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Fleetline aerosedan 1948, um clássico que representou o otimismo de uma América do pós-II guerra

Embora fosse um projeto oriundo do começo dos anos de 1940, o Chevrolet Fleetline manteve-se como o modelo favorito da marca e colaborou para estilo de vida norte-americano

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Por Anderson Nunes


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Considerado por muitos como um dos automóveis mais bonitos durante o período entre guerras, o Chevrolet Fleetline foi apresentado em meados de 1941, tinha como chamariz a linha de teto fastback, recebendo o nome de Aerosedan (duas portas) e Sportmaster (quatro portas).

O modelo foi um sucesso imediato, vendendo mais de 62 mil unidades. Vale salientar que essa mesma carroceria foi utilizada por alguns modelos da corporação como o Oldsmobilie Serie 60 e Pontiac Streamliner. Como toda a indústria norte-americana, em 1942 a Chevrolet interrompeu a produção de veículos para participar do esforço de guerra. 

Encerrado o conflito, os fabricantes voltavam a produzir seus carros, basicamente, com o visual pré-guerra, o Chevrolet Fleetline era muito procurado, além de ser muito popular. Em 3 de outubro de 1945, o Fleetline saiu da linha de montagem em número muito reduzido. Na época, havia escassez de materiais essenciais, principalmente chapas de aço.

Infelizmente, uma greve da United Auto Works foi convocada em 21 de novembro e a produção foi paralisada totalmente. As linhas de montagem voltaram a operar somente em 13 de março de 1946, quando a greve foi encerrada. A Chevrolet se tornou a primeira divisão da GM a retomar a produção, em 29 de março. 

Os modelos Chevrolet 1946, ‘47 e ‘48 eram basicamente versões com pequenas atualizações estéticas e de acabamento dos modelos 1942. Isso ocorreu após quatro anos sem a produção de veículos de passageiros. A Chevrolet optou por oferecer os modelos existentes, bem como seus concorrentes. Os clientes estavam ávidos para colocar carros 0 km em suas garagens, logo a demanda era alta, e os ferramentais das fábricas já pagas amortizavam os custos de produção.

VENDEDOR NATO

O Chevrolet Fleetline Aerosedan 1947 era o carro de capota rígida de duas portas mais caro da linha, ainda sim era o modelo mais popular da marca, sendo o veículo mais vendido na América naquele ano, sendo vendidas mais de 160 mil unidades, o que assegurou 71,6% das vendas da marca. Vale salientar que na ocasião o catálogo da marca da gravatinha era composto por 10 modelos. 

Mecanicamente, o Fleetline Aerosedan era equipado com o robusto e confiável motor de seis cilindros em linha apelidado de “Stovebolt” (devido aos prisioneiros que prendiam o cabeçote ao bloco lembrarem os parafusos de antigos fogões a lenha). Com diâmetro de 88,9 mm x curso de 92,5 mm, o moto deslocava 216 pol³ (3,5 litros), tinha comando de válvulas OHV, no qual a árvore de comando aciona vareta que movimenta a válvula de admissão. A novidade era o virabrequim de quatro rolamentos.

Esta geração não usou um sistema de lubrificação totalmente pressurizado. As bielas eram lubrificadas por meio de uma “calha de óleo” embutida no cárter que continha bicos de pulverização que esguichavam o jato de óleo nas bielas (equipadas com “mergulhadores”), fornecendo óleo aos mancais da haste.

O motor era alimentado por um carburador de corpo simples da marca Carter WI-483S, a taxa de compressão era baixa, comum para época, de 6,6:1. O trem de força tinha 90 cv de potência a 3.300 rpm e torque máximo de 24,6 m.kgf a 1.200 rpm. 

Acoplado ao motor estava o câmbio manual de três marchas (1° não sincronizada) com a alavanca posicionada na coluna de direção, já a relação do diferencial era de 4,11:1. Esse conjunto mecânico possibilitava ao modelo alcançar uma velocidade máxima de 120 km/h. O freio era a tambor nas quatro rodas. As rodas aro 16 pol’ eram cobertas com pneus de medida 16 x 6,00. O tanque de combustível comportava 60 litros. 

LINHAS ARREDONDADAS

A grande atração sem sombra de dúvidas do Chevrolet Fleetline era o seu visual exterior, com caimento suave do teto até a porção traseira, no formato fastback. As curvas suaves dos para-lamas traseiros, integrando-se à tampa do porta-malas, conferiam um visual harmonioso ao modelo. Nas laterais traseiras, os vidros em formato de gota antecipavam em alguns anos recursos estéticos de aerodinâmica. 

Os para-choques dianteiro e traseiro tinham “pontas” cromadas opcionais, um item de enfeite que era aparafusado nas extremidades do para-choque original. Já no aftermarket, havia a opção de um grande para-sol externo, fixado acima do para-brisa, e que protegia o motorista do brilho do painel de metal.

