar, tanto no uso urbano quanto em rodovias e vias acidentadas, devido ao curso elevado da suspensão (237 mm de vão livre) e aos ângulos de entrada (30°) e saída de (34°5’).

Desde seu lançamento é considerado versátil, robusto, espaçoso e confortável em sua faixa de preço e categoria.

No habitáculo o condutor se sente à vontade. Os ajustes da coluna de direção e do banco do motorista contribuem para encontrar a posição mais ergonômica possível para dirigir, o espaço interno é amplo e a área envidraçada permite boa visibilidade. A combinação de rodas 17” com pneus 215/60 R17 mantém o rodar suave sem perder comunicabilidade com o solo, mesmo estando equipado com direção elétrica, o que normalmente é um deleite em manobras, mas tende a isolar muito a direção. O novo motor turbo tem como principal característica o torque abundante desde as mais baixas RPMs e conversa muito bem com a nova transmissão CVT. Já os freios parecem apenas suficientes para o ímpeto do trem de força.

Guiando o SUV em trajeto urbano, Lucas afirmou que, para a primeira vez com o novo modelo, o Duster parecia muito diferente do anterior. “Muito silencioso e suave ao rodar, direção leve, suspensão macia, os comandos todos à mão”. Quando adentramos a Marginal Tietê e ele pôde pisar um pouco mais, a reação ao novo conjunto mecânico foi imediata: “Qual o motor dele? 1.3 de 170 cv? A resposta vem muito rápido pelo tamanho dele, muito forte! O câmbio CVT ficou ótimo, gosto muito de carro com esse tipo de câmbio”. 

Saindo da Mecânica Kyodai e trafegando pelo bairro da Mooca, tanto em avenidas bem pavimentadas quanto em ruas com asfalto erodido, Cícero logo destacou suas impressões ao volante: “Muito boa a dirigibilidade e é silencioso de motor e suspensão, mesmo andando em ruas ruins. Faz um pouco de barulho nos acabamentos, imagino que por ter muito plástico internamente, mas nada que incomode. O motor turbo responde bem, não conhecia esta mecânica ainda. E o câmbio CVT funciona bem, mas só com o tempo para saber se mitigaram os defeitos crônicos da caixa automática anterior, que tinha tendência a dar defeito. O Start&Stop é algo para destacar, porque aumenta o valor da manutenção, já que bateria e motor de partida são específicos e por isso mais caros”.

Ainda na região da Mooca, agora com Junior da mecânica Scattini ao volante, a dirigibilidade do modelo foi elogiada, mas com algumas ressalvas a equipamentos instalados.

Ele novamente salientou que não é fã do modelo nem da marca devido a experiências ruins com outro Renault que já teve. “Confortável de rodar, silencioso, o torque vem bem cedo e os 170 cv são um belo atrativo para quem gosta de pisar, mas eu particularmente não gosto do Start&Stop, me incomoda no uso diário e agrega um maior custo para reparo. Bom que este dá para desligar”.

Motor

O novo motor H5H TCe tem como principais características o deslocamento de 1332 cm², conseguido através de um diâmetro de 72,2 mm e curso de 81,4 mm (ou seja, trata-se de um motor subquadrado), bloco e cabeçote em liga de alumínio, cilindros com revestimento Bore Spray Coating, que consiste em uma fina camada de aço aplicada nas paredes dos cilindros utilizando jato de plasma, cabeçote em formato triangular (Delta), que diminui o espaço do motor no cofre, coletor de escape integrado ao cabeçote para otimizar o enchimento do turbocompressor e assim suas respostas desde baixas RPMs, duplo comando e 16 válvulas, sincronizados por corrente metálica e munidos de variador de acionamento eletrônico em ambos os eixos, assim como válvula wastegate do turbo, que também é eletrônica e proporciona controle mais preciso da pressão de turbo, que trabalha em 1,6 bar e mantém a temperatura controlada através de um intercooler frontal do tipo ar/ar. 

Falando em pressão, esse motor utiliza injeção direta de combustível com pressão regulada em 250 bar, combinada a injetores de 6 furos calibrados para uma melhor homogeneização da mistura em busca de melhor rendimento, menor índice de poluentes e maior economia de combustível.

