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Volkswagen Variant 1600, a união de robustez e praticidade que conquistou inúmeras famílias nos anos de 1970

Um dos grandes sucessos da Volkswagen durante os anos de 1970, a Variant conquistou as famílias com uma receita que mesclava linhas modernas e muito espaço

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Por Anderson Nunes


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Com a compra da Vemag pela Volkswagen, em novembro de 1967, e logo na sequência o fim de produção dos modelos DKW, o consumidor brasileiro ficou sem opções no segmento de peruas médias com a aposentadoria da Vemaguet. O mercado oferecia outras opções de peruas, mas ou eram grandes, caso da Chevrolet C1416, ou derivados de modelos de trabalho, como a VW Kombi. Quem quisesse uma perua, que fosse mais prática como um automóvel do que um misto de um utilitário de carga, não tinha mais escolhas de modelo 0 km. Então, surpreendentemente, as Vemaguets começaram a valorizar no mercado de usados.  

Foi somente em dezembro de 1969 que a lacuna das peruas médias foi preenchida com o lançamento da Volkswagen Variant 1600, segundo membro da Família Tipo 3 nacional, já que o primeiro havia sido o Volkswagen 1600 quatro portas, conhecido pelo apelido “Zé do Caixão”, apresentado no 6° Salão do Automóvel de 1968, e que preenchia o vazio deixado pelo fim de produção do DKW Belcar. 

Nascida sobre a plataforma do “Zé do Caixão”, a Variant exibia a mesma dianteira do sedã tomada por dois grandes faróis retangulares, porém antecipava os novos para-choques de lâmina única cromada, com duas garras revestidas por proteções de borracha. Os piscas dianteiros também seguiam o padrão visual da família Tipo 3, localizados nas extremidades dos para-lamas, enquanto as laterais vinham com estreitos frisos cromados que percorriam toda a extensão da carroceria. 

Vista de lateral o conjunto agradava mais, primeiro, devido ao alongamento da porção lateral que trouxe uma melhor distribuição de volumes; segundo que o desenho da traseira era mais harmônico devido à grande vigia e às estreitas lanternas, que conferiam um aspecto mais aprazível e sóbrio. Diferente do similar alemão que possuía três vidros laterais, a Variant brasileira exibia apenas dois grandes vidros. Para proporcionar alguma ventilação aos passageiros do banco de trás, era oferecido um sistema de quebra-ventos, um item opcional. 

“MOTOR DEITADO”

Na propaganda de televisão da época, o falecido ator e apresentador Rogério Cardoso percorria todo o perímetro do carro à procura do motor, já que havia um porta-malas na frente e outro atrás -- juntos comportavam 640 litros, boa capacidade. Toda essa encenação era para mostrar que a Variant estreava uma grande novidade no mercado: o novo motor de construção plana, em que a turbina de arrefecimento era do tipo axial e fixada diretamente no virabrequim, em vez do tipo radial do Fusca e de montagem elevada na extremidade do gerador. Devido à forma em que era posicionado no cofre, o motor era apelidado por muitos de motor “deitado” ou “plano”.

Outra inovação lançada junto com a Variant foi que no Brasil a fábrica optou por dois carburadores Solex de 32 mm. Foi o primeiro modelo da Volkswagen com dupla carburação produzido no País. O motor de 1,6 litro desenvolvia 54 cv a 4.600 rpm e 12 m.kgf de torque a 3.000 rpm. Para acessar o motor era preciso dobrar o tapete de borracha que cobria o compartimento de carga traseiro e abrir uma tampa que era encaixada na frente e travada por trás por dois fechos giratórios. Devido a todo esse processo um pouco demorado, a fábrica adotou a vareta de verificação do nível de olho externa ao motor, já que bastava a abrir a porta do compartimento de carga para acessá-la.

Nos testes promovidos pelas revistas especializadas de época, a Variant 1600 atingiu velocidade máxima de 135 km/h, acelerou de 0 a 100 km/h em 21,2 segundos. O consumo médio de cidade e estrada fica entre 7 e 12 km/l, respectivamente, o que demonstrava uma boa relação potência-economia (para os padrões da época) e que confirmava o acerto na escolha da dupla carburação. 