As concessionárias da marca vendiam um kit batizado de pacote de acabamento Country Club, produzido pela Engineered Enterprises. O kit incluía as estruturas de fixação, inserções de mogno vermelho e os parafusos de aço inoxidável. Outra característica que se tornou marca registrada do Fleetline eram as molduras cromadas tripartidas fixadas nas laterais dos para-choques dianteiro e traseiro. 

O interior era dotado  de bancos inteiriços, revestidos em tecido, sendo que o mesmo material também era empregado nas laterais de porta. O painel era todo confeccionado em metal, sendo possível escolher a opção de uma simulação de madeira que percorria também toda a lateral de porta. O luxo para época era o rádio do tipo tubo de vácuo mono com alto-falante integrado no centro do painel. 

Um cinzeiro estava localizado no lado direito do painel, próximo ao relógio. Nos primeiros anos, o relógio era integrado à porta do porta-luvas, posteriormente ganhou um espaço próprio, e era do tipo manual (corda), seu funcionamento era para sete dias. Nos modelos pós-guerra, o painel foi revisado, ganhando dois novos mostradores circulares para o velocímetro, e do lado esquerdo havia quatro mostradores retangulares para o medidor do nível de combustível, temperatura do líquido de arrefecimento, voltímetro e pressão do óleo. 

Os clientes da Chevrolet só foram conhecer automóveis com um novo desenho em 1949. As formas estavam mais suaves e atraentes, com destaque para a integração dos para-lamas dianteiros à carroceria (os traseiros permaneciam salientes, embora se movessem para a frente ecoando o otimismo dos anos cinquenta), a grade mais longa e baixa, capô seguia a mesma receita, também ficando mais baixo.

O para-brisa ficava mais amplo e envolvente, entretanto permanecia bipartido, os vidros laterais bem como a vigia traseira também ficaram maiores, esse arranjo dimensional foi batizado pela Chevrolet de Full Vista.

Um chamariz do Fleetline 1949 eram as janelas laterais traseiras que ganharam um leve contorno, recurso estético apelidado de dogleg - um toque de estilo clássico que a Chevrolet adotou mais de uma década antes da BMW. Contaremos a história mais detalhada da Chevrolet Fleetline 1949 nas próximas edições. 

CARTA DE DESPEDIDA

Presente no Brasil desde 1925, a Chevrolet tem uma legião de fãs e admiradores que contribuíram e muito para a história da marca ao longo de seus 97 anos de atuação no país. Embora seus veículos de passeio já fizessem parte do cotidiano das cidades brasileiras desde os anos de 1920, a companhia ganhou reputação local com os seus modelos comerciais que colaboraram para o crescimento econômico da nação, principalmente no transporte do café.

Entretanto, foi a partir dos anos de 1940 que seus carros de passeio conquistaram inúmeros clientes e criaram uma verdadeira relação de amizade, sendo algumas registradas até em palavras, como é caso do Chevrolet Fleetline duas portas, ano 1948, que ilustra nossa reportagem. O modelo pertence a Glauco Vasconcellos, 43 anos, publicitário e antigomobilista, morador da cidade de São José dos Campos, SP.

O publicitário nos contou que soube do paradeiro do modelo durante uma roda de conversa com outros amantes de veículos antigos da região. “A oportunidade de compra apareceu em uma conversa entre amigos que disseram que um conhecido tinha o carro antigo para venda.

O Chevrolet era de propriedade de Décimo Mazocatto, um jovem senhor de 79 anos, que mesmo com toda vitalidade não teria mais condições de manter o Fleetline em condições de uso, logo, a felicidade dele seria vender para alguém que fosse colocar o carro para rodar novamente. Ressaltando: era o último carro dele”, lembrou.

O Chevrolet Fleetline chegou às mãos do senhor Mazocatto em 1978. Logo em seguida o modelo passou por um processo de restauração completo que durou cinco anos.

O motor passou por um procedimento total de manutenção e roda suave. “O momento mais emocionante da compra foi quando recebi das mãos do senhor Décimo uma carta na qual ele conta toda a história dele com o carro desde 1978 que foi quando ele comprou o carro e colocou para restaurar. Ele redigiu um texto muito emocionante e que faz parte da documentação histórica do veículo”, diz Glauco. 

Embora o Fleetline estivesse pronto, faltam alguns pequenos detalhes de acabamento para inserir. “Alguns detalhes de acabamentos como o emblema que vai fixado à tampa do porta-malas, precisei comprá-lo nos Estados Unidos, pois não se acha aqui. Também estou tendo dificuldade para encontrar os frisos laterais que são instalados na lateral do para-lama dianteiro”, salienta. 

O publicitário conta que é uma alegria sair para passear durante os fins de semana com o Chevrolet Fleetline. “Os pedestres pedem para tirar fotos, as pessoas de mais idade revivem histórias que tiveram a bordo de um modelo igual esse, no fundo é gratificante ver que o meu trabalho traz alegria às pessoas que estão em volta”, diz sorridente.  

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