Com todo esse conjunto altamente tecnológico, o novo motor da Renault entrega nada menos que 162 cv (G) ou 170 cv (E), ambos entre 5500 e 6000 RPM, com torque de 27,5 Kgfm entre 1600 e 3750 RPM. A aceleração de 0 a 100 km/h fica na casa dos 9,8 s (G) e 9,2 s (E); já a velocidade máxima é de 190 km/h independentemente do combustível utilizado.

Esses números são mais que suficientes para entrar na briga com as concorrentes e seus pequenos motores turbo de injeção direta, que aliam alta potência específica somada a baixo consumo e baixa emissão de poluentes. Falando em consumo, a Renault declara 13,9 km/L na cidade e 16,1 km/L na estrada abastecido com gasolina, e 9,9 km/L e 11,7 km/L com etanol em tráfego urbano e rodoviário, respectivamente.

Retornando para a Só GM, posicionamos o Duster no elevador e Sandro Martins, técnico da oficina com vasta experiência em reparação, deu seu parecer quanto às mudanças do modelo em comparação com os anteriores: “O acesso aos componentes de manutenção básica ficou muito bem-posicionado. Bobinas e velas estão bem visíveis e com fácil acesso, o engate rápido da mangueira de combustível também está ótimo, assim como a bomba de alta pressão e a flauta dos bicos injetores, que nos concorrentes são de difícil acesso e por isso podem levar à quebra de outras coisas ao redor para acessar”.

Seguiu elogiando o posicionamento do coxim do motor, do filtro de ar e do reservatório de fluido de freio, mas salienta que os dutos do ar-condicionado passam muito próximos ao coxim e por isso é necessária atenção ao desmontá-lo para não correr o risco de romper os canos.

Já na Kyodai, ao abrir o capô do Duster, a primeira coisa que Cícero destacou foi a adoção de amortecedores hidráulicos, que, por ficarem posicionados bem próximos ao para-brisa, liberam muito espaço para o reparador trabalhar no cofre do motor. “Outra coisa que me chamou a atenção foi o posicionamento dos bicos injetores, que estão bem no meio do cabeçote e sem coletores por cima. Isso é ótimo, pois não precisa desmontar nenhum componente adicional para acessá-los caso seja preciso retirar para uma análise ou troca”, avalia.

Ainda analisando o motor, declarou que as bobinas e velas seguem a mesma facilidade de acesso dos bicos, e que o filtro de ar do motor também está bem-posicionado e é de fácil substituição.

Percebendo o barulho característico da injeção direta, novamente declarou que no habitáculo não se ouve som algum do motor trabalhando. “Pode parecer bobagem, mas gostei da posição da buzina. Ela está bem alta na alma do para-choque, assim não recebe água, terra, entre outros elementos que podem danificá-la”, concluiu.

Com o carro já posicionado no elevador, Cristiano, reparador da Scattini, destaca que o protetor de cárter deveria ter um acesso para o copo do refil do filtro de óleo. Salienta que o acesso ao filtro está bom, mas o protetor de cárter atrapalha: “O acesso à bomba de alta pressão ficou excelente, bem no topo do motor, muito fácil para fazer manutenção. E utilizar corrente metálica no sincronismo é muito melhor que a correia dentada”.

Continua destacando os demais componentes do motor: “As bobinas e velas também estão bem-posicionadas, mas o tubo que vai do turbo para o intercooler passando bem por cima delas atrapalha. Tem que desmontar para acessar as bobinas e pode acabar quebrando. Com os bicos a mesma coisa: é bom estarem bem visíveis no topo do motor, mas o tubo passando no meio atrapalha a retirada”.

