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VW TL 4P, as portas da esperança para conseguir uma fatia no disputado segmento de médios

Lançado na mesma ocasião da adoção da nova dianteira, a versão de 4 portas do TL foi a segunda tentativa da VW em produzir um modelo nessa configuração

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Por Anderson Nunes


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O TL 4 portas foi lançado juntamente com a nova frente baixa, conhecida popularmente como ”bicuda”

Com o mote “Faça uma coisa diferente neste meio de ano. Mude para o ano que vem”, a Volkswagen do Brasil antecipava a apresentação da sua linha 1972 para julho de 1971, na qual se destacava a reestilização da parte frontal da família VW 1600, que ficava mais moderna e como era ressaltada na propaganda – “A nova linha de frente da Volkswagen”. Uma jogada de marketing ousada para a época, pois os modelos 1971, havia sido apresentados menosde dez meses antes. 

As maçanetas traziam um novo desenho de contorno mais simples / A antena do rádio é original de fábrica da marca Truffi / Os retrovisores tipo “raquete” foram mantidos na linha 1973

Essa decisão também foi provocada pela realização da Feira Industrial Alemã, ocorrida em São Paulo em abril daquele ano. Como o público se mostrou interessado nas novas versões, apresentadas em primeira mão na exposição, o presidente da Volkswagen do Brasil na época, Rudolf Leiding, tomou a decisão de antecipar o lançamento da nova linha de modelos. Era o último lançamento que Leiding faria no Brasil, logo depois ele voltou a Alemanha para comandar a unidade da Audi-NSU Auto. 

Os faróis duplos e os piscas no para-choque compunham o novo visual / Lanternas de maiores dimensões conferiam mais segurança / Os para-barros eram acessórios muito comuns nos anos de 1970

As grandes novidades, além da reformulação da dianteira com linhas mais agudas e os faróis duplos redesenhados, bem como as novas cores, era o lançamento da versão de 4 portas do TL, uma exclusividade do modelo brasileiro. Essa variante visava suprir a lacuna deixada pelo fim de produção do VW 1600, conhecido popularmente como “Zé do Caixão” e que não obteve êxito de vendas. Com o TL 4 portas a Volkswagen tentava pela segunda vez emplacar um modelo nesse segmento de mercado.

DUAS PORTAS A MAIS

Em seus dois primeiros anos de produção o TL superou as expectativas de vendas da própria Volkswagen. Entre agosto e dezembro de 1970, foram vendidas 13.500 unidades. Em 1971, seu primeiro ano total de vendas o TL atingiu a expressiva marca de 40 mil exemplares comercializados. O TL parecia trilhar a mesma carreira sólida de sucesso do Fusca e, para manter sua posição no mercado, a Volkswagen reforçou a linha com o TL 4 portas. A propaganda de lançamento da nova versão do TL exaltava a comodidade, com o termo: “Entre sem pedir licença”. Apesar de procurar conquistar principalmente as famílias, essa variante de carroceria também tinha o objetivo atender aos motoristas de táxis, talvez os únicos que nutriram uma simpatia especial pelo “Zé do Caixão”.

As hastes dos limpadores de para-brisa eram pintadas em um tom de cinza acetinado / Além de um bom ângulo de abertura, as 4 portas conferiam melhor acesso ao interior do veículo

A configuração fastback, que destacava o estilo do TL na época, perdia um pouco do seu caráter esportivo na versão com as portas traseiras. Embora na propaganda o fabricante procurasse ressaltar a facilidade de acesso ao interior, as portas traseiras continuavam estreitas, assim como ocorria no “Zé do Caixão”, mas elas apresentavam um bom ângulo de abertura, o que facilitava a entrada e saída dos passageiros. Já os vidros traseiros abaixavam por completo, algo pouco comum até em modelos atuais. E por fim, uma pequena janela, em formato de gota, foi acrescida à lateral traseira. 

