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Ford Pampa 1.8 GL, a picape compacta que aliou o conforto e valentia para o trabalho pesado

Derivada do Corcel II, a Pampa tinha como destaque ampla caçamba que podia transportar até 600 kg e foi única picape compacta a ter opção 4x4

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Por Anderson Nunes


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A liderança mundial da Ford em picapes foi construída, principalmente, em cima do sucesso das linhas Série F e Ranger. Mas a marca produziu também outros modelos famosos, que marcaram época e ajudaram a firmar a sua tradição nesse segmento. A primeira picape Ford produzida no Brasil foi uma F-100, que saiu da linha de montagem da fábrica do Ipiranga em agosto de 1957, equipada com o motor V8 a gasolina de 4,5 litros. 

A marca do oval azul sempre soube explorar bem o segmento de picapes no Brasil, um exemplo, em novembro de 1979 foi apresentado ao mercado a F-1000, primeira picape equipada com o motor diesel produzido no país – MWMD-229-4 – com capacidade de carga ampliada para 1 tonelada, freios dianteiros a disco e a opção da direção com assistência hidráulica. 

Vale ressaltar que a Ford também produziu a picape média F-75, que nada mais era do a Pick-Up Jeep, lançada em 1960, que combinava o chassi do Jeep truck norte-americano com uma carroceria exclusiva para o Brasil. O trem de força era um 2,6 litros, seis cilindros em linha com 90 cv. Entre as novidades estava a opção da tração 4×4, a primeira disponível em uma picape brasileira. A picape deixou de ser produzida em 1982. 

FILÃO A SER EXPLORADO

No fim de 1978, a Fiat lançava a 147 Pickup, primeira picape derivada de um automóvel de passeio no Brasil, sendo a pioneira de um segmento que hoje é muito importante no mercado. O utilitário mantinha o mesmo comprimento do hatch, do qual usava até as lanternas traseiras, e uma pequena tampa de caçamba aberta para o lado. Com espaço útil razoável (650 litros), a capacidade de carga de cerca de 450 kg dava conta do recado para serviços urbanos com os motores de 1,05 e 1,3 litro. Esse modelo e sua evolução de chassi mais longo Fiorino/City seriam as únicas opções do mercado por quatro anos. 

Para explorar esse filão, a Ford apresentou em março de 1982 a Pampa, primeira picape derivada de um carro médio no Brasil. Derivada do Corcel II, a Pampa foi lançada para complementar uma das famílias de maior sucesso da Ford no Brasil, ao lado do sedã Corcel e da perua Belina. Desenvolvida localmente, ela foi apresentada no Salão do Automóvel de 1982.

Seguindo a tradição Ford de batizar seus modelos com nome de raças de cavalo, o nome Pampa fazia alusão a uma raça de cavalo que tem a pelagem do seu corpo todo malhado.

 

Para transformar o Corcel em uma picape capaz de suportar condições bem mais severas de uso e de carga, a Ford fez importantes modificações na plataforma e conjunto mecânico. Como o projeto previa que a Pampa teria que suportar 600 kg de carga, a primeira medida foi aumentar a distância entre-eixos para uma melhor distribuição de peso. Dos 2,44 oriundos do Corcel II, na picape ela foi alongada para 2,58 metros – um substancial aumento de 14 cm.

A suspensão traseira ganhou uma configuração mais voltada ao serviço pesado, com a introdução de um eixo rígido, feixe de molas semielípticos de dois estágios de cada lado do carro, e amortecedores hidráulicos de dupla ação. Outro cuidado foi aumentar a altura em relação ao solo, que passou de 14,3 cm do Corcel II para 16,5 cm na Pampa. A novidade era a utilização de pneus radiais na medida 175 SR 13. 

O conjunto mecânico era o mesmo aplicado na linha Corcel II, motor 1,6 litro, com potência de 90 cv a 5.600 rpm e torque máximo de 13 m.kgf a 4.000 rpm, alimentado por um carburador de corpo duplo, números estes quando abastecido a gasolina. Outro aspecto importante efetuado pela engenharia da Ford foi reforçar o conjunto de transmissão, por meio de uma robusta embreagem, com disco de 200 mm de diâmetro (a do Corcel II tinha 190 mm). Já o câmbio teve a relação da primeira marcha encurtada de 3,46:1 para 3:62:1, o que colaborava para as saídas em aclives. A velocidade máxima sem carga era de 148 km/h e a picape acelerava de 0 a 100 km/h em 14,8 segundos. Para garantir uma melhor autonomia o tanque de combustível passava de 57 para 76 litros na Pampa.

Em 1984, a Pampa passou a contar com o motor CHT (sigla em inglês para câmara de alta turbulência) de 1,6 litro mais potente e econômico, com câmaras de combustão retrabalhadas e câmbio de quatro e cinco velocidades (opcional) que ganharam novas relações de marchas. Com 63 cv e 10,3 m.kgf (versão a gasolina) ou 72 cv e 11,9 m.kgf (álcool), o CHT 1,6 era mais potente que o antigo motor no caso do combustível vegetal, que predominava nas vendas na época. Outra inovação foi a garantia de três anos contra corrosão, então a maior do mercado.

