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Nissan D21 1994, o legado japonês de mais de 80 anos de tradição na produção de picapes

A herança da Nissan no segmento de picapes é explicada pelo modelo D21, que conquistou inúmeros admiradores ao redor do globo e contribuiu para o início de operação da marca nos anos de 1990 aqui no Brasil

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Por Anderson Nunes


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O legado da Nissan Frontier é registrado com muito sucesso ao longo de 12 gerações. A atual família foi lançada mundialmente em 2016, e a partir de 2018, passou a ser produzida na unidade de Córdoba, Argentina. A robustez e a confiabilidade das picapes Nissan incorporam mais de 80 anos de história neste que é atualmente um dos segmentos mais disputados nas últimas décadas. A marca japonesa já vendeu mais de 14 milhões de picapes em aproximadamente 180 países nas últimas oito décadas, um marco para a indústria automotiva global.

A história da Nissan no segmento de picapes começou em julho de 1934, quando a empresa iniciou a produção do seu primeiro veículo comercial: a Datsun "13 Truck". O modelo, com cabine simples, tinha capacidade de carga de 520 quilos e era equipado com uma transmissão manual de três marchas. A potência máxima era de 15 cavalos a 3.600 rpm.

Na década de 1960, a Nissan criou seu primeiro modelo já seguindo as características de vanguarda das picapes compactas, a "Datsun Truck 1200". Trazia um motor de 1.200 cm³ e suspensão independente no eixo dianteiro (barra de torção), melhorando o desempenho e o conforto. Uma versão alongada também foi lançada logo depois.

DATSUN CHEGA A AMÉRICA LATINA

Os primeiros carros e picapes Datsun chegaram a mercados da América Latina, como Peru e Chile, a partir de 1935. Em 1972, a Nissan começou a produzir Datsun "521" em sua fábrica de Cuernavaca, no México. O modelo era exportado para alguns países da região e teve grande aceitação na América Central. Anos depois, o segundo modelo exportado do México foi a picape Datsun "620".

A terceira geração de picapes produzidas na América Latina foi a Datsun "720", a primeira a oferecer tração nas quatro rodas. Entre 1973 e 1979, as vendas da "720" ajudaram a aumentar significativamente o número de picapes nas vias da região, que foram de 2.000 a 72.000 unidades por ano, especialmente na Nicarágua, em El Salvador e em Honduras, os principais mercados.

Nos anos 1990, a família D21 se tornou a sucessora da "720", com diferentes nomes comerciais: Terrano, no Chile, e Frontier nos demais países da região. Esses modelos trouxeram novo nível de conveniência e inovação nos produtos oferecidos na região. Ainda hoje muitas picapes D21 ainda rodam na região, comprovando sua robustez e qualidade de construção. 

NISSAN NO BRASIL

Os primeiros Nissan a chegar ao Brasil, em 1951, foram caminhões importados do Japão e distribuídos aqui pela companhia Mario Barros do Amaral S.A., de São Paulo. Em meados da década de 50, a representação da marca no país foi assumida pela Varam Motores (que já fazia a importação e montagem dos automóveis e caminhões estadunidenses Nash). Entre 1955 e 1956, a Varam montou aproximadamente 400 unidades do jipe Nissan 4W60 em suas instalações na Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP. Com motor de seis cilindros e tração nas quatro rodas, esses veículos chegaram a ter de 35% a 40% de componentes brasileiros. A Varam Motores já planejava construir uma fábrica para 3 mil unidades por ano (com 52% de nacionalização), mas o projeto não saiu do papel e a Nissan desapareceu do cenário brasileiro por muitos anos.

Somente depois da reabertura das importações é que a marca japonesa voltaria ao país, em 1991, representada pela KTM, de São Paulo. A empresa trazia de um revendedor na Flórida os sedãs Maxima e Sentra, além do utilitário esportivo Pathfinder, que foi um dos modelos que deram início a onda dos SUVs no Brasil. Trazia debaixo do capô um potente motor V6a, além de um visual parrudo. 