Mas o destaque da renovada linha VW era a dianteira, chamada de “frente baixa” que incorporava um novo capô, os para-lamas também foram modificados, juntamente com os novos para-choques envolventes e que receberam as luzes dos piscas nas extremidades e uma proteção de borracha. Os faróis passaram a ficar alojados dentro de uma peça de plástico prateada, com o emblema da VW no centro ladeado por dois pequenos frisos, esse novo visual seria usado como padrão para todos os modelos refrigerados a ar lançados posteriormente. Pelo fato da nova frente ser mais “bicuda”, o comprimento total do TL passou dos 4,22 para 4,32 metros. Já o peso total do TL 4 portas, segundo a VW, era de 945 kg.

LUXO DE ÉPOCA

No interior, cinco adultos podem se acomodar com relativo conforto. O encosto do banco era mais inclinado e apresentava abas laterais mais pronunciadas quando comparado ao próprio TL de duas portas e à Variant. O revestimento interno manteve o mesmo padrão de acabamento com bancos revestido em courvin. Os passageiros de trás disponham de cinzeiros e alças no teto, porém um item de segurança foi renegado. As portas traseiras não dispunham de travas de segurança, acessório de fundamental importância para quem transporta crianças no banco de trás. Vale ressaltar que o Renault Dauphine, de 1959, já trazia tal item. 

O painel de instrumentos seguia a receita básica e essencial de todo o VW a ar: velocímetro ao centro, marcador de combustível à esquerda e, como opcional relógio à direita, item inexistente no carro fotografado. Abaixo do rádio AM/FM original de fábrica, encontra-se um moderno toca CD da marca Pionner. O volante tipo cálice fecha o consagrado interior do TL.  

MECÂNICA CONSAGRADA

A mecânica era a mesma do TL 2 portas, com motor de quatro cilindros horizontais de 1.584 cm³, de ventoinha plana, que desenvolvia 54 cv líquidos a 4.600 rpm e torque máximo de 12 m.kgf a 3 mil rpm, sendo alimento por dois carburadores Solex 32. Em testes realizados pela revista Quatro Rodas de julho de 1971, a publicação destacava a velocidade máxima com a melhor passagem em 138 km/h, que podia ser mantido por longos trechos, características comuns aos Volkswagen refrigerados a ar, além do câmbio com engates rápidos e precisos. 

Diagrama de abertura e fechamento do tampão de acesso ao motor / Motor de 1,6 litros de construção “plana” fazia o TL atingir os 140 km/h

O consumo médio ficou em torno de 9,8 km/l. Estas marcas foram consideradas ótimas pela revista. 

Uma curiosidade é que a partir do ano-modelo 1972, a Volkswagen voltou a oferecer o sistema de ignição misto, ou seja, a vácuo e centrífugo. Isso acabou com o problema de detonação, fenômeno mais conhecido por “batida de pino”.

A partir do ano-modelo 1967, todos os motores passaram a ter distribuidor apenas com avanço de ignição a vácuo, solução usada na Alemanha havia alguns anos. Por funcionarem um pouco mais quente, os motores de turbina baixa eram mais propensos à detonação. O sistema misto cessou tal problema, mas acabou por arranhar um pouco a imagem do TL. 

FIM PRECOCE

Durante os primeiros anos de produção, o TL acabou cativando um bom número de consumidores. Porém, com a forte concorrência que chegou em seguida, as vendas entraram em rápido declínio. Em 1972 a produção caiu pela metade, sendo comercializados pouco mais de 22 mil unidades. A concorrência começou a ficar mais acirrada dentro da própria “casa”, já que em 1973, a Volkswagen lançou a Brasília. Embora o novo modelo fosse menor que o TL externamente, por dentro havia um melhor aproveitamento de espaço em razão da maior área envidraçada e do chassi que era mais largo. Além disso, a Brasília apresentava também um desenho mais jovial, que ajudaria a fazer frente aos novos concorrentes que estavam para serem lançados, como o Dodge 1800, “Dodginho” e Chevrolet Chevette.

As roda permaneceram aro 15 calçadas com pneus Pirelli Tornado / O pequeno vidro em formato de gota compunha o visual da lateral traseira / As quatro pequenas saídas de ar eram uma das novidades na linha 1973 

A política de modernização mundial da linha Volkswagen também chegaria ao Brasil, já que em 1974, seria lançado o Passat, que mudaria o modo da empresa de fazer carros. O fastback desenhado por GiorgettoGiugiaro traria o motor dianteiro de refrigeração líquida, tração dianteira e novos conceitos de segurança dentro da linha Volkswagen.   

