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VW Variant 1972, um ar de renovação no modelo de maior sucesso da Família Tipo 3 brasileira

O segundo semestre de 1971 viu a chegada de uma grande mudança visual para a Família Tipo 3 brasileira, que ficou conhecida popularmente como “frente baixa”

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Por Anderson Nunes


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Menos de dez meses após a apresentação da linha Volkswagen 1971, eram colocados à venda os modelos 1972, tendo como grandes novidades a versão de quatro portas do fastback TL, além da nova dianteira para toda família VW 1600 (TL e Variant). O lançamento da nova linha foi antecipado para junho de 1971, pois a diretoria da VW havia tomado a decisão de fazer uma pré-apresentação dos novos carros, durante a Feira Industrial Alemã, ocorrida em São Paulo, entre os meses de março e abril de 1971.  

Como o público que esteve presente no certame demonstrou interesse nas novidades, a companhia decidiu antecipar o início de produção. Vale ressaltar também que o VW 1600 quatro portas, popularmente conhecido como “Zé do Caixão”, havia sido retirado de linha ainda em meados de 1971, cabendo ao TL quatro portas ocupar a lacuna. 

DIANTEIRA SUAVIZADA 

A grande novidade trazida pela família VW 1600 estava concentrada na porção dianteira. A nova frente adquiria linhas mais suaves e limpas, dotadas de contornos mais retos, quase em formato de cunha, dando a impressão de ter ficado mais baixa (essa característica gerou no mercado a distinção de Variant “frente alta” e Variant “frente baixa”, o que separava as duas gerações do modelo). Esse novo desenho frontal da marca, também buscava criar uma espécie de “Face Family”, pois o esportivo SP apresentado meses depois também adotaria a frente com quatro faróis circulares. 

Chamava a atenção o novo conjunto ótico de quatro faróis circulares que passava a ser embutido em uma caixa plástica em tom de cinza acetinado, enquanto um estreito friso de metal cromado era posicionado entre os faróis, sendo ladeado pelo símbolo da VW ao centro.

O pacote de mudanças estéticas também ganhou novos para-choques, um pouco mais estreitos e sem as garras, tendo um borrachão protetor cobrindo toda a extensão. Outra mudança ocorreu com as lentes dos piscas, que passaram a ser embutidas nas extremidades do para-choque dianteiro. 

No interior não houve mudanças, foram mantidos o revestimento de plástico que imitava madeira, os instrumentos que se resumiam ao velocímetro e ao marcador do nível de combustível, além de luzes-espia tais como facho do farol alto, carga do alternador, pressão de óleo e setas de direção. Entre os opcionais estavam o relógio de horas e as janelas laterais traseiras com quebra-vento. 

Para a linha 1972, as mudanças estéticas  se resumiram às novas maçanetas externas das portas, que passaram do botão de pressão para o modelo do tipo gatilho. Já na mecânica uma importante mudança ocorreu no motor, que recebeu o distribuidor de avanço somente a vácuo substituído por tipo misto, centrífugo e vácuo, eliminando antigo problema de detonação (batido de pino), o que melhorava a dirigibilidade.  

ANO DE MUDANÇAS

Em novembro de 1972, a Volkswagen apresentava oficialmente sua linha de veículos para 1973. A novidade, eram as opções de modelos mais despojados, e, portanto, mais baratos, para as linhas VW 1500, TL duas e quatro portas e Variant. Aqui é interessante ressaltar que a Volkswagen não deu designações específicas para estas versões mais econômicas.

A versão simplificada era chamada na tabela de preços da VW simplesmente de Opção 1, correspondente à básica, e Opção 2 para os modelos que possuíam um acabamento mais completo. As particularidades da versão básica ficavam por conta da eliminação dos frisos cromados das laterais da carroceria e do acabamento dos vidros. Os para-choques perdiam a proteção em borracha, em detrimento de uma estreita fita adesiva e a característica mais chamativa: as lanternas traseiras permaneciam idênticas às utilizadas até 1972 (estreitas), diferentes das lanternas maiores que estreavam com a linha 73.

Internamente a versão básica recebia estofamento mais simples, o mesmo empregado no Fusca 1300 e não os bancos com costuras em gomos “altos” tal qual o empregado no modelo “luxo”. A chapa do painel de instrumento era pintada na mesma cor da carroceria, não havia o nicho específico para a instalação do rádio, por fim a tampa do porta-luvas recebia um acabamento em preto em sua superfície. Nas laterais de portas havia um estreito puxador de porta que servia também como um apoio de braço. 

Já a Variant Opção 2 (Luxo), trazia como novidade as novas lanternas traseiras, maiores e retangulares. A mudança visual mais perceptível foi a adoção de três pequenas saídas de ar de cabine localizadas nas colunas traseiras, próximas à tampa do porta-malas, recurso comum a toda linha. Tal solução colaborava para uma melhor renovação do ar da cabine. Internamente, o painel perdeu o acabamento que imitava jacarandá, passando a ser inteiramente preto. Outra novidade para a linha Variant, a fábrica aumentou a distância entre o banco traseiro e os encostos dos bancos dianteiro em 3 cm, o que melhorava o espaço para as pernas dos ocupantes. 

E para o comprador que quisesse deixar sua Variant melhor equipada, a Volkswagen passava a oferecer uma lista mais ampla de acessórios: agora havia a opção de acendedor de cigarros, relógio de horas, bancos dianteiros reclináveis, console com rádio e conta-giros, tapetes de náilon, revestimento do bagageiro, rádio VW, pneus faixa branca, pintura metálica e buzina dupla. O sistema de aquecimento interno poderia ser comprado já instalado de fábrica, ou acrescentado em uma concessionária. 

