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Carros da coreana Kia agradam, porém...

A convite da montadora, nosso Conselho Editorial conferiu de perto toda a operação da empresa no Brasil, que tem batido sucessivos recordes de vendas

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Por Alexandre Akashi


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Em setembro, a Kia Motors apresentou balanço de vendas globais, com crescimento de 40,4%. Aqui, no Brasil, três lançamentos têm ajudado a marca a recuperar as vendas, depois da crise: o SUV Mohave, o carro design Soul e o sedan New Cerato. O sucesso destes modelos é visível nos números. O New Cerato pulou de modestas 115 unidades, em agosto, para 481, em setembro. 

Já o Soul só não vendeu mais porque a fábrica, na Coréia, enfrentou problemas de greve, e atrasou as entregas do modelo. Ainda assim, no ano, já emplacou 694 unidades desde que foi lançado, em julho, e o Mohave, lançado no primeiro semestre, vendeu 367 unidades.

Os demais modelos da montadora coreana também têm agradado ao consumidor brasileiro. Tanto que o número de carros emplacados este ano, até setembro já somam 15.223 unidades, com destaque para o SUV Sportage (5.410 unidades), o comercial leve Bongo (2.855) e o pequenino Picanto (1.539).

Assim, e apesar de a empresa oferecer 5 anos de garantia para toda linha de veículos de passeio e SUV, com certeza um Kia estará em breve, na sua oficina. Para não ser pego de surpresa, o Conselho Editorial do jornal foi conferir de perto as novidades da linha 2009/2010, em visita exclusiva ao centro de operações da empresa no Brasil, localizado na cidade de Itu, cidade a 70 km da capital paulista.

Lá, fomos recebidos pelo gerente de Treinamento à Rede, Gen-Geder Trindade, o gerente geral de Serviços, Seth de Silvas, e pelos instrutores Abel Cruz e Márcio Alexandre Santos. Para surpresa de todos, Seth, Abel e Márcio têm no currículo passagem por oficinas independentes, o que tornou o encontrou mais familiar.

Avaliação geral
Antes da visita, a imagem que todos tinham da Kia relacionava-se à Besta, ao Clarus e ao Sephia, modelos antigos que entram com frequência nas oficinas independentes. A chegada de novos veículos tende a mudar essa imagem.

“A avaliação que faço dos veículos examinado (Picanto, Soul New Cerato, Sportage e Mohave) é boa, em relação ao conceito que eu tinha sobre a marca, pois anteriormente só tive contanto como os veículos antigos”, afirmou o conselheiro Eduardo de Freitas Topedo, proprietário da Ingelauto.
Já na opinião do conselheiro Cláudio Cobeio, da CobeioCar, “ainda é cedo para uma avaliação profunda da qualidade, mas parece ser muito boa, porém é uma marca queimada no Brasil”, avaliou.

Uma recomendação do Conselho aos executivos da Kia foi disponibilizar o máximo possível as informações técnicas dos veículos, ação que facilita o trabalho do reparador e ajuda no desenvolvimento da marca.

O primeiro passo já foi dado. Ao abrir as portas para o Conselho Editorial do jornal Oficina Brasil, a Kia abriu canal direto de comunicação com o mercado de reparação. E, o resultado não poderia ser outro. A avaliação geral do Conselho para os carros foi 7,9, com índice de recomendação de 100%, ainda que com restrições.

Motor
A diversidade de motorização oferecida pela Kia chamou atenção do conselheiro Sérgio Torigoe, da Auto Elétrica Torigoe. Ao todo, são sete:

1.0L, 4 cilindros , 12 válvulas;
1.6L, 4 cilindros, 16 válvulas com comando variável simples e duplo;
2.0L, 4 cilindros, 16 válvulas com comando variável simples e duplo;
2.7L, 6 cilindros, 24 válvulas,
3.8L, 6 cilindros em V, 24 válvulas com comando variável;
4.6L, 8 cilindros em V, 32 válvulas com comando variável;
3.0L, 6 cilindros em V, 24 válvulas, diesel, common rail.

“Todos com injeção eletrônica seqüencial, comando de válvulas acionado por corrente, exceto o motor 1.0L”, lembra Torigoe.

A distribuição por corrente dividiu opiniões. Se por um lado agrada ao conselheiro Danilo Tinelli, da Auto Mecânica Danilo, pela robustez, por outro, contraria Topedo, da Ingelauto. “Na minha opinião, o motor apresenta conceito antiquado porque a maioria ainda trabalha com sistema de sincronismo por corrente, mais ruidoso do que a correia dentada”, avaliou Topedo.