Transmissão

O Renault Duster Iconic TCe vem equipado com a nova geração da transmissão CVT XTronic, agora com 8 velocidades. O modelo anterior de 6 velocidades segue como opção para os veículos equipados com motor SCe 1.6 16v. Essa transmissão é produzida pela Jatco, subsidiária da Nissan, e tem como principal característica declarada a economia de combustível, visto que trabalha com relações mais longas sem prejudicar o desempenho do veículo devido ao alto torque do motor. Esse câmbio possui bomba de óleo compacta e um sistema avançado de cinta metálica e polias que é liberado gradualmente conforme a transmissão de torque do motor, proporcionando linearidade mesmo nas acelerações mais virtuosas. O conjunto, compacto, leve e robusto, ainda dispõe de um software de gerenciamento que permite a troca de marchas com acionamento manual através da alavanca de câmbio, mas não dispõe de paddle shift.

Sob o veículo foi possível verificar a transmissão e Sandro destacou que ela possui vareta superior para verificar o nível do óleo lubrificante, além de bujão inferior para a troca dele. Questionado sobre a necessidade de troca do óleo da caixa, declarou: “para veículos particulares comprados zero km, que geralmente rodam pouco, eu não recomendo a troca. Já para quem utiliza o carro para trabalho, como táxi e aplicativo, que trafega muito todos os dias, é recomendável a troca a cada 50 mil km, pois facilmente eles atingem essa quilometragem em um ano ou menos de uso e, devido ao atrito constante dos componentes internos, sofrem mais desgaste”.

Na Mecânica Kyodai, Cícero voltou a elogiar o comportamento do câmbio em conjunto com o motor turbo, mas salienta que existiram falhas em veículos equipados com a versão de 6 marchas do câmbio XTronic e por isso tem ressalvas quanto ao novo modelo. Diz que só o tempo dirá se ele realmente entrega a robustez sugerida. Salientou: “existe uma discussão sobre a troca ou não do óleo da transmissão, e eu sempre passo para os meus clientes que deve ser trocado sim, por volta de 40 mil km, pois todo óleo satura, por tempo ou por uso, e esse serviço deve ser feito por profissional altamente qualificado em uma oficina específica para reparos em câmbio automático, visto que apenas com maquinário apropriado é possível substituir todo o óleo da caixa”. 

Ao verificar que se trata de uma transmissão CVT, Cristiano endossou o que Cícero havia falado: “Todo óleo sofre desgaste. Em caixa CVT existe muito atrito da cinta metálica com as polias, por isso o óleo deve ser trocado sim, mas sempre por especialistas e no tempo determinado pela fabricante. Se ela diz que não troca, ainda assim vale a consulta da periodicidade com uma oficina especializada”.

Suspensão, direção e freios

No novo Renault Duster pouco mudou em relação ao ano/modelo anterior nesse quesito. Segue o arranjo de motor dianteiro transversal alinhado ao câmbio e tração dianteira, suspensão dianteira independente McPherson, traseira semi-independente por eixo de torção, pneus radiais, e direção por pinhão e cremalheira, tudo como Dante Giacosa idealizou no Fiat 128 no fim dos anos 60, o que dita regra até hoje na indústria automotiva mundial. Mas, em relação ao que foi nos idos de 1968, aqui tudo evoluiu e muito. Além do motor turbo de injeção direta, o veículo possui transmissão CVT, amortecedores pressurizados e freios a disco ventilados na dianteira, mas ainda com tambores na traseira e direção com assistência elétrica.

Ainda verificando o veículo por baixo, Sandro relatou que suspensão dianteira e traseira, freios e coxins estão iguais, e é tudo muito simples de realizar a manutenção. O destaque ficou para a barra estabilizadora, agora instalada invertida, e para a caixa de direção. “A direção é muito boa de trabalhar, a caixa é totalmente mecânica e possui fácil acesso para remoção, e o sistema eletrônico com o motor está na coluna de direção, assim fica protegido de água, areia e elementos que podem danificá-la, como acontece com alguns concorrentes que têm o sistema eletrônico junto à caixa de direção”. A posição do estepe embaixo do carro não foi aprovada por Sandro e Lucas, que alegam que, em situação adversa como chuva, dá trabalho e é sujo acessar o estepe.

Assim que subiu o carro no elevador, Cícero destacou que a única mudança que percebeu foi que a barra estabilizadora dianteira agora está à frente do eixo, não mais encostada na parede corta-fogo como costumava ser, provavelmente devido ao escapamento que sai da turbina, o que facilita o serviço de troca de buchas. “Novamente podemos falar do estepe, que é temporário e está muito bem-sinalizado para não ultrapassar o limite de velocidade. Muitos clientes rodam com ele como se fosse um pneu convencional e isso é perigoso”.

