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Chevrolet Caravan Comodoro 1978, luxo e conforto direcionados a famílias exigentes

Ao estender o acabamento Comodoro à Caravan, a Chevrolet reforçou ainda mais o caráter de conforto e exclusividade a sua perua médio-grande

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Por Anderson Nunes


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A primeira metade da década de 1970 foi um verdadeiro divisor de águas para a General Motors do Brasil. Já consolidada e com uma boa participação de mercado, modelos como o compacto Chevette e médio-grande Opala ajudaram a elevar o status da companhia perante aos seus clientes, já que a marca ofertava produtos que de certa forma estavam em sintonia com que era oferecido aos consumidores de outros países. 

A partir de 1975 com o intuito de enfatizar mais o nome Chevrolet no Brasil, o fabricante começou a destacar mais o luxo e a sofisticação na linha Opala. Reposicionamento mercadológico começou com a mudança de nomenclatura. Em abril daquele ano o Opala Grand Luxo recebeu o nome de Comodoro, terminologia esta aplicada a uma versão mais sofisticada do Opel Rekord alemão, projeto este do qual derivou toda a linha Opala.

Entre os diferenciais da versão Comodoro estava o fato do modelo ser oferecido somente com o motor de seis cilindros em linha de 4,1 litros, trem de força este aplicado ao antigo Grand Luxo desde 1973. Visualmente, o Comodoro já trazia a reformulação estética aplicada a toda linha Opala, como a dianteira que ganhou um novo capô com um ressalto ao centro, faróis acondicionados dentro de uma caixa plástica e na traseira quatro lanternas de formato circular.

Para reforçar ainda mais o aspecto luxuoso, a carroceria recebia frisos cromados ao redor dos vidros laterais, maçanetas e caixas de rodas. A grade ganhava uma pintura diferente dos modelos básicos, além disso os frisos cromados apareciam em maior número, formando várias fileiras de pequenos retângulos. Nas rodas também havia detalhes exclusivos. A calota, com o emblema da Chevrolet, tinha a parte central pintada na mesma tonalidade de cor aplicada à carroceria. 

No interior o destaque eram os bancos individuais, com apoio de cabeça integrado, revestidos com um tecido mais luxuoso. Os painéis das portas ganharam um novo desenho e eram revestidos com mesmo material que revestia os bancos. Já o assoalho ganhava carpetes de buclê de náilon, que contribuía para diminuir o nível de ruído interno. Para diferenciá-lo dos demais modelos da linha Opala, painel recebia um revestimento de plástico parecido com madeira, bem como a parte central do volante.

A lista de opcionais era vasta e o cliente podia escolher o câmbio automático de três velocidades com seletor no assoalho, direção com assistência hidráulica, além do sistema de aquecimento interno, rádio, vidros escurecidos, faróis de neblina e sistema de ar-condicionado. 

CARAVANA FAMILIAR

Apresentada no 9º Salão do Automóvel de 1974 a Opala Caravan encaixava-se no segmento de perua média. O interesse que o modelo despertou na ocasião do evento foi muito bom, o que mostrou que o consumidor aguardava um veículo familiar na dimensão da Caravan. Vale ressaltar que a General Motors foi das pioneiras a oferecer uma perua no mercado brasileiro, inicialmente com a Amazonas, que recebeu o nome de C-1416 e, finalmente, passou a se chamar Veraneio.

O mercado de peruas familiares no Brasil era bem restrito. Em 1970, a Volkswagen lançava a Variant, abrindo um novo mercado - os das peruas médio-pequenas. Logo em seguida apareceu a Belina, da Ford, na mesma faixa da Variant. Embora a Variant e a Belina tivessem uma boa capacidade de carga, o mercado brasileiro ressentia a falta de uma “Station Wagon” – uma perua grande, porém mais econômica do que a Veraneio e mais espaçosa internamente do que as rivais da Volkswagen e Ford.