“Os propulsores aparentam ser robustos, sendo que a maioria possui corrente na distribuição ao invés da corria dentada, o que diminui o risco de quebra e prolonga a vida do motor”, defendeu Tinelli.

Em um ponto, no entanto, ambos concordam: os veículos apresentam bom espaço para trabalhar no habitáculo do motor. Esta também foi a observação feita pelo conselheiro Paulo Aguiar, proprietário da Engin Engenharia Automotiva. “Os motores apresentam como vantagem a facilidade de manutenção”, afirmou Aguiar. “Em relação à facilidade, percebi bastante espaço interno no habitáculo do motor, facilitando assim o tempo de reparo, no que diz respeito à mão de obra de execução do serviço”, completou Topedo.

O conselheiro Amauri Gimenes, proprietário do Vicam Centro Técnico Automotivo, observou ainda que em todos os modelos avaliados, foi verificado o fácil acesso as velas e bicos injetores para a manutenção.
Danilo Tinelli, da Auto Mecânica Danilo, destacou também como ponto forte a eliminação de vibrações com a adequação do ângulo das bielas e sistemas de antivibração. “Outra característica muito boa foi o ajuste entre pistão e câmara de combustão, conseguindo assim parâmetros necessários nas emissões de poluentes”, observa o reparador.

Eletrônica
Na opinião de Sérgio Torigoe, da Auto Elétrica Torigoe, os veículos da Kia apresentam reparação eletro-eletronico de grau médio/alto devido ao elevado grau de sofisticação tecnológica, comparado aos veículos franceses, alemães e japoneses. “Sistemas como Injeção eletrônica e sistemas de segurança e conforto somente serão reparados com ajuda de esquemas elétricos e scanner apropriado”, avalia.

Tinelli lembra que alguns veículos da Kia possuem rede CAN e, por isso, o reparador deve tomar certas precauções. Além disso, Gimenes ressalta que os veículos possuem dois conectores de diagnóstico, um OBD II e outro para o Scanner original Kia.

Undercar
De acordo com a Kia, os carros que chegam ao Brasil apresentam características semelhantes aos veículos destinados ao Oriente Médio. Para o consultor Paulo Aguiar, da Engin, a suspensão deixa a desejar. “Parece pouco robusta para realidade das ruas brasileiras”, afirmou.

O conselheiro Cláudio Cobeio, da CobeioCar, concorda com Aguiar. “Me preocupou a durabilidade do sistema de direção”, ao apontar uma canaleta de captação de ar frio para esfriar a homocinética localizada no lado do câmbio, nos modelos Soul e New Cerato, “que aliás é do tipo trizeta muito mais fraco que os bolachões”, critica.

Outro ponto que chamou atenção do conselheiro Amauri Gimenes, da Vicam, foi o sistema de escape. “Alguns modelos possuem catalisador junto ao coletor numa peça única, preservando a durabilidade do catalisador”, ressaltou. “Nos modelos avaliados, o silencioso traseiro é feito de caixa prensada, (semelhante a do Vectra), o que encarece o custo da peça de reposição. Além disso, o Mohave possui dois silenciosos, um antes do eixo traseiro e um do lado do estepe”, observou.

Destaque tecnológico
Os modelos mais sofisticados, como Mohave, Sportage e Carnival, impressionaram pela tecnologia embarcada. Uma das que mais chamaram atenção foi o monitoramento de falha de cilindro, que corta a injeção de combustível em caso de defeito no sistema primário de ignição (falta de centelha). “Assim, evita-se o excesso de gasolina que não queimaria, e poupando o catalisador”, resume Aguiar, da Engin.

Receio
Um dos pontos que a Kia terá de trabalhar com bastante intensidade é na disponibilidade de peças de reposição. O Conselho foi unânime em apontar este tópico como o principal receio em relação à marca, apesar do enorme investimento em peças de reposição.

O galpão em Itu, cidade localizada a 70km de São Paulo, abastece toda a rede concessionária, atualmente formada por 104 pontos (mais quatro lojas que possuem apenas oficinas), em 23 estados brasileiros. Ao todo, possui mais de 84 mil itens disponíveis em estoque.

“A maior dúvida é em relação aos prazos de entrega de peças para os reparadores”, ponderou o conselheiro Júlio Cesar de Souza, proprietário da SouzaCar. Além disso, o conselheiro Aleksandro Viana, gerente do Grupo Sahara, lembra do custo da peça. “Como são importadas, ficam sujeitas ao câmbio do dólar”, disse.

 

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