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Robustez não é o forte do Land Rover Discovery 3

Elevado custo das peças de reposição e carência de informações técnicas tornam o SUV urbano inglês pouco atrativo sob o ponto de vista da manutenção

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Por Alexandre Akashi


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Lançado em terras tupiniquins em 2005, o Land Rover Discovery 3 é sonho de consumo de muitos brasileiros. Caro e repleto de tecnologia, o principal apelo do SUV inglês é a robustez, porém, após avaliarmos um modelo 2006, com motor V6 de 4.0 litros, com 69.000 km, descobrimos que nem tudo que parece um carro forte tem característica de jipe.

O modelo avaliado chegou guinchado à oficina Box 5, localizada na zona Sul de São Paulo, sem partida no motor. O proprietário relatou que o veículo parou de repente e, segundos antes sentiu a direção pesada e deficiência de freio. Em uma primeira avaliação, foi diagnosticado redução de vácuo no motor.

Ao efetuar testes mais precisos foi constatado defeito na válvula de escape do quarto cilindro e, ao remover o cabeçote, uma surpresa: a mola da válvula estava quebrada. “Este é o primeiro caso de quebra de mola de válvula que vejo em minha vida”, afirmou o proprietário da Box 5, Alessandro Sdei.

Constatado o problema, a solução era simples, porém, o veículo ficou 45 dias parado na oficina à espera da peça de reposição, pois as concessionárias da marca não dispõem do produto em estoque, sendo necessária a importação do componente, que custa ‘apenas’ R$ 120.

A quebra da mola é um mistério, provavelmente causado por fadiga do material que por algum infeliz motivo passou desapercebido pelos rigorosos controles de qualidade do fornecedor da peça.

Segundo Sdei, o veículo pertence a um cliente que realiza as manutenções preventivas rigorosamente em dia. “Faço as revisões deste carro desde que ele saiu de garantia, em 2008. A cada seis meses o óleo é trocado independente da quilometragem”, afirma. Assim, a quebra da mola foi uma fatalidade.

HISTÓRICO
O Discovery 3 tem um histórico surpreendente, em se tratando de um SUV. “É um comedor de pneu”, afirma Sdei, ao revelar que alinha a direção do carro a cada 5.000 km e, mesmo assim, já trocou um jogo e meio de pneus.

Utilizado diariamente pela esposa do proprietário para levar e buscar as crianças na escola, e uma vez por mês para ir e voltar ao litoral, o SUV nunca viu estrada de terra. Apesar disso, Sdei conta que já trocou toda a suspensão do veículo, pois aos 50.000 km o Discovery 3 apresentou grande folga na suspensão e ficou barulhento.

A lista de componentes trocados inclui ainda dois jogos de pastilhas de freios, um jogo de discos de freios e coxim do motor. “Aproveitamos esta última parada para trocar a correia poli-V, pois como desmontamos o motor, efetuamos o serviço, uma vez que a substituição do componente estava previsto para os próximos 10.000 km”, afirma o reparador.

CARACTERÍSTICAS
O Land Rover Discovery 3 foi apresentado ao público em 2004, na Inglaterra, e surgiu como um veículo de “excepcional performance para vias pavimentadas e não pavimentadas, ao oferecer extraordinário espaço, conforto e flexibilidade para até sete adultos”, de acordo com definição da marca, no informativo de lançamento do modelo.
De fato, as características do modelo são impressionantes. A montadora oferece três opções de motorização: duas a gasolina – V6 (idêntico ao modelo avaliado), e V8, e uma a diesel, V6, de 2,7 litros, 24 válvulas, 190 cv de potência e torque máximo de 440 Nm.

O motor V6 é de 4 litros, 24 válvulas, com 215 cv de potência e torque máximo de 360 Nm, enquanto o V8 tem 4,4 litros, 32 válvulas, e desenvolve 299 cv de potência e 425 Nm de torque máximo.

