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Suzuki S-Cross, sem ostentação, surpreende com pegada esportiva e tração 4x4 inteligente

Sucessor do jipinho SX4 revela versão topo de linha com desempenho arisco inesperado para um utilitário esportivo de aparência discreta. Boa reparabilidade e conjunto mecânico moderno também agradaram as oficinas

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Por Antônio Edson


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Produzido pela japonesa Suzuki Motor e montado no leste europeu, no distrito industrial de Esztergom, Hungria, pela subsidiária Magyar Suzuki, o SUV compacto S-Cross é um cidadão do mundo. Vendido no Japão, Índia, Austrália e Américas do Norte e do Sul – incluindo Brasil –, ele é um típico produto da integração mundial política, econômica e cultural impulsionada pela redução de custos nos meios de produção a partir do final do século 20. Conhecido como globalização, esse processo internacional deflagrado pela queda da União Soviética compatibilizou interesses nacionais de diferentes regimes – democracia, totalitalismo e autoritarismo – e sistemas econômicos, como os dos Estados Unidos, União Europeia, China e países em desenvolvimento, em nome de um tal pragmatismo. “Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace os ratos”, resumiu, certa vez, o líder reformista chinês Deng Xiaoping, ao justificar os benefícios da abertura econômica em seu país e cravar o primeiro prego na tampa do caixão das ideologias.  

Hoje não é novidade que, da mesma forma que alemães, franceses e ingleses – Brexit à parte – utilizam eletrônicos produzidos nos chamados tigres asiáticos, brasileiros aceleram carros montados no México, Argentina, Coreia, China ou qualquer outra parte do mundo. O nipo-húngaro Suzuki S-Cross, por exemplo, chegou ao País em 2015 para substituir o jipinho SX4 que, entre 2006 e 2017, era montado na Índia, China, Hungria e Indonésia, como resultado de uma parceria entre a Fiat e a Suzuki e de uma criação do estúdio do designer italiano Giorgetto Giugiaro. Posicionado um degrau acima do modelo Vitara, o S-Cross passou por uma reestilização em 2017 e herdou o principal DNA ou diferencial da marca Suzuki – a tração nas quatro rodas – com adendos de modernidade e já seguindo a tendência do downsizing, como um motor 1.4 turbinado capaz de produzir 146 cavalos a 5.500 giros e 23,5 kgfm de torque a 1.700 giros, associado a uma transmissão automática de seis velocidades com paddle-shifters.

 

Em abril, o Oficina Brasil Mala Direta teve o privilégio de, durante alguns dias, pilotar a versão topo de linha desse utilitário esportivo compacto, a 4Style-S 1.4 Turbo Allgrip AT, que se diferencia de suas outras duas versões – a 4Style 4x2 e 4Style Allgrip – pelo teto solar elétrico panorâmico, seis airbags, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e faróis de LED com luzes diurnas. Cotado, em abril de 2019, a R$ 131.175,00 pela Tabela Fipe – o modelo zero quilômetro –, o veículo cedido ao OBMD contava com apenas 7.600 quilômetros registrados em seu odômetro digital e foi conduzido a três oficinas do Guia On Line de Oficinas Brasil previamente selecionadas: a Interceptor, na zona oeste da cidade de São Paulo; a Super G Auto Center, zona sul; e a Carbumarc Multicenter, no bairro do Ipiranga. Nessas oficinas, o utilitário esportivo teve as suas propriedades mecânicas examinadas por... 

Ricardo Francisco Alves Filho e Sílvio Pacheco Medeiros. Instrutor de mecânica em cursos do Senai, graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e pós-graduado em Gestão de Negócios. Essa é a síntese do currículo acadêmico de Sílvio Pacheco, 55 anos e há 46 no ramo da reparação automotiva, que somou conhecimentos teóricos à experiência prática para obter resultados concretos na profissão. Sua vivência nas oficinas começou aos oito anos, acompanhando o pai no negócio familiar fundado em 1962 e que ele ajudou a multiplicar. Em 2017, a Interceptor Auto Reparadora inaugurou uma filial na Rua Mateo Forte 77, bairro da Água Branca – a matriz fica na Rua Mário Whateley 352, Alto da Lapa – criando onze postos de trabalho. Um de seus colaboradores é Ricardo Francisco, 34 anos, 24 dos quais vividos no mundo da reparação. Segundo Sílvio ainda é possível crescer no segmento. “O mercado anda carente de oficinas capazes de suprir a demanda por uma reparação preventiva e esse é o nosso foco”, aponta. 

