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JAC T80 traz boa reparabilidade, powertrain robusto e confirma salto de qualidade entre carros chineses

Ele parece alemão, inglês ou japonês, mas é um utilitário esportivo projetado na Itália que chegou ao Brasil disposto a deixar para trás a ideia de que chinês não sabe fazer bons carros. Sim, o JAC T80 conquistou os nossos reparadores!

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Por Antônio Edson


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Revestimentos dos bancos em couro, itens de série que incluem massageador eletrônico no banco do motorista, painéis internos emborrachados, instrumentos de leitura digitais, central multimídia de 10 polegadas, sistema de som Infinity com 10 autofalantes, silêncio a bordo nas altas rotações, capacidade para sete passageiros, transmissão automatizada de dupla embreagem e motor turbo 2.0 de 210 cavalos e 30 quilos de torque.

Um veículo europeu ou norte-americana, certamente... Poderia ser, mas é um utilitário esportivo produzido no polo industrial de Hefei, na província de Anhui, China, na fábrica da Anhui Jianghuai Automobile Co. Ltd., mais conhecida no ocidente como JAC Motors. Fundada pelo governo chinês em 1964 para produzir caminhões comerciais, a montadora só foi autorizada a fabricar veículos de passageiros e utilitários esportivos no ano 2000 e, ao que parece, aprendeu rápido. Ela chegou ao Brasil em 2009 e seu mais recente produto, descrito acima, é o JAC T80, vendido como Refine S7 em seu país de origem.

Completando 10 anos entre nós, a JAC não é mais considerada estreante entre as players do mercado doméstico. Mesmo porque ela esgotou sua cota de erros em um meio que nem sempre concede uma segunda chance a quem deixa de cumprir promessas. Tendo como parceiro no Brasil o Grupo SHC, do empresário Sérgio Habib, a montadora anunciou a construção de uma fábrica em Camaçari, na Bahia, para depois voltar atrás. Com isso, a JAC precisará resolver junto ao governo baiano o impasse da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que lhe foi concedida.

Uma nova fábrica foi anunciada para este ano, em Itumbiara, Goiás, onde a montadora assumirá as instalações do Grupo HPE, proprietário das marcas Suzuki e Mitsubishi no Brasil e cujas linhas de produção foram transferidas para Catalão (GO). Nelas, a JAC pretende montar os modelos T40 e T50. De acordo com fontes da empresa, os investimentos chegam a R$ 200 milhões e deverão gerar 820 empregos diretos e indiretos.

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Uma rede de 50 concessionárias – segundo a própria montadora – e a importação para o Brasil de veículos da categoria premium como a de um T80, que em nada lembra os primeiros carros chineses que aqui chegaram, sugerem que a montadora merece uma renovação de crédito. Para tirar a prova, um modelo 2019 desse novo utilitário esportivo, com cerca de 4.400 quilômetros rodados, cotado no mercado a R$ 145.990,00 – é o chinês mais caro do mercado brasileiro –, esteve em julho sob a direção da reportagem do Oficina Brasil Mala Direta para ser submetido à apreciação de um selecionado grupo de reparadores.

As oficinas escolhidas foram a Carbu-Box, de Itaquera, zona leste de São Paulo (SP); a Top Stop, do bairro da Lapa, zona oeste paulistana; e a High Tech Oficina Mecânica, da mesma região. Nelas, o SUV foi analisado por:
Mateus Sandraque e Márcio David de Souza.

JAC T80 traz boa reparabilidade, powertrain robusto  e confirma salto de qualidade entre carros chineses

Reparador desde os 12 anos, Márcio de Souza aprendeu a profissão com um tio, capacitou-se através de um curso técnico no Senai do Ipiranga e já aos 18 anos comandava a própria oficina. Para erguê-la, Márcio não hesitou em demolir uma velha casa e construir um sobrado por cima. Como resultado do esforço, a Carbu-Box está há 22 anos no mesmo ponto – rua Paulo Lopes Leão, 209, em Itaquera.

