Oficina Brasil


Ford Ranger americana é sinônimo de resistência e alto custo de manutenção

O veículo ultrapassa os 500.000km sem problemas quando a manutenção preventiva é realizada corretamente, porém intervenções corretivas podem causar problemas de difícil solução e preço elevado

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Por Arthur Gomes Rossetti


Avaliação da Matéria

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O elevador deverá estar em boas condições para conseguir suportar o peso do modeloNo veículo avaliado, o uso de água da torneira no sistema de arrefecimento corroeu componentes de alumínio do motor, o que resultou na necessidade de remoção do propulsor para diagnosticar o alto consumo de água.

A Ford Ranger foi lançada no mercado norte americano em 1983, com plataforma semelhante à Mazda série B, da mesma época. O motor disponível era o 4 cilindros a gasolina de 2.300cc, herdado do Ford Pinto e Maverick, e que futuramente equiparia (com diversas melhorias) a Ranger produzida na Argentina para o mercado brasileiro, isso a partir de 1997. Ainda na década de 80, os 80 cv do propulsor não eram suficientes e a versão 2.8 V6 surgiu com “bons” 115cv e maior torque.

Em 1989 a carroceria foi remodelada, com design idêntico ao da Ford Explorer comercializada no Brasil entre 1992 a 1994.

No ano de 1993 houve a grande mudança, tanto de carroceria, quanto estrutural. As primeiras unidades desembarcavam no Brasil por importadores independentes (versão Splash, famosa devido ao seriado SOS Malibu, ou Baywatch). O design ficou permanente até 1997. Havia duas versões de motor sob o capô, o 3.0 V6 a gasolina de 140cv e o 4.0 V6 também a gasolina de 162cv.

O modelo avaliado pelo jornal Oficina Brasil é a XLT americana ano 1997, 4.0, movida a gasolina/GNV, com 151.600 km rodados.

Check List
Ao aplicá-lo constatamos avarias no limpador e lavador de para-brisa, extintor de incêndio (validade vencida), ausência do triângulo de segurança, climatização (falta de gás refrigerante), vazamento de líquido de arrefecimento (o principal motivo da ida a oficina), luz de injeção acesa, folgas na suspensão e, o mais grave, os 4 pneus com profundidade dos sulcos abaixo de 1,6mm, sendo que os 2 traseiros estavam completamente “carecas”.

Através do documento foram gerados para a oficina os serviços acima citados, o que não aconteceria se houvesse a simples e isolada reparação do vazamento do líquido de arrefecimento.

O motor ocupa grande parte do cofre, mas há espaço para manutenção

Válvula EGR deverá ser mantida

Motor
A família de motores V6 a gasolina que equipa as Ford Ranger dos anos 90 mostra-se incrivelmente resistente de acordo com o Conselho Editorial. “É difícil se deparar até mesmo com ferrugem no líquido de arrefecimento”, afirmou Claúdio Cobeio, da Cobeio Car, empresa que atende cerca de 60 clientes (cadastrados) com o modelo. Três delas possuem respectivamente 350.000km, 400.000km e 610.000km rodados. A última citada pertence a um cliente que comercializa peças para caminhões em todo o Brasil. As três estão equipadas com GNV (gás natural veicular), visto o 4.0 aceitar muito bem o combustível.

Os 162cv de força e os 31,1 m.kgf (311 Nm) de torque a 2.750rpm, fazem do modelo um automóvel prazeroso de dirigir e valente quando carregado. Segundo o conselheiro Paulo Aguiar da Engin Engenharia Automotiva, o único “porém” é o consumo urbano, que fica na casa dos 4km/l. Na estrada a média é 7km/l. Este é o principal fator para a maioria das Ranger estarem atualmente equipadas com o combustível gás natural ou até mesmo álcool (convertida).

A caminhonete avaliada chegou à oficina com o seguinte problema: líquido de arrefecimento “sumindo” e luz de anomalia da injeção no painel acesa. O proprietário afirmou que não sabia o porquê do consumo excessivo de água no reservatório de expansão toda vez que parava para abastecer no posto, pois não era possível visualizar água caindo do motor.

Foram verificados tampa do radiador, mangueiras, reservatório de expansão (quanto a trincas) e radiador, porém a origem do vazamento não foi encontrada. Como havia a desconfiança de que o vazamento fosse proveniente da parte de trás do motor (selos do bloco e cabeçote), a sua remoção foi recomendada para início de diagnóstico.

