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I30 tem suspensão frágil e Hyundai peca por falta de atenção ao mercado independente

Com mercado de peças concentrado nas concessionárias da marca e sem programa voltado aos reparadores, estes ficam de ‘mãos atadas’ na manutenção do modelo e evidenciam que garantia de cinco anos não funciona

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Por Da Redação


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Com mercado de peças concentrado nas concessionárias da marca e sem programa voltado aos reparadores, estes ficam de ‘mãos atadas’ na manutenção do modelo e evidenciam que garantia de cinco anos não funciona

Nos anos 90 a Hyundai fez a primeira tentativa de ingresso em nosso mercado, mas sem muito sucesso. Todos achavam que essa história havia acabado, mas em meados de 2005, juntamente com a ascensão mundial da marca prometendo veículos de alta tecnologia a um custo inferior aos praticados pelas outras montadoras, a Hyundai trouxe ao nosso país a Tucson. Embarcados no sucesso, em meados de 2009 chegou o I30, segundo modelo comercializado por aqui.

De início, podemos dizer que a aceitação da Hyundai pelo mercado não foi tão simples assim. Os veículos dos anos 90 possuíam baixa qualidade e quando a marca decidiu sair do nosso mercado, deixou muitos proprietários e reparadores “a ver navios” sem peças e sem informações técnicas. Portanto, o medo de uma repetição do cenário foi notório.

Mas e agora após tantas mudanças, será que após a compra do veículo as rotinas de manutenção fazem deste sonho bom algo tão bom assim? Veremos no decorrer da matéria que a tão propagada garantia de cinco anos não funciona e que clientes tem desistido dos veículos devido ao alto custo das peças de reposição.

NA OFICINA
Foto 1Para sabermos como se comporta este veículo, visitamos alguns reparadores, e dentre eles, conversamos com Fabio Alves Pereira da oficina Binhos Car Service de São Bernardo do Campo-SP, onde este nos contou que atende pelo menos três carros da marca Hyundai por mês em sua oficina. Comprovando os números, encontramos um exemplar do veículo de ano 2010 que estava com 82359km rodados, ainda em garantia, e já apresentava falha. É o que contou Fabio: “O cliente nos trouxe o veículo reclamando que o motor não pegava mais. Ao verificar o motivo, detectei que o motor de partida (Foto 1) estava avariado e ao abri-lo, notei desgaste nas escovas e no rotor, necessitando a troca destes e limpeza do conjunto para solucionar a falha”. 

Foto 2

“Um componente interessante de relatar é um dispositivo localizado ao lado direito do motor (Foto 2). Este tem a função de regular a velocidade de cruzeiro através de um comando eletromecânico controlado pela UCE travando o cabo do acelerador na velocidade que o condutor solicitou”, disse Fabio.

Fabio acrescentou uma informação importante: “Os proprietários destes veículos reclamam muito do alto custo das manutenções feitas nas concessionárias. Assim, atendo muitos veículos que ainda estão no período de garantia onde os clientes pedem para que eu faça as revisões necessárias. Nestas geralmente efetuo trocas de filtros em geral incluindo o de cabine, e o filtro de ar substituo a cada 20.000km. Troco também o fluído do sistema de arrefecimento (Foto 3) quando necessário e componentes do sistema de freio (Foto 3A)”.

Foto 3 e 3A

Fabio ainda comentou sobre um dos principais motivos pelos quais os seus clientes abandonam as concessionárias: “A revisão de 20.000km nas concessionárias fica em torno de R$ 3.000,00, mas conosco o serviço sai muito mais em conta, acrescentando o fato do dono preferir nosso trabalho por confiar que será realizado corretamente”.

DEFEITOS RECORRENTES

Entramos em contato com outros profissionais para sabermos o que cada um pode nos dizer sobre este Hyundai. Suas experiências e pontos de vista seguirão no decorrer desta matéria.

O Reparador Daniel Kawashima (Foto 4) da empresa Super G comentou sobre a partir de quando começa a atender o I30: “Tenho atendido estes veículos já a partir dos 40.000km rodados”. Sobre o mesmo tema, o reparador Ocimar de Souza Garcia (Foto 5) da Gigio’s Car Service disse: “Atendi veículos na oficina só com quilometragem acima dos 60.000”. Já o reparador Reginaldo Kuboyama (Foto 6) da Tokio Car Service mostrou outra realidade: “Atendo este veículo desde a sua vinda para o Brasil, portanto desde 2009 e todos a partir dos 30.000km, sendo a grande maioria no período de garantia”.