O investimento nas instalações foi recompensado com um bom movimento. “Na maioria das vezes, precisamos atender com hora marcada e mediante um agendamento”, confirma o reparador. A Carbu-Box também se tornou uma referência em reparação automotiva no bairro da zona leste da cidade, cativando uma clientela fiel que já caminha para a segunda geração. “Filhos dos primeiros clientes já confiam seus carros aos nossos cuidados”, garante Márcio, hoje com 40 anos, e que conta com o auxílio do jovem Mateus, de 21 anos e há cinco como reparador, também formado pelo Senai.

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Edélcio Vaz e Ismael Aprígio da Silva, após trabalhar 25 anos como gerente de uma indústria metalgráfica de grande porte que se transferiu para o interior do país, o economista Edélcio Vaz, de 57 anos, entendeu que era hora de ter um negócio próprio. Em 2006, adquiriu o centro automotivo Top Stop que, hoje, funciona na rua Guaicurus 589, no bairro da Lapa, zona oeste paulistana. “Estamos aqui há cerca de um ano. Em relação ao prédio anterior, este é mais adequado à natureza do nosso trabalho, com 500 metros quadrados de área, seis elevadores e apenas um acesso para controlar a entrada e saída de veículos”, descreve o empresário, que se intitula como gestor, não como reparador. “Gerir uma oficina desse porte já é trabalho suficiente. Deixo a parte da produção a quem entende”, aponta Edélcio para Ismael Aprígio, 30 anos, nove dos quais vividos em oficinas e em vários cursos de especialização como os de osciloscópio, transmissão automática e mecânica diesel. “Entrei na profissão e me apaixonei pelos motores”, garante o reparador.

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Roberto Ghelardini Montibeller, estabelecida há 13 anos no bairro da Lapa, à rua Guaicurus 957, a High Tech Oficina Mecânica passou por um recente upgrade em suas instalações. Entre outras benfeitorias, a oficina de aproximadamente 500 m2 recebeu um novo piso de epóxi. As paredes também foram azulejadas e toda a estrutura recebeu uma pintura na cor branca com o objetivo de deixar o ambiente mais claro. “Os clientes elogiaram e o movimento aumentou em pelo menos 40%. Antes atendíamos uma média de 80 veículos por mês e, agora, chegamos a quase 120. Em seis meses recuperamos o investimento”, calcula o empresário e reparador Roberto Montibeller, graduado em mecânica pela Escola Técnica Urubatan e com vários cursos de especialização no Senai. Aos 53 anos e há 33 de profissão, Roberto leva adiante a tradição de uma dinastia de reparadores fundada pelo avô Lázaro que, nos anos 1940, adaptava veículos que voltavam da Segunda Guerra em caminhões para recolhimento de lixo, e teve prosseguimento com o pai, Sérgio, que, com mais de 80 anos, mantém sua própria oficina. 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES 

Normalmente, esse tópico começa pelos reparadores descrevendo algum detalhe da carroceria ou do interior do veículo, mas com o JAC T80 foi diferente. O que inicialmente chamou atenção de Roberto Montibeller, da High Tech, primeira oficina visitada pela reportagem, foi a cobertura sobre o motor HFC4GA3.4D do utilitário esportivo e que demandou algum trabalho para ser retirada. “Uma característica de um veículo verdadeiramente premium”, observou o reparador, “e que certamente contribui para um uma eficiência térmica e maior silêncio no habitáculo, além da manta sobre a parte interna do capô”.

JAC T80 traz boa reparabilidade, powertrain robusto  e confirma salto de qualidade entre carros chineses

Roberto também destacou o painel interno e das portas com elementos imitando fibra de carbono e material de toque suave, de espuma injetada e couro, que também está nos bancos, e a saída de ar- condicionado para os passageiros da segunda fileira. O entre-eixos de 2,75 metros, um dos maiores da categoria, e o assoalho quase plano ainda permitem aos passageiros desse banco maior espaço para pernas.