Com o motor fora, após análise visual, descobrimos que o sub-coletor de alumínio (localizado entre o coletor de admissão plástico e bloco do motor) estava com folga entre a união com o já citado bloco, na região da galeria de arrefecimento. Ao remover o sub-coletor, constatamos que a ausência do aditivo e a utilização de água mineral (de torneira) resultaram na corrosão da peça, permitindo o espaçamento e consequente vazamento. O item foi enviado à retífica para enxerto e posterior aplanamento.

A bomba d’água teve de ser substituída, pois apresentou corrosão na região interna e na união com a mangueira de saída, o que também acarretava pequeno vazamento. Já a mangueira foi substituída preventivamente, assim como a válvula termostática.

Bomba d’água apresentou deterioração devido a reação química entre a água de torneira (mineral, ruim para o motor) e as partes metálicas

Corrosão entre o bloco do motor e sub-coletor foi o principal local a apresentar vazamentos do líquido de arrefecimento. Sua localização (na parte de trás do motor) exigiu a remoção por completo
Segundo o conselheiro Cláudio Cobeio da Cobeio Car, de 1999 para cá, apenas 4 Rangers de seus clientes apresentaram problemas de trincas na galeria de arrefecimento do cabeçote, em que foi necessária a troca da peça. Segundo ele, os cabeçotes estão cada vez mais difíceis de serem encontrados, sendo que nem a rede autorizada os possui.

Outro ponto a ser observado é o marcador de temperatura do painel, que costuma operar mais próximo da faixa “cold”, porém não significa que o motor ainda está “frio”, pelo contrário, ele estará na faixa ideal de funcionamento.

A polia viscosa do ventilador costuma ter ótima durabilidade, superior a veículos de outras marcas que também utilizam o sistema.

A luz de anomalia da injeção continuou acesa por haver problemas de mau-contato nos pinos do plug de diagnóstico do veículo, o que impediu o acesso aos parâmetros através do scanner. O reparo do plug não havia sido autorizado até o fechamento desta edição.

Em modelos equipados com GNV é comum o travamento dos bicos injetores por falta de uso do combustível original. O combustível velho alojado no canal de injeção (tubulação pré-bico e bico injetor) é o causador. Mesmo assim o fato costuma ocorrer com Rangers acima dos 100.000km rodados.

Os dois rolamentos da correia poli-v apresentaram ruídos (final de vida útil), porém a correia estava em ótimas condições.

Escapamento estava em condições ruins devido a adaptações anteriores
A última galeria do sub coletor de alumínio recebeu enxerto em retifica

Outro componente elogiado pelo conselho foi o sistema de escapamento. Segundo Amauri Gimenes da Vicam Centro Automotivo, o original é produzido em aço inox, com extrema durabilidade. “Os problemas costumam aparecer em modelos que sofreram alterações ou desvios propositais para obter um ronco legal.” Neste caso, as soldas e tubos adaptados são comuns e aí a vida útil fica pequena. O modelo avaliado possuía adaptações e as condições estavam ruins. No momento da análise de gases, notem que o CO2 (diluição) apresentou apenas 8,9%, abaixo dos 14% ideais para veículos leves. O fato deve-se também à entrada falsa de ar pelas junções.

Filtro de combustível dá “canseira” no reparador no momento da trocaFerramenta para troca do filtro de combustívelOs coxins do motor foram elogiados pelo conselho no quesito resistência. “É raro receber uma Ranger 4.0 na oficina com os coxins de motor quebrados”, afirma Danilo Tinelli da Auto Mecânica Danilo.

As velas e cabos de ignição haviam sido trocados recentemente, sendo que o funcionamento aliado à bobina de ignição estava perfeito. Idem ao filtro de ar.

O item mais criticado pelo conselho foi o filtro de combustível, que possui a trava dentro da tubulação, o que dificulta muito a troca. Para o serviço ser executado, há a necessidade de ferramental específico e boas doses de paciência.

Videoendoscopia
A videoendoscopia demonstrou um bom estado de conservação interna dos cilindros, retentores de válvulas e limpeza (isenção de crostas na cabeça do pistão e câmara de combustão). A utilização do GNV favoreceu este estado de conservação.

Transmissão
O veículo avaliado possui caixa mecânica de 5 velocidades e o funcionamento estava perfeito, livre de folgas e encavaladas do trambulador. O óleo recomendado pela Ford é o Motorcraft especificação Mercon num total de 2,65 litros. Apenas o retentor de saída da caixa de marchas (luva do cardã) apresentou início de vazamento.

É possível encontrar alguns modelos Ranger “Splash” com transmissão automática de 4 velocidades.

O diferencial traseiro requer cerca de 2,4 a 2,6litro (completar até escorrer). Aliás, a Ford possui tradição no mercado quando o quesito é trem-de-força, tanto no câmbio quanto no diferencial. Enquanto outras marcas apresentam quebras de coroa e pinhão, os diferenciais Ford permanecem fortes por longos anos.