Daniel Kawashima. Graduado em Mecânica Industrial pela Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas de Mogi das Cruzes (SP), Daniel tem 40 anos, 21 dos quais dedicados à reparação. Há 12 anos Daniel trabalha na oficina Super G, empresa estabelecida desde 2001 à rua Caramuru 513, no bairro da Saúde, em São Paulo, onde iniciou uma escalada profissional. Inicialmente contratado como mecânico, há oito anos ele se tornou sócio da oficina. O interesse pela profissão ajudou. “Desde criança gostava de desmontar e remontar o que via pela frente e me interessava pela reparação. Ao longo da vida também fiz muitos cursos relacionados com a mecânica, como o de carburação, injeção eletrônica, multímetros, scanner e outros”, informa o gerente, que conta com seis colaboradores em sua oficina que tem um giro mensal de 130 veículos. “Fazemos toda a parte de geometria, suspensão, motor, embreagem, freio, cabeçote etc. Em alguns dias há uma oscilada no movimento, mas esse não para”, garante Daniel. 

Pedro Luiz Casson, Marcelo e Márcio Sanches. Márcio e Marcelo Sanches iniciaram a carreira no mercado da reparação automativa quase adolescentes, tão logo adentraram à maioridade. Após se graduarem em Mecânica Geral Automotiva pelo Senai, e assessorados pelo pai Joao Martins Sanches, hoje com 71 anos, que trabalhou um longo período no setor de autopeças, os dois irmãos fundaram a Carbumarc Multicenter, atualmente instalada à Rua Costa Aguiar 2.427, no bairro do Ipiranga. Na mesma região há mais de 20 anos, a oficina de Márcio, 47 anos, e de Marcelo, 49 anos, dá conta de um giro mensal de aproximadamente 100 veículos. “Fixar-se em um endereço ajuda a criar bons relacionamentos”, afirma Marcelo. Completa o time da oficina o reparador Pedro Luiz, 27 anos, praticamente prata da casa. 

 

PRIMEIRAS  IMPRESSÕES 

Construída com a tecnologia TECT (Total Effective Control Technology), a carroceria da atual geração do Suzuki S-Cross combina aços leves e ultrarresistentes para distribuir melhor a energia de algum eventual impacto, preservar o interior do veículo e proporcionar economia de combustível. O design do SUV é sóbrio, sendo seu ponto arrojado a grade frontal com filetes cromados e os faróis de LED com máscara negra que contribuem ligeiramente para um ar esportivo. A traseira não preza pela criatividade, recordando utilitários esportivos da década passada. O revestimento do painel da cabine alterna plástico duro e algumas partes emborrachadas, com destaque para uma tela de nove polegadas sensível ao toque – confira detalhes no tópico Elétrica, Eletrônica e Conectividade. A simplicidade no acabamento interno – de resto, eficiente e com peças bem encaixadas – é confirmada por um painel convencional de instrumentos e com uma pequena tela para o computador de bordo. 

“Suas linhas são mais discretas do que ousadas. A traseira, por exemplo, me lembrou os SUVs da Mitsubishi”, comparou Daniel Kawashima, que considerou adequado o porta-malas de 440 litros, mas viu com desconfiança o teto solar panorâmico Double Sliding, com abertura total ou parcial. “Isso quando apresenta defeito é uma complicação para consertar”, externa. Ricardo Francisco elogiou o conforto, a ergonomia e a funcionalidade do interior, embora achasse que a posição de dirigir pudesse ser mais elevada, fatores também mencionados por Silvio Pacheco, que achou estranho a existência de um botão físico sobre o display para mudar a tela do computador de bordo. “Esse acesso deveria ser através de um botão no volante multifuncional, como em outros carros”, observou. “É um SUV confortável, simples e sem frescura e essa deve ser sua proposta original, embora seu preço, em nosso mercado, acabe sendo o de um carro de categoria premium devido aos impostos”, lembram Márcio e Marcelo Sanches.    