NOVAS CORES E INTERIOR 

A linha 1974 trouxe sutis mudanças visuais, a mais visível foi a chegada das diminutas calotas na cor prata, apelidadas de “copinho” com o logotipo da VW ao centro. No catálogo de cores as novidades ficaram por conta de duas opções metalizadas, o azul Astral, além da chamativa tonalidade violeta Pop, nuance bem típica dos anos de 1970. No interior, o revestimento dos bancos recebeu um courvim liso nas laterais com faixas centrais listradas, conhecidas como popularmente como cordonê. O volante passou a ser o tipo “bumerangue” com uma peça central de plástico preto rígido que era botão de buzina. 

Um novo painel de instrumentos e mais itens de segurança eram a tônica da linha 1975. Externamente, as lanternas traseiras deixaram de ter a luz dos piscas na cor âmbar em favor de uma lente vermelha (exceto a área branca da luz de ré). Conforme a exigência do Contran, passou a existir o pisca-alerta, com o interruptor fixado no painel. E por fim as pequenas calotas “copinho” passaram a ser de plástico na cor preta.  

No interior chamava a atenção o novo painel de instrumentos redesenhado e mais funcional. Em frente ao motorista havia um grande retângulo que continha ao centro o velocímetro, indicador do nível de combustível à esquerda e à direita um espaço para o relógio. Já o sistema de ventilação foi todo reformulado, na parte inferior do painel foram instaladas duas pequenas caixas plásticas pretas, com pequenas persianas ajustáveis para direcionar o fluxo de ar. Duas pequenas alavancas comandavam o sistema: a da esquerda abre o acesso do ar para a cabine ou para o para-brisa, enquanto a da direita abre ou fecha o sistema. Entre os opcionais, havia um ventilador elétrico. Na parte mecânica, a única novidade da linha 1975 era o filtro de ar do tipo a seco, com elemento filtrante em papel. 

Já contando com seis anos de mercado, a linha 1976 trouxe como novidade a introdução do acelerador de duplo estágio e uma nova regulagem dos carburadores que melhoraram o consumo. 

No dia 16 de novembro de 1976, a Variant de número 250 mil deixava a linha de montagem de São Bernardo do Campo. Apesar de contar com a concorrência da Ford Belina, que tinha como vantagens o motor e tração dianteira, além de mais conforto interno, a “camioneta” da VW ainda conseguia angariar muitos admiradores pela sua mecânica robusta e de fácil manutenção. 

Para o X Salão do Automóvel, ocorrido em novembro de 1976 em São Paulo, a Volkswagen apresentava a linha 1977 do modelo com importantes modificações na segurança. No evento o público pode conhecer a Variant com inovações tais como o duplo circuito de freios, coluna de direção retrátil, reforço na parte interna do para-choque dianteiro, com um tubo rígido, além de reforços na estrutura da carroceria e chassi. Externamente a única alteração foi a eliminação dos frisos frontais, o que deixou a dianteira com um visual mais limpo. 

No interior houve uma nítida melhora no acabamento. Na tapeçaria, os bancos passaram a vir com faixas centrais aveludadas e costuras quadriculadas. O assoalho e a tampa do motor passaram a ser todos revestidos em carpete preto, em lugar dos antigos tapetes de borracha. As laterais das portas ganhavam acabamento em tom preto e o teto em cinza-escuro. Já os instrumentos receberam uma nova grafia, mais moderna.   

Em novembro de 1977 a Volkswagen lançava a segunda geração da Variant, batizada de Variant II. O modelo, exclusivamente brasileiro, era dotado dos mais avançados recursos de conforto e segurança entre os derivados nacionais do Fusca. Entre as novidades técnicas estava a suspensão dianteira McPherson com mola helicoidal e raio de rolagem negativo, como no Passat, e traseira por braço semiarrastado com juntas homocinéticas. A caixa de direção com pinhão e cremalheira também era oriunda do Passat. Iremos abordar mais sobre a Variant II em uma próxima reportagem. 

DO HOBBY AO NEGÓCIO

O publicitário Glauco Cesar Vasconcellos da Silva, 42 anos, morador da cidade de São José dos Campos, SP, é uma pessoa que transformou um hobby pessoal em um negócio próprio. Os automóveis antigos sempre fizeram parte do seu cotidiano, tal paixão foi repassada pelos seus tios. “Acredito que já nasci com ferrugem no sangue, pois gosto de carros, de modo geral, desde pequeno. Meus tios, por parte de mãe sempre tiveram carros antigos e eu aprendi a dirigir em C10 e Fusca. A paixão pelos carros antigos está na minha alma” explica Silva.

A Volkswagen Variant 1972 que ilustra a reportagem foi encontrada na cidade Santa Cruz do Rio Pardo, SP, logo após uma busca pela internet. “Eu estava em busca de uma perua antiga para colocar no meu estoque de vendas, assisti a vários conteúdos voltado ao mundo das peruas no canal “Save the Wagon”. Acabei por encontrar esta Variant na internet e após alguns dias de negociações fui fechar o negócio”, disse o publicitário. 

A VW Variant pertencia a um senhor que embora a utilizasse o veículo em seu cotidiano, soube preservar bem o veículo. Isso ficou comprovado na estrutura geral do carro que é muito íntegra, fato visível na maioria dos parafusos que ainda mantém estampado o logo VW. “São esses detalhes que considero ser muito importante no processo de escolha dos carros que eu trabalho”, salientou Glauco.

A restauração propriamente dita ocorreu na parte interna, mantendo os padrões originais de época. “Tive dificuldade em encontrar a parte de frisos de lateral de porta e o apoio de braço. Na funilaria e pintura eu não fiz nada, pois os custos iriam ultrapassar o teto que coloquei, porém é um carro muito alinhado que falta apenas um banho de tinta para ficar maravilhoso”, frisou. 

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