Oficina Brasil


A importância da literatura técnica na prática das estratégias de diagnósticos automotivos

O uso de multímetro ou osciloscópio como ferramentas de diagnóstico é complementado com as informações técnicas de grandezas físicas, elétricas e esquemas elétricos, contribuindo no trabalho de reparação

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Por Laerte Rabelo


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Fala amigo reparador, tudo bem? Na matéria deste mês vamos mostrar como a literatura técnica pode auxiliá-lo na realização de diagnósticos de falhas nos diversos sistemas automotivos, mas antes de apresentar as vantagens da aplicação da literatura técnica, iremos revisar alguns conceitos fundamentais para que o amigo reparador possa compreender em sua totalidade a utilidade dessa verdadeira ferramenta para o crescimento da oficina.

1. Diagnóstico Automotivo - A grande maioria dos reparadores sabe na prática o significado do diagnóstico automotivo, entretanto, é imprescindível colocarmos aqui o seu conceito a fim de tirar todas as dúvidas que alguns colegas têm em relação a esse processo.

Assim, o diagnóstico automotivo nada mais é que: “O processo analítico para se encontrar a causa de um problema”, conforme mostra a dinâmica do diagnóstico. 

Todavia, para ter êxito nesse processo, não basta o reparador saber dessa informação, deve também ter a capacidade de distinguir de forma clara e objetiva o que significa os termos sintoma, falha e causa.

2. Pré-requisitos para o diagnóstico - Os pré-requisitos necessários para que o técnico automotivo consiga realizar um bom diagnóstico de falhas são exibidos na imagem.

3. Ferramentas de diagnóstico - São a interface ou ligação entre o reparador e o veículo, para o escopo desta matéria serão contempladas as seguintes ferramentas: medidores de pressão e vazão, multímetro, scanner e osciloscópio.

4. A importância da Literatura Técnica na Oficina

Amigo reparador, você já pensou na diferença entre receber um veículo em sua oficina sabendo as principais informações técnicas que o ajudarão a realizar sua manutenção preventiva, corretiva ou diagnóstico de falhas e receber este mesmo veículo, sem saber absolutamente nada dependendo única e exclusivamente do método da tentativa e erro, assim como da boa vontade de seus colegas do setor para conseguir alguma informação do componente ou sistema, para enfim executar o serviço?

Para a maioria das oficinas, a falta de informação técnica reduz de forma drástica sua produtividade bem como aumenta significativamente os retornos de serviço por erro em algum procedimento ou falha no diagnóstico, continuando esse quadro vemos o fechamento de suas portas.

Imagino que como eu, você quer ficar bem distante dessa triste realidade. 

É exatamente nesse contexto que entra a importância da literatura técnica na oficina.

Não sei se já aconteceu com você, mas enquanto eu não tinha a minha disposição informação técnica de qualidade, me submeti todas as vezes que chegava um carro na oficina para realizar reparo, manutenção ou diagnóstico às seguintes situações:

• Consumia boa parte do meu dia na internet vendo sites, blogs e vídeos do YouTube, procurando informação técnica do veículo que estava em minha oficina para concluir o serviço ou realizar o diagnóstico;

• Dependia da ajuda de terceiros para conseguir a informação necessária para continuar o reparo, dependendo do tempo e da boa vontade dos colegas do setor;

• Não recebia todos os veículos que chegavam por insegurança ou medo de realizar sua manutenção pois não tinha nenhuma informação técnica sobre aquele modelo.

Não estou afirmando aqui que trocar experiências com os colegas do setor, sobre um componente ou sistema em particular seja um coisa ruim, pelo contrário, a troca de experiências é fundamental para o crescimento de ambas as partes.

Nem que acessar blogs ou assistir vídeos do YouTube signifique que você é um reparador despreparado.

Na verdade, ao realizar essas pesquisas você mostra que está em busca de conhecimento e faz parte do desenvolvimento profissional.

Entretanto, depender, EXCLUSIVAMENTE dessas fon­tes, isso sim não é um bom sinal, e garanto, você não conseguirá manter seu negócio ativo por muito tempo se continuar com esse método de trabalho.

Mas a partir do momento que tive a minha disposição informação técnica de qualidade aí o jogo mudou, pois comecei a realizar manutenção e diagnóstico nos diversos sistemas automotivos com toda segurança, pois tinha os valores de referência, os procedimentos de realização dos testes e pontos de medição.

5. Aplicação prática da literatura técnica com as diversas ferramentas de diagnóstico

5.1 Manômetro de verificação de pressão do cilindro

Para utilizar essa ferramenta de forma a garantir um perfeito diagnóstico devemos ter acesso ao valor de pressão adequado para o bom funcionamento do veículo sob teste e comparar com o valor exibido pela ferramenta. A figura 5 exibe um exemplo de manual com o valor de referência.

5.2 Leitura e interpretação de esquemas elétricos, testes elétricos com multímetro

Para esse tipo de análise mais complexa devemos antes de mais nada saber não só consultar, mas, sobretudo, interpretar as informações presentes, como simbologia, cores dos fios, posicionamento dos pinos, pinout, dentre outros, como mostra a imagem. 

Realizada essa importante etapa, o próximo passo é a visualização do procedimento correto do teste, bem como os valores de referência para confirmar se o componente está com defeito ou apresenta bom funcionamento.

A figura 7 apresenta um exemplo de utilização do multímetro para testar o sensor de temperatura do motor através da medição de sua resistência comparando com o valor padrão presente na literatura técnica. 