Comentou também que todos os componentes de freio e suspensão do Duster são de fácil acesso e manutenção descomplicada, sendo válida essa característica também para o tanque de combustível caso seja preciso retirá-lo, e para a válvula cânister, localizada na traseira do veículo no lado oposto à saída de escapamento. “Uma coisa que para mim é inadmissível, mas que é o padrão brasileiro, é um carro desses sair com freio a tambor na traseira.

Deveria ser obrigatório o uso de freios a disco nos dois eixos”. No motor, aprovou o acesso ao filtro de óleo e o fato de ser do tipo refil, mas estranhou a presença de uma manta colada ao cárter do motor e seu protetor, aparentemente sem funcionalidade.

Com o carro no elevador, Cristiano pôde analisar bem todo o conjunto do Duster e imediatamente confirmou que não houve grandes mudanças: “Suspensão e freios estão exatamente iguais ao anterior. A única diferença que vejo na dianteira é a barra estabilizadora, que agora é instalada invertida, com as buchas viradas para frente. Assim facilita uma possível substituição”.

Já na parte traseira do carro, criticou a capa plástica que cobre o eixo: “Não vejo funcionalidade para ela, inclusive as cintas plásticas que a fixam no lugar podem soltar e causar ruído”. 

Elétrica, eletrônica e conectividade

Seguindo a tendência de tecnologia aplicada não apenas no trem de força, mas também no desenvolvimento de plataformas, suspensão e segurança ativa e passiva, o Duster traz comodidades e conectividade aos ocupantes do veículo, dispondo de alarme keyless acionado pela presença da chave, partida por botão, tela multimídia sensível ao toque de 8”, com navegabilidade fácil e intuitiva, além de espelhamento de smartphone (Android Auto® e Apple CarPlay®) wireless, sem precisar de cabos. Tem ainda ar-condicionado digital e Start & Stop. 

Através da tela também é possível acessar o recurso Multiview, que dispõe de 4 câmeras ao redor do veículo, uma em cada para-choque e uma em cada retrovisor externo. No âmbito da segurança passiva, o modelo vem equipado apenas com os airbags frontais, mas possui sensor de ponto cego, que detecta a presença de objetos e acusa com uma luz indicadora no painel. Esse é um cluster completo de informações configurável para deixar em evidência, no computador de bordo destacado ao centro, as características que o motorista preferir monitorar durante a condução.

Ao verificar a parte elétrica do modelo, Sandro afirmou que não houve mudanças em relação aos anteriores: “Está igual, bem-posicionado e de fácil manutenção, em especial alternador e caixa de fusíveis. A única diferença que vi foi o módulo do ABS na parede corta-fogo; o acesso não é tão bom, mas assim ele fica bem protegido e dificilmente dará algum problema”.

Analisando o carro por fora, Cícero pediu que fosse acionado todo o sistema de iluminação para que ele o avaliasse: “Gostei da luz auxiliar no meio do para-choque, como os faróis de milha tradicionais em Jeeps. Falando em Jeep, a iluminação traseira lembra a do Renegade”.

Também aprovou a luz diurna em LED dentro dos faróis dianteiros e, ao olhar sob o capô, declarou: “Os reatores dos faróis têm acesso muito fácil. Claro que a substituição é mais custosa que das lâmpadas convencionais, mas pelo menos o serviço é descomplicado”. Ainda analisando a instalação elétrica e eletrônica do modelo, destacou a acessibilidade de componentes importantes como alternador, ECU e caixa de relês e fusíveis, todos de fácil reparabilidade, o que é ponto positivo para o Duster.

“O acesso aos componentes da parte elétrica está muito bom, fácil de desmontar sem danificar nada em volta, como o alternador, por exemplo. A caixa de fusíveis está na mesma posição que a anterior, e a parte de trás dos faróis para acessar as lâmpadas e reatores também”, declara Cristiano, da Scattini.