A General Motors preencheu essa lacuna, com a Caravan, derivada da linha Opala, da qual mantinha o visual e a consagrada mecânica que já havia se mostrado adequada no sedã. Esse arranjo de uma elegante carroceria europeia em combinação com um robusto conjunto mecânico de origem norte-americana assegurou o sucesso da perua médio-grande da GM durante os 12 anos em que permaneceu em produção.

A Caravan mantinha o mesmo desenho básico do Opala— mas com apenas duas portas, dentro da preferência do mercado nacional na época. A perua oferecia os conhecidos motores de 2,5 e 4,1 litros, um grande porta-malas e servofreio de série. O estepe ficava na lateral do compartimento de bagagem, como no Opala, mas o bocal do tanque precisou ser deslocado para a lateral esquerda. Os faróis circulares estavam separados da grade e traziam quatro luzes de direção nos cantos, um arranjo estético inspirado pelo Chevelle 1971. Atrás, em vez das pequenas lanternas retangulares aplicadas na versão alemã, havia quatro circulares, as internas com a luz de ré integrada.

Internamente, o painel manteve a mesma linha encontrada nos Opalas. Os instrumentos resumiam-se a dois grandes mostradores: o da esquerda continha os medidores do nível de combustível e temperatura da água, ao centro um pequeno relógio de horas e à direita velocímetro. Nas extremidades, havia duas saídas de ar de formato circular com regulagem para o fluxo de ar. Como padrão, a Caravan vinha de fábrica com bancos dianteiros inteiriços, mas havia como opcionais dois tipos de bancos individuais: de encostos baixos ou encostos altos com apoios de cabeça integrados.

Destaque era o amplo espaço interno. Para quem quisesse levar mais bagagem, era possível rebater o banco traseiro, tal tarefa permitia que o assento fosse puxado para frente, e o encosto, depois de destravado por meio de uma pequena alavanca, fosse deitado no assoalho, o que aumentava a capacidade total de carga. Desse modo o compartimento de carga passava dos 774 litros com o banco levantado para 1.460 litros com ele rebatido.

PERUA DE LUXO

A Caravan já havia se mostrado um sucesso de vendas e para manter a boa imagem a GM decidiu preencher as lacunas com novas versões de acabamento. Apresentado inicialmente apenas em duas versões – Especial e de Luxo - o modelo ganhou a terceira opção com o lançamento da versão esportiva Caravan SS. Em fevereiro de 1978 a Chevrolet ampliava o leque de opções com a introdução da Caravan Comodoro, que tinha como finalidade ser a versão mais luxuosa da station wagon. 

A Caravan topo de gama diferenciava-se em visual em detalhes pormenores, como o logotipo Comodoro aplicado nos para-lamas traseiro. No para-lama dianteiro uma plaqueta 4100 indicava que o modelo estava equipado com o motor de seis cilindros. Já os faróis de neblina, alocados abaixo do para-choque dianteiro, eram um item opcional. 

No interior, a Caravan Comodoro seguia o mesmo padrão de acabamento luxuoso aplicado ao Opala Comodoro, como bancos revestidos em vinil e veludo cotelê e assoalho coberto em carpete do tipo buclê. As laterais de portas recebiam um revestimento de plástico que simulava madeira (mesmo material aplicado no painel), enquanto a porção inferior de lateral de portas era delimitada por um friso cromado, sendo forrado com carpete, sendo do mesmo material aplicado ao piso. 

Os bancos podiam ser inteiriços, quando equipado com o câmbio manual de 3 marchas com alavanca na coluna de direção para o modelo equipado com o motor de quatro cilindros. Já na Caravan Comodoro provida do motor de seis cilindros os bancos eram separados e de encostos altos, contavam com regulagem de distância; câmbio de quatro marchas com alavanca no assoalho passava a ser padrão de fábrica, opcional para o motor de 4 cilindros.

Na mecânica, a Caravan Comodoro podia receber o motor de quatro cilindros de 2,5 litros (diâmetro de 101,6 mm x curso 76,2 mm), alimentado por um carburador de corpo duplo que rendia 88 cv a 4.600 rpm e torque máximo de 18,6 mkgf a 2.600 rpm. Havia duas opções do motor de seis cilindros: a primeira era o 4,1 litros (diâmetro de 98,4 mm x curso 89,7 mm), com potência 127 cv a 3.800 rpm e torque máximo 27,8 m.kgf a 2.800 rpm.