AO VOLANTE 

O teste dinâmico do S-Cross revelou que o utilitário esportivo compacto da Suzuki é o que ingleses ou norte-americanos denominam de sleeper, ou de um carro com um desempenho bem mais impetuoso do que sua aparência discreta sugere. Ao volante, o condutor descobre que tem sob seu comando um samurai e não uma gueixa, pois o Suzuki nada tem de submisso ou pacato. Ao contrário, ele é arisco e não nega resposta à menor demanda do acelerador. Como já dito acima, 100% de seu torque de 23,5 surgem logo a 1.700 rpm. No entanto, isso não significa que o carro tenha um comportamento rebelde ou seja difícil de conduzir. Em parte, porque a direção de assistência elétrica apresenta uma visível resistência progressiva e a tração integral e o controle de estabilidade ajudam a segurar o veículo nas curvas. 

“A turbina provavelmente é pequena e enche logo, gerando força nas baixas rotações, indicando que o carro tem um uso mais apropriado para o meio urbano. Se fosse para um uso off-road propriamente dito deveria ser biturbinado, ou ter uma segunda turbina maior, que proporcionasse melhor rendimento nas altas rotações”, interpreta Silvio Pacheco, que considerou macio o rodar do S-Cross e aprovou a funcionalidade dos paddle-shifters e do seletor de tração – confira detalhes no tópico Transmissão e tração. Márcio e Marcelo Sanches, assim como Pedro Luiz, aprovaram a visibilidade do Suzuki e o desempenho da transmissão, mas fizeram algumas restrições sobre a suspensão traseira que serão aprofundadas mais à frente no tópico Freio, suspensão e direção. “O carro tem força nas arrancadas e um interior silencioso, indicando que ele recebeu um bom tratamento de isolamento acústico”, argumenta Márcio Sanches. “Sim, o veículo é silencioso ao rodar e parte disso se deve à configuração dos pneus 215/55 R17 de uso urbano. Já a direção elétrica leve e o volante de boa empunhadura facilitam o giro em manobras urbanas”, completa Daniel Kawashima. 

MOTOR  

Desde seu lançamento na Europa, a motorização do Suzuki S-Cross vem evoluindo. O propulsor inicial era de 1.6 L a gasolina ou um de igual litragem a diesel baseado no Fiat Multijet. Em 2017, as versões 4Style e 4Style AllGrip, como a avaliada aqui, passaram a contar com um motor 1.4 L turbo, em alumínio, de 146 cavalos de potência e 23,5kgfm de torque. Trata-se do propulsor K14C ou do 1.4 Boosterjet com 1.373 cm3 reais de cilindrada que também equipam o Vitara e o Swift Sport, dotados de um sistema de injeção direta de combustível que permite o aumento da pressão do combustível e uma injeção otimizada, resultando numa maior potência e em um escape mais limpo. Seu turbocompressor é equipado com um controle de válvula normalmente fechado para oferecer melhor resposta em condução normal, abrindo para minimizar o consumo de combustível. A versão 4You, de entrada, segue com a motorização aspirada 1.6 de 126 cavalos de potência e 16,7 kgfm de torque. 

Com o K14C, o S-Cross dispõe de comando de válvulas duplo no cabeçote e corrente de transmissão, arranca de zero a 100 km/h em 10,2 segundos e alcança uma velocidade máxima de 200 km/h. Como o propulsor não dispõe da tecnologia flex, bebe apenas gasolina. Menos mal que o consumo é de satisfatório para bom, com médias registradas de 11,5 km/l na cidade e 13,3 km/l na estrada. “É um motor moderno e com uma tecnologia atual que segue a tendência do downsizing, obtendo uma maximização dos resultados com uma pequena litragem graças aos recursos do turbo, da injeção direta alimentada por uma bomba de alta pressão e de um coletor de escape integrado ao cabeçote. Sua turbina de pequenas dimensões é compatível com o bom desempenho do veículo em baixa rotação”, comenta Sílvio Pacheco, que apenas considerou anacrônico e disfuncional o sistema de refrigeração do radiador. “Esse reservatório de expansão com pouca transparência  não permite uma visão clara do fluido do radiador e checar seu nível”, observa o reparador.   