Em março de 1993, depois de muitos estudos, a Nissan decidiu fincar bandeira no Brasil de forma oficial por intermédio de um representante chamado Marubene. Na ocasião a Nissan (que ainda não havia feito a aliança com a francesa Renault), era a segunda maior fabricante do Japão, ficando atrás da Toyota, quinta no globo e produzia naquele período 3,1 milhões de unidades. As vendas tiveram início no segundo semestre de 1993 e o catálogo de modelos era composto pelo utilitário esportivo Pathfinder, e os sedãs Sentra e Maxima. A novidade era inclusão da linha de picapes D21 nas versões cabine simples, dupla e estendida, batizada de King-Cab, com tração 4x2 ou 4x4. Nas propagandas veiculadas em jornais e revistas de época o mote era: “Nissan, o melhor para você”. 

As picapes sempre estiveram ligadas aos momentos importantes da Nissan no Brasil. Em 1998, a empresa iniciou as importações do modelo Frontier AX cabine dupla, dotada de motor diesel de quatro cilindros aspirado, que desenvolvia 103 cv e 21,6 m.kgf de torque. A Frontier AX já trazia a roda livre automática, um avanço em relação à D21. Quatro anos depois, era iniciada a produção da Frontier na fábrica da Aliança Renault-Nissan, em São José dos Pinhais, representou ainda o início oficial da fabricação de veículos Nissan no Brasil. E, desde então, com força e versatilidade, a Frontier pavimentou sua trilha de sucesso no mercado nacional, com mais de 100.000 unidades vendidas.

NASCIMENTO DA D21

Os primeiros esboços da futura picape da Nissan, batizada de “Projeto 850”,  começaram a tomar forma em fevereiro de 1982 na sede da Nissan Design America (NDA), inaugurada dois anos antes na cidade de La Jolla, Califórnia. A fabricante japonesa sabia que suas picapes eram bem recebida pelos clientes estadunidenses e por isso decidiu contratar dois experimentes projetistas norte-americanos: Jerry Hirschberg e Tom Semple, ambos oriundos da General Motors. Jerry Hirschberg já um renomado projetista, era dele o desenho do fabuloso Buick Riviera lançado em 1971.

A tarefa de substituir a bem-sucedida picape Datsun/Nissan 720 não era fácil, pois ela havia sido muito bem recebida pelos clientes de vários países graças a robustez mecânica, além da ampla variedade de versões e carroceria. Partindo de uma folha de papel em branco ficou decidido que a geração “850” estaria disponível em dois estilos de carroceria. A carroceria "A" foi projetada no Japão e estava disponível em variantes de cabine simples ou dupla, enquanto a carroceria "S" King Cab fora criada nos Estados Unidos.

Cada versão tinha um estilo frontal exclusivo, com a versão americana tendo um capô diferente e proteções frontais mais largas. Em alguns países, como Austrália, ambas as versões foram vendidas. A nova picape da Nissan fez sua estreia em janeiro de 1986 e o modelo de produção seriada chamou a atenção devido ao visual mudar pouco em relação aos esboços feitos no papel. A Nissan procurou dar a nova picape um aspecto mais agressivo com a inclusão de dois grandes faróis quadrados e maciço para-choque de metal que nas versões de entrada eram pretos e no acabamento de luxo cromados. 

Motores de quatro cilindros e V6 estavam disponíveis. O primeiro motor era o de quatro cilindros de 2,4 litros de 106 cv. Para muitos mercados, havia a versão carburada do 2,4 litros que fornecia 100 cv a 4.800 rpm. Para a linha 1990 o trem de força 2,4 litros ganha um novo sistema de injeção eletrônica e a adoção do cabeçote com três válvulas por cilindros que aumentou a potência para 130 cv.

O D21 foi a primeira picape da Nissan a oferecer um motor V6. Nos primeiros anos de produção o trem de força fornecia 140 cv e 23 mkgf de torque. Na linha 1990 houve a adição do sistema de injeção eletrônica multiponto e do comando de válvulas de admissão com o sistema variável, o que aumentou a potência para 165 cv e o torque a 25 m.kgf. Ambos os motores poderiam ser emparelhados a transmissões manuais de cinco marchas ou automáticos de quatro velocidades, tanto nas versões 4x2 ou 4x4. 