Já para os entusiastas de alto desempenho, opção mais nervosa era o famoso 250 – S, que fornecia 149 cv a 4.600 rpm e torque máximo 28,8 m.kgf a 2.800 rpm. Lembrando que os valores de potência e torque aqui citados são todos líquidos.   

LINHAS RETAS

Uma reestilização mais abrangente chegava à linha Opala/Caravan 1980. Capô e tampa do porta-malas adotavam formas retilíneas, tão em voga na época, e faróis e lanternas traseiras passavam a ser retangulares (estas trapezoidais na Caravan) com luzes de direção envolventes. Os para-choques mais espessos tinham uma faixa central em preto e, no SS, eram pintados na cor da carroceria em vez de cromados. Entre os opcionais havia o teto de vinil, caixa automática e o motor 250-S. Como opção em toda a linha, a GM finalmente adotava pneus radiais (em medida 175/80-14 ou 195/70-14, de acordo com a versão).

O interior, porém, mantinha mesmo painel usado desde o início de produção. A renovação interna veio na linha 1981 com painel de formato retilíneo e bem mais moderno, todo em plástico e com instrumentos em três módulos. No da direita vinha conta-giros no Diplomata e no SS ou relógio no Comodoro. 

A Caravan oferecia enfim o limpador do vidro traseiro, opcional, e toda a linha ganhava válvula limitadora de pressão nos freios traseiros, que diminuía a tendência a travar as rodas em frenagens bruscas. A versão Caravan Comodoro manteve a topo de linha, mesmo com a chegada do acabamento Diplomata ao Opala. A perua teve que esperar até 1986 para receber a tão aclamada versão Diplomata e já de visual renovado. Essa história contaremos em outra oportunidade. 

LEMBRANÇAS DE INFÂNCA

O bancário e comerciante de veículos antigos Raphael Comodo de Campos, 27 anos, da cidade de São José dos Campos –SP, é um conhecido dos leitores da seção Do Fundo do Baú. Já passaram aqui pelas páginas do jornal dois modelos que já pertenceram a ele– Um Volkswagen Fusca 1500 1971 e um DKW-Vemag 1962. 

Agora, o bancário nos brinda com uma rara Chevrolet Caravan Comodoro 1978, primeiro ano da station wagon nessa versão de acabamento. “Esse modelo chegou até as minhas mãos por intermédio de um tio que a comprou. Sabendo da minha paixão por veículos antigos e também por comercializá-los, foi me oferecido. Não titubei e acabei adquirindo, já que trata-se de um modelo que nunca passou por restauração e ainda conserva os manuais e folheto de revisão”, explica. 

Outro motivo para a Caravan ser incorporada ao acervo de Comodo, é o fato dele ter boas lembranças de infância a bordo do modelo quando fez uma viagem a Sul do país ao lado de seu avô. “Meu avô foi dono de algumas Caravans anos 70/80, lembro das histórias dos passeios a praia, nos fins de semanas no sítio, até mesmo viagem a Foz do Iguaçu que fizemos (Argentina/Paraguai). Essa possibilidade que o carro antigo traz, de recordar bons momentos, não tem preço”, diz sorridente. 

A Caravan Comodoro que ilustra a reportagem é equipada com o motor de quatro cilindros de 2,5 litros, chamado pela GM de 151-S. Traz entre os opcionais os bancos dianteiros individuais, câmbio manual de quatro marchas com alavanca posicionada no assoalho e os faróis de milha. “É um carro muito confortável até mesmo para os dias de hoje, traz um acabamento caprichado tais como o revestimento jacarandá, luzes de cortesia nas portas, detalhes esses que as fábricas aboliram ao longo do tempo. Embora não seja a versão 4.100, é um carro muito legal para curtir, possui o motor forte e a direção macia ajuda nas manobras”, ressalta o Comodo. 

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