Em termos de acabamento, são duas versões para os motores V6 a gasolina (V6 S e V6 SE), três para os motores V6 diesel (TDV6 S, TDV6 SE e TDV6 HSE) e uma para o V8 (V8 HSE). O modelo avaliado apresentava a versão V6 SE, com suspensão pneumática, sistema Terrain Response, que gerencia e adapta a resposta do motor, câmbio e suspensão de acordo com o tipo de superfície por onde o veículo trafega, em cinco modos de condução pré-programados: normal (asfalto); piso escorregadio (neve/grama); lama; pedras e areia. Ao selecionar uma destas opções, o veículo altera a distribuição de frenagem, os controles de tração e estabilidade, podendo até acionar o controle de descida de declives, se for o caso.

No item segurança, o modelo é bem completo. A versão avaliada possui 10 air bags, freio de estacionamento eletrônico, assistência eletrônica dos freios (EBA e EBD), freios ABS de 4 canais, com discos ventilados nas 4 rodas, o já citado DSC – Controle de Estabilidade Dinâmica, brake light e atenuador de rolagem (ARM).

O motor V6 é assistido por um câmbio automático de 6 velocidades fabricado pela ZF, com gerenciamento eletrônico e sistema Command Shift, que permite troca manual seqüencial. Segundo a Lando Rover, essa caixa dispensa troca de óleo.

MANUTENÇÃO

Na oficina, as dificuldades são encontrar peças, pois como se trata de uma marca de baixo volume, são poucas as importadoras de peças que se arriscam a formar estoques de componentes. Até mesmo as concessionárias trabalham com quantidades baixas e não dispõem nem ao menos de um jogo completo de peças sobressalentes de cada modelo.

Com exceção do scanner fornecido pela montadora, a maioria dos equipamentos de diagnose disponíveis no Brasil não está 100% preparado para efetuar leituras completas dos sensores no motor e, principalmente, de carroceria. É preciso lembrar que se trata de um veículo totalmente monitorado por sensores, da injeção à calibragem da suspensão, interligados por uma rede de comunicação tipo CAN.

Mola da discórdia: peça de R$ 120 paralisou o Land Rover por 45 dias na oficina; nem mesmo a concessionária tinha o componente para reposição

Com relação à informação técnica, uma boa e uma má noticia. A boa é que existe amplo acervo técnico disponível na internet para quem precisar de qualquer tipo de informação, como diagramas de circuitos elétricos e manuais de reparação. A má notícia é que o serviço não é gratuito, é preciso assinar para ter acesso aos dados, e o pior, paga-se em dólar, debitado em cartão de crédito ou via transferência bancária. Pode-se ainda pagar em cheque, porém há um acréscimo de 15 libras esterlinas a cada pedido realizado.

Existem três tipos de assinaturas: diária, mensal ou anual, com possibilidade de escolha a partir de um modelo de um ano específico, todos os anos de um único modelo ou toda linha Land Rover. Claro que o preço varia de acordo com a escolha, o valor inicial é de US$ 14 (aproximadamente R$ 25) e o maior, US$ 1.647 (cerca de R$ 3.000).

O acesso às informações pode ser feita pelo site da Land Rover (www.landrover.com.br), no link Meu Land Rover, sublink Owner Info. Uma nova janela se abrirá. Clique em Ver Informação Técnica, escolha a opção outros países e selecione o idioma desejado (há opção de Português). Na tela seguinte há dois campos para preencher, com nome do usuário e senha. Para tanto, é preciso se cadastrar, gratuitamente. Feito isso, é só escolher a informação desejada, pagar e pronto. O acesso ao acervo técnico da montadora está garantido.

Gratuitamente, a montadora disponibiliza os manuais do proprietário de todos os veículos, pela internet.

RECALL
Em novembro do ano passado, a Land Rover convocou os proprietários do Discovery 3 com motor V6 a diesel, ano 2006 a 2009, chassi SALLAAA146A367110 a SALLAAA149A513325 para substituição dos componentes da assistência a vácuo do sistema de freio de serviço.

Segundo informativo da montadora, um defeito na válvula unidirecional do sistema de assistência a vácuo do freio pode perder eficiência de frenagem, aumentando a distância percorrida para parar o veículo. Além disso, foi constatado que o defeito pode provocar entrada de óleo do motor no servo-freio do veículo, podendo contaminar o cilindro-mestre de freio, ocasionando falha em um ou nos dois circuitos de freio.

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