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“Se rebatermos os bancos da terceira fileira, a capacidade do porta-malas chega a 620 litros, e se fizermos o mesmo com os da segunda sobe para 1.550 litros”, avaliou Ismael Aprígio, para quem algumas pessoas terão dificuldade para abaixar a tampa do porta-malas, bem pesada. “Poderiam automatizar o seu fechamento, já que pensaram em tantos detalhes”, lembra. O reparador também gostou da câmera com visão de 360º , que ajuda nas manobras, e do painel de leitura 100% digital  com três opções de leiaute – clássica, moderna e digital. Embora o T80 tenha sido desenvolvido no Centro de Design da JAC Motors, em Turim, Itália, sua frente, com longo capô curvilíneo e vincado, para Márcio de Souza, lembra a alemã Porsche Cayenne, e a traseira, o japonês Toyota SW4. “O acabamento interno, com esse teto solar panorâmico (foto 12), supera os da linha Mitsubishi Eclipse. Show de bola!”, classifica o reparador.

AO VOLANTE

Romper a inércia de um utilitário esportivo de 4,79 metros de comprimento e 1.775 quilos exige potência e isso o motor HFC4GA3.4D de 210 cavalos e 30,6 kgfm de torque não nega. “O T80 tem arrancada forte, embora o motor seja silencioso. A turbina acorda antes dos dois mil giros e garante torque em baixas rotações e nas subidas mesmo com o ar-condicionado ligado”, confirma Roberto Montibeller. Segundo ele, a suspensão independente nas quatro rodas passa bem por lombadas e buracos, copiando com competências as imperfeições do terreno. “Nenhum SUV é, por princípio, muito confortável. Assim, a traseira é um pouco áspera, mas a frente nem tanto. Em ruas de calçamento, o carro absorve o relevo da pista. A visibilidade é excelente para um carro desse porte e a posição alta de dirigir ajuda. No trânsito urbano, o T80 esterça bem e tem desenvoltura. No trecho urbano da Via Anhanguera, chegamos 140 km/h mantendo dois mil giros, bom nível de silêncio interno e um volante de pegada segura. Nota 10 para a dirigibilidade”, define Roberto.

“O motor é forte embora o câmbio apresente um delay nas passagens que atrapalha um pouco em retomadas e ultrapassagens, talvez devido ao peso do carro”, cogita Márcio de Souza. “Por mais que um SUV não tenha o conforto de sedã a gente espera mais maciez de veículos de uma categoria premium. Mas no caso do T80, o comportamento da suspensão é adequado. A acústica excelente faz o carro ser silencioso nos giros mais altos. Para um veículo longo a visibilidade traseira é razoável e as colunas internas não atrapalham. Ele anda bem no trânsito urbano apesar do seu grande tamanho, porque é fácil de manobrar graças à direção elétrica de pegada leve, mas que não engana o condutor”, completa o reparador. “Demonstra mais conforto na estrada do que na cidade, onde a suspensão se mostra mais seca”, compara Ismael Aprígio, que confirmou a impressão de delay entre algumas marchas. “Acho que isso se deve à falta de um ajuste fino entre motor e câmbio que pode ser revisto pela engenharia”, acredita.

MOTOR

Retiradas as coberturas plásticas, o JAC T80 revelou seu motor HFC4GA3.4D  em bloco de ferro fundido, cabeçote e cárter de alumínio, com duplo comando para as 16 válvulas, acionado por correia dentada, variador de fase para o comando de admissão e injeção multiponto. Movido apenas a gasolina, o motor turbo de dois litros (1.997 cm3 reais) e quatro cilindros, que entrega 210 cavalos a 5.000 rpm e um torque máximo de 30,6 kgfm a 1.800 rpm, é hoje produzido pela JAC Motors. Para tanto, a montadora chinesa absorveu a tecnologia da sua parceira austríaca AVL (Anstalt für Verbrennungskraftmaschinen List), a mesma que ajudou a Ferrari a desenvolver motores V6 turbo de competição para a Fórmula 1.

