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Audi 80, o sedã foi a primeira investida da marca bávara no segmento de carros médios

O sedã 80 revigorou a imagem da Audi, trouxe consigo novas tecnologias, deu origem ao VW Passat, além de se tornar o primeiro veículo da marca dos quatro anéis a atingir 1 milhão de unidades vendidas

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Por Anderson Nunes


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Em 29 de junho de 1932, por iniciativa do Banco do Estado da Saxônia, as antigas empresas Audiwerke AG, Horchwerke AG e Zschopauer Motorenwerke JS Rasmussen AG (DKW) se fundem para formar a Auto Union AG. A nova entidade conclui também um acordo com a Wanderer Werke AG sobre a compra da divisão automotiva da Wanderer.

O novo grupo está sediado em Chemnitz, com administração localizada na fábrica da DKW em Zschopau até 1936. Após sua criação, a Auto Union AG é o segundo maior grupo de veículos automotores da Alemanha, ficando atrás apenas da Opel. O logotipo da empresa mostra os quatro anéis entrelaçados, representando a unidade das quatro empresas fundadoras. As marcas Audi, DKW, Horch e Wanderer são mantidas. A cada uma das quatro marcas do grupo é atribuído um segmento de mercado específico.

Quatro anos após o fim da guerra, o dia 3 de setembro de 1949 marca uma data importante na história do conglomerado. A fundação da Auto Union GmbH em Ingolstadt  lançou um novo capítulo na história do fabricante de automóveis, que anteriormente estava sediado no estado federal da Saxônia, na Alemanha. A empresa iniciou a produção de veículos em edifícios de uma antiga fortaleza, na cidade de Ingolstadt. Os primeiros produtos da recém-fundada Auto Union GmbH a saírem da linha de produção foram o utilitário DKW Schnelllaster F89 L e a motocicleta DKW RT 125 W. 

Aquisição da Daimler Benz

Em abril de 1958, a Auto Union foi adquirida pela Daimler-Benz. À luz da crescente concorrência do exterior, a empresa sediada em Stuttgart considerou sensato expandir sua gama de produtos para o segmento inferior do mercado. Sob a propriedade da Daimler-Benz, a planta Ingolstadt recebeu um grande volume de investimento e modernização de seu parque fabril. A marca dos quatro anéis mudou-se para suas novas instalações no verão de 1959.  Neste ponto, a empresa em Ingolstadt produzia apenas motocicletas DKW, a van DKW F89 L e o fora de estrada DKW Munga.

Dadas as melhores condições financeiras, foi decidido em maio de 1961 abdicar da localização em Düsseldorf e consolidar as atividades de fabricação de veículos da Auto Union em Ingolstadt. Foi um momento de novos lançamentos para a DKW, com a introdução do Auto Union 1000, um elegante sedã compacto. Em 1959 foi o lançado o pequeno DKW Junior. Neste período a empresa se arriscou em outros segmentos com o Auto Union 1000 Sp, um carro esportivo equipado com um motor de 3 cilindros de dois tempos de 981 cm² que produzia 55 cv.

No entanto, à medida que a prosperidade econômica começa a retornar à Alemanha Ocidental, e os veículos mais modernos produzidos lá ganharam moeda valiosa através da exportação para o resto da Europa e América do Norte. Porém, para a Daimler os pequenos carros equipados com o motor de dois tempos não eram o foco dos interesses de seu negócio, também residia o fato que os motores de dois tempos tornaram-se menos populares em meados da década de 1960, pois os clientes eram mais atraídos pelos motores de quatro tempos. 

Diante do boom econômico do início da década de 1960 na Alemanha Ocidental, a concorrência ganhando cada mais vez mais terreno (leia-se Volkswagen e Opel), a diretoria da Daimler decide vender a Auto Union baseada na sua falta de rentabilidade. Ironicamente, no momento em que venderam o negócio, a cláusula também incluía uma nova e grande fábrica e um moderno motor de quatro tempos quase pronto para produção.

Em 1964, a Volkswagen adquiriu uma participação de 50% no negócio, que incluía a nova fábrica em Ingolstadt, as marcas DKW e Audi, juntamente com os direitos sobre o novo motor de quatro cilindros que havia sido financiado pela Daimler-Benz. A Auto Union, sob o comando da Volkswagen, embarcou em um período de crescimento lucrativo, agora produzindo não Auto. Unions ou DKWs, mas usando o nome “Audi”, ressuscitado em 1965 após um intervalo de 25 anos.