Peças de reposição

Produzindo veículos no país desde 1998, a Renault conquistou uma boa parcela dos compradores brasileiros, principalmente por comercializar veículos robustos e bem equipados, e por possuir boa disponibilidade de peças em sua rede concessionária em geral, porém no imaginário popular carrega a alcunha de “bomba francesa” junto com suas conterrâneas Peugeot e Citroën. Os reparadores, que há mais de 20 anos estão habituados a receber os modelos Renault em suas oficinas, foram unânimes quanto ao mercado de reposição para o modelo, opinião reforçada pelo fato de o Duster ter poucas diferenças em relação às suas versões anteriores.

Na Só GM, Lucas informou que usa somente peças genuínas. Por exemplo, eles já tentaram utilizar coxins de outras marcas e o resultado não foi satisfatório. “Peças só originais. Elas só estão disponíveis na concessionária, mas pelo menos com elas nunca tivemos problema”.

“Peças para Renault apenas em concessionária. Aqui na Kioday já damos preferência para peças genuínas para todos os veículos que atendemos e no caso da Renault mal existe a opção de peças paralelas. Como a rede concessionária atende muito bem à demanda, não tem nem por que arriscar fora”, afirma Cícero.

Questionado sobre peças de reposição para o modelo, Junior Scattini declara que só se encontram as genuínas e na concessionária: “Peça tem, mas só na concessionária e quase sempre sob encomenda. Já ficamos de 5 a 15 dias aguardando peças chegarem para realizar um serviço, o que atrasa muito a entrega do carro para o cliente e atrapalha a rotatividade da oficina”.

Informações técnicas

O material técnico pode ser considerado uma ferramenta indispensável na oficina mecânica, tanto quanto os equipamentos de diagnose e ferramentas manuais. Porém, o acesso a esse conhecimento quase sempre é limitado e/ou oneroso.

Para a equipe da Só GM, o acesso às informações técnicas é relativamente fácil, mas apenas por meios não oficiais: “conseguimos tudo na internet, Youtube, sites parceiros e ferramentas pagas, mas na concessionária esse conteúdo é totalmente restrito”, afirma Lucas. 

Questionado sobre a acessibilidade a material técnico pela fabricante, Cícero relata: “A rede concessionária é fechada, imagino que a montadora mantenha assim para garantir os serviços para eles, mas aqui conseguimos com facilidade os materiais necessários através do Sindirepa. Até o momento não tivemos problemas com a gama de veículos que atendemos. Vamos ver como vai ser com esse novo conjunto, mais tecnológico”.

Já na Scattini, Cristiano e Junior afirmaram que o acesso a informações técnicas é precário, exceto pela parceria firmada com uma concessionária próxima onde compram componentes há muito tempo e por isso conseguem algumas informações que necessitam. Geralmente precisam recorrer a plataformas on-line, muitas vezes pagas.

Recomendação

O Renault Duster já soma uma década de boas vendas no Brasil e o novo modelo traz as armas necessárias para se manter relevante, pelo menos mecanicamente, se comparado com a concorrência. Perguntamos, então, aos reparadores se eles recomendariam esse modelo para seus clientes, visto que o reparador ainda é um dos principais influenciadores na compra de carros no país.

Sandro e Lucas declararam que sim, recomendam o modelo, baseados principalmente na vasta experiência na Só GM, devido à quantidade de táxis que atendem mensalmente. Mas fazem uma pequena ressalva: “O carro como um todo é igual ao anterior, então é robusto e de fácil manutenção, mas, como esse motor e câmbio são novidade, ainda não sabemos se seguem o mesmo padrão”.

Na Kioday a resposta de Cícero não foi diferente: “É um bom carro, robusto e de manutenção simples. Eu particularmente prefiro carros assim e os recomendo para os clientes da Kioday”. 

Já na Mecânica Scattini, Junior afirma que não gosta da linha francesa em geral por experiências ruins que teve, e por isso não costuma indicar para seus clientes. “Este modelo ficou interessante, bem equipado e com bom motor, além da manutenção simples, mas já passei apuros com carro francês, por isso não costumo recomendar sua compra”. 

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