Para levantar as vendas da linha TL, a VW fez algumas mudanças no acabamento, podendo o cliente escolher entre uma versão simples ou de luxo. O painel de instrumentos podia ser em plástico preto ou pintado na mesma cor da carroceria. Em 1974, o TL adotou rodas com calotas tipo “copinho”, alterações no padrão de tapeçaria interna e um novo volante conhecido como “bumerangue”.  A lista de opcionais também cresceu, com oferta de console central com rádio e conta-giros, revestimento no compartimento de bagagens, pintura metálica, entre outros itens.

Porém nem assim as vendas aumentaram, as últimas mudanças efetuadas foram em 1975, quando o modelo recebeu um novo painel de instrumentos feito de material plástico e maleável, dividido em duas partes retangulares. Nesse ano foram comercializados pouco mais de 7 mil unidades e no fim de 1975 o modelo saiu de linha. Em seus cinco anos e meio de produção o TL atingiu a marca de 110 mil unidades comercializadas, sendo a grande maioria na versão de duas portas.

ORIGINAL AOS 42 ANOS

“Esse TL é totalmente original. Nunca sofreu uma restauração ou um banho de pintura. É um veículo imaculado”. Foram com essas palavras que o comerciante José Marcelo Lopes Lombardi, descreveu com sorriso o seu Volkswagen TL 4 portas ano 1973, verde Hippie. Apreciador de veículos desde criança, Lombardi disse que adquiriu o veículo de uma senhora viúva. “O marido dessa senhora cuidou muito bem desse TL 4 portas, sendo que não precisei fazer praticamente nada com carro, somente a revisão mecânica como regulagem dos carburadores, sistema de freios e a troca dos pneus que ainda eram originais, da marca Pirelli Tornado, que estavam rachados”, disse o comerciante.

Atestado de originalidade pode ser comprovado pela plaqueta de identificação / Os pedais mantêm as borrachas originais da Volkswagen

O TL 4 portas 1973 apresenta algumas novidades estéticas e de acabamento. Nesse ano a Volkswagen trocou as lanternas por uma de maior dimensão. Na coluna traseira foram acrescidas quatro saídas de ar. No interior o modelo perdeu o acabamento de plástico imitando jacarandá para ganhar um revestimento todo preto. 

Painel teve o revestimento imitação de jacarandá trocado por um de tom preto / Os bancos dianteiros mantiveram o sistema de rebate mesmo sendo 4 portas

Uma pequena concessão à modernidade foi feita com a instalação de um aparelho toca CD da marca Pionner. “Como eu uso esse TL para ir aos eventos de carros antigos, instalei esse toca CD para passar o tempo enquanto estou na estrada. Porém, tomei o cuidado para instalar os autofalantes embaixo dos bancos dianteiros, tudo para não estragar as forrações das portas, que são originais”, explicou Lombardi.

O segundo porta-malas foi mantido na versão de 4 portas / Mesmo com o novo desenho da dianteira o estepe se manteve na posição vertical / O porta-malas dianteiro podia transportar 267 litros, segundo o fabricante

Aliás, o atestado de originalidade pode ser comprovado pelas etiquetas do cinto de segurança, em que está impresso o ano de fabricação do carro, outubro de 1973. Devido a essa característica de cuidado, Marcelo Lombardi foi convidado pela Volkswagen a participar com seu raro TL 4 portas dos eventos de comemoração de 60 anos de atuação no Brasil. “Foi uma experiência muito gratificante ser convidado pela Volkswagen para participar com meu TL dos festejos de 60 anos da marca aqui no país. Um fotógrafo da Volkswagen veio tirar as fotos do TL 4 portas e depois como forma de agradecimento a Volks enviou uma plaqueta atestando minha participação com o TL”, disse Marcelo com um largo sorriso no rosto.

Agradecimento ao site - O enferrujado.

 

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