Em setembro de 1965, o DKW F102 passava a ser equipado com um motor de quatro tempos (M118 de 1,7 litro) e recebeu mudanças estéticas na frente e traseira. A Volkswagen abandonou a marca DKW devido à associação com o motor de dois tempos e, tendo classificado o modelo internamente como F103, vendeu-o simplesmente como “Audi”. No catálogo havia cinco modelos disponíveis e todos identificados pela potência do motor: Audi L (60 cv), (75 cv), (80 cv) e Super 90, além da perua Variant. 

Em 1969, a Volkswagen fundiu a Auto Union com a NSU. A nova empresa foi batizada de Audi NSU Auto Union AG e toda a produção futura passava a ostentar o emblema da Audi (o carismático emblema dos quatro anéis interligados). A gama de modelos da nova empresa abrangia desde os motores arrefecidos a ar da série NSU Prinz de tração traseira e os motores de quatro cilindros arrefecidos a água do Audi 60 e Audi 100 de tração dianteira até o motor rotativo Wankel que equipava o NSU Ro80. A partir de 1985 as marcas Auto Union e NSU foram extintas em definitivo e nome oficial da empresa foi abreviado para Audi AG como conhecemos até hoje.

AUDI TODO NOVO

Em julho de 1972, era apresentado um Audi todo novo. O Audi 80 celebra sua estreia durante os Jogos Olímpicos de Verão realizados em Munique daquele ano. O modelo 80 (código interno B1) estabelece um novo segmento de mercado: o “sedan compacto”. A tecnologia introduzida no veículo e suas inúmeras soluções mecânicas em breve seriam estendidas a muitos outros modelos do Grupo Volkswagen.

O modelo básico de duas portas pesava apenas 835 kg – a construção leve e rígida foi uma das especificações definidas pelo chefe de desenvolvimento técnico Ludwig Kraus. Com entre-eixos de 2,47 metros e comprimento de 4,18 metros, ele era um sedã compacto, porém com espaço e com uma boa capacidade de porta-malas. A novidade do Audi 80 era a suspensão dianteira com o conceito McPherson e que adotava o raio de rolagem negativo, inovação introduzida em 1966 pelo Oldsmobile Toronado, nos EUA, que facilitava o controle direcional em emergências. Na traseira era adotado o eixo de torção -- solução herdada do Audi F103 de 1965 - com barra Panhard.

Sob o capô o motor de quatro cilindros em linha trazia comando de válvulas no cabeçote. Acoplado ao motor, estava o câmbio manual de quatro velocidades. A simplicidade mecânica do trem de força era o destaque, pois além do comando de válvulas no cabeçote que era acionado por correia dentada havia os tuchos hidráulicos livres de manutenção. Desenvolvido pelo engenheiro Franz Hauk e equipe, o motor é conhecido internamente como EA 827 e se tornou lendário e o mais amplamente construído dentro do Grupo VW.

No mercado doméstico, os sedãs de duas e quatro portas estavam disponíveis em acabamento básico (55 ou 60 cv, chamados simplesmente Audi 80 e 80 S, respectivamente), LS (75 cv), GL mais luxuoso (85 cv). Em setembro de 1973, a Audi adicionou o esportivo 80 GT (apenas duas portas) com um motor de 1,6 litro (100 cv).

O Asso di Picche, um carro conceito coupé com estilo de Giorgio Giugiaro e construído pelo construtor Karmann, demonstra o potencial esportivo do B1 já em 1973. Embora a Audi tenha gostado da ideia de um cupê esportivo de dois lugares, o Asso di Picche não se transformou em um carro de produção. Isso porque o departamento de marketing de Ingolstadt decidiu priorizar o desenvolvimento de carros de passeio que gerariam mais vendas em comparação com esse carro que se tornaria um modelo de baixo volume. Além disso, a empresa-mãe VW temia que uma variante de produção do conceito colidisse com o Scirocco que saiu apenas alguns meses depois.

A primeira reestilização vinha em agosto de 1976, com faróis retangulares, luzes de direção nos extremos dos para-lamas -- exatamente a frente lançada aqui em 1979 no Passat -- e lanternas traseiras maiores. O GT passava a GTE, a letra significando Einspritzung ou injeção de combustível, e chegava a 110 cv, o mesmo motor lançado pouco antes no Golf GTI. O Audi 80 rapidamente se torna um sucesso de vendas: até o final da produção no verão de 1978, mais de um milhão de modelos B1 terão saído da mercado linha de montagem.

Com a capacidade de produção na fábrica de Ingolstadt em breve não mais suficiente para atender à alta demanda, as fábricas da Volkswagen em Wolfsburg e Emden estão envolvidas na produção. Leve e econômico, o Audi 80 se torna muito popular, principalmente após a crise do petróleo de 1973; o carro também faz sucesso nos EUA, onde foi vendido como “Fox”. 

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