“É um motor diferente da SX4, mais evoluído e novo para os reparadores brasileiros, mas de antemão podemos afirmar que se trata de um propulsor compacto dentro do cofre e amigável para a nossa categoria, pois oferece bastante espaço para trabalhar. Não teremos dificuldade em acessar seus componentes e periféricos. Essa é a vantagem do downsizing”, defende Daniel Kawashima, que apontou o acessível posicionamento do módulo do ABS, do corpo de borboleta e das duas correias de serviço, “uma que alimenta o compressor do ar-condicionado e a outra que alimenta o alternador”. Segundo Daniel, a arquitetura plana do motor, característica da engenharia automotiva japonesa que possibilita uma vista imediata da maioria dos componentes, comprova a preocupação dessa escola com a reparabilidade dos motores. “Talvez só mesmo o alternador tenha ficado um pouco mais em segundo plano em relação aos outros componentes, mas assim mesmo sem apresentar dificuldade de acesso”, aponta Daniel. 

“Sim, o motor surpreende pelas dimensões reduzidas em proporção ao cofre”, atesta Pedro Luiz. “Quando abrimos um capô nosso instinto profissional imediato é procurar espaço para colocar as mãos e trabalhar. Aqui, felizmente, encontramos”, reforça Márcio Sanches. “Note que nem a churrasqueira atrapalha uma eventual troca dos amortecedores, como acontece na maioria dos outros veículos”, aponta o reparador. “Claro que, como todo motor com injeção direta, os bicos estão lá dentro da câmara de combustão e uma limpeza deles fica mais complicada, pois requerem mais cuidado com a despressurização. Mas isso faz parte do pacote trazido pela inovação tecnológica”, comenta Marcelo Sanches, que aprovou a constituição do bloco do motor e do seu cárter, inteiramente em alumínio. “A exceção fica por conta da tampa de válvula de plástico. Tempos atrás, algumas delas apresentavam deformidades devido ao calor. Mas com o aprimoramento do material isso foi resolvido”, explica o reparador. 

Segundo Sílvio Pacheco, a dificuldade com a limpeza dos bicos injetores nos motores de injeção direta é contornável e resolvível com um equipamento apropriado. “Esses bicos ficam no interior do coletor de admissão e injetam o combustível diretamente na cabeça do pistão. Nos motores que trabalham só com gasolina, como esse, a tendência desses bicos apresentarem carbonização é maior, pois o combustível fóssil apresenta mais moléculas de carbono do que o etanol. A saída é não fazer a descarbonização pelo sistema de ultrassom, que prejudica os bicos, mas pelo sistema de piezoeletricidade, fazendo a válvula da agulha no bico do injetor abrir e fechar de forma extremamente rápida”, explica. 

 

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO  

O Suzuki S-Cross é oferecido com suspensão independente tipo MacPherson na dianteira e eixo de torção na traseira. Os freios são com discos ventilados à frente e sólidos atrás, e a direção conta com uma caixa mecânica e assistência elétrica na coluna. O vão livre do solo é alto, de 205 mm, e faz a carroceria apresentar uma ligeira rolagem nas curvas, corrigida pela sua tração integral e controle de estabilidade. Como registrado no tópico Ao volante, os reparadores fizeram restrições sobre o comportamento da suspensão traseira. “Enquanto a frente absorve bem os impactos da pista, a traseira sente os golpes e chega a dar final de curso”, relata Marcelo. “A suspensão traseira apresenta um ruído conforme o carro enfrenta uma pista com relevo irregular. Pode ser apenas uma característica”, cogita Márcio Sanches. “O comportamento da suspensão poderia merecer uma nota 10 não fosse esse barulho vindo de trás”, admite Pedro Luiz. 