JAC T80 traz boa reparabilidade, powertrain robusto  e confirma salto de qualidade entre carros chineses

O propulsor do T80 impressionou bem. “À medida que tirava as coberturas do motor, admirava o que via: os chineses estão se aprimorando, absorvendo conceitos positivos dos europeus e norte-americanos. O cofre é espaçoso e mesmo que seja preciso desmontar uma ou outra peça não há dificuldade quanto ao acesso. A reparabilidade é excelente. Aqui não tem nada que só um chinês vá entender. Ao contrário, qualquer reparador hábil pode realizar uma boa intervenção. Sua configuração remete um pouco ao motor Zetec da Ford, o que é uma boa referência”, descreve Roberto Montibeller. Segundo o reparador, uma troca de sua correia dentada, por exemplo, pode ser feita em meio dia de oficina. “Calculo cerca de quatro horas para remover o coxim hidráulico superior do motor, apoiá-lo, tirar a capa de proteção de correia (foto 17) e efetuar o procedimento”, estima Roberto. Outros exemplos de praticidade? “O acesso ao filtro de ar, por gaveta, e as janelas na churrasqueira para se chegar às torres dos amortecedores. Ideias simples, funcionais e que economizam horas de trabalho”, interpreta o reparador.

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“A manutenção básica como a troca de filtro de ar, velas, bobinas, limpeza de bicos injetores e do corpo de borboletas está bem facilitada”, aponta Márcio de Souza, que considerou excelente o posicionamento do turbo (foto 20), bem próximo ao coletor de escape. “Cedo ou tarde teremos que fazer uma intervenção ali ou na mangueira de pressurização. Da mesma forma, o intercoller está bem localizado. Então é melhor que tudo esteja acessível, visível e, se possível, perto”, deseja Márcio. Segundo o reparador, o que tende a dar um pouco mais de trabalho será o radiador, em caso de uma necessidade de remoção, embora o eletroventilador esteja acessível. “O que complicaram mesmo foi a posição do filtro de óleo, do tipo refil, meio escondido entre o conector do módulo do ABS e dos dutos do ar- condicionado. É uma peça que precisará ser trocada com frequência”, alerta Márcio. 

“É um motor que merece no mínimo uma nota oito pela sua boa reparabilidade. E só não ganha nota maior porque poderia ser um pouco mais eficiente. Um motor turbo, com essa cavalaria toda, precisava ter injeção direta, pois uma injeção multiponto provoca certa perda de potência. Também uma corrente de comando seria mais adequada do que uma correia dentada”, opina Ismael Aprígio. “Sim, do ponto de vista tecnológico, o motor decepciona um pouco, embora acho que vá atender plenamente a expectativa de quem espera um carro com um comportamento mais familiar e menos esportivo”, completa Márcio de Souza. “Feitas todas as considerações, o que mais importa para nós é que se trata de um motor fácil de trabalhar e que, portanto, será bem recebido nas oficinas”, determina Roberto Montibeller. 

TRANSMISSÃO

Nada de Aisin, Jatco, ZF Friedrichshafen, Allison Transmission, BorgWarner ou Getrag. A caixa de transmissão automatizada de seis velocidades e dupla embreagem a seco utilizada pelo T80 foi desenvolvida e é produzida pela própria JAC Motors. A embreagem do tipo DCT (Dual-Clutch Transmission) do T80 não utiliza conversor de torque, mas um equipamento controlado eletronicamente para comandar as duas embreagens simultaneamente – uma para engrenagens ímpares e outra para as pares –, eliminando a necessidade de pedal. O sistema ainda ajusta o tempo e a velocidade do acionamento para as passagens de marchas serem suaves e, principalmente, rápidas. Trata-se do tipo de transmissão mais utilizada entre os veículos esportivos de alto desempenho e os de categoria premium como é o caso dos câmbios PDK da Porsche e os DSG da Audi e de alguns modelos top de linha da Volkswagen.