Foto 4, 5 e 6

Foto 7

Quando questionado quanto a frequência destes veículos em sua oficina, o reparador Daniel respondeu: “Atendo estes veículos desde 2010 e do total que atendo mensalmente, pelo menos 6% são da Hyundai”. Já Danilo Tinelli (Foto 7) comentou: “Atendi já uns cinco modelos 2010, mas posterior a isso não me lembro de nenhum. O curioso é que os proprietários me falam que também não costumam levar na concessionária por conta do custo muito elevado das revisões, assim, acredito que eles façam apenas troca de óleos e filtros do veículo e manutenção preventiva que é bom nada. Estão deixando o carro se deteriorar mesmo”.

MOTOR

“Não vejo dificuldade no reparo deste veículo. Sua mecânica é muito semelhante à utilizada pela Toyota, mas só se assemelha, pois não tem peças em comum”, observou Daniel.

Foto 8

Foi a mesma observação que o reparador Ocimar fez: “A mecânica (Foto 8) desse veículo é parecida com os Toyotas, mas só no visual. Também não tenho observado esta mecânica em nenhum outro modelo da marca, pois em outras montadoras verificamos que há compartilhamento de peças entre modelos da mesma fabricante”.

Já Danilo observou: “Gosto de reparar estes veículos por um fato básico, para desmontar seus componentes não há diversos tipos de parafusos, apenas os sextavados. Isso facilita muito nosso serviço, pois nas outras montadoras há uma mistura excessiva de tipos, onde em nosso carrinho de ferramentas fica uma bagunça com chaves torx, sextavada, allen, estriada, enfim, dessa forma é muito mais simples, sem contar que o motor não é todo ‘carenado’ facilitando o acesso às peças”.

Fabio seguiu com o mesmo ponto de vista: “No motor não vejo dificuldades no reparo. Ele é bem rústico e praticamente quase não tem carenagens. Os acessos são fáceis e as ferramentas cabem com tranquilidade, sem grandes dificuldades”.

“Utilizo óleo sintético 5W30 e no líquido de arrefecimento utilizo o de cor rosada na proporção de 60% em relação à agua”, recomendou Fabio.

Já o reparador Paulo Pedro Aguiar Jr da oficina Engin comentou: “Peguei um caso em que o cliente reclamou de barulhos com o motor frio e quando ligava o ar condicionado. Quando fui conferir, o defeito estava no tensionador da correia poli-v”.

“Já atendi alguns veículos apresentando falhas no sistema de ignição e marcha lenta oscilando, onde para solucionar o problema geralmente é necessária limpeza do corpo de borboleta que é contaminado pelo blow-by”, acrescentou Ocimar.

O reparador Daniel orientou: “Uma manutenção que tem se tornado comum é a quebra do coxim hidráulico do motor. Quando isso ocorre, começam a aparecer barulhos nítidos e começa a vazar óleo. Para que saibam identificar, quem olha o veículo de frente, é o coxim que fica do lado esquerdo (Foto 9)”.

“A quantidade de sensores, atuadores e eletrônica incorporada é bem grande. Apesar de não ter tido nenhum inconveniente até o momento, acredito que quando tudo isso começar a dar problema vai dar muita dor de cabeça para quem não estiver preparado. Nós já temos os equipamentos de diagnósticos necessários para o devido reparo e me sinto seguro, mas quem quiser trabalhar com este veículo deverá se preparar bem para não ser surpreendido”, observou Reginaldo.

CÂMBIO
Foto 10“No caso da transmissão (Foto 10), quando comparado a veículos de outras marcas, os proprietários do I30 tendem a deixar a manutenção de lado por conta do preço das peças, assim, mesmo quando é recomendado a troca do óleo do câmbio, estes não aceitam o serviço”, comentou Daniel.

“Pelo menos 85% dos clientes que atendi em minha oficina eram referentes a reclamações de barulho na transmissão automática. Atendi dois apenas para manutenções em transmissões mecânicas”, relatou Reginaldo.

Já o especialista Carlos Napoletano Neto acrescentou: “O I30, em termos de transmissão automática, tem dado alguns problemas aos seus usuários. A transmissão de quatro velocidades é uma A4CF1/2 produzida pela Mitsubishi, e tem dado problema nas mudanças de 3ª para 4ª e de 4ª para 3ª. Neste caso, a transmissão fica flutuando muitas vezes entre estas duas marchas e, algumas vezes, cai no neutro com o veículo rodando. O problema é o corpo de válvulas da transmissão, responsável pelas mudanças automáticas, e a fábrica tem recomendado a troca do corpo de válvulas  como solução paliativa. O novo corpo de válvulas parece ter resolvido o problema, mas os proprietários têm reclamado também da demora na troca deste componente”.