O desempenho barulhento da suspensão traseira foi justificado pela sua constituição. “Ela é eficiente e robusta, com uma chapa dupla dobrada, mas extremamente simples e convencional. Se essa suspensão fosse do tipo multilink certamente aderiria melhor ao terreno e transmitiria mais conforto para o interior da cabine”, interpreta Márcio Sanches, que também não encontrou acesso para o interior do tanque de combustível sob o banco traseiro  do S-Cross. “Se tivermos que fazer a manutenção da bomba do combustível será preciso tirar o eixo cardã e o escapamento para baixar o tanque. Não é nenhum fim de mundo, mas seria mais fácil se pudéssemos fazer por cima”, aponta o reparador.  

Com o Suzuki no elevador, em uma visão do undercar, os reparadores constataram um agregado reforçado , bandejas em forma parabólica com pivôs prensados, catalisador e filtro de óleo bem posicionados, mangas de eixo pequenas e semieixo  com ressonador. “Tal estrutura ratifica que o veículo é um 4x4 de uso urbano e preparado para enfrentar trilhas leves”, confirma Silvio Pacheco, para quem o percurso inicial do escapamento, com duas curvas de 90 graus, gera restrições para a passagem do gás e estrangula um pouco o motor. “O resultado é uma certa perda de potência”, conclui. “Sim, isso diminui a eficiência, que seria maior se ele fosse linear”, concorda Márcio Sanches, que elogiou a facilidade de reparação do undercar. “Até para trocar o mancal da barra estabilizadora está fácil. Esse componente costuma estragar bastante com o tempo e, em alguns carros, você precisa descer o quadro da suspensão para trocar, o que torna a mão de obra cara apesar da peça ser barata. Mas aqui não é o caso, pois o processo é simples”, observa o reparador. 

A exemplo de Márcio e Marcelo Sanches e Pedro Luiz, Sílvio Pacheco elogiou a cobertura do undercar do S-Cross protegendo as linhas de combustível e de fluido de freio. “Isso ainda tem efeito aerodinâmico”, lembrou o reparador, que também formularia um melhor conceito do veículo se sua suspensão traseira fosse do tipo independente e não com um simples eixo de torção. “Seria mais funcional em termos de estabilidade. Esse eixo de torção, na verdade um quadro, é mais rústico e menos eficiente, pois proporciona uma menor aderência de forma geral, embora seja mais fácil de reparar”, considera.  

TRANSMISSÃO E TRAÇÃO 

Desde meados dos anos 1970, a Suzuki desenvolve diferentes tipos de tração integral para veículos compactos. Enquanto o Suzuki Jimny, por exemplo, conta com o sistema AllGrip Pro, que permite uma manobrabilidade imediata em terrenos duros e desafiantes, o S-Cross testado nesta reportagem dispõe do AllGrip Select, que possibilita ao motorista, através de um seletor, ajustar eletronicamente o funcionamento da tração entre quatro modos de condução: Auto, Sport, Snow ou Neve e Lock. Nesse último modo o carro faz uma repartição fixa do binário entre os dois eixos. Já o potencial esportivo do veículo surge com o seletor no modo Sport, quando o sistema envia 15% a mais de torque para as rodas traseiras e torna as respostas quase instantâneas, aumentando o efeito das arrancadas. No modo Auto, o carro roda de forma econômica no dia a dia da cidade, e no modo Snow, ou com piso de baixa aderência, a tração se divide igualmente entre os eixos dianteiro e traseiro.  

A caixa de transmissão do S-Cross é automática convencional com seis velocidades. “Embora ela não tenha um sistema de engate eletrônico, mas um cabo com trambulador , ela é eletrônica, pois é controlada por um módulo que decide a hora de trocar de marcha e escolhe a marcha ideal. Pessoalmente, eu prefiro essa configuração por ser a mais robusta e menos sujeita a apresentar defeitos”, defende Sílvio Pacheco. “Motor e câmbio parecem trabalhar de forma harmoniosa, a ponto de não ter sido perceptível nenhum tranco durante o teste dinâmico”, comenta Márcio Sanchez, que gostou da posição do trocador de calor  na caixa da transmissão e da robustez do coxim inferior do câmbio. 