Os reparadores consideram dentro do padrão as grandes dimensões – tamanho e peso – da caixa de transmissão do T80. “É compatível com a configuração de um câmbio automatizado de dupla embreagem e seis velocidades. Os DSG da Audi não são menores”, compara Márcio de Souza. “A caixa precisa acoplar duas embreagens e o seu volante bimassa requer mais espaço, diferente de um câmbio manual”, explica Roberto Montibeller. “O que importa é que sua mecatrônica e comando de válvulas estão bem protegidos e há um espaço razoável, de aproximadamente cinco centímetros, entre a caixa e o quadro frontal, que a protege de alguma colisão frontal”, completa o reparador. “A caixa também está bem calçada por dois coxins inferiores, um à frente e outro em sua parte traseira”, aponta Ismael Aprígio.

Conforme o registrado pelos reparadores do tópico Ao volante, a transmissão do T80 apresenta um ligeiro delay na passagem de algumas marchas que, segundo eles, deve-se à falta de um ajuste fino entre motor e câmbio e que pode ser resolvido pela engenharia da JAC. A rigor, segundo os reparadores, a transmissão funciona a contento na maior parte do tempo, mas retarda um pouco as respostas nas retomadas – revela indecisão entre a primeira e a segunda velocidades – o que acaba reduzindo as marchas além do necessário. Há, ainda, a possibilidade de se fazer as trocas manualmente através da própria alavanca – o T80 não disponibiliza borboletas ou paddle shifters – posicionando-a no modo ‘S’, de Sport. O que ajuda bastante o condutor a fazer uma leitura do comportamento da transmissão é que no modo D, Driving, a marcha em uso é mostrada no painel de leitura dos instrumentos. 

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO

Mesmo produzindo motor e transmissão do T80, os chineses da JAC Motors não revelam sobre qual plataforma o utilitário esportivo é montado. É certo, porém, que ele não vem sobre a antiga base do J5, pois o novo SUV emprega suspensão independente com sistema multibraço na traseira. À frente, o T80 traz suspensão tipo MacPherson, independente, e discos ventilados. Atrás, discos sólidos. A caixa da direção (foto 31) tem assistência elétrica e permite um diâmetro mínimo de giro de 12 metros. O conjunto trabalha sobre rodas de liga leve aro 18 e pneus 235/60 da coreana Kumbo. Como o anotado pelos reparadores no tópico Ao volante, ele proporciona desempenho adequado ao veículo, entendendo-se por isso que ele supera o comportamento macio em demasia da maioria dos veículos chineses.

O T80 mostra uma suspensão típica de SUV: sem prejudicar o conforto, ele copia o relevo das pistas e, apesar de suas dimensões avantajadas, a carroceria não rola nas curvas mais fechadas. 

JAC T80 traz boa reparabilidade, powertrain robusto  e confirma salto de qualidade entre carros chineses

Segundo os reparadores, a qualidade do undercar do T80 está acima da média dos veículos nacionais. “O quadro da suspensão traseira permite fazer ajustes de alinhamento, cambagem e convergência e isso é excelente para as oficinas. Não é todo carro que proporciona isso”, reconhece Roberto Montibeller. “Outra praticidade é que nas rodas traseiras você pode trocar o cubo completo sem precisar extrair os rolamentos. Isso facilita nosso trabalho. Na verdade, aqui o reparador consegue trabalhar sozinho na maioria das vezes, exceto se for para fazer algo mais pesado como a troca de um escapamento”, emenda o reparador, que elogiou a espessura do semieixo, da manga de eixo  e as bandejas reforçadas de chapa dobrada. “Tudo aqui, passando pelos pivôs fortemente parafusados e pelo pistão duplo nas rodas dianteiras, passa a ideia de robustez. O carro está aprovadíssimo”. 