1993 é o primeiro ano a apresentar a famosa grade cromada em 'V', porém o interior foi mantido com painel de traços retilíneos de 1986. Um ano depois o interior era totalmente reformulado e passou a contar com o painel curvilíneo de aspecto mais moderno. No mercado norte-americano a D21 passou a contar com o airbag para o motorista e freios ABS nas rodas traseiras a partir de 1995. 

1997 foi o último ano de produção da D21, sendo sucedido pelo D22/Frontier. A produção do D21 continuou no México e abasteceu diversos países da América Central. A Nissan Mexicana encerrou a produção da picape D21 em 15 de março de 2008, após 15 anos de produção na fábrica de Cuernavaca. 

PAU PARA TODA OBRA

Veículos fora de estrada, tratores e carros antigos sempre fizeram parte do cotidiano do Tecnólogo em Agronegócio Hermann Fernando Ferrari Allucci, da cidade de São José dos Campos, SP. Aos 14 anos Alucci teve seu primeiro contato com um trator. “A primeira vez de dirigi algo com volante na vida foi um trator da escola agrícola de Jacareí, eu tinha 14 anos, e depois dirigi um Jeep Willys 1951, todo original, ainda 6 volts, que era do meu avô. Acho que minha paixão por itens antigos vem desta época”, diz sorridente.

A picape Nissan D21, ano 1994 que ilustra a reportagem, foi adquirida em 2013 após muitas buscas pela internet. Na ocasião o tecnólogo era dono de um Mitsubishi Pajero TR4, entretanto não estava satisfeito com o modelo. Por gostar de veículos 4x4, pois já haviam passado pela sua garagem uma picape Pick-up Jeep e um Lada Niva, Allucci decidiu que era hora de buscar por veículo diferente, raro, mas que atendesse suas necessidades quanto a ser valente e poder transitar por vias mal pavimentadas. Depois de quase um ano procurando, o tecnólogo viu um anúncio de Nissan D21, pelas fotos estava muito bem conversada, e encontrava-se em uma cidade do interior de Minas Gerais e havia sido retirada 0 km por um senhor. Devido ao trabalho Allucci viajava com muita frequência a para MG, marcou de conhecer a picape japonesa. 

Foi paixão à primeira vista, já na primeira volta a D21 conquistou Hermann Allucci. “Assim que cheguei à casa do proprietário já fiz uma contraproposta, em questão de 2 horas já estava em cima de um guincho para mandar para o Vale do Paraíba. Lembro que avisei minha esposa, que iria chegar uma picape aí num guincho, coloque ela na garagem por gentileza”, explicou. 

A picape veio ao encontro de tudo aquilo que o tecnólogo precisava, pois tudo funcionava perfeitamente, era diesel e com tração nas quatro rodas, além de contar também com a direção hidráulica e ar-condicionado. Além disso vieram algumas peças sobressalentes que o antigo dono mantinha, tais como de suspensão, turbina, filtros e correias. Não tinha nada para fazer, inclusive o antigo proprietário cedeu um livro onde havia anotado todas as manutenções, peças trocadas e as datas, um verdadeiro achado. 

Para Hermann Allucci, a Nissan D21 traz vários pontos fortes, mesmo para um veículo de 26 anos e cita a acústica dela na estrada, a robustez e a durabilidade das peças e confiabilidade mecânica. Como ponto fraco, o desempenho deixa a desejar. “Gostaria que a Nissan D21 tivesse um motor um pouco mais forte, para andar numa velocidade maior em estradas, eu gosto de viajar. Até 100 km/h vai muito bem, acima disto, já dá para sentir que falta fôlego, mesmo sendo equipada com um turbo, então para andar de forma sossegada a velocidade deve ficar entre 80 a 100km/h na estrada”, frisa. 

 

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