SUSPENSÃO
Foto 11“Outra questão que é muito importante é com relação à suspensão dianteira (Foto 11). Principalmente com o alinhamento de direção, pois a estrutura do veículo é frágil para o tipo de pneus largos que usa, assim temos de ter muita atenção aos seus componentes. Recomendo ainda que o alinhamento do I30 seja efetuado a cada 5.000km. Como o câmber deste carro é mais negativo, se a convergência sair da tolerância (o que não é difícil pelas características das nossas estradas e ruas esburacadas), fatalmente o cliente perceberá apenas quando o desgaste dos pneus for acentuado e somente a troca destes seja recomendado (Foto 11A)”, disse Fabio.

Fabio expôs a mesma situação e ainda completou: “Devido a ser um veículo baixo, quase sempre o câmber fica fora do especificado, porém, há para a venda um kit de parafusos excêntricos que facilitam a regulagem deste ângulo”.

“Em alguns casos em que ocorriam trepidações em baixas velocidades, acreditávamos ser necessário o balanceamento das rodas, mas quando fazíamos o defeito permanecia. Este só foi solucionado quando efetuamos o balanceamento do semieixo dianteiro juntamente com as homocinéticas”, relatou Fabio.

“Já atendi alguns casos em que o veículo apresentava barulhos na suspensão dianteira. Ao efetuar o diagnóstico, detectei que a falha era causada por folga na haste do amortecedor, assim, apenas o substituindo o defeito cessou, porém, percebo que nas versões mais novas isso não ocorre com tanta frequência”, disse Daniel.

Mesma situação apontou o reparador Reginaldo: “Os amortecedores e seus batentes são substituídos com mais frequência por conta de barulho e folga nos coxins de fixação superior”.

Ocimar ainda acrescentou: “Já peguei alguns modelos em que necessitei substituir as bieletas. Vejo que tem se tornado uma falha recorrente”.

Sobre a suspensão, Reginaldo ainda acrescentou: “Acredito que essa sequência de falhas ocorridas com a suspensão se dá devido a esta ser muito dura e, associada aos pneus de perfil muito baixo, faz do conjunto bem problemático”.

FREIOS
Com relação a este sistema, Fabio comentou: “Nestes veículos reforço que a atenção com os freios dianteiros deve ser redobrada. Tenho notado que a substituição das pastilhas de freio ocorrem de 20.000km em 20.000km e, se o veículo for dotado de transmissão automática, este período é reduzido para a cada 17.000km”.

“Ainda não precisei atuar com isto, mas notei que para removermos a central ABS será necessária a desmontagem de diversos outros componentes”, completou Fabio.

Finalizando, Ocimar confirma o que foi anteriormente dito: “Outro item de manutenção corriqueira é o sistema de freios dianteiros. O desgaste das pastilhas é bem acentuado neste modelo principalmente se for automático”.

AR CONDICIONADO
Foto 12O sistema de ar condicionado do Hyundai I30 têm é equipado com um compressor VS 16M de fluxo variável de 160cm³ fabricado pela Coreana - HALLA CLIMATE CONTROL (Foto 12). A carga de fluido refrigerante R134a é de cerca de 550g e utiliza cerca de 180 ml de óleo.

As principais peças já são encontradas nos distribuidores especializados, como: evaporador, radiador de ar quente, condensador, compressor, ventilador interno, resistor da ventilação interna, filtro secador e filtro antipólen.

Foto 13

As poucas passagens que tivemos em nossa oficina deste modelo ainda estavam cobertas pela garantia do fabricante. Como mangueiras, compressor e evaporador com vazamentos.

O filtro antipólen fica alojado atrás do porta-luvas e é de fácil acesso, sua substituição é recomendada a cada 6 meses, dependendo do uso.

No porta-luvas há uma saída de ar refrigerado (Foto 13) vinda do evaporador, o que possibilita transportar um chocolate em viagens.

O comando do ar condicionado é um pouco frágil (Fotos 14 e 14A), caso o botão seja pressionado com um pouco a mais de força, o botão pode quebrar a placa de comando, neste caso é necessário trocar todo o comando.

Foto 14 e 14AAs válvulas de serviço são de fácil acesso, no cofre do motor do lado do passageiro. (Fotos 15 e 15A)

Foto 15 e 15AA válvula de expansão (Foto 16), apesar de normalmente não apresentar problemas é de fácil acesso atrás do motor.