ACABAMENTO ESMERADO

O interior embora não fosse voltado ao luxo, trazia um acabamento correto e o emprego de materiais de boa qualidade. A Variant 1600 trazia os mesmos e confortáveis bancos utilizados nos VW 1600 “Zé do Caixão”, com gomos altos e revestidos em courvim preto, cor padrão, embora também houvesse opções nas cores gelo, marrom ou caramelo. As laterais de portas seguiam o mesmo padrão de revestimentos dos bancos com puxadores e apoio de braço conjugados. O assoalho recebia um revestimento de borracha corrugado nas cores cinza ou bege escuro dependendo da combinação interna dos bancos.  

O painel de instrumentos empregava um vinil com imitação de madeira de jacarandá e três instrumentos, velocímetro ao centro, marcador do nível de combustível à esquerda e como opcional, relógio de horas, à direita. O volante de dois raios era o mesmo empregado do sedã 1600, tendo ao centro o brasão da cidade de São Bernardo do Campo. Para o passageiro do banco dianteiro, além dos dois passageiros das extremidades traseira havia alças para as mãos, um acessório que ajudava a segurar o corpo nas curvas ou para auxiliar ao sair do veículo. 

Externamente destacavam-se as rodas com 20 janelas para ventilar os freios e as calotas cromadas. As rodas eram cobertas por pneus diagonais com a curiosa medida 165-380, parecidos com o 5.60-15 do Fusca, porém de seção um pouco mais largo. Alguns proprietários adicionavam pequenas faixas brancas nas bordas dos pneus para dar um aspecto mais vintage à perua. 

Em agosto de 1970 a Volkswagen apresenta a Variant com uma leve mudança visual na dianteira. O capô ganhou uma superfície mais lisa com um vinco central mais pronunciado. A característica que mais chamava atenção era que os faróis retangulares davam lugar a um conjunto ótico de quatro unidades circulares, dispostos em pares e alojados em uma base cromada frisada – herança da extinta DKW Vemaguet 1967. 

Essa não seria a última mudança estética efetuada pela Volks em sua linha Tipo 3 brasileira. Em julho de 1971, a Variant ganharia uma nova dianteira, de formato mais reto, quase em formato de cunha, dando a impressão de ser mais baixa. Essa mudança estética daria ao modelo duas distinções mercadológicas a Variant: “frente alta” e frente baixa”. Esses detalhes e outras novidades apresentadas na linha 1971 contaremos na próxima edição.  

OLHOS RAROS

“Primeiro foram os ‘carrinhos de ferro‘ quando eu era criança, depois veio um Jeep de plástico e meu primeiro carro foi um SP2, em 1985, comprei-o quando o modelo nem se cogitava ser item de coleção e preço não valia nada”, mas foi a partir desse esportivo que o engenheiro Rogerio Ferro Rodrigues, 57 anos, partiu para criar sua coleção. 

A Volkswagen Variant ano 1970 que ilustra a reportagem sintetiza bem a sua paixão pelos modelos refrigerados ar. A Variant foi adquirido pelo fator histórico, pois trata-se do primeiro ano de produção da perua que tem como característica principal os faróis quadrados, um apelo estético que tem tornado essas primeiras unidades muito disputadas por colecionadores.

“Esse modelo da Variant, além de ser o primeiro ano, é bem raro por ter o farol quadrado. Logo após o lançamento a VW viu que o conjunto ótico não iluminava de forma correta e trocou pela a configuração de 4 faróis redondos”, explica Rodrigues.

O carro da reportagem passou por uma restauração parcial, somente pintura e assoalho, sendo que todo o restante é original. “Restaurar carro antigo nacional é um desafio, a literatura é pouca, as peças não são catalogadas, além do mercado paralelo não oferecer componentes de qualidade em sua maioria”, desabafa.

Apreciador dos carros Chevrolets das décadas de 40, 50 e 60. Depois os esportivos nacionais e as Kombis, outra grande paixão. Porém, por falta de espaço na garagem a Volkswagen Variant que ilustra a reportagem está à venda. “Hoje a Variant está à venda, por falta de espaço, mas tenho outra Variant, 1972, que pretendo guardar. Gosto de ir renovando os carros na coleção, embora tenha alguns que jamais venderia”, salienta o engenheiro.   

 

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