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Diagnóstico automotivo avançado: Aplicação da tríade do diagnóstico

Nessa matéria deste mês vamos apresentar a aplicação prática da tríade do diagnóstico na identificação da falha de um veículo que há tempos estava tirando o sono de muitos reparadores

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Por Laerte Rabelo


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Fala, amigo reparador, tudo bem?

Continue a leitura, pois nas próximas linhas você terá acesso a um conhecimento inédito sobre sincronismo virtual e real do motor, além de ter acesso a uma estratégia de diagnóstico que poderá ser aplicada nos diversos veículos presentes em sua oficina.

1. Tríade do diagnóstico

Para se realizar um diagnóstico automotivo de forma rápida e assertiva o reparador deve conhecer os três elementos principais que compõem todo o processo de identificação da falha.

O reparador é o protagonista, ele deve dominar o conhecimento técnico, bem como dominar as estratégias de diagnóstico.

A literatura técnica proporcionará as informações de referência que darão segurança ao reparador para decidir se o componente deverá ser substituído ou não.

Já os equipamentos são a interface entre o reparador e o veículo, eles têm a função de viabilizar a realização dos testes, que darão condições ao reparador de avaliar o estado real do componente ou sistema sob análise.

2. Estudo de caso

Reclamação do cliente: Veí­culo, HB20 1.0 12V ano 2015, chegou na oficina de reboque. Durante a entrevista consultiva o proprietário relatou que trafegava normalmente com o veículo, fez uma breve parada e ao solicitar a partida, o veículo não entrou mais em funcionamento.

2.1 Procedimento de diagnóstico - O primeiro passo foi entrar com o scanner e verificar possíveis códigos de falhas e fazer uma varredura em leituras de parâmetros.

O reparador constatou que não havia códigos de falhas na memória de avarias da unidade de controle do motor.

Sem perda de tempo e utilizando-se de sua experiência, o reparador, com a suspeita de o motor estar fora de sincronismo, desligou o conector do sensor de fase a fim de observar se o veículo entrava em funcionamento através do sinal do sensor de rotação.

Após a realização do procedimento, o motor entrou em funcionamento, indicando que provavelmente o motor estava fora de sincronismo. Para confirmar a falta de sincronismo de forma rápida e sem a necessidade de desmontagem do motor, o reparador, utilizando-se de um osciloscópio, capturou os sinais dos sensores de fase e rotação.

Ao visualizar o sincronismo virtual do motor, o reparador acessou a literatura técnica automotiva com o objetivo de visualizar os oscilogramas de referência para o veículo em questão.

Ao comparar os dois oscilogramas o reparador constatou que havia uma diferença de nada mais nada menos que 16 dentes de diferença, ou seja, estava absurdamente fora de sincronismo.

Diante da situação o reparador refletiu sobre algumas situações importantes, apresentadas a seguir:

• Como o veículo entrou em funcionamento com 16 dentes de diferença em relação ao seu perfeito sincronismo?

• Por que durante o funcionamento do motor as válvulas não colidiram com os pistões, já que o motor está absurdamente fora de sincronismo?

O reparador sabia que só iria resolver o caso de forma definitiva após ter a resposta para essas duas questões.

2.2 A literatura técnica novamente ajudando o reparador

É do conhecimento dos reparadores que o sincronismo entre os sensores de fase e rotação representa o sincronismo virtual, ou seja, o posicionamento do virabrequim e comando de válvulas lido pelo módulo do motor através dos sinais elétricos emitidos por estes sensores. 

Entretanto, temos também o sincronismo real, que é a relação entre a posição da árvore de manivelas capturada pelo sensor de rotação e o ponto morto superior dos cilindros, capturada pelo sensor de pressão.

Essa última informação foi fundamental para a resolução do caso, pois o reparador acessou novamente a literatura técnica e visualizou o sincronismo real desse veículo.

2.3 É preciso conhecimen­to para interpretar os os­cilogramas - Para extrair o máximo de informações dos oscilogramas de referência, o técnico automotivo deve dominar o conhecimento técnico referente aos sinais gerados pelos sensores, pois só assim ele dominará a maestria no diagnóstico.

Assim, para mostrar como se dá a geração do sinal dos sensores tipo Hall, vamos nos utilizar da imagem. 

Observando a imagem acima, vemos que temos três terminais no sensor CKP do tipo hall, o primeiro indicado pela letra B+ é a alimentação do sensor, o do meio é o sinal do sensor que pode assumir dois estados distintos, 0V ou 5V. Quando um dos dentes da roda fônica passar na frente do sensor teremos 0V no fio referente ao sinal do sensor, e quando o entre dentes passar na frente do sensor teremos 5V no fio de sinal do sensor. 

Desta forma, na passagem do dente teremos 5V e na ausência de dentes teremos 0V.

O terceiro terminal é o negativo ou massa do sensor, que sempre apresentará 0V.

Dito isso, vamos agora para a interpretação dos oscilogramas do sincronismo real.

Vejam que na ausência de dentes à frente do sensor de fase temos 5V no oscilograma do sensor de fase e na passagem do dente temos 0V no oscilograma, a imagem acima apresenta o sinal de um veículo em perfeito estado.

Diante dessa imagem, o reparador concluiu que a única possibilidade era a movimentação do alvo do comando de válvulas em relação ao eixo, o que explicaria a grande quantidade de dentes de diferença entre o oscilograma do veículo e da imagem de referência do SIMPLO, e explicaria porque não houve choque entre as válvulas e pistões quando o motor entrou em funcionamento.

Esse raciocínio foi confirmado quando o reparador colocou um comando novo ao lado do comando do veículo defeituoso. 

Solução: O reparador, com total confiança, substituiu o comando de válvulas de admissão, montou a corrente respeitando o perfeito sincronismo e fez uma nova captura, após a correção.

Confirmando a assertividade do diagnóstico, fez um teste de rodagem e constatou que o veículo voltou ao seu perfeito funcionamento.

Até a próxima! 

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