A impressão foi generalizada. “O compressor do ar-condicionado  é bem vitaminado, o agregado  tem uma estrutura que passa a ideia de resistência em caso de impacto, protegendo as laterais do caixa de transmissão e o cárter do motor. As buchas do agregado, igualmente, parecem fortes, possibilitando até uma troca caso não seja necessário trocar todo o agregado. Os discos ventilados das rodas dianteiras chegam a 380 milímetros e não deixam dúvida quanto à eficiência. Em resumo, esse undercar merece nota 10 pela robustez”, classifica Ismael Aprígio. “Já vi carros 4x4 com estrutura menos robusta do que essa, com braços da suspensão independente traseira menos espessos. Embora o material desses componentes seja mais importante a espessura dos braços também é um sinal de qualidade”, aquilata Márcio de Souza. 

ELÉTRICA, ELETRÔNICA E CONECTIVIDADE

Como não poderia ser diferente para um carro chinês que precisa conquistar participação no mercado e a atenção dos compradores, o JAC T80 busca impressionar pela quantidade de itens de série de segurança, conforto e infotenimento. E consegue. Alguns desses itens já foram apresentados ao longo desta matéria, como massageador eletrônico no banco do motorista, instrumentos de leitura digitais, central multimídia de 10 polegadas, sistema de som da marca Infinity com 10 autofalantes, sistema de auxílio de estacionamento com câmera 360º, piloto automático, teto solar panorâmico, ajuste elétrico para os bancos dianteiros, faróis com acendimento automático e luzes diurnas de LED. 

JAC T80 traz boa reparabilidade, powertrain robusto  e confirma salto de qualidade entre carros chineses

Ao pacote de perfumaria some-se os recursos tecnológicos verdadeiramente úteis, como os obrigatórios freios ABS, com BAS (que aumenta o poder de frenagem em situações de emergência) e BOS (cancela a aceleração quando se pisa simultaneamente em freio e acelerador), controles eletrônicos de tração e  estabilidade, sistema de partida em rampa e auto-hold (mantém a pressão aplicada nos freios quando o carro é freado até parar). Um aviso dos reparadores: o T80 ainda fica devendo importantes recursos de condução semi-autônoma e de segurança que veículos de sua categoria já incluem, como controle de cruzeiro adaptativo, alerta de mudança de faixa não intencional e frenagem automática para evitar colisões.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO 

Tratando-se de um carro chinês é onde o bicho costuma pegar. Desta vez, no entanto, talvez conquistados pelo poderoso powertrain do JAC T80 e seu luxuoso acabamento, os reparadores relativizaram eventuais deficiências no abastecimento de peças de reposição no mercado nacional por parte das montadoras chinesas. “Peguei veículos da JAC em minha oficina para fazer a troca de embreagem e não tive problemas em encontrar o kit de peças.

Mas há colegas que comentam que há espera para outras situações. Se a JAC quiser mesmo ter sucesso por aqui precisará garantir a reposição de peças de alto giro como terminal de direção, pinça de freio, pastilhas, vela, braços axiais, filtros, óleos e fluidos. Sem falar da lataria”, projeta Roberto Montibeller, para quem os seis anos de garantia não significam que os proprietários ficaram todo esse tempo presos às concessionárias. “Se o preço das revisões pesar no bolso eles nos procurarão bem antes disso, e precisaremos encontrar as peças nos distribuidores independentes”, argumenta.  

“Nas poucas ocasiões em que os veículos da JAC encostaram por aqui encontramos as peças de um jeito ou de outro. Mas deixamos claro aos clientes que a espera por elas pode se prolongar. Na prática, entretanto, esse tempo não tem passado de três dias, o que já é demais para quem precisa do carro para trabalhar. Com mais fornecedores independentes o prazo poderia chegar a 24 horas”, estima Ismael Aprígio. Na extrema zona leste da cidade de São Paulo, Márcio de Souza ainda não teve a experiência de reparar nenhum veículo da marca. “Apenas ouço entre os colegas comentários que o fornecimento de peças para essa linha ainda precisa melhorar”, observa.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Se o fornecimento de peças espera por dias melhores não seria com as informações técnicas relativas aos veículos da marca que os reparadores estariam satisfeitos.