5.3 Como a interpretação dos esquemas elétricos pode ser decisivo no diagnóstico do sistema de injeção eletrônica?

O caso real apresentado a seguir foi resultado de uma consultoria que fiz em um autocenter que recebe veículos nacionais e importados.

Neste caso, o proprietário de um veículo Fiat Siena ano 2010 1.6, equipado com o motor ETORQ, relatou que de forma repentina deixou de acelerar. Após algumas tentativas sem sucesso, o proprietário me chamou para tentar solucionar o caso. 

Minha primeira ação foi consultar o esquema elétrico do veículo, neste caso, o sistema de injeção eletrônica é o IAW - 7GF.

Ao observar o esquema, constatei rapidamente que tanto a alimentação positiva como a negativa do corpo de borboleta são compartilhadas com o sensor de fase (CMP).

Sem perda de tempo, fui conferir a alimentação dos sensores de posição da borboleta. 

E minhas suspeitas foram confirmadas, não havia tensão de 5V chegando no pino 2 do corpo de borboleta.

Para acelerar o diagnóstico, removi o sensor de fase e realizei um teste de resistência e conclui que o mesmo estava em curto-circuito, o que explicava a falta de alimentação no corpo de borboleta.

Foi instalado um novo sensor de fase e o veículo voltou a funcionar normalmente.

6. Localização dos componentes - Uma das maiores dificuldades que tinha ao trabalhar na oficina quando não tinha acesso às informações técnicas era em relação a localização dos componentes, como módulos de controle e sensores, que ficam distribuídos pelo veículo, como os do sistema do airbag, por exemplo.

Com a utilização da literatura técnica fica muito fácil localizar os componentes e realizar as verificações de forma mais rápida.

As figuras 9 e 10 mostram o posicionamento de alguns módulos de controle,bem como os principais sensores do sistema de airbag. 

7. Literatura Técnica e diagnóstico com osciloscópio

Para os praticantes do diagnóstico por imagem, ou seja, que utilizam o osciloscópio para diagnosticar o estado de diversos componentes do veículo, a literatura é importante em dois aspectos fundamentais. 

O primeiro deles está relacionado diretamente ao esquema elétrico, pois para realizar a captura o técnico dever saber a função de cada terminal do componente sob análise ou diretamente no conector do módulo de comando do sistema em questão.

Já o segundo aspecto diz respeito ao oscilograma de referência, ou seja, o sinal padrão que o sensor ou atuador deverá apresentar na tela do osciloscópio após a captura, para que o reparador possa comparar e determinar com eficácia se o componente apresenta problemas ou está em perfeito funcionamento.

As imagens exibem um exemplo de manual técnico específico para a análise com osciloscópio, observe que temos na figura o oscilograma de referência, esquema elétrico específico daquele componente, assim como o destaque para os pontos estratégicos de análise do sinal. 

8. Casos de estudo

A fim de exemplificar tudo o que foi mostrado até aqui nesta matéria, apresentaremos dois casos reais de aplicação da literatura técnica em conjunto com as ferramentas de diagnóstico.

Caso 1 – Roda Fônica com defeito - Em uma de minhas consultorias me deparei com a seguinte situação: o reparador em enviou uma captura de tela.

Relatando que o veículo em questão apresentava dificuldade na partida e baixo desempenho. 

Ele queria saber se o motor do veículo estava fora de sincronismo.

Como muitos estão pensando nesse momento ao ver a imagem, o que me chamou atenção antes mesmo do sincronismo, foi a irregularidade presente no sinal do sensor de rotação (CKP), região circulada em vermelho.

Mas a pergunta que pode estar na sua cabeça agora é: como você sabe se essa diferença não é uma característica do sinal, e sim o indicio de um problema?

A resposta é simples, eu sei como deve ser o oscilograma de referência desse veículo, conforme mostrado na imagem. 

Analisando o sinal do canal 2 (verde) vemos que em nenhum momento há aquela interferência, o que me levou a pedi-lo para remover a roda fônica e inspecioná-la criteriosamente. O reparador assim o fez, e após um breve momento, me enviou essa foto. 

Aí estava a causa da irregularidade no sinal do sensor de rotação (CKP), uma solda realizada na roda fônica fazendo com que a mesma se movimentasse de forma irregular, refletindo no sinal capturado pelo sensor. 

Caso 2 – Retífica indevida no cabeçote

Veículo Chevrolet Sonic 1.6 ano 2011, após retífica no cabeçote apresenta dificuldade na partida, marcha lenta irregular e não apresenta código de falhas.

A informação “após a retífica no cabeçote” foi fundamental para a resolução do caso, pois sabemos que existem vários veículos que não “aceitam” o procedimento de retífica, caso contrário, apresentaram funcionamento irregular.

Mas como saber se o veículo que está em sua oficina, que apresentou problemas no cabeçote, por exemplo, pode receber o serviço de retífica ou se o cabeçote deve ser substituído?

Somente pela consulta das informações técnicas do motor do veículo é possível saber essa informação. 

E assim, a equipe que resolveu esse caso fez, e para sua surpresa viram a seguinte informação exibida na imagem. 

Com essa valiosa informação, concluíram que para o veículo voltar ao seu pleno funcionamento, deveria ser substituído o seu cabeçote.

Sem perda de tempo, o reparador fez a solicitação de um novo cabeçote, realizou a montagem seguindo os procedimentos indicados pela montadora. Deu partida no motor e confirmou a eficácia do diagnóstico, pois o veículo pegou de primeira e apresentou marcha lenta estável, fez o teste de rodagem e constatou seu ótimo desempenho, finalizando com sucesso o serviço. 

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