A embreagem também estava em perfeitas condições. O reparador deverá ficar atento ao procedimento para sangria do sistema de acionamento, uma vez que a posição inclinada favorece o acúmulo de ar. Como cortesia, o jornal Oficina Brasil em parceria com a fabricante Luk disponibiliza o informe técnico para a correta sangria do sistema de acionamento.

Suspensão
A Ranger possui dois tipos de suspensão dianteira. As primeiras unidades (americanas) possuem o sistema twin-i-beam, com braços/bandejas cruzadas e mola helicoidal. Já as unidades importadas da Argentina (após 1998) possuem o sistema de barra de torção, semelhante às S-10 nacionais (a SS-10 americana também possuía mola helicoidal).

O sistema mostra-se completamente forte, digno de uma picape robusta. Segundo o conselho editorial, peças de reposição como buchas, amortecedores e pivôs são encontrados facilmente, porém com alto custo.

Os rolamentos de roda demonstraram funcionamento satisfatório, livre de folgas.

Um fato comum nesta caminhonete é a cambagem dianteira ficar negativa em excesso, devido às características da geometria da suspensão, que ao sofrer desgastes apresenta esta variação. Nas rebaixadas o problema é facilmente encontrado.

Os 4 pneus estavam com desgaste acentuado, sendo que os dois traseiros estavam completamente “carecas”.

Os terminais das barras de direção possuem ponto para graxeiras, prolongando a precisão das manobras devido à diminuição das folgas (se efetuada a manutenção preventiva, claro).

Freios
Todo o conjunto estava em perfeitas condições, livre de vazamentos e desgastes excessivos e o modelo avaliado possuía ABS.

Habitáculo
O interior estava em boas condições, exceto o banco do motorista (espuma afundada).

Um item que costuma apresentar problemas é o botão de acionamento do piloto automático (cruise control), que afunda e para de funcionar, na maioria dos casos por excesso de força ao apertá-lo.

Dica: a válvula EGR (recirculação dos gases de escape), que envia parte dos gases do escapamento para a admissão novamente a fim de diminuir os índices de emissão de poluentes, controla a temperatura da câmara de combustão e gera melhor rendimento do veículo, costuma ficar travada após 100.000km. Segundo o conselho, neste caso a troca é necessária. A eliminação também é possível, porém todas as vantagens acima serão perdidas e o risco para o meio ambiente será agravado, assim como a possibilidade de reprovação na inspeção ambiental veicular, quando abranger este ano de veículo.

Dica atuador de marcha lenta: Os testes de alimentação e resistência (este com o multímetro) não são recomendados, devido ao risco de queima da peça. Apenas remova-o e limpe com descarbonizante, para permitir o perfeito funcionamento.

Dica: Quando a carcaça da caixa for produzida em alumínio, o componente é Mazda. Quando for em ferro fundido, é Clark (atenção no momento da compra das peças).

Dica: segundo o conselheiro Sérgio Seihti Torigoe, existe um módulo conforto localizado dentro do painel, atrás do rádio, responsável em comandar a luz interna, luz do painel e limpador de para-brisa. Se um destes componentes não funcionar corretamente, faça uma verificação na peça.

Dica: Se o cliente reclamar da baixa vida útil das pastilhas de freio dianteiras, verifique se o atuador de marcha lenta está em perfeito funcionamento, pois é muito comum a peça apresentar demora no retorno, fazendo com que o motor fique acelerado por alguns segundos. Ex.: a 1.100 rpm e com a 5ª marcha engatada, a Ranger está a aproximadamente 60 km/h. Se o condutor pisar no freio (antes de desengatar), o motor ainda estará tracionando. É o mesmo que frear acelerando. O problema agrava-se com o motor em altos regimes de rotação.

Dica: Além do módulo conforto, o conselheiro Torigoe afirma que os sensores de porta (que acusam se está aberta ou no 1° estágio da trava) podem apresentar problemas, informando, mesmo com a porta fechada, o contrário. Neste caso é possível a desmontagem do sensor, limpeza e lubrificação. Caso não resolva, a troca da peças será necessária.

Dica: Segundo o conselheiro Paulo Aguiar, é recomendado incluir no orçamento os rolamentos de roda dianteiros ao trocar os discos, já que fazem parte do processo de desmontagem dos já citados discos.

Índice de Durabilidade e Recomendação
O Ford Ranger 4.0 V6 foi avaliadro pelo conselho editorial do jornal Oficina Brasil como um veículo rebusto, e de manutenção trabalhosa, mas simples. Por isso, a nota média foi 6,8 em escala de zero a 10.