 

ELÉTRICA, ELETRÔNICA E CONECTIVIDADE  

Os itens de série nos pacotes de segurança, conforto e conectividade do S-Cross satisfarão os gostos exigentes. Além dos dois obrigatórios airbags frontais, o SVU traz duas bolsas infláveis de cortina e duas laterais. Os freios com sistema ABS dispõem dos recursos EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), BAS (sistema de auxílio de frenagem em urgência, que joga carga máxima no freio quando o motorista pisa no pedal bruscamente) e BOS (inibe o movimento do veículo em caso de aplicação simultânea de freio e acelerador). O sistema HHC (Hill Hold Control), de auxílio de partida em rampas, previne o movimento do carro nas saídas em ladeiras. O ar-condicionado digital é de duas zonas, mas sem uma saída para o banco traseiro. O sistema de controle de estabilidade (ESP) atua em conjunto com o sistema de controle de tração (TCS). Outros recursos são o piloto automático, sistema start-stop, controlador de velocidade e os sensores de estacionamento dianteiro/traseiro, crepuscular e de chuva, e câmera de ré. 

Intuitiva e fácil de navegar, a central multimídia com tela sensível ao toque de nove polegadas tem oito gigabytes de espaço de armazenamento, porta USB e os aplicativos Waze e Spotify além de conexões WiFi e bluetoth, mas fica devendo os suportes do Android Auto e Apple CarPlay. Ainda que a tela embutida no painel e inclinada provoque alguns inevitáveis reflexos da luz exterior, essa disposição foi a preferida pelos reparadores, no lugar das chamadas telas flutuantes.  

Quanto à parte elétrica operacional, propriamente dita, Márcio Sanches elogiou o generoso espaço oferecido para a troca de lâmpadas de faróis no interior do cofre. “Outro benefício trazido por um motor pequeno”, lembrou o reparador. Já Sílvio Pacheco destacou a bateria de 60 amperes e de 540 CCA (Cold Cranking Amp ou Corrente de Arranque a Frio), sigla que indica a corrente máxima que a bateria vai passar durante o processo de ignição do carro. “Potência adequada para um veículo com start-stop”, analisa o reparador, que também se mostrou satisfeito com os dois fusíveis anexos ao polo positivo da bateria para prevenir curtos-circuitos no conjunto elétrico e a caixa de fusíveis. “Ela traz um pequeno alicate para a troca de fusíveis e um diagrama no verso da tampa, coisas que sempre ajudam o reparador. Já os muitos nichos vazios na caixa indicam que ela é universal e pode ser usada em outros modelos da montadora e, também, a presença de muitos módulos pelo carro, que descentralizam os fusíveis”, interpreta Sílvio.

  

PEÇAS DE REPOSIÇÃO 

Segundo o portal Autoo, especializado em mobilidade, no primeiro trimestre deste ano a Suzuki detinha o 21º lugar no ranking das montadoras que atuam no País, com 987 emplacamentos. O mais vendido da marca, com 471 unidades, em 103º lugar, era o jipinho Jimny. O Vitara vinha em 110º lugar com 374 unidades e o S-Cross em 134º, com 142 vendas. Esses números comprovam: a marca tem uma participação pequena na frota nacional e, por tabela, seus veículos não aparecem com frequência nas oficinas. “Estou na Super G há mais de dez anos e, pelo que eu me lembro, temos apenas dois clientes Suzuki: um Jimny e um SX4. Quando eles vêm aqui, fazemos o diagnóstico da manutenção, pedimos as peças a alguma concessionária da marca e solicitamos que o cliente volte com o carro quando essas chegarem, pois isso pode levar mais de uma semana. Não compensa para nós nem para o cliente manter um carro parado na oficina por tanto tempo”, explica Daniel Kawashima. “Fora essa demora é um carro com boa reparabilidade”, ressalva. 