Internamente a cabine repetia o mesmo visual e comandos encontrados no Corcel II. De fábrica, a Pampa contava com bancos inteiriços e sem apoio de cabeça, sendo os individuais opcionais, que trazia um curioso desenho do apoio de cabeça, retângulo divido ao meio e vazado, tudo para melhorar a visibilidade traseira. O rádio Philco AM/FM (mono) era opcional no modelo Luxo. 

INTERESSANTE VERSÃO 4X4

Em 1984 a Pampa tornou-se a primeira picape compacta a oferecer uma versão 4x4 – configuração que continua a ser única até hoje. Ela tinha tração 4x2 dianteira e uma alavanca junto ao câmbio para engate da tração 4x4, para uso temporário e com velocidade de até 60 km/h para superar terrenos com pouca aderência. Havia uma razão técnica para isso: as relações dos diferenciais dianteiro e traseiro não eram idênticas, de modo que as rodas girando à mesma velocidade em piso aderente causariam esforço ao sistema em velocidades mais altas.

Lançada junto com a Belina 4x4, a Pampa 4x4 vinha com câmbio de quatro marchas, pois o espaço da quinta era ocupado pela tomada de força para a traseira, e o diferencial mais curto ajudava a ganhar força. Uma curiosidade era o fato da Pampa 4x4 contar dois tanques de combustível: um de 40 litros, suplementar ao principal de 62 litros — razão para haver dois bocais de abastecimento no lado esquerdo —, o que mais que compensava a redução dos 76 litros da versão 4x2. Os tanques eram usados de forma independente, selecionada por uma chave e seu uso era indicado por uma luz indicadora no painel de instrumentos. 

Esteticamente a versão 4×4 trazia algumas diferenças externas, como grade frontal quadriculada, para-choque dianteiro mais robusto e anguloso sem ponteiras plásticas, retrovisores maiores, ganchos para reboque e cubos diferentes nas rodas. Os pneus eram do tipo lameiro. Internamente o banco do tipo inteiriço e no console central, do lado direito estava a alavanca seletora de tração 4x2 ou 4x4. Em 1986, a grade frontal usada na versão 4x4 passou a equipar toda a linha, composta pelos modelos de entrada L e GL.

Para 1987 a Ford estendia a versão Ghia (nome emprestado pelo estúdio de estilo italiano então pertencente à fabricante norte-americana) à Pampa. Visualmente ela se distinguia-se das demais versões pela dianteira que utilizava os faróis trapezoidais que chegaram a Corcel e Del Rey em 1985, pelas rodas aro 13 polegadas cobertas com calotas integrais e pneus de medida 185/70. 

Era no interior que se destacava com a inclusão do painel de instrumentos do Del Rey, que tinha como diferenciais o voltímetro, manômetro de óleo e conta-giros. O interior oferecia aconchegantes bancos revestidos em veludo, vidros elétricos, radio estéreo e o relógio de horas digital de teto. O único opcional era o ar-quente. Porém, ficava devendo o ar-condicionado e direção com assistência hidráulica, itens já ofertados no Del Rey.  

VERSÃO ESPORTIVA 

Em 1990, a Pampa recebeu o motor Volkswagen AP-1800, fruto da criação da Autolatina, nas versões L, GL e Ghia, mantendo o CHT 1,6 litro nas versões L e GL 4x4. Em 1991, ela ganhou a versão S, mais esportiva e completa, equipada com motor 1,8 litro e itens como ganchos e borrachas protetoras da caçamba, bancos individuais ajustáveis, rodas estilizadas em branco pérola, faixas personalizadas nas laterais, janela traseira corrediça, spoiler dianteiro com faróis de neblina e trio elétrico. No catálogo de cores só havia três opções: preto, vermelho e um azul metalizado. A direção com assistência hidráulica tornava-se opcional.

Em 1992 a Pampa ganhou uma nova grade frontal, idêntica à do Del Rey, e em 1994 recebeu carburador eletrônico no motor 1,8 litro. Em 1995 a versão 4x4 sai de linha, ficando somente com os modelos L 1.6 e 1.8, GL 1.8 e S 1.8. Em 1997, último ano de produção da Pampa, o motor 1,8 litro passou a ser equipado com injeção eletrônica monoponto EEC-IV. A Pampa liderou o segmento de picapes derivadas de automóveis no país nos anos de 1982, 83, 88, 89 e 90. Com mais de 380 mil unidades vendidas, ela se manteve como a picape derivada de automóvel mais vendida do segmento até aquele momento, sendo reconhecida pela robustez e conforto até ser sucedida pela Courier. 

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