É, portanto, um carro mediano que, mesmo apresentando alguns altos (durabilidade) e baixos (acesso ao filtro de combustível), é recomendado pelo conselho editorial.

Na avaliação, são observados os seguintes itens:

1) Tempo de serviço – facilidade de acesso aos principais sistemas (motor e câmbio, suspensão, direção, freios e parte elétrica)

2) Disponibilidade de peças no mercado de reposição (concessionárias e lojas de autopeças)

3) Custo de peças (concessionárias e lojas de autopeças)

4) Durabilidade dos componentes

5) Nível de tecnologia

Confira as notas abaixo.

Nota: 6,5
Danilo Tinelli:
Auto Mecânica Danilo - (11) 5068-1486
Por ser uma picape robusta, a manutenção tem custo alto devido ao preço das peças. O mercado independente de autopeças não possui muitos itens para pronta entrega.

Nota: 7
Paulo Aguiar:
Engin Engenharia Automotiva - (11) 5181-0559 - engin.auto@terra.com.br
É um ótimo veículo, porém não compraria caso a quilometragem estivesse alta, acima dos 100.000km.

Nota: 8
Cláudio Cobeio:
Cobeio Car - (11) 5181-8447 - juliana@cobeiocar.com - www.cobeiocar.com
Veículo muito bom, ótimo para rodar com GNV e de fácil manutenção. 350.000km é quilometragem normal para ela. Para obtenção de informações técnicas, utilizo o CDI (Centro de Documentação e Informação) do Sindirepa São Paulo, pois a Ford não libera facilmente quando preciso.

Nota: 6,5
Amauri Gimenes:
Vicam Centro Técnico Automotivo - (11) 2601-9501 - vicam.amauri@yahoo.com.br
Recomendo, pois é um veículo robusto, de manutenção fácil e de grande durabilidade. A única recomendação é que sejam usados óleos e fluidos recomendados pelo fabricante (linha Motorcraft) e mão-de-obra especializada.

Nota: 7
Sérgio Torigoe:
Auto Elétrico Torigoe - (11) 7729-2667 - sergiotorigoe@ig.com.br
Veículo com um bom conjunto mecânico, mas com difícil acessibilidade em velas e válvulas injetoras. Manutenção com custo elevado, porém com grande durabilidade. Recomendo o veículo.

Direto do Paredão, a opinião de outros reparadores

Dermeval Junqueira
Reparacar – Congonhas (MG)
Boa picape, nota 7,5. Os principais inconvenientes são: consumo urbano alto, consumo na estrada aceitável se estiver com o motor “redondo” (bicos limpos, corpo de aceleração limpo, respiro limpo, velas, cabos de velas e filtros). Quando o veículo é movido a GNV, a embreagem não é durável, principalmente se o uso for urbano, principalmente em região com ladeiras íngremes. A informação técnica é boa. A manutenção não é difícil, mas o preço das peças é elevado. Bomba elétrica poderia ser mais durável. Recomendo atenção especial aos seguintes itens: estado do sensor DPFE (sensor de pressão diferencial), pois seu material costuma desmanchar e entupir as tomadas de ar, fazendo a luz de anomalia da injeção acender. Trocar o filtro de gasolina a cada 30.000 km ou 1 ano no máximo, para aumentar a vida útil da bomba elétrica . Outra recomendação para o colega reparador: caso seja a primeira vez que o cliente vai repará-la com você, procure tirar o máximo de informações do proprietário do veículo sobre histórico de manutenções executadas, o que agiliza o serviço. E quanto à saída de traseira em pisos ruins com carroceria leve, é normal em utilitários, porém há como atenuá-la.

Leandro Zanetti
Contagem (MG)
O carro apresenta praticidade na manutenção em geral, exceto nas trocas das velas. Fazendo as revisões periódicas, não traz maiores problemas aos usuários, pois tenho vários clientes que as possuem, sendo que alguns ficam mais de ano sem retornar à oficina e, quando ligamos para saber como está o funcionamento do carro, respondem que não têm reclamações. Minha nota é 8.

Avaliação do Mercado
O Ford Ranger 4.0 V6 XLT a gasolina ano e modelo 1997 cabine simples apresenta escassez de oferta e sua permanência em estoque é relativamente alta, em média, mais de 20 dias. Com relação à preço de mercado, houve uma valorização de 3,57% no comparativo de abril/2009 em relação a março/2009. Já comparando abril/2009 com abril/2008 a valorização foi um pouco maior, de 4,79%.

Fonte: Depto Mercadológico

SINDIAUTO/ASSOVESP



 

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