Na Carbumarc dos irmãos Márcio e Marcelo, a aparição de um Suzuki é ainda mais rara. “De fato, há pouca circulação. Só tivemos aqui o caso de um SX4, mas o defeito não foi confirmado. Era mais uma impressão da cliente. Pelo que sei, o SX4 não tem histórico problemático nas oficinas e torcemos para o S-Cross manter essa tradição de qualidade”, projeta Márcio Sanches, que não vê muita oferta de peças Suzuki no mercado de distribuição independente. “Não encontrando, o jeito é recorrer a alguma concessionária”, admite.  

“O problema é que essas concessionárias são poucas e sem concorrência o preço da peça é alto e há demora na entrega. Os poucos Suzuki em circulação também resultam em um baixo volume de peças no mercado. Aqui na Interceptor, a revisão de um veículo leva dois dias. Mas no caso de um Suzuki pedimos três com a possibilidade de ultrapassar o prazo. O que fazemos é solicitar a peça e pedir ao cliente que fique com o carro. Na chegada da peça, requisitamos o carro e fazemos manutenção. Ninguém compra um carro para ficar parado na oficina e um prazo de três dias dado pela concessionária, para a entrega da peça, pode chegar a mais de duas semanas. Principalmente se essa peça for uma bucha, um quadro ou um componente do motor”, avisa Sílvio Pacheco. Segundo ele, a peça ideal é aquela da montagem original. “Procuramos comprar direto do fornecedor que produz para a montadora. Com isso economiza-se o royalty pago para a montadora e temos a peça do mesmo padrão”, esclarece. 

 

INFORMAÇÕES TÉCNICAS 

Em razão da baixa demanda de veículos da Suzuki nas oficinas independentes não houve, por parte da Super G, Carbumarc Multicenter e da Interceptor, nenhum relato a respeito da necessidade de informações técnicas para efetuar algum reparo. Ainda bem, pois Sílvio Pacheco, da Interceptor, confirmou haver poucas referências sobre informações específicas da marca Suzuki. “Ao menos aqui nunca aconteceu de algum veículo desta montadora ficar parado na oficina por falta de informação, pois a marca detém um bom conceito”, argumenta. No caso disto um dia ocorrer devido, por exemplo, a ausência de um diagrama elétrico, o procedimento da Interceptor para checar se há uma interrupção de fio é trabalhar dobrado. “Abrimos o chicote e fazemos inteiramente o seu reparo. Ao invés de gastarmos três horas de serviço gastaremos dez, mas o reparo será feito. Claro que, no fim, a gente precisa repassar esse custo para o cliente, mas isso não é feito totalmente”, esclarece Sílvio.  

 

RECOMENDAÇÃO 

O novo utilitário esportivo compacto da Suzuki deixou boa impressão junto às oficinas, mas quanto à recomendação não encontrou unanimidade. Entenda o porquê. 

“Geralmente recomendo a meus clientes que não comprem carros recentemente lançados, mas esperem um pouco. Pois aí haverá tempo para identificar eventuais problemas e a montadora providenciar correções. É o caso desse Suzuki, cujo projeto é promissor. Como é um carro importado, vamos ver como ele reagirá ao nossos piso, combustível e condições. Caso não apareça nada comprometedor, a partir de uma segunda leva será um carro recomendável. Por enquanto, fica em uma moratória”. - Sílvio Pacheco 

“É um carro bom de dirigir, de motor, freio e câmbio. Quanto à reparabilidade, sem mistério. É um carro bem produzido, com componentes de qualidade, indicando boa origem. Nada nele, aparentemente, é descartável. Só preocupa um pouco em relação às peças de reposição por ser um carro novo e produzido por uma montadora com pouca participação no mercado. Então, recomendaríamos o carro, porém, com essa observação: sua reparação poderá levar mais tempo devido à demora na chegada das peças.” - Márcio e Marcelo Sanches 

“Sim, recomendaria. Mas deixando o cliente consciente de que, eventualmente, podem acontecer imprevistos na hora da reposição de algumas peças. Estaremos sujeitos, talvez, a algumas demoras. Mas quanto à qualidade mecânica, reparabilidade, manutenção, não há dúvida que esse Suzuki S-Cross é tão bom quanto aos melhores carros de origem japonesa disponíveis no Brasil. Nada deve a eles.” - Daniel Kawashima. 

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