“No máximo, conseguimos entrar com um scanner para fazer um diagnóstico, pois a literatura técnica disponível é zero, incluindo aí as enciclopédias automotivas. Claro que conseguimos realizar uma manutenção básica como trocar velas, pastilhas e outras peças, mas caso seja necessário fazer uma intervenção mais a fundo na parte eletrônica do veículo poderemos ficar devendo. Sem um esquema elétrico, que ainda não temos onde achar, o reparador fica perdido”, admite Roberto Montibeller.

“O Sindirepa dispõe de algumas informações técnicas em inglês a respeito dos veículos chineses, mas o entendimento e a tradução são um tanto complicados. Acho melhor acionar a internet e chegar aos sites norte-americanos ou europeus, pois, com o auxílio de vídeos e imagens, há um melhor aproveitamento do conteúdo. 
Em português ainda não encontramos nada de muito técnico em relação a esses veículos”, relata Ismael Aprígio.

RECOMENDAÇÃO

Feitas todas as análises e considerações, o JAC T80 mandou bem entre os reparadores e está pronto para ser admitido em muitas garagens do País que anseiam por um utilitário esportivo de categoria premium. Mas é bom prestar atenção às observações dos nossos profissionais.

“O carro é bom, confortável, com acabamento caprichado e reparabilidade descomplicada. Tem uma estrutura forte, com bom torque e dirigibilidade excelente. Alguém pode ter receio em relação à reposição de peças, mas a montadora oferece seis anos de garantia. Se ela não honrar seu compromisso estará dando um tremendo tiro no pé. Eu recomendo a compra. Um carro desse perfil, se fosse europeu, custaria muito mais.” Roberto Montibeller

“O veículo passa segurança, boa dirigibilidade, fácil reparabilidade e tem um excelente acabamento, além de robustez. Seu custo-benefício é excelente, pois um carro com esses recursos custaria muito mais se fosse europeu, japonês ou norte-americano. A dúvida que fica, claro, é em relação ao after marketing, em particular a reposição de peças. Com seis anos de garantia, no entanto, eu entendo que sua compra vale a pena. Recomendo, sim.” Márcio David de Souza

“Não me parece ser um carro que alguém vá se arrepender se comprar. Excelente reparabilidade, acabamento caprichado, espaçoso, obediente na dirigibilidade e bastante robusto. Para mim é mais familiar do que esportivo. Quanto às peças, a montadora não será irresponsável a ponto de comprometer a reposição. Sim, recomendaria sua compra.”
Ismael Aprígio da Silva  

Dados técnicos do motor, mecânica e medidas

Cilindrada: 1.997 cm3
Combustível: gasolina
Motor: instalação dianteiro, transversal
Código do motor: HFC4GA3.4D
Aspiração: turbocompressor
Número de cilindros: 4 em linha
Diâmetro dos cilindros: 85 mm
Número de válvulas: 4 por cilindro
Curso dos pistões: 88 mm
Alimentação: injeção multiponto
Comando de válvulas: duplo no cabeçote, correia dentada
Taxa de compressão: 8,5:1
Potência máx.: 210 cv a 5.000 rpm
Potência específica: 105,16 cv/litro
Peso/potência: 8,45 kg/cv
Peso/torque: 58,01 kg/kgfm
Torque máx.: 30,6 kgfm a 1.800 rpm    
Torque específico: 15,32 kgfm/litro
Velocidade máxima: 217 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 9,2 s
Transmissão: automatizada de 6 marchas
Tração: dianteira
Direção: assistência elétrica
Suspensão: MacPherson (d), multibraço (t)
Freios: discos ventilados (d) e sólidos (t)
Porta-malas: 500 litros (5 lugares)
Tanque: 64 litros
Peso: 1.775 kg
Altura: 1.760 mm
Comprimento: 4.790 mm
Largura: 1.900 mm
Distância entre-eixos: 2.750 mm
Pneus:     235/60 R18 (d/t)
Diâmetro mínimo de giro: 12 m

Consumo km/l    cidade        estrada
Gasolina               6                   10
Classificação na categoria: utilitário esportivo médio
 

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