Foto 16

O monitoramento de pressão do fluido refrigerante é feito por um Transdutor de pressão (3 pinos) que se comunica com o módulo de injeção.

O condensador possui apenas um eletro ventilador que também serve ao radiador.

Resumindo: o sistema de ar condicionado é bom, eficiente e de baixa manutenção.

PEÇAS E INFORMAÇÕES
Sobre estes temas de vital importância para a correta  manutenção dos veículos, as oficinas independentes encontram algumas dificuldades com a marca coreana.

“Esta montadora de todas é a pior! Muito ruim no quesito ‘informações técnicas’. Percebo que até a própria concessionária tem esta dificuldade pois quando recorro a ela também não consigo nada. Quando preciso de algo procuro então os canais convencionais como a internet, empresas especializadas como DR IE e Sindirepa. Mas quando não consigo o que preciso, vou na raça mesmo”, reclamou Fabio.

O reparador Ocimar também comentou: “Como não trabalhei tanto com estes veículos, ainda não precisei de muitas informações técnicas. Porém, percebo que a marca tem o objetivo de concentrar tudo na concessionária mas, em minha opinião, isso é ruim para ela, pois não passam tudo o que precisamos e também não atendem satisfatoriamente os clientes oferecendo um serviço de alto custo. Vai chegar em um ponto em que ninguém vai querer estes carros”.

“Baseando-se no que a montadora tem apresentado até então acho que não vai ser fácil conseguirmos informações técnicas com eles. Em contra partida, acredito que empresas especializadas nesse segmento logo logo devem começar a fornecer algo, claro que se a demanda for interessante para eles. Agora, quando estes carros começarem a aparecer com mais frequência nas oficinas, aí sim nosso problema será grande”, acrescentou Danilo.

Daniel ainda completou: “Só consigo as informações técnicas através do Sindirepa ou então, recorro a outros reparadores que já tiveram contato com o veículo para me auxiliar”.

No quesito ‘peças’, os reparadores demonstraram que o cenário não é muito diferente mostrando que a visão da marca com o pós-vendas ainda é muito precário.

“Tenho muita dificuldade para encontrar peças. Em minha opinião isso é o que faz com que não seja vantojoso comprar este carro. Além disso, o custo da manutenção dele ainda é muito alto, pois dependemos muito das concessionárias para a aquisição de peças e, para fechar o pacote, ainda demoram para chegar quando pedimos”, disse Daniel.

Daniel completou: “Alguns itens como filtros e velas até que achamos no mercado independente, mas o resto é só na concessionária. Outra opção que encontrei foi comprar peças com alguns importadores. Neste cenário, minha rotina de compra fica em 80% de concessionárias, 10% em importadores e 10% em autopeças”.

O reparador Danilo Tinelli também comentou sobre o tema: “A grande maioria das peças eu só encontro em concessionárias mesmo. Olhando por este lado, porque investir em um veículo que você espera uma eternidade para receber as peças e ainda mais são caros. Ninguém quer ficar sem carro porque não tem como repará-lo. Infelizmente ainda temos esse cenário. Baseado nisso, no momento compro 80% das peças nas concessionárias e os outros 20% divididos entre autopeças e importadoras”.

Reginaldo apontou a mesma situação: “Salvo componentes do sistema de freios e filtros em geral, só encontro peças nas concessionárias, isso quando eu encontro e quase sempre tem um preço absurdo. Devido a essa situação compro 90% das peças nas concessionárias e os outros 10% em autopeças”.

Já o engenheiro Paulo apontou uma situação preocupante: “Tive um cliente que bateu um I30. Quando fiz o orçamento das peças e passei a ele, este quis fazer só o básico e chegou a vender o carro sem os faróis porque não quis pagar R$ 2.500,00 em cada um. Realmente é um preço elevadíssimo para uma peça que não tem tecnologia que justifique esse custo. Já está na hora da Hyundai abrir os olhos porque ela está começando a perder clientes por causa disso”.

Finalizando sobre o tema, o reparador Fabio comentou: “Não compro em concessionárias! Primeiro porque eles não têm, segundo, os valores são altíssimos. Até o momento as autopeças têm me atendido a demanda. Posso afirmar então que 85% dos itens compro em autopeças, 5% nas distribuidoras e o restante nas concessionárias. Além do péssimo atendimento das concessionárias eles não nos fornecem nada, nem peças e nem informações técnicas, assim é um tipo de carro que não recomendaria”.

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